domingo, 5 de dezembro de 2010

Sorteio do livro "A SUPREMACIA DE CRISTO"




Por ocasião das celebrações do nascimento do Salvador da humanidade, ofereceremos aos nossos leitores o livro "A Supremacia de Cristo"     do Dr. Ajith Fernando, missionário no Sri Lanka, a ser sorteado em 31/01/2011. O livro é produto das reflexões e da experiência missionária e apologética do Dr. Ajith Fernando em suas interações com pessoas dos mais diferentes credos. 

Sinopse

Neste livro, estamos lidando com a qualidade inigualável da religião cristã, com convicção de que é a resposta que o Cristo de toda a vida proveu para a criação caída. O cristianismo, portanto, abrange a totalidade da vida. O autor trata de uma ampla variedade de temas e se movimenta em muitas esferas que, usualmente, são tratadas separadamente em livros diferentes. Aqui, você achará exegese bíblica, crítica neotesta-mentária, teologia, apologética, biografia, inspiração e desafio.

Sobre o Autor

Ajith Fernando tem sido o diretor nacional de Juventude para Cristo em Sri Lanka desde 1976. Ele e sua esposa ajudaram a fundar, e agora dirigem uma congregação que consiste principalmente em convertidos do budismo. Fernando também ministra em conferências e universidades em todas as partes do mundo, e tem sido professor visitante em vários seminários de destaque nos EEUU, inclusive a Escola Evangélica de Divindade “Trinity.” Escreveu seis livros, inclusive Crucial Questions about Hell, publicado por Crossway .


Esse vídeo nos apresenta, de maneira simples, a Supremacia de Cristo:



RESULTADO DO SORTEIO:  
O vencedor do sorteio foi Carmadelio Silva de Sousa, morador de Fortaleza, CE.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dr William Lane Craig: A Surdez do Ateu



Filosofia e Apologética Cristã: Dr William Lane Craig: A Surdez do Ateu: "Dr Craig apresenta uma realidade muito comum e triste. Muitos ateus parecem ser literalmente surdos quando debatem sobre a existência de ..."

Visitem o blog do meu amigo Mike Moore:
http://mikemooreac.blogspot.com/

domingo, 21 de novembro de 2010

A Religião de Karl Marx



Essa reflexão é fruto de mais um dos inúmeros trabalhos que tenho que entregar neste final de período da faculdade. O texto baseia-se numa reflexão sobre o sexto capítulo de Filosofia da Religião de Giuseppe Staccone.

Pode-se considerar Karl Marx, ao lado de Sigmund Freud, Friedrich Nietzsche e Charles Darwin, como um dos alicerces do espírito ateísta de nossos tempos. “Religião é o ópio do povo” sentenciou Marx seguido, então, por muitos “intelectuais” contemporâneos. Entretanto, ao contrário desses outros pensadores ateus¹ citados, Marx nunca escreveu um tratado específico contra a religião. Seu espírito anti-eclesiástico e ateísta era manifesto através de suas obras.

O ateísmo parece ser um pressuposto da teoria marxista, já que a religião, mais especificamente a Igreja Romana, é alicerce da tradição e, portanto, da superestrutura da sociedade contemporânea. A revolução marxista implica a subversão desses valores da tradição e, portanto, de seu maior representante: A Igreja  Católica Apostólica Romana. Antonio Gramsci parece ter entendido isso perfeitamente no seu conceito de hegemonia e do intelectual orgânico. Este é o sustentador daquela. Assim, para que a revolução comunista procedesse fazia-se necessária a formação de intelectuais orgânicos vinculados à causa marxista. Estes seriam os responsáveis pela subversão dos valores da tradição e abririam espaço para recepção da revolução comunista. Não há verdade para eles, tal conceito é puramente burguês. O que importa é a construção de uma nova realidade que terá como fim o proletário.

Karl Marx foi influenciado pelos jovens hegelianos e sua crença na completa desassociação entre Filosofia e Teologia. Eles defendiam a completa emancipação da Filosofia do domínio da Teologia. A racionalidade encontra seu ápice aí, embora eu acredite que implícito nesse conceito de racionalidade esteja o conceito de naturalismo, isto é, a cosmovisão que concebe o universo, digamos, como uma caixa fechada onde tudo que existe e acontece encontra-se dentro desta caixa, portanto, as explicações e causas devem ser buscadas no interior dessa caixa. Não há espaço para influências externas tais como um Deus ou qualquer entidade metafísica. Essa concepção de racionalidade me parece deveras errônea. Não há nenhuma necessidade lógica do naturalismo para a racionalidade. Até porque se, de fato, houver um ser tal como Deus ou houver alguma ordem sobrenatural atuante, ou criadora, no universo fica difícil compreender como poderemos chegar a alguma conclusão racional sobre o universo e nossa existência sem levarmos em consideração tal pressuposição. Foi C.S. Lewis quem sabiamente afirmou que a última coisa que a questão de Deus pode ser é ser “mais ou menos importante”, pois das duas possíveis – e antagônicas - respostas a essa pergunta se derivam conclusões radicalmente opostas.

Se me for permitido fazer um comentário fruto das minhas convicções cristãs, cito um trecho do prefácio do livro Theology and the Kingdom of God do teólogo alemão Wolfhart Pannenberg. Pannenberg é um crítico do subjetivismo teológico de R. Bultmann e K. Barth. Para ele a teologia cristã é uma dentre outras conflitantes cosmovisões que buscam se impor e explicar o universo e a natureza humana. A Teologia é uma empreitada pública aberta ao escrutínio da razão. Traduzindo livremente:

Se por razão alguém quer dizer as ideias que constituem a sabedoria convencional, então há muito na sabedoria bíblica que é “irracional”. Jesus disse que os últimos serão os primeiros, aquele que perde a sua vida a ganhará, e outros ensinos aparentemente irracionais. Paulo afirma que é um tolo por Cristo. Tais afirmações, insiste Pannenberg, não constituem um abandono da razão. Ao contrário, o argumento de Paulo é que seus oponentes estão arrazoando a partir de falsas premissas, pelas quais ele seria julgado como tolo. Contra isso ele afirma um outro conjunto de premissas e procede a defender a racionalidade de sua posição. Da mesma forma, Jesus convidou seus discípulos a segui-lo porque seu estilo de vida era razoável.

Vemos, então, o contraste do pensamento de Pannenberg e o pensamento moderno, como também do pensamento teológico de R. Bultmann e K. Barth. A racionalidade de uma proposição depende das premissas nas quais ela está baseada, portanto, a questão metafísica sobre a existência ou não de uma ordem sobrenatural é de fundamental relevância, mas jamais o naturalismo pode ser uma exigência lógica da racionalidade. Em síntese, o que temos aqui é um conflito entre cosmovisões diametralmente opostas: o naturalismo contra o supranaturalismo.

Mas, voltemos ao texto sobre Karl Marx. Para Marx a filosofia tem sua própria confissão de fé: o ateísmo, a radical negação de todos os deuses. Disse ele:

A Filosofia, enquanto uma gota de sangue palpitar em seu coração, triunfador do mundo e inteiramente livre, não cessará de clamar com Epicuro aos adversários: Não é ateu quem despreza os deuses da multidão e sim aquele que adere às opiniões do vulgo acerca dos deuses. A Filosofia não dissimula. A profissão de fé de Prometeu, resumida nesta única frase: 'odeio de coração a todos e a cada um dos deuses', é sua própria profissão de fé, seu lema contra todos os deuses do céu e da terra que o reconhecem a autoconscncia humana como a divindade suprema. Não pode haver outro deus ao lado deste"
Discordo, como já explicitei, da exigência naturalista para o pensamento filosófico. Aqui, então, gostaria de denunciar o que me parece ser a religião de Marx: a autoconsciência humana. Como pode Marx ter essa certeza da centralidade da autoconsciência humana? Parece-me que aqui vemos um compromisso religioso de Marx e, acho que posso dizer, do Marxismo. Não seria também essa posição uma espécie de ópio? Em que se apoiaria tal proposição marxista para que possamos julgá-la como racional ou não? Parece-me que não há lá como fundamentar tal afirmação. Aqui temos uma pressuposição marxista. Uma pressuposição religiosa. Naturalista é verdade, mas ainda assim religiosa tal como Paul Tillich definiu a fé religiosa: “estar tomado por aquilo que nos toca de forma última”. A pressuposição marxista me parece tão dogmática quanto qualquer pressuposição religiosa. Isso se evidencia ainda mais nas promessas utópicas do marxismo ao sonhar com um tempo onde os homens terão tudo em “comum” sem sequer a necessidade do Estado, que será abolido por fim. Isso nada mais é do que trazer a esperança cristã de um vindouro Reino de Paz para o presente. Nas minhas limitações filosóficas não encontro diferença nenhuma entre  tal crença marxista e a religiosa.


¹ Um leitor me questionou pelo fato de eu ter colocado Darwin entre "pensadores ateus", pois ele não era ateu e sim agnóstico. Ele tem razão, Darwin nasceu anglicano, foi leitor de William Paley, mas morreu agnóstico e não ateu como eu dissera. Veja sobre a visão religiosa de Darwin aqui.
². PARINETTO, L., Karl Marx sul/a religione, ed. La Nuova Itália, Firenze, 1980 -
(é uma antologia de 585 páginas de textos marxianos sobre a religião, com relativos breves
comentérlos) - p, 148,

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

UNIVERSIDADE MACKENZIE: EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA




A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado. Ora, nossa liberdade de consciência e de expressão não nos pode ser negada, nem confundida com violência. Consideramos que mencionar pecados para chamar os homens a um arrependimento voluntário é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhum discurso de ódio pode se calcar na pregação do amor e da graça de Deus.

