Uma crítica ao pensamento de Richard Dawkins
Introdução Há tempos eu ansiava por ler The God Delusion e assistir ao documentário The Root of All Evil do renomado biólogo-evolucionista-ateu Richard Dawkins. Parte do meu anseio foi realizado, assisti à primeira parte do documentário intitulada The God Delusion, mesmo titulo do livro. Eu gosto de ter a fé desafiada e confrontada, gosto de ouvir opiniões contrárias, gosto de quebrar a cabeça e ser obrigado a aprofundar as raízes da minha fé, portanto, ninguém melhor pra isso do que o ateu mais feroz da atualidade – o temido Richard Dawkins – bom, pelo menos era o que eu imaginava. Assistir ao documentário me deixou frustrado – Ta ai o ateu mais brilhante da atualidade! E ai?... – pois é, e ai nada! Se Richard Dawkins e seus argumentos consistem na maior arma dos ateus contra os religiosos, presumo que essa arma não passe de uma pistola de chumbinho – cano duplo para ser mais cortês. Dawkins entope seu documentário de falácias, opiniões próprias e um “leve” toque de arrogância. As criticas mais embasadas se resumem às referentes à conduta dos religiosos e não à religião em si. O argumento principal é que a religião é a “raiz de todo mal”. Terrorismo, homens-bomba, atentados etc etc etc... Como cristão me sinto à vontade para desprezar tal argumento, pois, ao contrário do Islamismo, o cristianismo não apóia à guerra santa – amai os vossos inimigos – se em alguma época cristãos “guerrearam de forma santa” foi por vontade própria, e não embasados na religião.
Um “pequeno” detalhe que não podemos deixar de destacar é os “bons” frutos do ateísmo no século XX. Um ditador alemão de bigode influenciado por outro alemão de bigode (bigode um pouco maior), um filósofo que costumava dizer “Deus está morto” e que teve suas obras presenteadas às tropas do ditador alemão – 16.000.000 de mortos. Um outro ditador, russo e também de bigode que impôs seu ateísmo à URSS, matou 40.000 sacerdotes e fechou todas as catedrais transformando-as em museus do ateísmo – 3.000.000 de mortos segundo a URSS. 9.000.000, 20.000.000 ou até 60.000.000 segundo alguns outros historiadores russos, e como se não bastasse as mortes, em virtude de doenças, alcoolismo e das dificuldades econômicas, os homens russos, hoje em dia, têm uma esperança de vida de 59 anos de idade. A taxa de nascimentos caiu de forma tão acentuada que a população russa pode vir a encolher até o nível populacional de 1917. Setenta por cento dos casamentos russos terminam em divórcio, e uma mulher russa comum já fez quatro abortos (Yancey, Rumores de outro mundo, p.160). E na tentativa de liquidar o cristianismo da China – 70.000.000 de mortos. Saldo total: hummm....20...40...70...100... até 146.000.000 mortos! Para se ter uma ideia, na inquisição foram mortos 40.000 pessoas. E vale a pena lembrar que na inquisição os perseguidos eram os verdadeiros cristãos que lutavam contra a corrupção da Igreja dominada pelos pagãos que compravam cargos de autoridade na Igreja. A raiz de todo mal não é a religião, os homens só a usaram para dar vazão a sua própria natureza, que como a Bíblia nos ensina, é decaída e depravada. A prova disso é que quando Deus saiu de cena, a coisa não melhorou, mas piorou. É claro que existem ateus de caráter de fazer inveja a muitos crentes, mas a grande diferença do ateísmo para o cristianismo é que quando o cristão age de forma errada ele vai contra o que professa, já o ateu não erra jamais, pois para ele não há lei a ser infringida – Se Deus não existe tudo é permitido disse Dostoievski – se ele decide matar, ele pode, pois não tem fundamento moral para se basear. E porque não lembrar que as maiores Universidades do mundo – incluindo a de Dawkins, Oxford – foram fundadas por... cristãos? E será que Dawkins se esqueceu de Gandhi, Martin Luther King, Madre Teresa e a Cruz Vermelha? E Francis Bacon, Newton, Pasteur dentre outros cristãos que por insistirem que Deus era um ser racional e criador de criaturas racionais abriram o caminho para a ciência que Dawkins hoje estuda? Todos eles agiram de tal forma impulsionados pela religião, já o ateísmo não tem poder de impulsionar ninguém a nada. Julgar o Cristianismo pelo lado ruim é como julgar os apóstolos por Judas Iscariotes.
