quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Teísmo, Ateísmo e Racionalidade - Alvin Plantinga


Alvin Plantinga é o filósofo da religião mais importante da atualidade. Nesse artigo, Plantinga combate a idéia de que o teísta que não tem sua crença apoiada sobre evidências seria, de alguma forma, irracional ou estaria violando seus deveres epistêmicos. Para Plantinga, tal objeção é infundada, podendo ser perfeitamente revertida contra o ateísmo.

Tradução: Vitor Grando
vitor.grnd@gmail.com
DespertaiBereanos.blogspot.com

Objeções ateológicas à crença de que há uma pessoa como Deus existem em muitas variedades. Existem, por exemplo, as objeções, que já nos são familiares, de que o teísmo é de alguma forma incoerente, que é inconsistente com a existência do mal, que é uma hipótese pouco corroborada ou até refutada pelas evidências, que a ciência moderna, de alguma forma, lançou dúvidas sobre essa crença, e por aí vai. Outro tipo de objetor alega, não que o teísmo é incoerente ou falso ou provavelmente falso (até por que, há pouco há ser dito sobre isso de forma irrefutável com argumentos) mas que, de alguma forma, não é razoável ou é irracional, mesmo se tal crença for verdadeira. Aqui nós temos, como peça central, a objeção evidencialista à crença teísta. A alegação é que nenhum dos argumentos teístas - dedutivos, indutivos ou abdutivos - são bem sucedidos; assim há no máximo evidências insuficientes para a existência de Deus. Mas então a crença de que há tal pessoa como Deus é, de alguma forma, intelectualmente imprópria - tola ou irracional. Uma pessoa que acredita sem evidências que existe um número par de patos estaria crendo de maneira tola ou irracional.; o mesmo vale para a pessoa que acredita em Deus sem evidências. Nessa visão, alguém que aceita a crença em Deus, mas não tem nenhuma evidência para tal crença não está, intelectualmente falando, apto para o debate. Entre aqueles que apresentaram essa objeção estão Antony Flew, Brand Blanshard e Michael Scriven. Talvez mais importante seja a enorme tradição oral: encontra-se essa objeção ao teísmo espalhada por todos os grandes campi universitários do mundo. A objeção em questão também foi endossada por Bertrand Russell, que uma vez após ser perguntado o que diria se, após a morte, ele se deparasse com Deus e este o perguntasse por que ele não acreditou. Russell respondeu "Eu diria, não há evidências suficientes, Deus! Não há evidências suficientes!" Eu não sei como essa resposta seria recebida; mas meu ponto é somente que Russell, como muitos outros, endossaram a objeção evidencialista à crença teísta.


Agora, qual é, exatamente, a alegação do objetor aqui? Ele afirma que o teísta sem evidências é irracional ou não é razoável. qual é a propriedade com a qual ele está creditando tal teísta quando ele assim o descreve? O que, exatamente, ou aproximadamente, ele quer dizer quando diz que o teísta sem evidências é irracional? Qual é, na visão dele, o problema com tal teísta? A objeção pode ser vista tomando pelo menos duas formas; e há pelo menos dois sentidos ou concepções correspondentes de racionalidade envolvidas. De acordo com a primeira, o teísta que não tem evidências violou um dever intelectual ou cognitivo de algum tipo. Ele contrariou uma obrigação colocada sobre ele pela sociedade ou talvez pela sua própria natureza como criatura capaz de compreender proposições e ter crenças. Há uma obrigação ou algo como uma obrigação para proporcionar à crença de alguém a força da evidência. Assim, de acordo com John Locke, a marca de uma pessoa racional é "não aceitar uma proposição com mais segurança do que a prova sobre a qual ela está apoiada pode garantir," e de acordo com David Hume, "Um homem sábio conforma suas crenças às evidências."

