sexta-feira, 25 de abril de 2008

Eu li... Desista! E Outras Histórias de Franz Kafka - Peter Kuper

Desista! E Outras Histórias de Franz Kafka
Peter Kuper


"Um dos mais importantes escritores do século XX volta a ganhar vida nas mãos do quadrinista Peter Kuper. Desista! Reúne nove histórias assinadas pelo tcheco Franz Kafka. São fábulas curtas em que estão presentes todo o absurdo, a dúvida, o vazio e a solidão que se tornaram marcas registradas da obra de Kafka. Mais que uma adaptação literal, Kuper fez uma interpretação da visão de mundo Kafkiana, fragmentada e desesperada, e seu traço expressionista (lembrando a xilogravura) realça o tom sombrio e o humor negro das histórias.
A arte de Kuper leva o leitor a uma imersão angustiante na obra de Kafka, tornando seus pesadelos claustrofóbicos em realidade, dando rosto e voz a seus personagens torturados. Os contos de Desista!, todos curtos e de poucos parágrafos, são carregados das imagens desesperadas que se espera encontrar em um conto do escritor. E Kuper consegue recriar equivalentes visuais das histórias ao mesmo tempo em que evita a armadilha da adaptação literal. O Kafka de Kuper é fiel, mas possui brilho próprio. Eseu traço áspero e estilo expressionista dão vida nova aos atormentados personagens arquetípicos de Kafka, como o assassino e sua vítima, em "Um Fraticídio", ou o marinheiro desorientado de "O timoneiro".
Kuper, como diz Jules Feiffer, na introdução, faz" uma série de riffs improvisações visuais sobre breves manifestações do velho mestre". O resultado é uma obra ousada, que une o isolamento angustiado de Franz Kafka com a arte ruidosa e estridente de Peter Kuper." Fonte: Submarino.com.br

Destaque para a história "Um Artista da Fome" segue o texto na integra abaixo:

Um Artista da Fome - Franz Kafka

domingo, 20 de abril de 2008

Eu li... The Screwtape Letters - C.S. Lewis

The Screwtape Letters
C.S. Lewis



A melhor forma de correr com o Diabo, se ele não se rende aos textos das Escrituras é zombar e caçoar dele, pois o mesmo não suporta o escárnio. Martinho Lutero

O Diabo... o espírito do Orgulho... Não suporta ser debochado.
Thomas More


Essa é a versão original de Cartas de Um Diabo ao Seu Aprendiz do gênio C.S. Lewis. Ler C.S. Lewis é mergulhar nas profundezas da Verdade. Nunca li um autor com tamanha capacidade de falar de verdades profundas de forma tão simples e irrefutável. Sua lógica é clara como neve e seu pensamento extramamente simples (mas jamais simplório!) e verdadeiro. Lewis tem a capacidade de falar aquelas verdades que todos já pensaram mas não souberam expressar. Sua apologia é genial. Diante da verdade como ela é, sem jargões, sem enxertos filosóficos pós-modernos não há como não se render.

Em The Screwtape Letters, Lewis escreve na pele do demônio Screwtape que através de suas cartas ensina seu sobrinho Wormwood sobre a arte de ganhar almas. O livro é uma aula de vida cristã, é impossível ler o livro e não se encaixar nas situações descritas por Lewis. Vemos como as armadilhas demôniacas são recorrentes e estão presentes nas "verdades" tão intensamente proclamadas pelas filosofias dos nossos tempos. O cristianismo é constantemente questionado pelos valores seculares, em Lewis, é o contrário que acontece. Ninguém está isento da necessidade de ler esse livro. A Igreja precisa ler C.S. Lewis.

Segue abaixo a primeira das 31 cartas:

CARTA Número I

Meu Caro Wormwood:

Prestei bastante atenção no que você disse acerca de conduzir as leituras do seu paciente, tomando cuidado para que ele assimile bastante daquele amigo materialista. Mas você não está sendo um pouquinho ingênuo nesta tarefa? Parece-me que você está se convencendo (não sei baseado em quê) que através da argumentação você pode afastá-lo da influência do Inimigo. Isso até seria aceitável, se seu paciente tivesse vivido alguns séculos atrás, pois naquele tempo os humanos ainda sabiam distinguir quando uma coisa havia sido provada ou não. E se tivesse sido, os homens a aceitavam e mudavam sua maneira de agir e de pensar, somente seguindo uma corrente de raciocínio. No entanto, devido à imprensa semanal e a armas semelhantes, alteramos bastante este contexto. Parta do princípio que sua vítima já se acostumou desde criança a ter uma dúzia de filosofias diferentes dançando em sua cabeça. Ele não usa o critério de "VERDADEIRO" ou "FALSO" para conferir cada doutrina que lhe apareça (seja do Inimigo ou nossa). Ao invés disso, ele verifica se a doutrina é "Acadêmica" ou "Prática", "Antiquada" ou "Atual", " Aceitável" ou "Cruel". O jargão e a expressão feita (e não o argumento lógico) são seus melhores aliados para mantê-lo longe da Igreja. Não perca tempo tentando levá-lo a concluir que o Materialismo seja verdadeiro (sabemos que não é). Faça-o pensar que ele é Forte, Violento ou Corajoso - ou ainda, que é a Filosofia do Futuro! Este é o tipo de coisas que lhe despertarão a atenção. Percebo que você tem intenções produtivas, mas há um problema muito grande quando tentamos persuadir o paciente a passar para nosso lado pelo emprego de argumentos e lógica: isto conduz toda a luta para o campo do Inimigo, que para azar nosso também sabe argumentar (e melhor do que nós). Por outro lado, no que diz respeito à propaganda prática (ainda que falsa) que lhe sugeri, Ele tem se mostrado por séculos bem inferior ao Nosso Pai lá de Baixo. Pela pura argumentação, você despertará o raciocínio do paciente; uma vez que a razão dele desperte, quem poderia prever o resultado? Veja que perigo! Mesmo que uma cadeia de raciocínio lógico possa ser torcida de modo a nos favorecer, isso tende a acostumar o paciente ao hábito fatal de questionar as coisas, analisando as mesmas com visão geral, e desviando-se das experiências ditas "concretas", que na verdade são apenas experiências sensíveis e imediatas. Sua maior ocupação deve ser portanto a de prender a atenção da vítima de modo a jamais se libertar da corrente do "Se eu vejo, creio!". Ensine-o chamar esta corrente "Vida Real", e jamais deixe-o perguntar a si próprio o que significa "Real". Lembre-se que ele não é puramente espírito como você. Nunca tendo sido humano (É abominável a vantagem do Inimigo neste ponto) você não percebe o quanto os humanos são escravizados à rotina. Uma vez, tive um paciente, ateu convicto, que costumava fazer pesquisas no Museu Britânico. Um dia, estando ele a ler, notei que seu pensamento esvoaçava com tendência a um caminho errado. Com efeito, o Inimigo ali estava ao seu lado, naquele momento. Antes que desse por mim, vi o meu trabalho de vinte anos começando a desmoronar. Se tivesse entrado em pânico e tentado argumentar, eu estaria irremediavelmente perdido. Mas não fui tolo a esse ponto! Recordei da parte da vítima que mais estava sob meu controle e lembrei-lhe que estava na hora de almoçar. O Inimigo acho lhe fez uma contra-sugestão (você bem sabe como é difícil acompanhar aquilo que Ele lhes diz) de que a questão que lhe surgira na mente era mais importante do que o alimento. Penso ter sido essa a técnica do Inimigo porque quando lhe disse "Basta! Isto é algo muito importante para se meditar num final de manhã...", vi que o paciente ficou satisfeito. Assim, arrisquei dizer: "É muito melhor se você voltar ao assunto depois do almoço e estudar o problema com cabeça mais fresca. Não havia acabado a frase e ele já estava no meio do caminho para a rua. Na rua, a batalha estava ganha. Mostrei-lhe um jornaleiro gritando "Olha o Jornal da Tarde", e o Ônibus No.73 que ia passando, e antes que ele tivesse dado muitos passos, eu o tinha convencido de que sejam lá quais forem as idéias extraordinárias que possam vir à mente de alguém trancado com seus livros, basta uma dose de "Vida Real" (que ele entendia como o ônibus e o jornaleiro gritando) para persuadí-lo que "Aquilo Tudo" não podia ser verdade de jeito nenhum. A vítima escapara por um fio, e anos mais tarde, gostava de se referir àquela ocasião como "senso inarticulado de realidade, que é o último salva-vidas contra as aberrações da simples lógica". Hoje, ele está seguro, na Casa de Nosso Pai. Começa a perceber ? Graças a processos que ensinamos em séculos passados, os homens acham quase impossível crer em realidades que não lhes sejam familiares, se estão diante de seus olhos fatos mais ordinários. Insista pois em lhe mostrar o lado comum das coisas. Acima de tudo, não faça qualquer tentativa de usar a Ciência (digo, a verdadeira) como defesa contra o Cristianismo. Certamente, as Ciências o encorajariam a pensar em realidades que a visão e o tato não percebem. Tem havido tristes perdas para nós entre os cientistas da Física. Se a vítima teimar em mergulhar na Ciência, faça tudo que você puder para dirigi-la para estudos econômicos e sociais, acima de tudo, não deixe que ela abandone a indispensável "Vida Real". Mas o ideal é não deixar que leia coisa alguma de Ciência alguma, e sim lhe dar a idéia de que já sabe de tudo e que tudo que ele assimila das conversas nas "rodinhas" são resultados das "descobertas mais recentes". Não se esqueça que sua função é confundir a vítima. Pela maneira como alguns de vocês, diabos inexperientes falam, poderiam até pensar (que absurdo!) que nossa função fosse ensinar!