Parte I – The God Delusion
As afirmações do documentário seguem sem muita ponderação – é porque é – como quando Dawkins afirma simplesmente que não há razão para acreditar em Deus sem sequer pesar e ponderar qualquer argumento contrário. Ele chega a afirmar que a religião desencoraja o pensamento racional e estimula a manter nossa fé apesar das evidências contrárias, nos tornando mais virtuosos com isso. Não posso negar que de fato lideres cristãos ajam de tal forma e muitos cristãos não pensem de forma crítica e racional, porém, não estamos falando dos religiosos, mas da religião em si, como eu já disse. Mas o cristianismo não apóia tal pensamento, Deus nos convida a arrazoar (Is 1.18), a amá-lo de todo entendimento (Mt 22.37), a dar respostas àqueles que pedem (1Pe 3.15), e nos compadecer dos que duvidam (Jd 22). A definição de fé de Dawkins é absurda – fé é a suspensão do pensamento critico – e, portanto contrária à ciência. Como já demonstrei, não é assim que o Deus cristão age, e a verdadeira fé cristã é crer naquilo que você tem motivos racionais para crer, é claro que haverá sempre espaço para dúvida e é ai que entra a fé, da mesma forma o ateísmo também exige fé, pois também não nos dá total certeza, cabe a nós pesarmos as evidências prós e contras e nos decidirmos entre crer ou não crer, de qualquer forma, se eu crer e estiver errado eu morrerei e pronto, agora se eu não crer e estiver errado passarei a eternidade em um ambiente não muito aprazível.
Dawkins defende a ideia de que, ao contrário da religião, a ciência consiste no acumulo de evidências usadas para atualizar teorias de como as coisas funcionam e ele nos conta a história de um antigo professor de seus tempos de universitário que defendeu apaixonadamente uma certa teoria durante anos, até que um cientista americano veio à sua Universidade e mostrou que a teoria tão apaixonadamente defendida pelo professor estava errada. O professor o agradeceu por ter mostrado que ele estava errado esse tempo todo e ter colaborado com o avanço da verdade cientifica. Bom... verdade cientifica? Como pode uma verdade avançar e ser atualizada? Ou uma verdade é verdade, ou não é verdade, simples assim. O problema é que a ciência é baseada na interpretação humana, propensa à falhas, o que é verdade hoje amanhã não é e vice-versa. Já a teologia parte de uma Verdade revelada, e toda descoberta serve para nos aproximar dessa Verdade, quando uma descoberta contraria a Verdade, não deixamos simplesmente de acreditar nela, mas questionamos tal descoberta ou nossa interpretação da Verdade. Por exemplo, a Bíblia descreve diversas vezes o império hitita, mas até 1906 não havia nenhuma evidência para tal império, a evidência era “jamais existiu tal império”, até que Hugo Winkler em 1906 descobriu uma biblioteca com 10.000 titulos que documentava ostensivamente os hititas. Resultado: a evidência antiga estava errada, quem estava com a Verdade acertou, quem duvidava teve que dar o braço a torcer. Um exemplo de re-interpretação da Verdade é a teoria da evolução que nos abriu os olhos para a não literalidade de Gênesis que a própria Bíblia evidencia e Sto.Agostinho já dizia há 1700 anos. (Leia meu texto Evidências para a criação em seis dias não-literais). Nós seres-humanos somos propensos à falhas, Deus não, portanto é mais sábio permanecer com a Verdade revelada, e mais lógico acreditarmos que quando a descoberta humana contrária a Verdade revelada, o problema está com a primeira.