No século dezenove nós temos W.K. Clifford, o "adorável enfant terrible" como William James o chamou, insistindo que é monstruoso, imoral, e talvez até indelicado aceitar uma crença para a qual você tem insuficientes evidências:

Qualquer um que merecer o bem de seu companheiro neste assunto irá guardar a pureza de suas crenças com um fanatismo de zeloso cuidado, para que não se apóiem, a qualquer momento, em um objeto indigno, e peguem uma mancha que não poderá ser limpada nunca. [1]

Ele acrescenta que se uma

Crença foi aceita sobre evidências insuficientes, o prazer é roubado. Não apenas isso nos engana nos dando um sentimento de poder que na verdade nós não temos, mas é pecaminoso, roubando em rebeldia nosso dever para com a raça humana. Esse dever é de guardar nós mesmos de tais crenças como de uma pestilência, que pode rapidamente se espalhar pelos nossos corpos e pelo resto da cidade [2]

E finalmente:

Somando tudo: é sempre errado, a todo lugar, para qualquer um acreditar em algo com insuficientes evidências[3]

(Não é difícil detectar, nessas citações, o "tom de robusta simpatia" com a qual James credita à Clifford.) Nessa visão os teístas sem evidências - minha falecida avó, por exemplo - estão desobedecendo seus deveres epistêmicos e merecem nossa desaprovação. Madre Teresa, por exemplo, se ela não teve argumentos para sua crença em Deus, então ela é algum tipo de libertina intelectual - alguém que contrariou suas obrigações intelectuais e merece desaprovação ou até ação displinadora.

Agora a idéia de que existem deveres ou obrigações intelectuais é complicada, mas não implausível, e eu não quero questionar isso aqui. É menos plausível, entretanto, sugerir que eu estaria ou poderia estar contrariando meus deveres intelectuais em acreditar, sem evidência, que há tal pessoa como Deus. Primeiro, minhas crenças não estão, na sua maior parte, sob o meu controle. Se, por exemplo, você me oferece $1.000.000 para deixar de acreditar que Marte é menor do que Vênus, não há nenhuma forma de que isso aconteça. Mas o mesmo vale para minha crença em Deus: mesmo se eu quisesse, eu não poderia - sem medidas heróicas como drogas que induzem ao coma - simplesmente abandonar tal crença. (Não há nada que eu possa fazer diretamente; talvez haja algum tipo de regime que se seguido religiosamente resulte, a longo prazo, no abandono da minha crença em Deus). Mas, segundo, não parece haver nenhuma razão para pensar que eu tenho tal obrigação. Claramente eu não estou sob obrigação de ter evidências para tudo que eu creio; isso seria impossível. Mas porque, então, supor que eu tenho uma obrigação de aceitar minha crença em Deus somente se eu aceitar outras proposições que sirvam de evidências para isso? Isso de maneira alguma é auto-evidente ou simplesmente óbvio, e é extremamente difícil encontrar um argumento persuasivo para isso. Em qualquer evento, eu penso que o objetor evidencialista pode seguir uma linha mais promissora. Ele pode afirmar, não que o teísta sem evidência violou algum dever epistêmico - afinal, talvez ele não possa ajudar a si mesmo - mas que ele é de alguma forma intelectualmente falho ou desfigurado. Considere alguém que crê que Vênus é menor do que Mercúrio - não porque ele tem evidência, mas porque ele leu numa revista em quadrinhos e sempre acredita em tudo que lê em revistas em quadrinhos - ou considere alguém que afirma uma crença sobre as bases de um argumento totalmente ruim. Talvez não haja nenhuma obrigação que ele tenha falhado em cumprir; todavia sua condição intelectual é defeituosa de alguma forma. Ele apresenta algum tipo de deficiência, falha, uma disfunção intelectual de algum tipo. Talvez ele é como alguém que tem astigmatismo, ou é excessivamente desajeitado, ou sofre de artrite. E talvez a objeção do evidenciaista deve ser construída, não como a alegação de que o teísta sem evidências violou alguma obrigação intelectual, mas que ele sofre de algum tipo de deficiência intelectual. O teísta sem evidência, poderíamos dizer, é um manco intelectual.