Como cristãos, temos o mandato bíblico de oferecer o Evangelho da salvação a todas as pessoas. Jesus Cristo morreu para salvar e reconciliar o ser humano com Deus. Cremos, de acordo com as Escrituras, que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Somos pecadores, todos nós. Não existe uma divisão entre “pecadores” e “não-pecadores”. A Bíblia apresenta longas listas de pecado e informa que sem o perdão de Deus o homem está perdido e condenado. Sabemos que são pecado: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, rivalidades, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (Gálatas 5.19). Em sua interpretação tradicional e histórica, as Escrituras judaico-cristãs tratam da conduta homossexual como um pecado, como demonstram os textos de Levítico 18.22, 1Coríntios 6.9-10, Romanos 1.18-32, entre outros. Se queremos o arrependimento e a conversão do perdido, precisamos nomear também esse pecado. Não desejamos mudança de comportamento por força de lei, mas sim, a conversão do coração. E a conversão do coração não passa por pressão externa, mas pela ação graciosa e persuasiva do Espírito Santo de Deus, que, como ensinou o Senhor Jesus Cristo, convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8).

Queremos assim nos certificar de que a eventual aprovação de leis chamadas anti-homofobia não nos impedirá de estender esse convite livremente a todos, um convite que também pode ser recusado. Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência. A Constituição Federal (artigo 5º) assegura que “todos são iguais perante a lei”, “estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença” e “estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Também nos opomos a qualquer força exterior – intimidação, ameaças, agressões verbais e físicas – que vise à mudança de mentalidades. Não aceitamos que a criminalização da opinião seja um instrumento válido para transformações sociais, pois, além de inconstitucional, fomenta uma indesejável onda de autoritarismo, ferindo as bases da democracia. Assim como não buscamos reprimir a conduta homossexual por esses meios coercivos, não queremos que os mesmos meios sejam utilizados para que deixemos de pregar o que cremos. Queremos manter nossa liberdade de anunciar o arrependimento e o perdão de Deus publicamente. Queremos sustentar nosso direito de abrir instituições de ensino confessionais, que reflitam a cosmovisão cristã. Queremos garantir que a comunidade religiosa possa exprimir-se sobre todos os assuntos importantes para a sociedade.

Manifestamos, portanto, nosso total apoio ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil publicado no ano de 2007 [LINK http://www.ipb.org.br/noticias/noticia_inteligente.php3?id=808] e reproduzido parcialmente, também em 2007, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por seu chanceler, Reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Se ativistas homossexuais pretendem criminalizar a postura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, devem se preparar para confrontar igualmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, as igrejas evangélicas de todo o país, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Congregação Judaica do Brasil e, em última instância, censurar as próprias Escrituras judaico-cristãs. Indivíduos, grupos religiosos e instituições têm o direito garantido por lei de expressar sua confessionalidade e sua consciência sujeitas à Palavra de Deus. Postamo-nos firmemente para que essa liberdade não nos seja tirada.

Este manifesto é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro.
Para ampla divulgação.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Argumento Ontológico de Sto. Anselmo



Provas da existência de Deus são, para mim, um assunto fascinante devido a seu teor altamente especulativo e por dar ampla margem à criatividade da razão humana. Além de mexer com algo que é inerente a todo ser humano – Deus. Há basicamente dois tipos de argumentos para existência de Deus: (1) argumentos a priori e (2) argumentos a posteriori. Argumentos a posteriori são argumentos que partem da experiência para inferir a existência de Deus; já os argumentos a priori independem da experiência, partindo somente de conceitos da razão humana. O maior exemplo de argumento a priori é o Argumento Ontológico que analisaremos aqui. O Argumento Ontológico é, certamente, um dos mais fascinantes destes argumentos. É altamente controverso e especulativo. Difícil de ser derrubado, mas, curiosamente, “é difícil de eliminar a desconfiança de que nela haja algo de fundamentalmente errado”¹. Seu poder de fascínio é tanto que raros filósofos, desde Anselmo, o ignoraram. Muitos para defendê-lo, como Descartes, Espinosa, Leibniz, e, mais recentemente, Plantinga, Norman Malcolm e Maydole; seja para refutá-lo, como Kant; ou, muitas das vezes, ridicularizá-lo como fez Schopenhauer taxando-o de “uma piada fascinante” - posição, diga-se de passagem, partilhada por boa parte dos filósofos que o analisaram. Procedamos, então, à análise do argumento para ver o que de tão intrigante há neste pensamento de Anselmo de Cantuária.

Anselmo havia recentemente terminado a obra Monologium, onde ele discute a existência de Deus por meio de argumentos cosmológicos e morais. Porém, Anselmo não ficara satisfeito com a complexidade de sua argumentação e continuava a buscar um único e suficiente argumento capaz de estabelecer racionalmente a existência de Deus e de Seus atributos. Nas palavras do próprio:

Mal acabei de escrever um opúsculo [o Monológio], acendendo aos pedidos de alguns irmãos, o qual servisse como exemplo de meditação sobre os mistérios da fé para um homem que busca, em silêncio, descobrir, através da razão, o que ignora, e dei-me conta de que essa obra era difícil de ser entendida devido ao entrelaçamento das muitas argumentações. Então comecei a pensar comigo mesmo se não seria possível
encontrar um único argumento que, válido em si e por si, sem nenhum outro, permitisse demonstrar que Deus existe verdadeiramente e que ele é o bem supremo, não necessitando de coisa alguma, quando, ao contrário, todos os outros seres precisam dele para existirem e serem bons. Um argumento suficiente, em suma, para
oferecer provas adequadas sobre aquilo que cremos acerca da substância divina. Ao dirigir com zelo e freqüência o pensamento para esse fim, às vezes parecia-me ter alcançado o objetivo; outras, tinha a impressão que se me embaciava a mente. Por fim, desanimado, procurei deixar de lado a tarefa, julgando impossível conseguir o que buscava. Mas, por mais que me esforçasse por afugentar o propósito, porque me afastava de outras ocupações profícuas, ele voltava a mim com insistência crescente. No entanto, um dia, quando já estava cansado de resistir a essa perseguição inoportuna, justamente no calor do conflito dos meus pensamentos, eis que se me apresenta a idéia que já desesperara de encontrar. Acolhi-a com tanto entusiasmo quanto empenho colocara em rechaçá-la.

Vemos aqui que após a redação do Monologium, Anselmo ficou insatisfeito com sua complexa argumentação e dificuldade de que seu pensamento fosse acompanhado. Ele, então, resolve escrever o seu argumento e temos o que se segue:


Então, ó Senhor, tu que nos concedeste a razão em defesa da fé, faze com que eu conheça, até quanto me é possível, que tu existes assim como acreditamos, e que és aquilo que acreditamos. Cremos, pois, com firmeza, que tu és um ser do qual não é possível pensar nada maior. Ou será que um ser assim não existe porque “o insipiente disse, em seu coração: Deus não existe”? [Sl 13,1] Porém, o insipiente, quando eu digo: “o ser do qual não se pode pensar nada maior”, ouve o que digo e o compreende. Ora, aquilo que ele compreende se encontra em sua inteligência, ainda que possa não compreender que existe realmente. Na verdade, ter a idéia de um objeto qualquer na inteligência, e compreender que existe realmente, são coisas
distintas. Um pintor, por exemplo, ao imaginar a obra que vai fazer, sem dúvida, a possui em sua inteligência; porém, nada compreende da existência real da mesma, porque ainda não a executou. Quando, ao contrário, a tiver pintado, não a possuirá apenas na mente, mas também lhe compreenderá a existência, porque já a executou. O insipiente há de convir igualmente que existe na sua inteligência “o ser do qual não se pode pensar nada maior”, porque ouve e compreende essa frase; e tudo aquilo que se compreende encontra-se na inteligência. Mas “o ser do qual não é possível pensar nada maior” não pode existir somente na inteligência. Se, pois, existisse apenas na inteligência, poder-se-ia pensar que há outro ser existente também na realidade; e que seria maior. Se, portanto, “o ser do qual não é possível pensar nada maior” existisse somente na inteligência, este mesmo ser, do qual não se pode pensar nada maior, tornar-se-ia o ser do qual é possível, ao contrário, pensar
algo maior: o que, certamente, é absurdo. Logo, “o ser do qual não se pode pensar nada maior” existe, sem dúvida, na inteligência e na realidade.


Assim, para Anselmo, o próprio conceito de Deus de “o ser sobre o qual nada maior pode ser pensado” implica logicamente a Sua existência, visto que, se não existisse, poderia-se pensar um ser ainda maior que “o ser sobre o qual nada maior pode ser pensado”. Logo, tal ser existe no pensamento e, por conseguinte, na realidade. Anselmo conclui, portanto, que negar a existência de Deus é, como colocado no Salmo 13.1, tolice, pois não é sequer possível pensar sua inexistência. O tolo só nega algo tão evidente à razão humana justamente por ser “insensato e carente de raciocínio.

OBJEÇÕES PROPOSTAS

Gaunilo e sua Ilha Perdida:

Uma das mais populares estratégias dos detratores do Argumento Ontológico é a paródia. Gaunilo, um monge contemporâneo de Anselmo, escreveu uma livro intitulado “Em Defesa do Tolo” ou "Em Favor de Um Insipiente" onde parodiava o argumento de Anselmo substituindo Deus pela “Ilha Perdida”. O intuito de Gaunilo não era demonstrar a falha do argumento, mas sim que ao aceitarmos a lógica do argumento poderíamos inferir uma variedade enorme de seres que sabemos que não existem. A ilha perdida é a ilha da qual nenhuma maior pode ser concebida, portanto, tal ilha tem que existir necessariamente, já que se não existisse não seria a ilha mais perfeita concebível.

Aparentemente, a mesma lógica do Argumento Ontológico é usada por Gaunilo para provar a existência da “Ilha Perdida”. Isso nos deixa com apenas duas opções: (1) aceitarmos a existência de toda variedade de seres “Mais Perfeitos” que se possa conceber ou (2) negarmos a validade da lógica de Anselmo e, com ela, a conclusão sobre a existência de Deus. Tendo em vista que sabemos que a tal Ilha Perdida não existe, conclui-se que, da mesma forma, a existência de Deus não pode ser inferida a partir da lógica de Anselmo.