Um argumento, talvez mais complexo, é a pergunta que Dawkins deixa àqueles que dizem ser necessário um Deus para que todo o Universo tenha sido criado, que é “Quem criou Deus?”. Ora, já que os crentes dizem que o mundo precisa de um Criador, então o próprio criador também precisa de um criador, parece muito lógico, mas não é tanto assim. Deus é a causa primeira de toda criação, portanto é ilógico perguntarmos "quem criou Deus?" pois isso nos leva a um circulo infinito – Quem criou o criador de Deus? Quem criou o criador do criador...?. O argumento consiste no fato de que há poucas décadas atrás, os cientistas acreditavam que o Universo sempre existiu e nunca teve um inicio, portanto não precisavam se preocupar com o que veio antes – ele sempre existiu e pronto. Mas a questão é que hoje a teoria do Big Bang é provada, o Universo surgiu do nada e teve inicio em algum ponto distante do passado! O que nos leva a pergunta "Quem criou o Universo?", já que tudo que tem inicio tem que ter uma causa, diferente de Deus que sempre existiu e é a causa primeira de tudo. E dada à complexidade do Universo e sua aparência de ter sido planejado, deduzimos que algo ou alguém o arquitetou de forma inteligente. Norman Ramsey, Nobel de física em 1989 disse, “Bem, quando acreditávamos que o universo não teve inicio, não era necessário nos preocuparmos com o que veio antes. Mas uma vez que nós aceitamos a ideia de que o universo teve um inicio em um ponto especifico do passado, temos que pensar no que veio antes. Então, físicos agora estão pensando sobre questões que somente teólogos e filósofos se preocupavam no passado.”
Para finalizar, Dawkins ainda cita absurda parábola de Bertrand Russel, do bule que circula em torno do sol. Se disserem que há um bule orbitando em torno do sol, a maioria das pessoas não vai acreditar. Assim como não há como provar que o bule não esteja lá, a ciência não pode provar a não-existência de Deus, nem das fadas ou unicórnios. Mais uma vez, a arrogância de Dawkins se faz presente, fazendo uma afirmação falaciosa sem consultar uma opinião contrária. Nenhuma civilização divide sua história entre antes e depois do bule, nenhum bule deixou um livro escrito por 40 autores durante 1500 anos que tratam do mesmo assunto, além do mais, bules não tem inteligência, portanto o exemplo de Dawkins, ao comparar um objeto inanimado com um ser vivo inteligente, é por demais idiota e arrogante.
Parte II – The Vírus of Faith
No segundo episodio do documentário o nível da argumentação melhora consideravelmente, mas ainda deixa a desejar, no inicio o foco continua a ser a conduta dos religiosos e não a religião em si. Dawkins insiste em humilhar e diminuir os líderes religiosos com os quais conversa. Seleção natural? Sobrevivência do mais forte? Dawkins parece levar as premissas evolucionistas ao pé da letra. Não é de surpreender tamanha arrogância, pois conhecimento humano ensoberbece. Dawkins reclama daqueles que tentam impor sua cosmovisão aos outros, como pais que criam seus filhos na religião e em colégios religiosos. Mas o que Dawkins está fazendo nesse documentário senão impondo sua cosmovisão a todos? O que esses pais religiosos fazem não se compara a atitude arrogante de Dawkins que se julga dono da verdade e superior a todos que o contrariam.
Dawkins diz ser profundamente perturbador pensar que existem crentes que usam a ideia do inferno como meio de policiar a conduta moral do povo. Que tipo de sonhos uma criança terá quando atormentada pela ideia do inferno? Não seria crueldade? Bom, partindo da premissa de que Deus não existe, Dawkins está certo. Mas, se Deus existe, Dawkins está terrivelmente enganado, nesse caso, a crueldade seria não alertar as pessoas da realidade do inferno. Dawkins esquece que foi exatamente essa imagem terrível do inferno usada por Jonathan Edwards e outros evangelistas para revolucionar e salvar sua Inglaterra do estado caótico que se encontrava no século XVIII. Essa estratégia, não é tão ruim quanto parece, mas muito pelo contrário.