Alternativamente, mas similarmente, a idéia pode ser que o teísta sem evidência está sob algum tipo de ilusão, um tipo de ilusão difundida que aflige a maior parte da raça humana a maior parte do tempo até então. Dessa forma Freud via a crença religiosa como "ilusões, satisfação dos mais antigos, fortes, e insistentes desejos da raça humana."[4] Ele vê a crença teísta como uma questão de satisfação de desejo. Os homens estão paralisados e aterrorizados pelo espetáculo das imponentes e impessoais forças que controlam nosso destino, mas não se dão conta disso, não compreendem a nós e nossos desejos e necessidades; eles, portanto, inventam um pai celeste de proporções cósmicas, que excede nosso pai terreno em bondade e amor como também em poder. A religião, diz Freud, é "a neurose obsessiva universal da humanidade", e está destinada a desaparecer quando os seres humanos encararem a realidade como ela é, resistindo à tendência de editá-la para comportar nossos anseios.


Um sentimento similar é apresentado por Karl Marx:

Religião... é a auto-consciência e o auto-sentimento do homem que ou ainda não se encontrou, ou (após ter se encontrado) se perdeu novamente. Mas o homem não é um ser abstrato... O Homem é o mundo dos homens, o Estado, a sociedade. Esse Estado, essa sociedade, produzem religião, produzem uma consciência mundial pervertida, porque eles são um mundo pervertido... A religião é o suspiro da criatura oprimida, os sentimentos de um mundo sem coração, assim como é o espírito de condições não espirituais. É o ópio do povo.

A abolição da religião como felicidade ilusória do povo é necessária para sua felicidade real. A necessidade de abrir mão das ilusões sobre sua condição é a necessidade de abrir mão de uma condição que precisa de ilusões [5]

Observe que Marx fala de uma consciência mundial pervertida produzida por um mundo pervertido. Essa é uma perversão de uma condição natural, direita ou correta, trazida à tona por uma ordem social pervertida e doente. Do ponto de vista de Marx e Freud, o teísta está sujeito à um tipo de disfunção cognitiva, uma certa falta de saúde cognitiva e emocional. Poderíamos colocar dessa forma: o teísta acredita como acredita somente devido ao poder dessa ilusão, dessa condição neurótica pervertida. Ele é insano, no sentido etimológico do termo: ele não é saudável. Seu equipamento cognitivo, pode-se dizer, não funciona apropriadamente; não funciona como deveria. Se seu equipamento cognitivo estivesse funcionando apropriadamente, funcionando da forma que deveria funcionar, ele não deveria estar sob o encanto de tal ilusão. Ao invés, ele encararia o mundo com a noção de que estamos sozinhos aqui, e que qualquer conforto e ajuda que ele tiver deve partir de nós mesmos. Não há nenhum Pai no céu para nos confortar, e nenhuma perspectiva de nada, depois da morte, apenas dissolução. ("Quando morremos, apodrecemos", diz Michael Scriven, em uma de suas falas memoráveis.)

Agora é claro que o teísta não mostrará muito entusiasmo com a idéia de que sofre de uma deficiência cognitiva, está sob algum tipo de ilusão coletiva endêmica à condição humana. É no máximo um ou dois teólogos liberais, interessados em novidades e ansiosos em se abrir tanto quanto possível ao secularismo contemporâneo, que abraçariam tal idéia. O teísta não se vê sofrendo de uma deficiência cognitiva. De fato, ele pode estar propenso a ver a coisa de maneira inversa; ele pode estar propenso a ver o ateu como quem está sofrendo de alguma ilusão, de algum defeito noético, de uma condição não natural, infeliz e desgraçada com consequências noéticas deploráveis. Ele verá o ateu como, de alguma forma, vitíma do pecado desse mundo - seu próprio pecado ou o pecado dos outros. De acordo com o livro de Romanos, a descrença é resultado do pecado; ela se origina num esforço de "suprimir a verdade em injustiça". De acordo com João Calvino, Deus nos criou com uma tendência a ver Sua mão no mundo ao nosso redor; "um sentimento de divindade", ele diz, "está escrito no coração de todos". Ele continua:

De fato, a perversidade do ímpio, que embora se debata furiosamente não consegue se livrar do temor de Deus, é testemunho abundante de sua convicção de que há um Deus, essa convicção é inata a todos e fixada profundamente em nós, como se estivesse na nossa essência... Disso nós concluímos que isso não é uma doutrina que deve ser primeiro aprendida no colégio, mas uma que cada um de nós traz desde o ventre materno e que a natureza não permite com que esqueçamos. [6]

Se não fosse pela existência do pecado no mundo, diz Calvino, os seres humanos acreditariam em Deus todos da mesma forma e com a mesma espontaneidade natural demonstrada na nossa crença na existência de outras pessoas, ou de um mundo externo, ou do passado. Essa é a condição natural do homem; é devido a nossa presente condição pecaminosa não natural que muitos de nós achamos a crença em Deus difícil ou absurda. O fato é, Calvino acredita, que alguém que não crê em Deus está numa posição epistemicamente defeituosa - como alguém que não acredita que sua esposa existe, ou pensa que ela é um robô construído que não tem pensamentos, sentimentos, ou consciência. Assim o crente reverte Freud e Marx, alegando que o que eles vêm como doença na verdade é saúde e o que eles vêm como saúde na verdade é doença.

Obviamente, a disputa aqui é ultimamente ontológica, ou teológica, ou metafísica; aqui vemos as raízes religiosas e ontológicas de discussões epistemológicas sobre a realidade. O que você crê ser racional depende de sua posição metafísica e religiosa. Depende de sua antropologia filosófica. Sua visão sobre que tipo de criatura é um ser humano vai determinar, no todo ou em parte, suas visões sobre o que é racional ou irracional para os seres humanos crerem; essa visão vai determinar o que você acha ser natural ou normal ou saudável em relação à crença. Então a disputa sobre quem é racional e quem é irracional aqui não pode ser resolvida com considerações epistemológicas; não é uma disputa fundamentalmente epistemológica, mas sim ontológica ou teológica. Como podemos dizer o que é saudável para os seres humanos crerem a menos que saibamos ou tenhamos alguma idéia sobre que tipo de criatura nós somos? Se você acha que ele é criado por Deus à imagem de Deus, e criado com uma tendência natural de ver a mão de Deus no mundo ao nosso redor, uma tendência natural de reconhecer que ele foi criado e é observado pelo seu criador, devendo à Ele adoração e obediência, então é claro que você não vai ver a crença em Deus como manifestação de satisfação de desejo ou como algum tipo de defeito. É muito mais como memória ou percepção sensorial, embora de algumas formas muito mais importantes. Por outro lado, se você vê os seres humanos como produto de forças evolucionistas cegas, se você acha que não há Deus e que os seres humanos são parte de um universo sem divindade, então você estará propenso a aceitar a visão de acordo com a qual a crença em Deus é algum tipo de doença ou disfunção, devido talvez, à algum tipo de problema cerebral.

Então a disputa sobre quem é saudável e quem é doente tem raízes teológicas ou ontológicas, e deve ser estabelecida nesse nível. E aqui eu gostaria de apresentar uma consideração que, eu penso que favorece a forma teísta de encarar a questão. Como eu tenho falado, tanto teístas quanto ateístas falam de alguma forma de disfunção, de faculdades cognitivas ou equipamentos cognitivos que não funcionam apropriadamente, não funcionam como deveriam. Mas como deveríamos entender isso? O que é funcionar apropriadamente? Não é um tanto quanto problemática essa idéia de funcionamento apropriado? O que é para as faculdades cognitivas um funcionamento apropriado? O que é para um organismo natural - uma árvore, por exemplo - funcionamento apropriado? Funcionamento apropriado não é algo relativo aos nossos objetivos e interesses? Uma vaca está funcionando apropriadamente quando dá leite; um jardim está como deve estar quando apresenta uma preponderância exuberante do tipo de vegetação que nós nos propomos a desenvolver. Mas então parece evidente que o que constitui funcionamento apropriado depende de nossos objetivos e interesses. Até onde a natureza em si segue o seu curso, um peixe que se decompõe em uma montanha de salmoura não está funcionando tão apropriadamente, de maneira tão excelente, quanto um peixe que esteja nadando feliz ao redor caçando peixinhos? Mas então o que significa falar de "funcionamento apropriado" em relação às nossas faculdades cognitivas? Uma parte da realidade - um organismo, parte de um organismo, um ecossistema, um jardim - "funciona apropriadamente" somente em relação à algum tipo de regra que nós impomos sobre a natureza - uma regra que incorpora nossos objetivos e desejos.