Seu afetuoso tio,


Screwtape

sábado, 19 de abril de 2008

Simplesmente escolha! Mas será assim tão simples?



Neste último fim de semana durante uma viagem com alguns amigos, numa das noites, uma questão foi levantada. Referia-se ao poder de escolha. Alguns defenderam que a vida é feita de escolhas (mas é claro), se alguém decide se drogar esse alguém o fez por escolha. Esse papo de escolha me parece mais um chavão evangélico, pelo menos no meio do qual eu faço parte, e como todo bom chavão evangélico, me gera aversão. Bom, então, a discussão acalorada se deu em torno dessa questão. Aquele que se droga o faz por escolha, não importa a vida que esse alguém teve, afinal, tantos outros “alguém” passam também por situações complicadas e não desandam por esse caminho. Da mesma forma se um jovem escolhe trilhar o caminho do tráfico ele também o faz por nada mais nada menos do que uma escolha. Mas será tão simples assim?


Eu não negaria que a vida gira em torno de escolhas, nada determina o que haveremos de ser ou não-ser. Ninguém nos obriga a pegar numa arma. Ninguém nos obriga a fazer uso de entorpecentes. Ninguém nos obriga a seguir pela vida fácil do crime. Analisando friamente poderíamos dizer que sim, a vida é feita de escolhas e ponto final. Disso eu não posso discordar. Mas será que escolher entrar para o tráfico é o mesmo que decidir comer arroz com feijão ou macarrão? Escolhas decisivas da vida são tão simples quanto as escolhas simples do cotidiano? Será que essas decisões têm todas as mesmas implicações? A decisão de um jovem entrar ou não entrar para o tráfico se resume num sim ou não?


Não podemos diminuir a responsabilidade do homem no que ele faz com sua vida. Mas também não podemos ignorar os inúmeros outros fatores que pesam em decisões como as que falamos. Vamos ilustrar essa questão. Fernando é um homem de 27 anos, viciado em cocaína e casado... com outro homem. Fernando não foi obrigado a cheirar cocaína pela primeira vez e também não foi obrigado a se tornar homossexual e morar com um homem. Fernando escolheu pela droga e escolheu pelo homossexualismo. Agora vamos voltar à infância de Fernando. Aos oito anos Fernando começa a ser abusado sexualmente pelo seu próprio pai. Isso durou até os seus treze anos. Sua mãe descobre a situação quando Fernando tinha dez anos, mas ainda assim finge que não sabe o que acontece, e ignora quando seu filho pede que ela o ajude, taxando-o de mentiroso. Fernando apesar de seu ódio pelos seus pais, acaba por gostar de ser abusado. Seus pais finalmente se separam, afinal, sua mãe não mais agüentou ser espancada pelo marido e o denunciou a polícia. Fernando agora têm um pai no cárcere, uma mãe alcoólatra, não têm dinheiro para comer e é ridicularizado pelos seus amigos da escola.


Será que essa história toda tem alguma relação com o Fernando de hoje? É claro que têm. Mas ainda assim, Fernando teve escolha de se drogar e se tornar homossexual? Sim, teve. Mas a verdadeira pergunta deve ser: será que a opção de dizer não às drogas é tão simples para o Fernando quanto é para mim e pra você que viemos de uma família saudável e um lar de amor e temos nossas cabeças no lugar? Será que alguém diria que dizer não ao homossexualismo é o mesmo para o Fernando do que é para nós? Não é, e não acredito que alguém diria que é. Justifica o comportamento de Fernando? Não, mas explica. Fernando ainda tem escolha, mas será que na situação dele faríamos a escolha correta? Fernandinho Beira-Mar teve escolha, Hitler teve escolha, Osama Bin Laden teve escolha. Mas será que se tivéssemos na posição exata dessas pessoas faríamos as escolhas corretas? Talvez seríamos seres ainda piores. Isso me faz lembrar as palavras de C.S.Lewis no clássico Cristianismo Puro e Simples. Ele nos pergunta se é mais corajoso um homem ir para a guerra ou segurar um gato no colo. A resposta parece óbvia, mas não é se levarmos em conta que para alguns ir para a guerra é um sonho, ou ir para a guerra é melhor do que sua situação atual, e não é se levarmos em conta os distúrbios psicológicos que fazem com que algumas pessoas tenham pavor de um simples gato fazendo com que para essas pessoas segurar um inofensivo gato no colo seja uma grande vitória. Alguns são tomados de ódio no seu interior, mas o máximo que conseguem é ser motivo de chacota dos outros, para outros que não têm nem a metade da maldade e do ódio no coração é conferido poder para exterminar milhares. O pior deles é aquele que é chacota dos colegas, embora, as conseqüências dos seus atos sejam inferiores a daquele que exterminou milhares, mas simplesmente por que não lhe foi dado o poder para tal, talvez se fosse, ele exterminaria milhões. Mas Deus enxerga o interior. É fácil acusar o próximo de ter feito as escolhas erradas, difícil é pensar o que faríamos na situação deles. Mas Deus não vê como vê o homem, Deus vê o coração. Para Fernando resistir ao impulso de dar o primeiro teco é milhares de vezes mais difícil do que é para o cidadão comum. Para Fernando negar seus impulsos homossexuais é muita coisa, para um homem comum é simplesmente nada. Negar um convite para entrar no tráfico para mim não é nada, para outros pode ser uma batalha muito grande. Batalha essa que talvez eu não venceria no lugar de outra pessoa. Lembremos de que a quem muito é dado muito é cobrado. Deus não cobrará de Fernando o mesmo que cobra de mim ou de você. Talvez aquele que você acusa de ser um fracassado por ter feito as escolhas erradas, para Deus, faz muito mais esforço do que você.


