A Moralidade Bíblica
Sam Harris, como era de se esperar, faz menção as "atrocidades" veterotestamentárias na tentativa de desqualificar a Bíblia como um guia moral. Umas das questões colocadas é sobre a escravidão que é mencionada na Bíblia, e os escravos incentivados a obedecerem seus patrões. É claro que a escravidão como nós a conhecemos é um ato imoral, mas diferentemente da escravidão que nós temos em mente, os escravos dos tempos bíblicos não eram escolhidos por sua raça, mas sim por rendição em caso de guerra ou por dívida, quando alguém não tinha como pagar suas dívidas se vendia como escravo. E muitos dos escravos eram muito bem tratados, podendo até gerir negócios e ganhar o seu próprio dinheiro, muitos deles escolhiam por vontade própria permanecer até o fim da vida com seus senhores, pois, não tinham onde conseguir moradia e sustento que seus senhores o concediam. Além disso, no ano do Jubileu todos os escravos tinham de ser libertados. Sam Harris também faz uma critica aos 10 mandamentos principalmente pelo fato dos quatro primeiros mandamentos (aparentemente) nada têm a ver com moral mas sim com religião como "Não terás outros deuseus além de mim", o que ele esquece é que naquela época a adoração a outros deuses muitas vezes implicava em imoralidades como o sacrificio de crianças, e para que o mal pudesse ser cortado pela raiz mandamentos como esses se faziam necessários, até porque, como Feurbach e Freud disseram outrora, muitas vezes deus não passa de uma projeção de nossos desejos primitivos e recalcados. Imaginem como seriam os tempos do Velho Testamento se cada um moldasse deus de acordo com seus impulsos mais sombrios? Certamente muito pior do que as histórias de terror narradas no V.T.
O que faz a Bíblia o melhor dos guias morais é que ela foca na raiz de todo mal, a natureza humana, e por isso ela nos ensina que devemos nascer de novo, e nos despojar desse natureza pecaminosa que habita em nós. Se nós tomassemos ciência do egoísmo que nos domina e vivessemos o ideal altruista cristão certamente o mundo seria muito mais moral.
Consequências do Ateísmo
O Péssimo Hábito Ateísta de Criticar o Que Não Entende
Na página 71, Sam Harris afirma "Qualquer leitura honesta do relato bíblico da criação sugere que Deus criou todos os animais e as plantas tais como nós os vemos agora. Não há dúvidas alguma de que a Bíblia está errada acerca disso." Essa afirmação parece ser muito verdadeira, para quem não se deu ao trabalho de ler os três primeiros capitulos de Gênesis. Em Gênesis 1.11, Deus cria a relva, plantas e arvores, porém vemos que em Gênesis 2.5 que a criação das plantas foi um processo, elas foram semeadas e cresceram, um processo que leva meses e não um dia, assim como acontece hoje quanto plantamos uma semente. O que indica claramente que cada criação de Deus em Gênesis 1 diz respeito não a criação das coisas como elas são em seu estado final mas sim apenas do potencial das coisas para se desenvolverem até o seu estado final. Mas sobre esse assunto eu escrevi no meu texto Uma Interpretação Não-Literal de Gênesis
Conclusão
Será que devemos temer o avanço do proselitismo ateísta no mundo inteiro? Creio que não. Muitas coisas boas podem ser tiradas dessa guerra ateísta contra a religião. Como já escrevi no texto sobre o documentário A Raiz de Todo Mal de Richard Dawkins, nós cristãos devemos encarar toda essa guerra teísta sob a ótica de Romanos 8.28. Tenho fé que toda essa afronta pode trazer bons frutos à religião em geral. Despertará os crentes para uma vida em acordo com suas crenças. E também trará uma importante lição para o debate entre fé e razão, religião e ciência. Assim como Dawkins, Sam Harris critica o respeito não-merecido que concedemos a religião, enquanto em todas as áreas de nossas vidas exigimos a verdade, em se tratando de religião suspendemos covardemente o raciocinio e apelamos para uma fé cega e irracional. Enquanto ninguém se baseia na fé nas questões pertinentes à história, em se tratando da origem da Bíblia ou da existência de Jesus Cristo a coisa muda. Não podemos mais adotar esse espirito irracional e anticientifico. Há tempo para mudar antes que a derrota seja decretada.