Qualquer crente entusiasmado com a atividade apologética conhece os versículos bíblicos que fundamentam essa atividade. 1Pedro 3.15 é o mais usado deles, também temos Mateus 22.37, Isaias 1.18 e Judas 3. Não é comum vermos um apologista corroborar sua atividade com base em Judas 3. Até mesmo eu, já conhecendo o versículo, não havia compreendido a sua dimensão, quando eu entendi a dimensão do versículo, percebi que se tratava não só do melhor versículo para fundamentar a atividade apologética, mas também, revelava a tremenda responsabilidade de tal tarefa.
Antes de analisar o versículo precisamos entender um pouco sobre as ações milagrosas de Deus na Bíblia. Primeiro: Deus nunca faz milagres simplesmente para aparecer, há sempre um propósito, quer seja um ensinamento, um príncipio a ser passado, ou para prenunciar algo que acontecerá futuramente (Jonas na barriga da baleia, por exemplo, simboliza a ressurreição de Cristo). Segundo: Deus faz milagres, quase que exclusivamente, quando está trazendo uma nova revelação, para confirmação da mesma. Foi assim quando Deus libertou Seu povo do Egito, e foi assim também na época de Jesus e dos Apóstolos. A ocorrência de milagres era tão freqüente exatamente porque Deus estava fazendo uma coisa nova, e os milagres serviam para corroborar essa nova mensagem que Deus estava trazendo através de Jesus e posteriormente dos apóstolos. Os milagres eram simplesmente necessários para confirmar as alegações de Jesus e dos apóstolos. Mas, chegou um momento em que Deus já havia concedido toda Sua nova revelação, a mensagem havia sido confirmada e concluída – o Novo Testamento estava pronto! -, logo, Deus não mais, necessariamente, se manifesta para corroborar sua Palavra – o cânon está fechado!
Com isso em mente, podemos prosseguir para a análise de Judas 3, o versículo é o seguinte:
"Amados, enquanto eu empregava toda a diligência para escrever-vos acerca da salvação que nos é comum, senti a necessidade de vos escrever, exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos. "
A palavra “fé” (πίστις) , nesse versículo, se refere ao conjunto de crenças dos cristãos, isto é, a “fé cristã”, a religião em si, e não ao sentimento de fé. Mas o que é mais fantástico vem depois "que de uma vez para sempre foi entregue aos santos." Preste atenção no “que de uma vez para sempre”. Recapitulando o segundo parágrafo, sempre que Deus trazia uma nova revelação, Ele fazia diversos milagres para corroborar a veracidade da mensagem, assim foi na época dos apóstolos, Deus estava trazendo uma mensagem totalmente nova e, portanto, os milagres aconteciam freqüentemente – o próprio Deus confirmava a mensagem. Mas, já vimos que, agora a mensagem já foi confirmada e concluída, e, portanto, Ele não mais precisa agir para confirmar o que Ele já confirmou, está fechado e lacrado por meio do Novo Testamento. Agora, a responsabilidade por essa defesa da Palavra de Deus foi “de uma vez para sempre...” (forte isso!), “...entregue...” (παραδίδωμι - confiada!) “...aos Santos.” (nós!). Você percebe a revelação que esse versículo traz? É simplesmente fantástico! Deus confiou (παραδίδωμι) a responsabilidade de pelejar pela sua mensagem – o Evangelho, a Verdade, a fé cristã – a nós, eu e você! A responsabilidade que outrora era do próprio Senhor, agora está em nossas mãos. É simplesmente tremendo! Esse versículo revela que não só a apologética é um mandamento claro de Deus em Sua Palavra, como ela também é uma grande responsabilidade sobre aqueles que estão envolvidos nessa atividade. Em nossas mãos está o que outrora era responsabilidade do próprio Deus. Nada é mais persuasivo do que isso para nos comprometer com essa importantíssima tarefa de defesa da fé cristã. Vamos obedecê-lo!
Vitor Pereira