É fácil julgar. Julgamos aquelas escolhas que trazem grandes conseqüências, mas nos esquecemos das inúmeras e pequenas escolhas erradas que fazemos diariamente! Deus não nos julgará de acordo com o padrão de Fernando, Beira-Mar ou Hitler. Deus nos julgará de acordo com o seu padrão Absoluto e eterno. Deus nos julgará de acordo com sua impetuosa Lei. E debaixo dela todos somos culpados. Não julgueis para não se surpreender. Talvez um dia você ouvirá Ele dizer àquele que você julgou: “Parabéns! Você fez o que pode com o pouco que lhe foi dado”. Cuide para não ter que ouvir: “É isso que você fez com o muito que lhe foi dado?”. Essa abordagem farisaica de resumir os desvios de comportamento alheio a simples questão de escolha é por demais fria e condenatória. A tarefa do crente não é tacar pedras naquele que fez as escolhas erradas, mas ajudá-lo a carregar o seu próprio fardo para que com isso ele consiga fazer as escolhas certas. A graça cura, a Lei machuca. Quem não tiver pecado atire a primeira pedra. Ó se Deus fosse nos julgar como nos julgam os homens! Obrigado pela Tua misericórdia, Senhor!.


“Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?

E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” Jesus Cristo


n’Aquele que julga retamente,


Vitor Grando

domingo, 13 de abril de 2008

O perigo da inerrância da Bíblia - C. Michael Patton





Greg Jones era um cristão evangélico, ativo em sua igreja, um pregador regular, professor e membro do Conselho Administrativo. Ele diz que era “viciado” no fundamentalismo. Ele dormia, comia e bebia as verdades do Cristianismo. Após uma década de serviço fiel à igreja, ele é agora um ateu professo que rejeita a “ingenuidade” de tudo aquilo a que se agarrava tão apaixonadamente. Por quê? Bem, de acordo com sua história, ele conta que foi despertado de seu sono fundamentalista através de muitos encontros com “a verdade”. O maior desses encontros foi quando ele finalmente percebeu que a Bíblia estava “cheia de erros”. Ele descreve sua reviravolta relatando as discrepâncias que encontrou nas Escrituras e sua incapacidade de conseguir conciliá-las. “Por algum tempo”, ele conta, “eu era o melhor em responder ao cético com relação a qualquer objeção que ele pudesse levantar contra as Escrituras. Eu sabia como conciliar qualquer suposta contradição. Isto se tornou uma arte da qual eu era orgulhoso. Não importa quão difícil fosse o problema, eu poderia encontrar uma saída. Depois de um tempo, eu não sei o porquê, mas comecei a refletir sobre a distância que eu tinha de percorrer para fazer com que tudo se encaixasse. Percebi que a ‘arte’ de responder contradições havia se tornado uma cortina de fumaça que eu levantava não apenas aos que eu respondia, mas também à mim mesmo. Eu tinha que ser honesto comigo mesmo. João diz ‘Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado’, e então dá meia-volta e diz ’se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai’. Qual é a verdade? Há literalmente centenas de problemas como este nas Escrituras. Minhas respostas podem ter satisfeito quem eu ensinei, mas elas não me satisfazem mais. Eventualmente eu percebi (tristemente, eu poderia dizer) que eu deveria abandonar a inerrância das Escrituras. Uma vez que fiz isto, eu tive que abandonar Cristo” (adaptado de uma história verdadeira).