A Resposta de Alvin Plantinga: A Confusão Entre a Propriedade de Ilhas e as Propriedades de Deus

Alvin Plantinga, um dos responsáveis pela reintrodução do Argumento Ontológico nos debates filosóficos nas últimas décadas, responde à objeção de Gaunilo da seguinte maneira. Plantinga diz que a ideia de Deus difere das noções supostamente paralelas e tradicionalmente veiculadas pelos detratores do argumento. Por uma razão, as propriedades que determinam a excelência máxima de Deus possuem valores máximos intrínsecos, enquanto as propriedades formadoras de excelência de coisas como ilhas não as possuem.

Por exemplo, a onisciência é a propriedade de conhecer apenas e tão somente todas as verdades. É impossível conhecer mais verdades que isso. Por contraste, como no caso das ilhas, sempre poderá haver mais palmeiras ou dançarinas nativas – tais coisas não têm um valor máximo intrínseco! Portanto, não pode haver uma maior ou mais perfeita ilha concebível. Sempre se poderá conceber uma Ilha com uma ou duas palmeiras a mais. Além do mais, não está muito claro que existam propriedades formadoras de excelência objetivas de coisas como ilhas, já que alguém pode preferir uma ilha deserta, enquanto outra pessoa prefere uma ilha repleta dos mais luxuosos hotéis.

A ideia de uma Ilha Perida é um conceito vazio. Não é concebível, assim como não é concebível um número natural máximo, pois sempre se poderá conceber um número ainda maior. Tenta pensar no maior número natural possível. Seria 1 seguido de um bilhão de zeros vezes o mesmo número elevado a quadragésima potência? Não, ainda seria possível concebermos um número maior, portanto, assim como números é inconcebível conceber coisas tais como Ilhas num grau de perfeição máximo. Veja este exemplo do filósofo ateu William Rowe:

"Uma dificuldade em aplicar o raciocínio de Anselmo à ilha de Gaunilo é que devemos aceitar a premissa de que tal ilha é uma coisa possível. Mas isso parece exigir de nós que creiamos que uma coisa finita e limitada – como uma ilha – pode ter perfeições ilimitadas. Não parece ser possível tal coisa. Tente imaginar, por exemplo, um jogador de futebol do qual nenhuma maior é concebível. Quão rápido ele deveria correr? Quantos gols deveria fazer por jogo? Quão rápido deveria chutar a bola? Poderia ele cair ou sofrer um pênalti? Apesar de a frase, “o jogador de futebol do qual nenhum maior é concebível”, parecer ter sentido, assim que tentamos pegar a ideia de como tal ser seria nós descobrimos que não conseguimos formar nenhuma ideia coerente. Pois nós é requerido que pensemos em algo limitado – um jogador de futebol ou uma ilha – e, então, pensar nisso como possuindo perfeições ilimitadas e infinitas."
 
Assim, portanto, parece-nos que a objeção de Gaunilo não resiste a um escrutínio mais acurado e, então, o Argumento Ontológico permanece de pé. Vejamos, então, a próxima objeção.

Kant: Existência não é um predicado

A crítica mais influente e devastadora do argumento ontológico foi a de Immanuel Kant. Kant pensava que pelo fato do argumento ontológico se apoiar no juízo de que um Deus que existe é maior do que um que não existe, ele se apoiava numa confusão.

De acordo com Kant, a existência não é um predicado, não é uma propriedade que algo pode possuir ou não. Quando dizemos que Deus existe, não estamos dizendo que há um Deus e que ele possui a propriedade da existência. Se fosse esse o caso, quando disséssemos que Deus não existe estaríamos dizendo que há um Deus e que lhe falta a propriedade da existência, i.e, estaríamos ao mesmo tempo afirmando e negando a existência de Deus. Ao contrário, sugere Kant, dizer que algo existe é dizer que o conceito de tal coisa é exemplificado no mundo. Existência, portanto, não é questão de algo possuindo uma propriedade, existência, mas um conceito correspondente a algo no mundo.

Para ficar mais claro, suponha que déssemos uma completa descrição de um objeto, seu tamanho, peso, cor, etc... Se adicionármos, então, que esse objeto existe, ao fazermos isso não adicionamos nada ao conceito do objeto. O objeto é o mesmo existindo ou não; mesmo tamanho, cor e peso. O fato de que um objeto existe, de que ele é exemplificado no mundo, não muda nada sobre seu conceito. Afirmar que o objeto existe é dizer algo sobre o mundo, dizer que ele contém algo que se encaixa no conceito descrito; não é dizer nada sobre o objeto em si.

Se Kant estiver certo em sua visão de que existência não é uma propriedade, então é impossível comparar um Deus que existe com um Deus que não existe. Na visão de Kant um Deus que existe e um Deus que não existe são qualitativamente idênticos. Um Deus que existe é onipotente, onisciente, onipresente, etc. Um Deus que não existe é onipotente, onisciente, onipresente, etc. Ambos são iguais. Se isso estiver certo, então a alegação de Anselmo de que um Deus existente é maior do que um não-existente é falsa – nenhum é maior do que o outro – neste caso o argumento ontológico falha.

Norman Malcolm: Existência Necessária

Norman Malcolm encontrou uma outra versão do Argumento Ontológico no terceiro capítulo do Proslogium de Sto. Anselmo. Uma versão que, pelo que pareça, ainda não havia sido percebida. Nessa versão Sto. Anselmo identifica Deus como "o ser que não pode ser pensado como não existente", i.e, a existência a que se refere Sto. Anselmo é existência necessária. Um ser que existe necessariamente é um ser cuja inexistência implica uma contradição lógica. Ora, um ser que cuja inexistência implica uma contradição lógica é maior do que um ser cuja inexistência não implica uma contradição lógica. Assim, a lógica de Sto. Anselmo parece continuar válida, resistindo ao violento ataque de Immanuel Kant

Conclusão

Poderá a lógica de Sto. Anselmo ser derrubada? As defesas contra as objeções de Gaunilo e Kant são válidas? Penso que são. Não parece haver maneira de contornar a lógica de Sto. Anselmo, pelo menos não até o momento. Haverá alguém a ser persuadido pelo argumento? É difícil, pois o argumento parece sempre deixar o alerta de que algo, em algum lugar, está errado.

Referências Bibliográficas*:

1)Stanford Encyclopedia of Philosophy
2)CRAIG, William L. MORELAND, J.P. Ensaios Apologéticos, Hagnos.
3) ANSELMO. Proslogium. Edição Os Pensadores. Ed. Abril.

*Assim como no meu artigo sobre Gramsci, este também é em grande parte composto de um descarado CONTROL+C CONTROL+V das fontes. Coube a mim a organização das ideias.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Pedagogia de Antonio Gramsci


Não tenho dúvidas de que Karl Marx é um dos filósofos mais vivos nos nossos dias, pelo menos na realidade cultural brasileira. Podemos não viver num regime comunista, mas ainda assim não é difícil identificar a influência velada que o marxismo exerce nos veículos de comunicação, nas ciências humanas e, até mesmo, na exegese das Escrituras Sagradas, ou seja, sua influência viva no campo ideológico. Destarte, eis o motivo pelo qual eu escolhi o teórico marxista Antonio Gramsci para analisar sua pedagogia, que, após a queda do Muro de Berlim, foi providencial aos intentos marxistas. Gramsci foi um grande responsável pela difusão do marxismo no campo ideológico, como já dissemos acima, e isso inclui a disciplina da Pedagogia. Portanto, nada mais perninente à nossa realidade do que a análise do pensamento gramsciano.

Nascido no final do século XIX, na Sardenha, Antonio Gramsci foi um dos grandes teóricos da Esquerda. Foi jornalista, escritor, teórico e político italiano e um dos fundadores do Partido Comunista Italiano. Tendo sido um bom estudante, Gramsci venceu um prêmio que lhe permitiu estudar literatura na Universidade de Turim. A cidade de Turim, à época, passava por um rápido processo de industrialização, com as fábricas da Fiat e Lancia recrutando trabalhadores de várias regiões da Itália. Os sindicatos se fortaleceram e começaram a surgir conflitos sociais-trabalhistas. Gramsci frequentou círculos comunistas e associou-se com imigrantes sardos.

Sua situação financeira, no entanto, não era boa. As dificuldades materiais moldaram sua visão do mundo e tiveram grande peso na sua decisão de filiar-se ao Partido Socialista Italiano. Esta é uma característica comum aos mais ávidos comunistas: um passado menos favorecido.

Por ser um grande opositor do fascismo de Benito Mussolini, Gramsci foi preso em 1926 e assim permaneceu até 1934, quando foi liberto por problemas de saúde. Ao proferir sua sentença o juiz disse: “Temos que impedir esse cérebro de trabalhar por uns vinte anos.” Veio a falecer pouco tempo depois. Foi nesse período encarcerado que Gramsci escreveu sua principal obra Cadernos do Cárcere. Vamos ver agora dois de seus principais conceitos e, subsequentemente, sua pedagogia.


Hegemonia

Antes de adentrarmos na pedagogia de Antonio Gramsci, há dois conceitos que precisam ser elucidados por serem os pressupostos de suas teorias pedagógicas. O primeiro deles é o conceito de hegemonia. O conceito de hegemonia alçou Gramsci ao panteão teórico das esquerdas. Segundo o autor, por hegemonia entende-se o movimento articulado - o bloco histórico formado pela estrutura e superestrutura - na direção das disputas politicas. A superestrutura compreende a estrutura jurídica (Direito e Estado) e ideológica (moral, política, religião...)

O conceito parece exercer um duplo papel na concepção gramsciana: (1) denunciar os instrumentos empregados pela "hegemonia burguesa" e (2) estabelecer uma estratégia eficaz para o triunfo das classes trabalhadoras.

Na leitura proposta por Gramsci, a sociedade é um organismo complexo e relacional, que não pode ser totalmente explicado em termos de um determinismo econômico mecanicista, como propusera o marxismo ortodoxo. Ele não negava a mais-valia, a luta de classes, o materialismo histórico, o fim do "Estado burguês", mas tentava mostrar o impacto poderoso de fatores morais, culturais e ideológicos nos processos sociais. Uma hegemonia, em suma, não se concretiza "apenas" com a posse dos meios de produção; a luta se dá também no campo ideológico. E aqui eu penso que está a grande contribuição de Gramsci à Esquerda. A luta não se dá apenas na tomada do Estado, na implantação da ditadura do proletariado, mas se dá também, ou prioritariamente, no campo ideológico, na subVersão das ideias que, para Gramsci, são intrinsecamente associadas à burguesia e que, portanto, precisam ser extirpadas para a implantação da revolução. Gramsci, portanto, procede a uma subversão profunda e sutil do status quo.