Mas de um ponto de vista teísta, a idéia de funcionamento apropriado, aplicada à nós e ao nosso equipamento cognitivo, não é mais problemática do que, vamos dizer, a idéia do funcionamento apropriado de um Boeing 747. Algo que construímos - um sistema de aquecimento, uma corda, um acelerador linear - está funcionando apropriadamente quando está funcionando na maneira que foi projetado para funcionar. Meu carro funciona apropriadamente se funciona do jeito que foi projetado para funcionar. Meu refrigerador está funcionando apropriadamente quando refrigera, se faz o que um refrigerador foi projetado para fazer. Isso, eu penso, é a raiz da idéia de funcionamento apropriado. Mas de acordo com o teísmo, os seres humanos, como cordas e aceleradores lineares, foram projetados; eles foram criados e projetados por Deus. Assim, ele tem uma resposta fácil para um conjunto relevante de perguntas: O que é funcionamento apropriado? O que é para minhas faculdades cognitivas o funcionamento apropriado? O que é disfunção cognitiva? O que é funcionamento natural? Minhas faculdades cognitivas estão funcionando naturalmente, quando estão funcionando da maneira que Deus as projetou para funcionar.

Por outro lado, se o objetor evidencialista ateológico alega que o teísta sem evidência é irracional, e se ele constrói a irracionalidade em termos de defeito ou disfunção, então ele nos deve uma explicação dessa noção. Por que ele alega que o teísta é disfuncional, pelo menos nessa área da vida? Mais importante, como ele compreende a disfunção? Como ele vê a disfunção e seu oposto? Como ele explica a idéia do funcionamento apropriado de um organismo, ou de algum sistema orgânico ou parte de um organismo? Que explicação ele dá? Presumivelmente, ele não pode ver o funcionamento apropriado do meu equipamento noético como este foi projetado para funcionar; então como ele pode dizer que é disfuncional?

Duas possibilidades vêm à mente. Primeiro, ele pode estar pensando o funcionamento apropriado como funcionamento na maneira que nos ajuda a alcançar nossos fins. Dessa forma, ele pode dizer, nós pensamos que nossos corpos estão funcionando apropriadamente e sendo saudáveis quando eles funcionam de uma maneira tal que nos permita fazer o tipo de coisas que queremos fazer. Mas, é claro, isso não será muito promissor no contexto presente; pois apesar de o objetor ateológico preferir ver o funcionamento de nossas faculdades cognitivas de uma maneira que não produza a crença em Deus, o mesmo não pode ser dito, naturalmente, para o teísta. Encarada desta forma, a objeção ateológica do evidencialista não passa da sugestão de que o ateólogo preferiria que as pessoas não acreditassem em Deus sem evidências. Isso seria uma observação autobiográfica da parte dele, tendo o interesse que tais observações têm em contextos filosóficos. Uma segunda possibilidade: funcionamento apropriado e noções similares devem ser explicadas em termos de aptidão para promover sobrevivência, seja no nível individual ou de espécies. Não há tempo para dizer muito sobre isso aqui; mas é no mínimo e imediatamente evidente que o objetor ateológico nos deveria um argumento para a conclusão de que a crença em Deus é, de fato, menos adequada para contribuir à nossa sobrevivência individual, ou à sobrevivência de nossas espécies do que é o ateísmo ou agnosticismo. Mas como seria tal argumento? Certamente a expectativa de um argumento não-circular é, de fato, desanimadora. Pois se o teísmo - teísmo Cristão, por exemplo - é verdadeiro, então parece totalmente implausível pensar que a disseminação do ateísmo, por exemplo, seria mais adequada para promover a sobrevivência de nossa raça do que a disseminação do teísmo.