Esta descrição é um testemunho comum de muitos que abandonaram a fé. Mas este texto não é sobre abandonar a fé em si, mas sobre os perigos da doutrina da inerrância. Quando Greg rejeitou a doutrina da inerrância por causa de sua incapacidade de conciliar as discrepâncias, isto significa necessariamente que ele deveria abandonar a fé? Será que a doutrina da inerrância é tão central à fé Cristã que se alguém negá-la, ele deverá arrumar suas malas e procurar por outra cosmovisão? Em outras palavras (e deixe-me ser bem claro), se as Escrituras não são inerrantes, isto significa que a fé cristã é falsa?


Muitos de vocês sabem que creio na doutrina da inerrância. Não apenas isso, mas eu creio na Declaração de Chicago de Inerrância Bíblica (um documento muito conservador). A cada ano eu assino o formulário requerido para membresia da Sociedade Teológica Evangélica, reafirmando minha crença de que as Escrituras, em seus autógrafos, não possuem nenhum erro qualquer - histórico, científico ou teológico.


Dito isto, eu creio que esta doutrina, enquanto importante, não é o artigo pelo qual o Cristianismo sobrevive ou sucumbe. Eu creio que as Escrituras poderiam conter erros e a fé Cristã continuaria essencialmente intacta. Por quê? Porque o Cristianismo não é construído sobre a inerrância das Escrituras, mas sobre o advento histórico de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Cristo por causa do homem, viveu uma vida perfeita, morreu a morte expiatória e ressuscitou no terceiro dia não porque as Escrituras dizem que esses eventos ocorreram, mas porque eles ocorreram de fato. a verdade está na objetividade do evento, não na acurácia do registro do evento. A causa e o efeito devem ser colocados em seus devidos lugares aqui. O evento histórico da incarnação causou o registro das Escrituras, a Escritura não foi a causa dos eventos. Novamente, o Cristianismo é fundado sobre o Advento, não sobre o registro inerrante do Advento.


Pense nisto: nós confiamos apenas nos registros históricos de relatos que que tiveram uma testemunha inerrante? Seriam as histórias antigas inerrantes? Eu nunca ouvi alguém dizer que Polybius (200-118 a.C.) foi inerrante em seus registros da história Romana, e mesmo assim nós o tratamos como essencialmente confiável. Da mesma forma, Josefo (37-93 d.C.) é visto como um historiador Judeu essencialmente confiável, mas não inerrante. Aqueles que escrevem livros de história para as nossas escolas hoje não precisam entregar um currículo com credenciais de inerrância antes de serem aprovados pelos editores para escreverem livros de história de alto nível, precisam? Não. Por quê? Porque é um entendimento bem aceito que as pessoas podem dar um testemunho confiável e seguro, mesmo que não sejam inerrantes. Imagine que sigamos o exemplo de Greg na história acima. Uma vez que encontrarmos uma discrepância em qualquer trabalho, isso torna todo o trabalho indigno de confiança. Se este fosse o nosso método de busca histórica, nos tornaríamos completamente agnósticos de toda história. Nós termináriamos dizendo que todos os trabalhos escritos por historiadores do passado são completas mentiras e invenções, porque elas não são inerrantes.


Felizmente, este não é o dilema que nos é apresentado no entendimento da históra (ou qualquer outra disciplina). Entendemos que as pessoas, enquanto errantes, podem nos oferecer relatos essencialmente confiáveis. Aqueles que ocupam cargos como professores universitários, cientistas, engenheiros, historiadores, matemáticos, políticos, e em qualquer outra carreira, devem crer na confiabilidade genérica de testemunhos de outros indivíduos errantes.


Vamos utilizar esta mesma postura com relação às Escrituras por um momento. Vamos assumir que as Escrituras não são inerrantes. (Por favor, ao menos tente fazer isto junto comigo!). Vamos dar um passo além e dizer que as Escrituras não são ao menos inspiradas. Aqui está a situação: as Escrituras são uma coleção de 66 registros históricos antigos, fornecidos através de vários tipos de literatura. Os registros, como qualquer outro registro, podem conter erros históricos, científicos ou de outros tipos. Nesta linha de raciocínio, digamos que João realmente cometeu um erro sobre o número de mulheres que apareceram na tumba de Jesus após sua ressurreição. Será que isto significa que o testemunho de João é inteiramente falso? Será que isto significa que todo o testemunho de João é falso em cada detalhe? É claro que não! Qualquer historiador que seguisse esta metodologia rapidamente perderia o seu emprego, pois ele não teria mais fontes para sua pesquisa. Se as Escrituras fossem como qualquer outro registro da história com pequenas discrepâncias, então isto não justificaria uma rejeição total dos eventos que eles registram. Sua credibilidade está baseada na assunção de confiabilidade histórica genérica evidenciada através das regras de pesquisa histórica - as quais não incluem um critério de inerrância.