Ao contrário da maioria dos teóricos que se dedicaram à interpretação e à continuidade do trabalho intelectual do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), que concentraram suas análises nas relações entre política e economia, Gramsci deteve-se particularmente no papel da cultura e dos intelectuais nos processos de transformação histórica. Suas ideias sobre educação surgem desse contexto.

Gramsci, que credita a Lenin os princípios gerais da hegemonia, deve ter lido com atenção a seguinte passagem de A Ideologia Alemã, de Marx e Engels: "a classe que dispõe dos meios de produção material dispõe também dos meios de produção intelectual".

Portanto, o poder das classes dominantes sobre o proletariado não reside somente no controle dos aparatos repressivos do Estado, mas na hegemonia cultural que as classes dominantes exercem sobre as dominadas, através do controle do sistema educacional, das instituições religiosas e dos meios de comunicação. Diz Olavo de Carvalho:

Para Gramsci, o conceito de “verdade” é burguês. Ele traz ao Marxismo o pragmatismo de seu mestre Antonio Labriola. Nesta, "verdade" não é o que corresponde a um estado objetivo, mas o que pode ter aplicação útil e eficaz numa situação dada. Enxertando o pragmatismo no marxismo, Labriola e Gramsci propunham que se jogasse no lixo o conceito de verdade: na nova cosmovisão, toda atividade intelectual não deveria buscar mais o conhecimento objetivo, mas sim a mera "adequação" das idéias a um determinado estado da luta social. Nesta nova cosmovisão, não haveria lugar para a distinção - burguesa, segundo Gramsci - entre verdade e mentira. Uma teoria, por exemplo, não se aceitaria por ser verdadeira, nem se rejeitaria por falsa, mas dela só se exigiria uma única e decisiva coisa: que fosse "expressiva" do seu momento histórico, e principalmente das aspirações da massa revolucionária. Dito de modo mais claro: Gramsci exige que toda atividade cultural e científica se reduza à mera propaganda política, mais ou menos disfarçada
Herbert Marcuse, outro famoso marxista da Escola de Frankfurt, já propusera que "o conceito geral que foi desenvolvido pela lógica discursiva tem seu fundamento na realidade da dominação." Ora, resta evidente que, para o marxismo, não havemos de recorrer às noções da Verdade ou da Lógica, pois fazer isso é sujeitar-se à ideologia dominante. Deste modo, para o marxista as demais coisas são julgadas a partir de seu único fim: a revolução. Daí observamos um total desprezo pela tradição clássica na cultura acadêmica contemporânea, qualquer apelo à Lógica é visto como uma tentativa de opressão do burguês contra o proletário oprimido (por proletário, hoje, pode-se entender "homossexual", "maconheiro da USP", etc.). Isso explica a animosidade contemporânea contra a Igreja Romana, o Cristianismo, os valores da família e demais instituições tradicionais e, por isso mesmo, inimigas do marxismo. Pode-se encontrar dezenas de afirmações como essas em qualquer marxista proeminente, bem como no próprio Manifesto do Partido Comunista.

Passemos para o próximo ponto, mas não antes de citarmos as palavras de Mao Tse-Tung:

A superação do velho pelo novo é a universal e eternamente inviolável lei do mundo... Tudo encerra uma contradição entre seu novo aspecto e seu velho aspecto, que constitui uma intrincada série de lutas... No momento em que o novo aspecto ganha a posição dominante sobre o velho aspecto, a qualidade da velha coisa transforma-se na qualidade da nova coisa. Assim, a qualidade de uma coisa é fundamentalmente determinada pel oaspecto principal da contradição que ganhou a posição dominante
Assim, não nos resta dúvida de que o que rege o pensamento, a moral e os valores marxistas são uma única coisa: a revolução, ou, nas palavras de Mao, o "novo".


Gramsci e o Intelectual Orgânico.

Gramsci não entende o homem como um produto natural, mas como produto histórico; como produto de específicas relações sociais e, ao mesmo tempo, como indivíduo dotado de singularidade insuprimível.

Considerando que o homem é sujeito de sua história, Gramsci propõe a difusão da cultura humanista e filosófica no âmbito da classe operária e dos "subalternos" de um modo geral; a formação do hábito de pesquisa, método e disciplina nos estudos; e a valorização da vontade moral.

Se o homem é sujeito da história, cabe a ele transformá-la subvertendo os valores tradicionais, e isso não será feito sem o intelectual. Cabe ao intelectual dar sentido à hegemonia do grupo social dominante, daí a importância de formar intelectuais com valores trabalhistas para que, então, a revolução seja bem-sucedida. A classe trabalhadora deveria produzir seus próprios intelectuais.

Gramsci difere entre dois tipos de intelectuais: (1) O intelectual orgânico, vinculado a uma "consciência de classe"; e (2) o intelectual tradicional, vinculado à anterior constituição histórica. Na briga pela hegemonia, os intelectuais orgânicos buscam absorver os tradicionais num processo em que o conhecimento se subordina à ação social.

A missão de Gramsci é catequizar outros intelectuais, que catequizarão lideranças de sindicatos e movimentos sociais, e estes haverão de mesclar o saber técnico e ideológico a sua práxis já testada e maturada no cotidiano social e do trabalho. Unidos na subversão dos valores tradicionais e do senso-comum. Gramsci é  de uma sutileza vil.

Não é por acaso, portanto, que as universidades brasileiras estão repletas de esquerdistas militantes. A cosmovisão marxista está presente explicitamente na filosofia e demais ciências humanas e, até mesmo, de forma mais suti,l na exegese bíblica. Há quem aponte, como fruto disso, para a "esquerdização" dos departamentos de informação, conhecimento e inteligência.

Gramsci e a Escola:

Para Gramsci a escola tinha um importante papel na análise da sociedade moderna. A escola era só mais um sistema de hegemonia ideológica onde os indivíduos eram direcionados a manter o status quo. A escola para Gramsci "deveria levar a criança até o ponto de escolha da profissão, formando-a durante esse tempo como uma pessoa capaz de pensar, estudar e governar - ou controlar aqueles que governam" (Gramsci 1971 p40)

Esse tipo de escola só poderia alcançar algum sucesso com a participação ativa dos alunos e, para que isso acontecesse, a escola deveria estar relacionada à vida cotidiana. O aprendiz deve ser ativo e não um "recipiente mecânico e passivo". O ensino deve educar a partir da realidade viva do trabalhador.

Gramsci defende uma escola não técnica, como era nos tempos de Mussolini, mas ele defende o que ele chama de "ensino desinteressado", ou seja, que interessa não apenas ao indivíduo, mas à coletividade. A educação deveria formar não só técnicos, mas intelectuais.

Na escola prevista por Gramsci, as classes desfavorecidas poderiam se inteirar dos códigos dominantes, a começar pela alfabetização. A construção de uma visão de mundo que desse acesso à condição de cidadão teria a finalidade inicial de substituir o que Gramsci chama de senso comum - conceitos desagregados, vindos de fora e impregnados de equívocos decorrentes da religião e do folclore. Com o termo folclore, o pensador designa tradições que perderam o significado, mas continuam se perpetuando. Para que o aluno adquira criticidade, Gramsci defende para os primeiros anos de escola um currículo que lhe apresente noções instrumentais (ler, escrever, fazer contas, conhecer os conceitos científicos) e seus direitos e deveres de cidadão. Foi Gramsci quem trouxe à pedagogia o conceito de formação da cidadania como um dos objetivos da escola.

Tudo isso marcou sua indispensável contribuição à área educacional (formal e informal). Gramsci chamou a atenção da escola, para que a mesma "não hipotecasse o futuro dos alunos; nem obrigasse suas vontades, inteligências, consciências e informações a se moverem na bitola de um trem com estação marcada", e sempre foi contra o "abstratismo didático e doutrinário". Almejava a formação "onilateral" do homem (integral, técnica e política). Seu método de ensino para o 2.o grau e Universidade, consistia "na investigação, no esforço espontâneo e autônomo do discente, e no qual o professor exerce apenas uma função de guia amigável".

Termino com uma citação de Olavo de Carvalho: “Como o que interessa [para Gramsci] não é tanto a convicção política expressa, mas o fundo inconsciente do "senso comum", Gramsci está menos interessado em persuasão racional do que em influência psicológica, em agir sobre a imaginação e o sentimento. Daí sua ênfase na educação primária. Seja para formar os futuros "intelectuais orgânicos", seja simplesmente para predispor o povo aos sentimentos desejados, é muito importante que a influência comunista atinja sua clientela quando seus cérebros ainda estão tenros e incapazes de resistência crítica. “


Referências Bibliográficas:
http://www.infed.org/thinkers/et-gram.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Gramsci
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u379.jhtm
http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/antonio-gramsci-307895.shtml
Revista Filosofia Conhecimento Prático N.:19
http://www.olavodecarvalho.org/livros/negramsci.htm


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

SORTEIO DO LIVRO "Apologética para questões difíceis da vida"

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Por que Deus não responde às minhas orações? Se Deus é onipotente, por que o mal existe? Se Deus é tão amoroso, por que sofremos? Qual é o significado do sofrimento para o cristão? Como ele deve lidar com suas dúvidas?
 
Todo aquele que busca compreender as razões de sua fé acaba se deparando com questões complicadas como sofrimento, dúvida, fracasso, existência do mal e orações não respondidas. Além disso, temas polêmicos como aborto e homossexualidade confrontam os cristãos diariamente, na mídia e nos debates políticos. Porém, muitas vezes, em meio a nossa sociedade cada vez mais intelectualmente estagnada, o cristão não encontra respostas bem elaboradas, francas e inteligentes.
Para isso, William Lane Craig escreveu Apologética para questões difíceis da vida, que acaba de ser lançado por Edições Vida Nova.
O autor é doutor em filosofia pela Universidade de Birmingham, Inglaterra, e doutor em teologia pela Universidade de Munique, Alemanha. É um dos mais importantes filósofos da religião atuais, destacando-se também como apologeta cristão.
 