Para concluir: uma forma natural de compreender tais noções como racionalidade e irracionalidade é em termos de funcionamento apropriado do equipamento cognitivo relevante. Visto desta perspectiva, a questão de se é racional acreditar em Deus sem suporte evidencialista de outras proposições é uma disputa metafísica ou teológica. O teísta tem facilidade em explicar a noção de funcionamento apropriado de nosso equipamento cognitivo: nosso equipamento cognitivo funciona apropriadamente quando funciona da maneira que Deus projetou para funcionar. O objetor evidencialista ateísta, entretanto, nos deve uma explicação dessa noção. O que ele quer dizer quando reclama que o teísta sem evidência apresenta um defeito cognitivo de algum tipo? Como ele entende a noção de mal funcionamento cognitivo?


NOTAS

[1]W.K. Clifford, "The Ethics of Belief," in Lectures and Essays (London: Macmillan, 1879), p. 183.

[2]Ibid, p. 184.

[3]Ibid, p. 186.

[4]Sigmund Freud, The Future of an Illusion (New York: Norton, 1961), p. 30.

[5]K. Marx and F. Engels, Collected Works, vol. 3: Introduction to a Critique of the Hegelian Philosophy of Right, by Karl Marx (London: Lawrence & Wishart, 1975).

[6]John Calvin, Institutes of the Christian Religion, trans. Ford Lewis Battles (Philadelphia: Westminster Press, 1960), 1.3 (p. 43- 44).

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Quem Precisa de Apologética Cristã? - William L. Craig

William L. Craig é doutor em Teologia pela Universidade de Munique e em Filosofia pela Universidade de Birmingham. Craig é o maior apologista Cristão de nossos tempos. Hábil debatedor, ele já enfrentou grandes pensadores céticos como Antony Flew, Bart Ehrman, John D. Crossan nos campi de Universidades como Harvard, Oxford e Princeton debatendo tópicos como a existência de Deus e a historicidade da ressurreição de Cristo. É autor dos livros A Veracidade da Fé Cristã e Filosofia e Cosmovisão Cristã. Neste artigo sua argumentação é a favor da necessidade e utilidade da apologética cristã. Através da sua própria experiência e da exposição de versículos Bíblicos ele nos mostra a importância da apologética para a saúde da Igreja, fortalecimento dos crentes e de uma maior influência da Igreja na cultura em que está inserida. Artigo importante tanto para os que duvidam do valor da apologética como para aqueles que já se utilizam dela na prática de evangelização e ensino. Três pequenos textos de minha autoria podem servir de introdução ao tema da apologética:
Amando a Deus de Todo o Entendimento
Atos 17,18, 19 e a Necessidade de Líderes Intelectuais na Igreja
A Responsabilidade de Batalhar pela fé


Tradução: Vitor Grando
vitor.grnd@gmail.com
DespertaiBereanos.blogspot.com

Eu fico honrado pelo privilégio de ter sido convidado para apresentar a Conferência Stob deste ano. Há uma tentação de tentar justificar a seleção como um preletor Stob apresentando um par de palestras impressionantes e acadêmicas. Mas uma ligação do presidente Plantinga me esclareceu que esse não era o propósito nem a audiência destas preleções. Eu pensei em falar sobre alguns pontos chaves da teologia filosófica cristã. Mas o presidente Plantinga me encorajou a falar sobre a questão da apologética cristã, um tópico aparentemente caro ao coração de Henry Stob, mas um tanto quanto negligenciado nos últimos anos. Ele me encorajou a refletir sobre minha experiência como apologista cristão e compartilhar alguns conselhos práticos sobre essa disciplina. Então é isso que eu decidi fazer.

Hoje nos faremos essa pergunta fundamental: Quem precisa de apologética cristã?