Deixe-me dar um passo além. O fato é que não necessitamos nem mesmo das Escrituras para que o Cristianismo seja verdadeiro. Lembre-se, a cosmovisão cristã é Cristocêntrica (centrada no Advento de Cristo), não bibliocêntrica (centrada na Bíblia). É por causa da graça de Deus que temos registros da morte, enterro e ressurreição de Cristo. Mas se por alguma razão Deus resolvesse suster sua graça e não registrasse tais eventos nas Escrituras, isso significaria que tais acontecimentos não ocorreram? Claro que não. A morte de Cristo, seu enterro e sua ressurreição são eventos históricos que aconteceram independentemente do fato de termos ou não registros inspirados.


Você poderia perguntar-me, como poderíamos saber sobre a morte, enterro e ressurreição de Cristo se eles não tivessem sido registrados? Esta é uma boa questão, mas primeiro você tem que conceder este próximo passo. Não é apenas verdade que o Cristianismo não é dependente da inerrância, inspiração e registro dos eventos, mas ele também não é dependente de nosso conhecimento dos eventos. Teoricamente falando, Deus poderia ter enviado seu Filho para morrer pelo mundo e ressuscitar da tumba e não ter contado para ninguém que o Cristianismo continuaria sendo verdadeiro. O ponto é que o Cristianismo permanece ou sucumbe diante da verdade histórica do Advento do Filho de Deus, não pelo registro desses eventos através das Escrituras. Como Deus decidiria comunicar esses eventos, se ele escolhesse fazer o mesmo, não vem ao caso. Eu suponho que Ele poderia ter usado a tradição não-escrita, o testemunho de anjos, sonhos e visões, ou encontros diretos.


Agora, falando apologeticamente, não há nenhuma razão qualquer para alguém rejeitar a confiabilidade histórica genérica das Escrituras apresentadas desta forma. Se alguém fosse aceitar os Evangelhos, por exemplo, como qualquer escrito histórico, então ele deveria de ser persuadido da morte, enterro e ressurreição de Jesus de Nazaré baseado na pesquisa histórica honesta e sólida. Se não, sua metodologia é falha por pressuposições injustificáveis como a impossibilidade de milagres.


Porque Greg se sentiu compelido a rejeitar completamente o Cristianismo por causa de alguns supostos erros? Porque isto é o que lhe foi ensinado por cristãos conservadores bem intencionados. Eu acredito que nós, muitas vezes em nosso zelo pelas Escrituras, criamos um falso dilema sugerindo que a crença na inerrância e a rejeição total da mensagem do Cristianismo são as duas únicas opções. Estas não são as duas únicas opções. As Escrituras podem ser registros históricos confiáveis de forma genérica e a fé Cristã continuaria sendo verdadeira.


Para aqueles de vocês que possuem conflitos ou rejeitam a doutrina da inerrância, enquanto eu acredito que estejam errados, isso não significa que tenham fundamentos para rejeitar a historicidade da morte, enterro e ressurreição do Filho de Deus como registrado nas Escrituras. Existem 27 documentos antigos que possuem credibilidade histórica que precisam ser referenciados assim como qualquer outro documento antigo (para não mencionar o testemunho de dúzias de documentos históricos do primeiro e do segundo século que não estão incluídos no cânon do Novo Testamento). Se você rejeita o Cristianismo baseado na crença da errância destes documentos então você deve rejeitar também todos os registros da história antiga.


Para aqueles de vocês que acreditam na inspiração e na inerrância, suas crenças estão sobre chão firme (veja aqui vídeos em defesa da ispiração e da inerrância). Mas, por favor, tomem cuidado para não criarem um falso dilema relativo a uma aderência estrita às doutrinas evangélicas. Enquanto a autoridade da palavra de Deus é de central importância, o Cristianismo é Cristocêntrico, não bibliocêntrico. Cristo ainda é Senhor, mesmo que as Escrituras nunca houvessem sido escritas.


Qual é o perigo da inerrância? Transformá-la na doutrina pela qual o Cristianismo sobrevive ou sucumbe.

Blog de Férias Forçadas

Pois é, já estamos há mais de 10 dias sem atualizações e não tenho previsão para voltar a atualizar o blog, mas creio que acontecerá em breve. Pelo visto, parece que perdi minha placa de vídeo (mais gastos!!!). Já tem artigos prontos para serem postados, acredito que no máximo semana que vem já voltaremos a ativa.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Eu li... O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse? Quem Mudou a Bíblia e Por Quê - Bart Ehrman

...e gostei!
O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse? Quem Mudou a Bíblia e Por Quê
Bart. D. Ehrman



Nem só de Richard Dawkins vivem os céticos. Bart D. Ehrman, Ph.D em Teologia pela Princeton University, também provê munição aos questionamentos do cristianismo ortodoxo. A diferença é que ele ataca justamente aquilo que pode destruir a fé cristã – o Novo Testamento. Nesse livro sua intenção é justamente mostrar que o Novo Testamento, como nós o conhecemos não é confiável por ter sido vitima de milhares de alterações voluntárias e involuntárias nas mãos dos copistas ao longo dos séculos.