No dia 26 de novembro, a Vida Nova, em parceria com os blogs Apologia e Despertai Bereanos!, sorteará três exemplares de Apologética para questões difíceis da vida. Para participar do sorteio desse lançamento, clique aqui e preencha o formulário.
Já adiantamos que Vida Nova trará William Lane Craig ao Brasil para participar do 8º Congresso Vida Nova de Teologia, no primeiro semestre de 2012. Em breve, mais informações!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sorteio do livro: Sorteio do livro “O Verdadeiro Che Guevara e os Idiotas Úteis que o Idolatram”


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Nosso próximo sorteio será o polêmico livro “O Verdadeiro Che Guevara e os Idiotas Úteis que o Idolatram” do exilado cubano Humberto Fontova. No livro, Fontova demonstra a inadequação da realidade com o mito que se criou em torno de Che. Ele revela como um ser humano mesquinho, covarde, sádico, racista e incompetente foi transformado em herói revolucionário, defensor dos fracos e oprimidos, pela propaganda comunista. É um autêntico remédio desmistificador para os engodos que temos assimilado ao longo dos anos!
“A incapacidade de um povo para perceber os perigos que o ameaçam é um dos sinais mais fortes da depressão autodestrutiva que prenuncia as grandes derrotas sociais. A apatia, a indiferença ante o próprio destino, a concentração das atenções em assuntos secundários acompanhada de total negligência ante os temas essenciais e urgentes, assinalam o torpor da vítima que, antevendo um golpe mais forte do que poderia suportar, se prepara mediante um reflexo anestésico, para se entregar inerme e semidesmaiada nas mãos do carrasco, como o carneiro que oferece o pescoço à lâmina. Mas quando o torpor não invade apenas a alma do povo, quando toma também as mentes dos intelectuais e a voz dos melhores já não se ergue senão para fazer coro à cantilena hipnótica, então se apaga a última esperança de um redespertar da consciência.
Aqueles a quem os deuses querem destruir, eles primeiro enlouquecem”
Olavo de Carvalho em “O Jardim das Aflições”, página 78.
Pretendemos realizar o sorteio no dia 29 de Outubro. Quem deseja participar pode clicar aqui e preencher o formulário.
O vencedor do sorteio anterior (“A Mente Cristã num Mundo sem Deus”) foi Cicero José Ramos da Silva, morador de Joinville, SC.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Parabéns, meu Vasco da Gama, pelos 112 anos!


>‎21 de Agosto de 1898 às 14h30 na Rua da Saúde era fundado aquele que viria a ser um dos mais gloriosos clubes do futebol brasileiro. Parabéns, meu VASCO DA GAMA, pelos 112 anos!

"CASACA, CASACA, CASACA-ZACA-ZACA. A TURMA É BOA, É MESMO DA FUZARCA. VASCO, VASCO, VASCO!"

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Pannenberg responde



Qual é a sua principal preocupação com a Igreja nos próximos 25 anos?



Pannenberg: Minha principal preocupação com a Igreja é que ela continue a pregar o Evagenlho e não se adapte a padrões e interesses seculares. Algumas igrejas e muitos ministros acham que tem de se adaptar aos interesses seculares das pessoas para alcançá-las. Eu acho que o oposto é verdadeiro. Se as pessoas forem ouvir na igreja somente aquilo que elas já ouvem na televisão e leem nos jornais, não haveria nenhuma necessidade de ir à Igreja. A Igreja tem de proclamar algo diferente: a esperança da vida eterna. Ela deve proclamar a participação com o Cristo crucificado através do batismo pela fé.

Fonte: http://faith-theology.blogspot.com/2005/10/more-from-pannenberg.html

terça-feira, 27 de julho de 2010

Sorteio do livro “A Mente Cristã num Mundo sem Deus”



Nosso próximo sorteio será o livro “A Mente Cristã num Mundo sem Deus”, do Dr. James Emery White, professor de Teologia e Cultura no Gordon-Conwell Theological Seminary.

“A maioria dos cristãos preferiria morrer a pensar. Na verdade, é o que fazem.”

Bertrand Russell, filósofo ateu

“A mente voltada para Deus enfrenta um desafio cultural: o deus deste mundo – que, não sem forças intelectuais, dispõe-se contra o Reino do Senhor. Entre os poderes desse ataque, estão quatro idéias principais, cada qual essencial para nosso entendimento:

* Relativismo Moral;
* Individualismo Autônomo;
* Hedonismo Narcisista;
* Naturalismo Redutivo.

“O Trauma do nosso mundo é que a cosmovisão secular, arraigada no naturalismo, não cumpre o que promete. Em vez de acentuar a satisfação e a realização pessoal, vivemos num deserto moral e espiritual. O relativismo moral tem levado a uma crise de valores; vemo-nos carentes de valores, mas não os temos, e estamos divorciados de qualquer meio para encontrá-los. O individualismo autônomo tem levado a uma falta de visão; nada existe que nos chame para cima, para sermos mais do que somos, além de nós mesmos. O hedonismo narcisista tem cultivado almas vazias, qualquer pessoa que tenha seguido sua trilha sempre embotadora sabe quanto seus apelos são vazios. O naturalismo redutivo, logicamente, tem se provado inadequado para a experiência humana; sabemos intuitivamente que existe mais na realidade do que os cinco sentidos podem verificar, e ansiamos por descobrir aquilo que está além de nós mesmos.

Mas os cristãos têm algo a oferecer ao mundo que o próprio mundo já não tenha? Somos capazes de apresentar Cristo com tanta clareza que os não cristãos possam entender que somente Cristo alcança as mais profundas necessidades da vida deles? Não, se não forjarmos nossa mente na bigorna do desenvolvimento.” (Retirado das páginas 27 a 34).

“…não deixamos de orar por vocês e de pedir que sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual.”

Colossenses 1.9

Pretendemos realizar o sorteio no dia 31 de Agosto. Quem deseja participar pode clicar aqui e preencher o formulário.

O vencedor do sorteio anterior ("A Religião e o Desenvolvimento da Ciência Moderna") foi Raul de Souza Anjo.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Tantos ateus, tão pouco tempo! (W. L. Craig - Questão da Semana)



Tradução: Vitor Grando
http://despertaibereanos.blogspot.com
vitor.grnd@gmail.com

Essa resposta do W.L.Craig é uma ótima introdução à apologética. Ele apresenta boas ferramentas ao leigo que quer estar "sempre preparado para responder a razão da nossa fé" (1 Pe 3.15). Recomendo para todo cristão!

Pergunta:

Dr. Craig, eu estudo na Universidade do Estado de Louisiana e trabalho na biblioteca da faculdade. De todas as pessoas com quem eu trabalho, metade são agnósticas e a outra metade ateísta. Eu me tornei um cristão nascido-de-novo há pouco mais de um ano, após cinco anos de ateísmo. Eu tenho percebido que muitos jovens creem, como eu cria, que a religião é coisa estúpida e de que não há Deus algum. Eu sequer menciono religião para meus colegas de trabalho e alguns deles, ainda assim, dizem coisas horríveis a respeito da religião e do Cristianismo. Eu trabalho com um inglês que diz que seu país é muito não-religioso onde até a menção do nome de Deus é ridicularizada. A América do Norte também tem se tornado descrente. Preocupo-me com nosso futuro. Não sei como combater o ateísmo. Sou cristão, convertido por experiências pessoais, não sou filósofo. Ateus pedem por respostas, respostas que eu não tenho tempo para procurar. Estou fazendo três graduações na LSU e nenhuma delas é filosofia. Como pode um simples estudante leigo, como eu, se tornar um decente defensor do Cristianismo contra esse colegas ateus? Sempre defenderei minha crença em Cristo, mas eles procuram por algo mais do que eu creio. Eles dizem que os crentes são estúpidos e ilógicos, portanto eu gostaria de argumentar fundamentado na lógica e provar a eles que os crentes não são estúpidos. Como alguém que não tem tempo de aprender filosofia ou ler teologia pode debater contra esses descrentes mente-fechada?

John

Dr. Craig responde:

Tendo já falado duas vezes na LSU, eu fiquei surpreso com a atmosfera de descrença que caracteriza a comunidade universitária lá. Isso lhe dá a oportunidade de ser ainda mais luz na escuridão.

Respondo a sua pergunta esta semana, John, porque eu penso que é uma pergunta que muitos cristãos encaram. Não temos tempo para nos tornarmos hábeis apologistas, e ainda assim nos encontramos em situação nas quais somos chamados a apresentar uma "razão para a esperança que há em nós" (1 Pedro 3.15). O que devemos fazer?

Algo fácil que podemos fazer é aprender a formular questões. Greg Kouhl recomenda fazermos duas perguntas aos descrentes:

1. O que você quer dizer com isso?

2. Que razões você tem para pensar isso?

É incrível como essas duas simples perguntas são capazes de embaralhar as pessoas! Por exemplo, pergunte ao descrente o que ele quer dizer quando diz que não acredita em Deus - ele é ateu ou agnóstico? (Prepare-se para explicar a diferença para ele!). O que quer que ele diga, pergunte-o, "Que razões você tem para pensar isso?" Muitas pessoas sequer entendem o que querem dizer com suas afirmações, e provavelmente a maioria não tem boas razões para elas. Enquanto você estiver fazendo perguntas, você não está fazendo afirmação nenhuma, portanto não tem que provar nada. Deixe o ônus da prova com os descrentes.

Outra coisa que você pode fazer é se referir a alguma fonte. Você não precisa ter um cérebo para dizer a alguém, "Você já viu a Blackwell Companion to Natural Theology? Antes de dizer que não há teístas inteligentes e nenhuma boa razão para crer em Deus, talvez seja melhor você dar uma olhada nesse livro primeiro. Caso contrário, você não estará realmente informado". Você não precisar ter lido esses livros se estiver com o tempo apertado. Tudo que você precisa é conhecer alguns títulos: God, Freedom, and Evil, de Alvin Plantinga. The Existence of God, de Richard Swinburne. Finite and Infinite Goods: A Framework for Ethics, de Robert Adams. The Book of Acts in the Setting of Hellenistic History, de Colin Hemer. Jesus Remembered, de James D. G. Dunn. The Resurrection of the Son of God, de N. T. Wright. Envergonhe o descrente pela sua ignorância dessa literatura. Se ele for alguém sincero, recomende que ele pesquisa neste site ou assista a um debate.

