"Durantes séculos, Deus aperfeiçoou a forma animal que estava para se tornar o veículo da humanidade e a imagem dele. Deu ao ser mãos cujos polegares poderiam se opor a todos os dedos, e maxilares, dentes e gargante capazes de articular, e um cérebro complexo o suficiente para efetuar todos os movimentos materiais pelos quais o pensamento racional é personificado. A criatura pode ter existido nesse estado durante eras, antes de se tornar homem: pode até ter tido inteligência suficiente para fazer coisas que um arqueólogo moderno aceitaria como prova de sua humanidade. No entanto, era só um animal, porque todos esses processos físicos e psicológicos foram direcionados com finalidades puramente materiais e naturais. Então, na plenitude do tempo, Deus transmitiu a esse organismo, tanto na parte psicológica quanto na fisiológica, um novo tipo de consciência, que podia dizer "eu", que podia ver-se como um objeto, que conhecia Deus, que podia opinar sobre a verdade, a beleza e a bondade, e que se encontrava tão acima do tempo que podia percebê-lo fluindo. [...]Não sabemos quantas dessas criaturas Deus produziu, nem por quanto tempo permaneceram no estado paradisíaco. No entanto, cedo ou tarde tiveram seu momento de queda. Algo ou alguém lhes cochichou que poderiam ser como deuses.[...] Quiseram algum canto no universo no qual pudessem dizer a Deus: "Isso é da nossa conta, não da Sua". Mas esse canto não existe. Quiseram ser substantivos. Eram, porém, e devem ser para sempre, meros adjetivos. Não temos a menor idéia de qual ato ou série de atos em particular gerou o desejo impossível, que se contradizia, e que encontrou sua forma de expressão. Pois tudo que vejo pode ter tido relação com literalmente comer o fruto proibido, mas essa questão não têm importância."
Lewis, C.S. O Problema do Sofrimento apud Collins, Francis. A Linguagem de Deus
1 comentários:
Fine by me! PALAVROSSAVRVS REX!
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