Antes de começar a ler esse livro eu já tinha uma “conclusão” em mente. "É mais um ataque ridículo e infundado à fé cristã". Ao longo da leitura o livro me surpreendeu positivamente pela sua qualidade e fundamentação. Embora, eu acredite que o objetivo do autor passou longe de ser alcançado.


Bart começa seu livro narrando sua história de conversão, seu processo de nascer-de-novo, o preenchimento do vazio interior, que segundo o próprio era simplesmente devido ao fato de ser um adolescente. Para ele esse vazio é natural na fase da adolescência. O autor interpreta criticamente sua história de conversão e a atribui a persuasão de seu líder Bruce da Youth For Christ e de sua capacidade de citar a Bíblia espontaneamente. Tudo era muito persuasivo. Bart decidiu entrar para o Moody Bible Institute, seu objetivo inicial era se tornar uma voz ativa do meio cristão entre os pesquisadores seculares. Mas ao ter contato com a língua grega, ele começa a perceber a diferença os “originais” em grego e as traduções modernas da Bíblia. Ele então começa a ser perguntar se a doutrina da inspiração não é exclusividade da elite acadêmica, visto que dos manuscritos gregos às traduções há grandes divergências que não permitem uma compreensão precisa do sentido dos textos bíblicos. Até que em Princeton, depois de argumentar numa monografia, tentando justificar um erro textual de Marcos 2 onde diz “Quando Abiatar era sumo sacerdote” (Que na verdade era Abimeleque, seu pai. 1Sm 21.1-6) recebe como resposta de seu professor um “Talvez Marcos simplesmente tenha errado.” Essa resposta fez as comportas se abrirem, provavelmente haveriam outros erros nas Escrituras.


Bart então nos mostra a importância do livro para o cristianismo, não só dos textos sagrados, mas também martirológios, apologias, tratados e regras eclesiásticas. O segundo capitulo é sobre a ignorância dos copistas antigos que muitas vezes sequer sabiam ler (!) mas apenas copiavam o que “liam” por imitação, isso aliado ao estado em que se encontravam os textos gregos – muitos deles eram escritos em scriptuo continua, ou seja, sem pontuação e as vezes sequer espaço entre as palavras – tornavam a tarefa de reproduzir um texto altamente problemática. Bart cita o fato de as primeiras cópias dos livros do Novo Testamento serem produzidas não por copistas profissionais, mas sim pelos membros ricos e instruídos das Igrejas como um motivo a mais para descrermos na precisão das cópias. O curioso é que no capitulo anterior, Bart diz que os copistas profissionais muitas vezes sequer sabiam ler, ora, se essa era a realidade não seria então de se esperar que as cópias produzidas pelos membros mais instruídos das Igrejas fossem ainda mais precisas?


Vamos agora analisar alguns dos problemas textuais que Ehrman nos mostra.


A Epístola de Paulo aos Gálatas. “
Provavelmente esta carta foi não escrita pelo próprio Paulo, mas sim ditada por ele a um copista-secretário. A prova disso vem no fim da carta, onde Paulo acrescentou um pós-escrito de próprio punho, para que os destinatários pudessem saber que ele era o responsável pela carta (uma técnica comum em cartas ditadas na Antiguidade): “Vejam por essas letras grandes que eu estou escrevendo a vocês de próprio punho” (Gl 6,11). Em outras palavras, sua escrita de próprio punho era maior e provavelmente de aparência menos profissional que a do copista a quem ele ditara a carta. Assim sendo, se ditou a carta, Paulo a teria ditado palavra por palavra? Ou teria exposto os pontos básicos e permitido ao copista preencher o resto? Ambos os métodos eram comumente usados por aqueles que escreviam cartas na Antiguidade. Se o copista preenchia o restante, como podemos ter certeza de que o fazia exatamente como Paulo queria? Se não, temos realmente as palavras de Paulo, ou serão elas palavras de um copista desconhecido? Mas, suponhamos que Paulo ditasse a carta palavra por palavra. É possível que em algumas passagens o copista tenha escrito palavras erradas? As coisas mais estranhas podem ter acontecido. Se foi assim que se deu, então o autógrafo da carta (isto é, o original) já teria um “erro” em si, de modo que todas as cópias subseqüentes não seriam cópias das palavras de Paulo (nos lugares onde seu copista cometera erros.)” (EHRMAN, p. 68-9). Muita argumentação mas pouca eficiência. Bart tenta desqualificar não só as cópias mas sim já o próprio original! Toda sua argumentação pode ser destruída com um pouco de raciocínio. Oras, não é de se esperar que após ditar uma carta o autor a releia para saber se o que foi escrito condiz com o que ele ditou? Mas é óbvio! Mesmo se na releitura alguma alteração passasse despercebida aos olhos de Paulo certamente não seria uma alteração de conseqüências catastróficas a fé cristã! Isso mostra a necessidade que os céticos têm de enxergar problemas onde eles simplesmente não existem. Muito barulho por nada.