Terceiro, aprenda a citar nomes de estudiosos cristãos. Quando o descrente lhe disser que todos os cristãos são ignorantes, mostre-se surpreso e diga surpreendido, "Você realmente acha isso? O que você acha da obra de Alvin Plantinga - ou de William Alston?". Citar nomes pode ser desagradável quando alguém está querendo aparecer, mas num caso como este, você está apenas oferecendo contra-exemplos à alegação de que todos os cristãos são ignorantes, uma visão que está enraizada na ignorância. Aqui vão alguns nomes para serem mencionados: filósofos: Alvin Plantinga* (Universidade de Notre Dame), Peter van Inwagen (Universidade de Notre Dame), William Alston (Universidade de Syracuse), Richard Swinburne (Oxford), Robert Adams (Universidade da Carolina do Norte), Dean Zimmerman (Universidade Rutgers); cientistas: Francisco Ayala (altamente condecorado biólogo evolucionista), Allan Sandage (o astrônomo mais famoso do mundo), Christopher Isham (O maior cosmologista quantum do Reino Unido), George Ellis (uma vez descrito pra mim por um colega como a pessoa que mais sabe de cosmologia do que qualquer homem vivo), Francis Collins (líder do projeto genoma); estudiosos do Jesus histórico: John Meier (autor do estudo multi-volume sobre o Jesus histórico), N. T. Wright (outro grande escritor de obras sobre Jesus, James D. G. Dunn (grande estudioso da Universidade de Durham), Craig Evans (canadense estudioso do Jesus histórico de primeira linha). Pergunte ao descrente como ele pode fazer qualquer afirmação crível sobre o calibre intelectual dos cristãos se ele jamais leu qualquer destes estudiosos.

Quarto, apresente esta réplica às afirmações dele:

"Deixe-me ver se eu entendi: seu argumento é que

1. Cristãos são estúpidos e ilógicos.

2. Portanto, o Cristianismo não é verdadeiro.

Agora me explique como (2) se segue logicamente de (1)?"

Quem está sendo ilógico agora? Você pode até escrever a premissa e a conclusão num papel para ele. Pergunte a ele como a conclusão segue logicamente da premissa. Se ele quiser adicionar algumas premissas ao argumento, vá em frente e deixe-o fazê-lo, e então lhe pergunte quais razões ele tem para pensar que as premissas são verdadeiras. Diga a ele que atacar a inteligência dos cristãos em vez de atacar a visão dos mesmos é cair na falácia de argumentar ad hominem (a falácia de atacar a pessoa em vez da visão da pessoa). Novamente, quem é o ilógico?

Finalmente, John, deixe de dar desculpas e tire algum tempo para se preparar. Você pode tirar uma hora por semana, todo Sábado ou Domingo, e estudar um capítulo de On Guard. Você terminará em dez semanas. Memorize as premissas dos argumentos teístas para que estejam na ponta da língua. Eu garanto que se você fizer isso, estará preparado para lidar com quase todo descrente que cruzar seu caminho. Não é tão difícil, John! Sei que você é ocupado com suas aulas e trabalhos de casa, mas não posso crer que você não consegue arrumar uma hora da semana para investir na preparação apologética. Se fizer isso, não se arrependerá.

O texto original se encontra em: ReasonableFaith.org

Obs.: Só há um problema na resposta do W.L. Craig: a maioria das fontes que ele cita não existe em português - para infelicidade nossa! Sendo assim, temos que buscar alternativas aos recursos que ele indica, aqui vão algumas dicas:

(1) Alvin Plantinga, o filósofo citado pelo Craig, não tem nenhuma obra traduzida para o português, mas este blog é, talvez, a maior fonte de artigos traduzidos de Plantinga, tais artigos podem ser lidos aqui:

(2) Uma das melhores fontes de recursos apologéticos para nós brasileiros é o site Apologia.com.br

(2) O livro On Guard, que não tem tradução para o português, pode ser substituído por outro livro do W.L. Craig: A Veracidade da Fé Cristã

(4) Considero as seguintes obras a melhor introdução à apologética: (1) Cristianismo Puro e Simples - C.S.Lewis (2) Em Defesa de Cristo - Lee Strobel (3) Em Defesa da Fé - Lee Strobel (4) A Veracidade da Fé Cristã - W.L. Craig. Lendo tais obras você já será capaz de apresentar uma sólida defesa da fé cristã.

(5) Pesquise, pesquise e pesquise! A internet tem muitos recursos sobre os livros e autores citados pelo W.L. Craig - PESQUISE! Caso alguém precise de mais informações podem me escrever que eu responderei prontamenet.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Quando Tudo É Permitido - Wolfhart Pannenberg




Wolfhart Pannenberg, dotado de uma incrível bagagem interdisciplinar e de uma excepcional habilidade de relacionar a Teologia com as demais disciplinas acadêmicas - incluindo a Filosofia, Sociologia, História e as Ciências Naturais - é provavelmente o mais proeminente teólogo contemporâneo. Foi aluno de Karl Barth, Edmund Schlink e Gerhard Von Rad. Pannenberg rompeu com a teologia de seus antecessores alemães , como Karl Barth, Tillich e Bultmann, que não viam a resurreição de Cristo como um fato histórico e, portanto, acessível ao escrutínio racional. Pannenberg não só rompeu com esta tradição como recolocou a Teologia na busca pela verdade, retirando-a do campo do subjetivismo extra-racional. Para ele a resurreição de Cristo é a chave para a compreensão da história. Seu magnum opus, sua Teologia Sistemática de três volumes, foi recentemente traduzido para o português pela editora Paulus. Recentemente se aposentou após 27 anos como professor de Teologia Sistemática da Universidade de Munique, Alemanha, e diretor do Instituto de Teologia Ecumênica. Tradução do alemão para o inglês por Markus Bockmuehl.

Para ler outro artigo do Pannenberg traduzido neste blog:
Como Pensar Sobre o Secularismo - Wolfhart Pannenberg


Mais informações sobre Pannenberg:
1 )Wolfhart Pannenberg's Quest for the Ultimate Truth - Stanley Grenz
2) Pannenberg - Theologian and Man
3) Wikipedia
4) Blog Teologia Contemporânea


Tradução: Vitor Grandohttp://despertaibereanos.blogspot.com
vitor.grnd@gmail.com


É uma notável singularidade dos nossos dias que o assunto da moralidade e da ética seja tido como uma questão de interesse público, enquanto a questão referente a Deus seja tida como uma questão esotérica de interesse de teólogos e "pessoas que buscam esse tipo de coisa." Nem sempre foi assim, e é muito importante perguntarmos como chegamos à presente situação, e o que pode ser feito em relação a isso.

O debate público, hoje em dia, sobre valores morais é normalmente estruturado em termos de uma busca por um consenso moral que não mais é auto-evidente; de fato, a questão da moralidade não é evidente para muita gente. A busca por um consenso moral baseado numa natureza humana comum tem, por algum tempo já, substituído a função social da crença religiosa, que por muito foi tida como um fundamento indispensável à paz social. Em grande parte da história, a unidade religiosa era vista como essencial à unidade da sociedade e da cultura. Essa suposição foi abalada durante as guerras religiosas na Europa nos séculos XVI e XVII.

Como consequência das guerras religiosas, a conclusão oposta foi tirada: A paz social requer que as crenças religiosas, e desacordos sobre crenças religiosas, sejam desconsideradas. Apesar de a religião institucionalizada ter continuado por um bom tempo na Europa, a religião não mais servia a seu antigo propósito. No lugar da religião, conceitos sobre a natureza humana se tornaram fundamentais em teorias sobre a sociedade e a cultura pública.

Entre os pensadores alemães, foi Wilhelm Dilthey quem, já no final do século XIX, delineou as maneiras pelas quais, começando em meados do século XVII, a natureza humana substituiu a religião no pensamento Europeu. Sendo construídas sobre reformulações da lei natural por Hugo Grotius e Thomas Hobbes; as teorias de contrato social, conceitos de moralidade natural e religião natural se tornaram populares e foram frequentemente usadas contra a religião e moralidade reveladas. Ainda assim, por algum tempo os conceitos de moralidade continuaram a usar a crença em Deus como origem das normas morais e como o juiz final do comportamento humano. A conexão necessária entre Deus e a moralidade foi preservada, por exemplo, no pensamento de Herbert de Cherbury e John Locke. Com Anthony Shaftesbury, entretanto, o sentimento moral foi tratado como autônomo. Mesmo no caso dele, entretanto, enquanto o sentimento moral era independente da religião, seu ideal de harmonia requeria, no final, harmonia com Deus e a ordem do universo.

O século XVIII testemunhou abordagens diferentes sobre se há autonomia humana em se tratando de moral, ou se o sentimento moral depende da crença em Deus. David Hume argumentou a favor da autonomia do sentimento moral, enquanto Rousseau foi pelo outro lado. Enquanto Rousseau pensava que a consciência era a fonte de nosso conhecimento sobre os deveres da lei natural, ele também pensava que a consciência do homem está desajustada. No livro Emílio, de Rousseau, o Vigário de Savoy argumenta que a voz da consciência foi praticamente extinta na maioria de nós devido à expressiva experiência de perversão humana e injustiça. Uma purificação da consciência é requerida, e isso somente é possível se acreditarmos em Deus. Se Deus não existe, o vigário afirma, então somente os perversos estão agindo razoavelmente. Não faz sentido ser bom. Assim, o sucesso do perverso nessa vida enfraqueceria o sentimento moral do bom. Isso pode ser prevenido apenas pela crença de que há uma recompensa final além dessa vida na qual todos receberão o que lhes é devido. A religião é, portanto, de importância pública no Contrato Social de Rousseau, apesar de não ser religião revelada. Em vez disso, ele propôs uma "religião civil" com artigos suficientes de fé para motivar o comportamento moral: crença em Deus como origem da ordem social e da lei, na divina providência, e na recompensa futura.