Finalmente, Dawkins começa a atacar a religião em si. Criticando a moral cristã com base no Antigo Testamento e algumas passagens que descrevem crueldades indignas de um Deus “todo-amoroso”. O que Dawkins esquece é o Antigo Testamento descreve a realidade assim como ela é, cruel e atroz, a mesma realidade que lemos nas páginas dos jornais de hoje em dia. O Antigo Testamento não é um livro que trata de ficção, como Dawkins gosta de afirmar, mas sim um livro terrivelmente real. Mas da mesma forma que Deus não aprova as crueldades que ocorrem hoje no mundo, nem tudo que a Bíblia cita, Deus aprova. É necessário distinguir entre o que a Bíblia relata e o que ela aprova. O livro de Juizes descreve uma mulher que foi morta, dividida em 12 pedaços e cada um enviado a uma das tribos de Israel. Cruel? Sim. A Bíblia aprova? Não. Um homem oferece sua própria filha para preservar a vida de um hóspede alvo dos desejos de seus vizinhos. Cruel? Sim. A Bíblia aprova? Não! Mas, é claro, esse principio não se aplica a toda a passagem cruel da Bíblia, existem passagens em que Deus manda matar povos inteiros incluindo mulheres e crianças. Cruel? À primeira vista sim. Mas a verdade é que Deus mata a todos – incluído eu e você – mais cedo ou mais tarde. Ele é o Autor da Vida, e, portanto, Aquele que detêm os direitos de tirá-la. Muito pode ser dito sobre a suposta crueldade divina do Antigo Testamento, mas eu concluo com uma citação cujo autor não me recordo: “Só considera que a morte é o maior dos males, quem é materialista e acredita que só existe esta vida física, que seria o bem supremo."
Em seguida, a critica de Dawkins é contra o centro da teologia neotestamentária, a sadomasoquista doutrina da expiação. Deus sendo torturado e executado como expiação pelos nossos pecados. “Se Deus queria perdoar nossos pecados,” diz Dawkins, “porque não simplesmente perdoa-los? A quem Deus quer impressionar?”. Isso mostra que Dawkins sequer se deu ao trabalho de pensar a respeito da doutrina da expiação. Deus não é só misericórdia, mas também justiça. Um juiz, por mais misericordioso que seja, não pode simplesmente perdoar um criminoso sem que o preço pelo seu crime seja pago, pois isso não seria justiça de forma alguma. É simples assim, e creio que não há necessidades de explicações mais aprofundadas. A doutrina é clara para qualquer pessoa destituída da arrogância “Dawkinsiana”. Se a doutrina é tão absurda para Dawkins, ele terá a escolha de recusá-la e pagar pelo seu crime, todo ser humano pode fazer essa escolha, o preço? A própria alma.
Conclusão
Esse documentário serviu para mostrar que o ateísmo de Dawkins, assim como de boa parte dos ateus, não tem raízes racionais. O orgulho e a arrogância são os verdadeiros motivos que mantêm pessoas como Dawkins afastadas de Deus. Pessoas arrogantes não lidam bem com autoridades, não é diferente com a Autoridade Última. Essa é a verdadeira razão que leva uma pessoa a dedicar a vida a provar a não-existência de Deus. O ateísmo junto com a infantil tendência à provocação, peculiar nos escritos de Dawkins e outros ateus contemporâneos, e o ar de heroísmo desses homens, me faz lembrar do que Freud chamou de projeçãp. Nós temos a tendência de projetar a imagem que temos dos nossos pais na infância, para as autoridades na fase adulta, inclusive a Autoridade Última, é só uma hipótese, mas sinceramente gostaria de poder perguntar a eles sobre seus pais. O ateísmo tem muito mais razões psicológicas do que intelectuais, melhor dizendo, psicológicas travestidas de intelectuais. Seja a arrogância, experiências traumáticas, ou conflitos com os pais.
Lembro que quando eu estava dando meus primeiros passos na fé cristã eu tremia perante qualquer ateu ou argumento que pudesse derrubar a minha fé, com minha mentalidade racional ao extremo e critico do jeito que sou, passei por períodos de intensas dúvidas e cheguei a pensar em abandonar a fé por tudo não passar de uma grande mentira. Hoje, minha fé foi aprofundada e enraizada. Toda dúvida só serviu para tornar minha fé ainda mais inabalável. Por isso eu encaro esses ataques à religião, que estão muito populares hoje em dia, não só com Dawkins, mas também Michael Onfray, Sam Harris e Daniel C. Dennett, como positivos a fé cristã. É importante lembrarmos que foram nos períodos de mais intensa perseguição que a Igreja mais cresceu, creio que todos esses ataques intelectuais serão responsáveis para limpar o cristianismo de crenças supersticiosas, aniquilar as religiões falsas, aprimorar a conduta dos cristãos e aprofundar nossa fé. Amém.
Vitor Pereira 05.07.2007