1Corintios 5-8.
Paulo nessa passagem nos adverte contra a perversidade. Isso pelo menos é o texto ao qual nós temos acesso pelas nossas traduções. Mas em alguns manuscritos não é contra a perversidade (PONERAS) que Paulo nos adverte, mas sim contra a imoralidade sexual (PORNEIAS). Mas será que isso alteraria alguma regra de conduta do cristianismo? Tanto a imoralidade sexual quando a perversidade não são condenadas em inúmeras outras passagens das Escrituras? O fato de (talvez) não sabermos o que Paulo escreveu realmente em nada altera a fé que nós conhecemos e praticamos.


Apocalipse 1.5.
Também aconteciam erros com palavras homófonas, isto é, com fonia idêntica, isso acontecia quando um copista copiava um texto que estava sendo ditado. No caso de Ap 1.5 onde o autor diz “nos livrou de nossos pecados”. O termo grego para “livrou” (LUSANTI) soa exatamente como o termo “lavou” (LOUSANTI). Portanto, não é de surpreender quem em certo número de manuscritos medievais o autor ore àquele que “nos lavou de nossos pecados”. Mais uma vez, quais são as conseqüências da divergência entre “livrou” ou “lavou”? Absolutamente nenhuma! O sentido permanece o mesmo seja qual for a palavra utilizada


Romanos 12.11.
Muitas vezes, para ganhar tempo e espaço, os copistas abreviavam certas palavras. Abreviaturas muito comuns envolviam o que os pesquisadores chamam de nomina sacra (nomes sagrados), um grupo de palavras como Deus, Cristo, Senhor, Jesus e Espírito, que vinham abreviadas ou porque ocorriam muito freqüentemente ou para mostrar que elas deviam ser objeto de atenção especial. Por vezes, essas várias abreviaturas levavam copistas posteriores a uma espécie de confusão, porque eles confundiam uma abreviatura com outra ou tomavam uma abreviatura por uma palavra inteira. Por exemplo, em Romanos 12.11, Paulo exorta seu leitor a “servir ao Senhor”. Mas a palavra Senhor, KURIOW, geralmente era abreviada nos manuscritos por KW (com uma linha em cima), o que levou alguns copistas antigos a entendê-lo como abreviatura de KAIRW, que significa “tempo”. Desse modo, nesses manuscritos, Paulo exorta seu leitor a “servirem ao tempo”. Mais uma vez não resta dúvidas sobre qual palavra constava no texto original de Paulo, o próprio Bart explica o motivo da confusão.


Existem outras controvérsias textuais citadas pelo autor como a dúvida em relação autenticidade da história da mulher adúltera em João 8, os 12 últimos versículos de Marcos, a passagem de 1 João que afirma explicitamente a Trindade entre outras. Mesmo se tais passagens não forem autenticas elas não têm a capacidade de alterar nada do que os cristãos crêem, visto que a misericórdia de Jesus Cristo não é exclusividade da história de João 8, a ressurreição de Jesus Cristo não é exclusiva dos versículos finais de Marcos (vide o credo de 1Co15!), e a Trindade pode ser deduzida de outras passagens da Escritura além da passagem de 1 João. O sentido pleno das Escrituras não é ameaçado por controvérsias textuais, não é a toa que Bruce Metzger, mentor de Bart Ehrman, afirmou que o Novo Testamento é 99.5% puro em relação ao original. Não é de se surpreender que em alguns manuscritos existam alterações grosseiras ao texto bíblico, já que é de se esperar que assim como muitos deturpam o sentido das Escrituras hoje, o mesmo acontecesse no passado. Pode ser verdade que não possamos ter certeza de 100% das palavras contidas no Novo Testamento (Pensem em quantas pregações são baseadas em uma única palavra das Escrituras!), mas podemos ter certeza da confiabilidade do conjunto. Termino o livro com uma sensação de “era só isso?”. É um excelente livro para o primeiro contato com a critica textual e as controvérsias do texto do NT, abre nossa mente e na minha opinião edifica a nossa fé, mas não é suficiente para destruir o fundamento da nossa fé – o Novo Testamento.



Mais um sucesso do mundo evangélico...


Crueeeeellll!!!

 
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