Para começar, eu acredito que devemos distinguir entre a necessidade e a utilidade da apologética. A distinção é importante. Pois mesmo se a apologética for absolutamente desnecessária, não se segue que ela seja inútil. Por exemplo, não é necessário saber como digitar para se usar um computador - você pode "catar milho", como eu faço - mas, todavia, a habilidade de digitar é muito útil para usar um computador. Ou ,novamente, não é necessário conservar sua bicicleta para ir pedalar, mas pode ser um benefício real mantê-la em ordem. Da mesma forma, a apologética cristã pode ser de grande utilidade mesmo se não for necessária para algum fim. Assim, em relação à apologética, precisamos nos perguntar não só "quem precisa?" mas também "para que que ela serve?"

Apologética cristã pode ser definida como um ramo da teologia cristã que procura apresentar uma garantia racional das alegações de verdade do Cristianismo. Aqueles que tratam a apologética com desdém tendem a mensurar o valor da apologética focando em sua alegada necessidade de garantir a crença cristã. Alguns pensadores, particularmente da tradição Reformada Holandesa, veem esse papel como desnecessário e algumas vezes até como mal orientado.

Agora, eu concordo plenamente com os epistemologistas Reformados contemporâneos como Alvin Plantinga que os argumentos e evidências apologéticas não são necessários para que a crença cristã seja garantida para qualquer pessoa. A alegação dos racionalistas teológicos (ou evidencialistas, como eles erroneamente são chamados hoje) de que a fé cristã é irracional na ausência de evidências positivas é difícil de ser conciliada com as Escrituras, que parecem ensinar que a fé em Cristo pode ser imediatamente fundamentada no testemunho interior do Espírito Santo (Rom. 8.14-16; 1 Jn. 2.27; 5.6-10), então os argumentos e evidências se tornam desnecessários. Em outro lugar, eu caracterizei o testemunho do Espírito Santo como auto-autenticado, e por essa noção eu quero dizer (1) que a experiência do Espírito Santo é verídica e inconfundível (apesar de não necessariamente ser irresistível ou indubitável) para quem a tem e quem a observa; (2) que tal pessoa não precisa de argumentos ou evidências suplementares para saber e saber com confiança que ele está, de fato, experimentando o Espírito de Deus; (3) que tal experiência não funciona, nesse caso, como premissa de qualquer argumento de experiência religiosa com Deus, mas sim é a experiência imediata com o próprio Deus; (4) que em certos contextos a experiência com o Espírito Santo implica a compreensão de certas verdades da religião cristã, tais como "Deus existe", "Eu estou reconciliado com Deus", "Cristo vive em mim", e por aí vai; (5) que tal experiência provê não só segurança subjetiva da veracidade do Cristianismo, mas sim conhecimento objetivo dessa verdade.; e (6) que argumentos e evidências incompatíveis com essa verdade são subjugadas pela experiência com o Espírito Santo por quem o recebe.

Evidencialistas cristãos podem insistir que mesmo se a crença cristã puder ser garantida na ausência de argumentos apologéticos positivos, ainda assim deve ter, no mínimo, recursos apologéticos defensivos para derrotar as várias objeções contra as quais é confrontada. Mas mesmo essa alegação mais modesta é precipitada, pois se o testemunho do Espírito Santo na vida de uma pessoa é suficientemente poderoso (como deve ser), então isso irá simplesmente se sobrepor a quaisquer objeções dirigidas à crença cristã, desta forma removendo a necessidade de apologética defensiva. Um crente não instruído o suficiente para refutar argumentos anti-cristãos está garantido em sua crença se baseando apenas no testemunho interno do Espírito mesmo quando confrontado com tais objeções não refutadas. Mesmo quando uma pessoa é confrontada com o que é, para ela, objeções irrespondíveis ao teísmo Cristão ela ainda assim, devido à obra do Espírito Santo, está dentro de seus direitos epistêmicos - digo mais, sob obrigação epistêmica - de crer em Deus. Visto que crenças pautadas no testemunho objetivo e verídico do Espírito são parte das invalidáveis considerações da razão, a fé do crente é garantida mesmo se não tiver nenhuma noção de argumentos apologéticos (como é o caso da maioria dos cristãos hoje e da história da Igreja)