Apesar disso ser, às vezes, menosprezado, Immanuel Kant era um admirador de Rousseau, e em sua Crítica da Razão Pura ele aderiu à ideia de que a moral pressupõe religião. Kant afirmou a autonomia da razão como a única fonte de nossa consciência da lei moral, mas em sua visão a motivação da conduta moral pressupõe uma ordem moral na qual cada pessoa vai receber a medida de alegria ou tristeza apropriada a seu mérito. Para ser assim, deve haver uma harmonia entre a ordem moral e o curso da natureza, e isso pode ser garantido apenas pelo criador que, em sua capacidade como razão máxima, é também a fonte de nossa obrigação moral. Sem a existência de Deus, a razão seria compelida a concluir que sua intuição da lei moral é pura ficção. Essa visão deixa um problema para Kant, já que torna nosso sentido moral dependente da existência de Deus, o que contradiz sua alegação da autonomia moral da razão. Em seus últimos anos, portanto, Kant se sentiu forçado a atenuar a importância da crença religiosa no sentido de obrigação moral. Ele agora argumentava que a religião é uma consequência da consciência moral, não mais uma pressuposição da obrigação moral. Neste caso, a crença em Deus e na imortalidade só exerce um papel de reconciliadora entre as exigências da lei moral e nosso desejo natural por felicidade. Isso, entretanto, parece extremamente com eudemonismo; a teoria segundo a qual o maior objetivo moral é a felicidade, que era repugnante para Kant. Não é de se imaginar por que a filosofia da religião de Kant foi logo considerada a parte mais fraca de seu pensamento, enquanto seu princípio da autonomia da razão na filosofia moral foi tido como marco épico.

II

Na situação de hoje, há poucas chances de que o apelo à autonomia da razão vá trazer amplo consenso em relação às normas morais. Mesmo Kant não esperaria que isso acontecesse, visto que ele atribuiu à religião a tarefa de introduzir os princípios morais da conduta social. Ele insistiu somente que a lei moral deveria ser o princípio hermenêutico na transmissão da crença religiosa, com o resultado de que a filosofia moral tomaria a frente na formação do consenso moral da sociedade. Seja como Kantianismo ou algum tipo de Utilitarianismo, a filosofia moral no século XIV e começo do século XX, de fato, substituiu a religião entre a aelite intelectual e aqueles influenciados por ela. Tanto as filosofias morais Kantianas quanto Utilitárias continuaram a afirmar a autoridade pública das normas morais, como também seu poder racional de persuadir.

A autoridade da filosofia moral recebeu um duro golpe, entretanto, da análise psicológica de Nietzsche sobre a genealogia dos valores morais. O que chamamos de valores morais, Nietzsche defendeu, estão na verdade a serviço de propensões, inclinações e desejos mais profundos, em especial o desejo de dominar os outros. A história da cultura é a história de uma luta entre diferentes conjuntos de normas morais. Como resultado, as normas morais são relativas, e a voz da consciência é, na verdade, a voz do contexto cultural. Essa maneira de pensar foi popularizada e reforçada por Sigmund Freud e a psicanálise, onde encontramos a doutrina do superego como fonte da consciência moral.

A relativização da antes absoluta autoridade das normas morais converge hoje com a ênfase na liberdade individual como a autoridade final da condução da vida. Na filosofia de John Locke, a liberdade é enraizada no conceito de lei. Hoje, liberdade e lei são vistas como inimigas. A lei moral e civil são vistas como limites à liberdade do indivíduo. Isso é evidente, por exemplo, na constituição do meu próprio país, Alemanha. Lá a liberdade de auto-realização é limitada por três fatores: As justificadas alegações dos outros, a lei moral, e a ordem da lei positiva. Perceba o que aconteceu, entretanto, e não preciso dizer que isso não aconteceu somente na Alemanha. Dos três fatores limitantes, o conceito de lei moral não é mais útil já que não há acordo sobre seu conteúdo e autoridade coercitiva. Disso se segue que "as alegações justificadas dos outros" não pode ser afirmada, já que não sabemos o que é e o que não é uma alegação justificada. O resultado final é que os únicos limites ao exercício da liberdade individual são as exigências da lei positiva. Moralidade e lei são fundidas, daí o que não é ilegal não é imoral. Se algo não é proibido por lei, os outros são constrangidos a tolerar o que o indivíduo considera necessário ao exercício de sua liberdade. Uma consequência nada surpreendente disso é que a lei positiva é vista, às vezes, como uma limitação arbitrária da liberdade pessoal.

A filosofia moral não oferece muita ajuda nessa situação, não desde 1903 quando George Herbert Moore em Principia Ethica reduziu o julgamento moral a intuições que não podem nem ser demostradas nem refutadas por argumentos racionais. Se esse é o caso, é razoável ver as normas morais como preferências guiadas pela emoção ao invés de assunto reservados a argumentação racional. Essa é a circunstância intelectual e cultural brilhantemente exposta por Alasdair MacIntyre em seu livro After Virtue, no qual ele mostra como o intuitivismo e o emotivismo se fortaleceram com a desconstrução das normas morais empreendida por Nietzsche. Tendo dito isso tudo, entretanto, não é preciso nos desesperar quanto ao futuro da consciência e da argumentação moral. Elas não vão desaparecer. Há várias razões para isso, e a menor não é a propensão humana a julgar a conduta alheia. Não vamos parar de julgar, em privado ou em público. Isso se dá simplesmente por nossa tendência de sermos juízes. O julgamento moral é intrínseco a nossa natureza como seres sociais. Não temos escolha a não ser julgar como as pessoas deveriam se comportar em situações diferentes. As situações exigem isso, quer queiramos julgar ou não. Não importa, ao menos neste nível, se as idéias normativas pressupostas no nosso julgamento da conduta alheia são corretas ou justas. É suficiente que tais idéias normativas são empregadas, e não dá pra fugir disso.

Reflexão sobre como julgamos pode levar a conceitos básicos de lei natural. Nosso julgamento, por exemplo, evidencia uma demanda por alguma forma de mutualidade nas relações sociais: pacta sunt servanda – ambos os lados devem manter suas promessas. Essa é a “regra de ouro” da mutualidade: O que você não quer que outros lhe façam, você não deve fazer a eles. É claro, a regra exige especificações posteriores em relação a como as pessoas estão diferentemente situadas, mas de uma forma ou de outro o princípio da mutualidade está por trás de nosso julgamento de outros. Os seres humanos têm um interesse comum nos requisitos básicos da vida social, e a mutualidade é a base do básico.

Isso não sugere que as pessoas sempre agem de acordo com a regra de ouro da mutualidade. Longe disso. É obviamente mais fácil julgar a conduta dos outros do que nossa própria conduta. Em relação à nossa própria situação, somos incrivelmente tendenciosos a clamar por exceções às regrais gerais. Isso não se dá apenas por sermos criaturas egoístas. É também por que situações individuais são, de fato, únicas e nem sempre se encaixam às regras gerais, e cada um de nós consegue mais facilmente perceber a singularidade de nossa própria situação do que a singularidade da situação de uma outra pessoa. Isso não é uma falha. É natural. Não devemos ficar surpresos pelo fato de uma pessoa poder ter uma forte consciência das regrais gerais enquanto, ao mesmo tempo, tender a clamar exceções para si mesma. A tentação, é claro, é superestimar a importância das particularidades individuais. Nosso conhecimento das normas observadas pela maioria pode funcionar como condição para clamar por exceções para nós mesmos. Afinal, nenhum de nós é maioria.


Precisamente neste ponto a dissolução da autoridade absoluta das normas morais impregnam a conduta das vidas individuais. A crise da consciência moral não é que as pessoas não mais sabem sobre as condições e requisitos gerais da vida em sociedade. A crise vem ao aplicar tal conhecimento a casos individuais, e especialmente aos nossos próprios casos. Isso inclui a questão de como a formulação e observância das normas gerais podem se tornar subservientes à preferência individual. Como resultado da falta de habilidade de concordar sobre a conexão entre as regras gerais e os casos individuais, não há consenso quanto à ideia de justiça. A justiça requer que cada pessoa ou grupo receba e contribua de acordo com seu posicionamento dentro de um sistema social. Há um cacofonia de reivindicações de justiça, tipicamente articuladas em termos de “direitos”. Mas não há nenhum consenso sobre os requisitos da justiça. Na ausência deste consenso, reivindicações de justiça parecem vazia e como moralismo auto-serviente.

III

Reivindicações discordantes sobre justiça não são modernas. Sempre houve tais discordâncias dentro de sociedades e entre sociedades, como o resultado da ruptura social e guerras entre nações. Na visão bíblica, a condição de paz duradoura é um apaziguamento das reivindicações discordantes, um apaziguamento que pode vir somente de uma autoridade superior reconhecida por todos os partidos em conflito. Em Isaías e Miqueias nós temos uma visão da peregrinação de todas as nações ao Monte Sião, onde o Deus de Israel organiza suas reivindicações discordantes e estabelece a paz eterna. Certamente a visão tem a ver com o fim dos dias. No presente, as nações do mundo não parecem inclinadas a ter suas reivindicações julgadas pelo Deus de Israel. Alguns apelam ao Presidente dos Estados Unidos, e uns poucos apelam ao Papa, mas mesmo essas nações que compartilham da herança cristã não reconhecem a autoridade do Deus de Israel para resolver suas diferenças. Nem podemos esperar que as sociedades secularizadas do Ocidentes resolvam seus conflitos internos apelando à autoridade de Deus.

Pode ser o caso de que a crise moral das sociedades seculares modernas sejam atribuídas ao fato de que Deus não é mais reconhecido publicamente como fonte das normas morais. Enquanto esse reconhecimento estava intacto, a validade absoluta das normais morais e o senso individual de obrigação para com essas normas estavam assegurados. A experiência histórica demonstra que, para sociedades e para indivíduos, a autonomia da razão não pode substituir satisfatoriamente a autoridade de Deus. Quanto a isso, Rousseau está totalmente correto. Como estava Dostoiévski, quando seu Ivan Karamazov observou que, sem Deus, “tudo é permitido”. Numa entrevista de 1970, o filósofo marxistas Max Horkheimer declarou que, ao menos no Ocidentes, tudo que é relacionado à moralidade está ligado a raízes teológicas. Podemos querer modificar isso notando que a tradição da filosofia moral remonta à Grécia clássica e, portanto não tem todas suas raízes na fé judaico-cristã no Deus de Israel. E modificar isso por notar ainda que uma disposição à benevolência, uma benevolência que se compraz na felicidade dos outros, é parte da natureza humana. Todavia, o sendo de obrigação moral cultivado pelos últimos quinze séculos não pode ser concebido a parte da fé no Deus da Bíblia.

A verdade é que nas nossas sociedades Ocidentais e secularizadas a autoridade pública da religião, principalmente o Cristianismo, não será facilmente reconstruída. A perspectiva mais promissora é por uma renovação de uma moralidade especificamente cristã dentro da própria comunidade cristã. Aqui devemos dar atenção a uma maneira cristã de viver que é claramente distinta das formas convencionais da cultura que nos circunda. Há importantes objeções ao que parece ser um voltar-se para si que foca mais o raciocínio moral no desenvolvimento de uma ética distinta para a comunidade Cristã. A mais importante objeção é que a moralidade, por sua própria natureza, está relacionada a tudo que é universalmente humano. Há algo inerentemente equivocado com uma ética sectária. O discurso moral na teologia cristã, como na filosofia, atende à natureza humana, os anseios e aspirações de todos. Não atende somente, nem em primeiro lugar, a preocupações especiais dos Cristãos. Na história da ética Cristã, a ética Cristã não é somente para Cristãos.

Esse interesse universal é grande, evidente deste os tempos dos Pais da Igreja. A ética cristã se dirige a todos os seres humanos como criaturas do único Deus; todos estão envolvidos na queda de Adão, e todos são chamados à reconciliação com Deus, libertação da escravidão do pecado e da morte, e glorificação final na comunhão com Deus, o Pai, Filho e o Espírito Santo. Essa compreensão da natureza e história da raça humana explica os imperativos missionários do Cristianismo. Isso está enraizado na crença de que toda a humanidade e todo o universo são criados pelo Deus de Israel que se revelou definitivamente em Jesus Cristo. Verdade, esse entendimento não é mais compartilhado por todos em nossas sociedades e, portanto, não caracteriza mais o espírito de nossa cultura pública. Isso é visto como um entendimento peculiar aos cristãos. Mas, todavia, é um entendimento cristão que abarca todos os seres humanos.

A ética cristã, então, não está limitada aos cristãos, mas está relacionada a situação moral e o chamado de todos. Essa é a conexão entre o particular e o universal no pensamento cristão, e é uma conexão que deve ser honrada hoje no pensamento moral cristão. Não pode haver uma virada em direção à comunidade Cristã que exclua as alegações Cristãs e as preocupações Cristãs sobre a condição universal e o destino dos seres humanos como tais. Como a Igreja Antiga integrou o catálogo clássico de virtudes à doutrina Cristã de virtude que culmina na tríade Paulina da fé, esperança, e amor, então a ética Cristã deve compreender tudo que é verdadeiro no pensamento moral além das fronteiras formais do próprio Cristianismo. Não podemos nos atrever a esquecer que João 3.16 começa com “Deus amou o mundo...” A ética Cristã digna do nome que sustenta entende a si mesma como um relato moral do e para o mundo.

Já tratamos da primeira objeção a uma ética Cristã que trata especificamente da conduta da comunidade Cristã. Uma segunda objeção surge da peculiar história do Protestantismo. Enquanto o o ensinamento moral Católico Romano tradicionalmente foi articulado em tensão com a modernidade, o Protestantismo entendeu a si como aliado ao desenvolvimento do mundo moderno. Isso é notavelmente verdadeiro no Protestantismo liberal, que é frequentemente chamado de “Protestantismo cultural” outrora dominante em muito da Europa e América do Norte. Esse Protestantismo reluta a diferir dos valores preponderantes da cultura geral. De fato, ele se vê com um interesse proprietário nesses valores. Essa atitude pode ser remontada à Reforma e, especialmente, a doutrina de Lutero de que o Cristão satisfaz sua vocação divina fazendo a obra a qual ele é chamado a fazer na esfera secular. Isso contrastava com a visão Católico Romana de que há, por exemplo no monasticismo, vocações especiais à santidade. Além do mais, e muito importante para nossa discussão sobre autoridade moral, o Protestantismo tem crédito no desenvolvimento das ideias modernas de liberdade e direitos humanos. Como resultado, os Protestantes viram a adaptação à cultura moderna não como um processo de compromisso moral, mas como um processo de fidelidade a sua herança.

Exemplos não faltam para ilustrar as maneiras pelas quais o Protestantismo se identificou com a cultura geral, mesmo quando tentava transformá-la. Essa identificação parece ser exposta quando a ética cristã torna sua atenção à comunidade da fé em vez da cultura geral. Tal atenção à comunidade é suspeita de sectarianismo, especialmente quando a ênfase está na separação Cristã dos caminhos do mundo, ou quando o mandamento de amar o próximo é entendido como uma responsabilidade de amar os irmãos e irmãs Cristãs. Ainda assim devemos acolher a possibilidade de que uma virada sectária à comunidade, e longe de uma cultura geral que está alienada de sua herança Cristã, pode contribuir muito significantemente para a renovação moral dessa cultura. Na Igreja Antiga, os cristãos viveram uma moralidade muito diferente da moral da cultura que os circundava, e sua coragem de ser diferente se tornou um forte atrativo do Cristianismo. As pessoas reconheceram que a ética Cristã era superior e digna de imitação. Não deveríamos descartar a possibilidade disso acontecer novamente.

Uma terceira objeção à proposta de que a ética Cristã deveria se direcionar à comunidade da fé surge da ideia Cristã de amor. Não requer o chamado ao amor incondicional que aceitemos pessoas assim como elas são? Isso parece incondicionalmente comprometido se discriminarmos entre os Cristãos e não-Cristãos ou fizermos exigências das pessoas. Em nome do amor, as admoestações apostólicas de não termos comunhão com pessoas que vivem em violação ao ensinamento apostólico são facilmente descartadas. Mas o amor Cristão tem um aspecto crítico. Este amor não pode ser equiparado à “aceitação” incondicional. O amor está pronto para aceitar qualquer um, mas também convoca todos a mudar. À adúltera de João 8, Jesus disse “Vá, e não peques mais.” Quando, ao contarmos a história de aceitação da mulher por Cristo, omitirmos a admoestação, quebramos a conexão entre o mandamento de amar ao próximo e o mandamento mais importante de amar a Deus. Não se pode amar a Deus sem obedecer sua vontade, e no ensinamento de Jesus o amor de Deus é tanto a fonte como o critério de nossa obrigação de amarmos os outros. As pessoas devem ser amadas à luz do destino planejado por Deus para elas.

No Antigo Testamento, o amor de Deus é expresso em sua eleição de um povo para si mesmo e em sua perseverança nesse ato de eleição. Essa é a fonte e o critério de toda obrigação moral. Pois Deus quer que seu povo eleito floresça, é requerido de todo membro da comunidade que observe as condições mínimas para o florescimento da comunidade. Isso explica a correspondência entre a segunda tábua do Decálogo e as verdades da lei natural que são essenciais à vida comunitária. Nenhuma comunidade humana é possível onde pessoas se matam, roubam as posses dos outros, violam seus casamentos, desonram seus pais, ou agridem-se mutuamente por difamações.

O ensinamento moral de Jesus era também derivado diretamente da autoridade de Deus e de seu amor, não da autoridade do ensinamento moral e legal da tradição. Em Mateus 6, por exemplo, o amor do Criador por suas criaturas é evidente no fato de que “ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e manda chuva sobre justos e injustos”. Assim devemos seguir o exemplo de Deus, amando não somente nossos amigos, mas também nossos inimigos. Diversas vezes, Jesus ensinou que, assim como o amor do Pai celeste é expresso em seu perdão por nós, da mesma maneira estamos obrigados a perdoar os outros. Assim ele nos ensinou a orar, “Perdoai as nossas ofensas assim como temos perdoado a quem nos tem ofendido”. O perdão de Deus antecede e é a fonte e critério do nosso perdão.

Esse entendimento do amor é a contribuição Cristã ao discurso ético e à moralidade universal. O amor Cristão enriquece e fortalece as inclinações naturais dos seres humanos à benevolência, que estão sempre carentes de fortalecimento. Essa é a mais importante contribuição Cristã à vida moral em geral, também sob as condições das sociedades seculares modernas. Mas os Cristãos também precisam apontar que a benevolência e a alegria que vem com isso são evidência de um anseio mais profundo do ser humano pelo bem. O bem pelo qual o ser humano anseia não está limitado ao bem moral. É o bem entendido no sentido platônico, que significa o bem que é fonte da felicidade. É, em resumo, um anseio por Deus, a fonte última e duradoura de felicidade. Na benevolência há um vislumbre desse bem último, acompanhado pela experiência da felicidade. É um sinal do Reino porvir.

Nosso vislumbre do Reino, entretanto, não leva a indiferença as condições quotidianas da comunidade humana. Pelo contrário, onde a benevolência mútua domina, essas condições aparecem sem necessidade de alvoroço. Nas palavras de Paulo, “Assim, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas se passaram, eis que tudo se fez novo.” Se a ética Cristã atende ao viver dessa nova maneira – uma nova maneira que é a satisfação de nossa natureza desde o início – o mundo pode novamente nos notar. Então, por último, nós poderemos superar essa singularidade impressionante de nossa circunstância moderna onde o questão da moralidade e da ética é vista como uma questão de interesse público, enquanto a questão de Deus é vista como uma questão esotérica de interesse de teólogos e “pessoas que se interessam por esse tipo de coisa”. Então, por último, nossa cultura pode ser renovada ao entender que não precisamos escolher entre a natureza e a religião, e que a liberdade, longe de ser limitada quando reguladas pela autoridade moral, não são possíveis sem ela.

 
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