Por contraste, o evidencialista cristão encara duras dificuldades: (1) Ele negaria o direito à fé cristã a todos aqueles que carecem da habilidade, do tempo, ou da oportunidade de entender e avaliar argumentos e evidências. Essa consequência iria, indubitavelmente, entregar milhões de pessoas que são cristãs à descrença. (2) Àqueles que foram apresentados mais argumentos convincentes contra o teísmo Cristão teriam uma desculpa justa perante Deus para sua descrença. Mas as Escrituras dizem que todos os homens não tem desculpa para não responder à revelação que possuem (Rm 1.21). (3) Essa visão cria um tipo de elite intelectual, um sacerdócio de filósofos e historiadores, que iriam ditar às massas da humanidade se é ou não racional acreditar no Evangelho. Mas certamente a fé está disponível para todos aqueles que, respondendo à ação do Espírito, clamam pelo nome do Senhor. (4) A fé fica sujeita às excentricidades da razão humana e das areias movediças das evidências, tornando a fé cristã racional em uma geração e irracional na próxima. Mas o testemunho do Espírito torna toda geração contemporânea de Cristo e assim assegura uma base sólida para a fé.

Então eu, na verdade, não penso que a apologética é necessária para que a fé cristã seja garantida. Mas não se segue daí que a apologética cristã seja, portanto, inútil ou não tenha nenhum beneficio em garantir a fé cristã. Se os argumentos da teologia natural e das evidências cristãs são bem sucedidos, então a crença cristã é garantida por tais argumentos e evidências para a pessoa que os compreende, mesmo se ainda assim essa pessoa estivesse garantida na ausência de tais argumentos. Tal pessoa é duplamente garantida em sua crença cristã, já que ela usufrui de duas fontes de garantia racional.

Pode-se pressentir os grandes benefícios de ter essa dupla garantia racional para as crenças cristãs. Ter argumentos persuasivos para a existência de um Criador e Projetista do universo ou evidências para a credibilidade histórica dos relatos do Novo Testamento sobre a vida de Jesus aliado ao testemunho interno do Espírito pode aumentar a confiança na veracidade das alegações de verdade do Cristianismo. No modelo epistemológico de Plantinga, no mínimo, teríamos uma garantia racional ainda maior para crer em tais alegações. Maior garantia racional pode fazer um descrente abraçar a fé mais prontamente ou inspirar um crente a compartilhar a sua fé com mais confiança. Além do mais, a disponibilidade de garantia racional para a veracidade das alegações de verdade do Cristianismo independente do testemunho do Espírito pode ajudar a predispor um descrente a responder à ação do Espírito quando ouvir o Evangelho e pode prover ao crente um suporte epistêmico em tempos de deserto espiritual ou de dúvida quando o testemunho do Espírito parece obscurecido. Pode-se imaginar inúmeras outras formas onde a posse de dupla garantia racional para as alegações do Cristianismo poderia ser benéfica.

Então, a pergunta é: a teologia natural e as evidências Cristãs garantem a crença cristã? Eu acredito que sim. Nos meus trabalhos públicos eu tenho formulado e defendido versões dos argumentos cosmológico, teleológico e ontológico para a existência de Deus e também tenho defendido o teísmo contra as mais proeminentes objeções à crença em Deus apresentadas por pensadores ateístas, tais como o problema do mal, o ocultamento de Deus, e a coerência do teísmo. Além do mais, tenho argumentado a favor da autenticidade das radicais alegações pessoais de Jesus e a historicidade do túmulo vazio, suas aparições post-mortem a vários indivíduos e grupos, e a inesperada crença dos primeiros discípulos de que Deus o havia feito ressurgir dos mortos. Além do mais, eu tenho argumentado, que a melhor explicação para esses fatos é a explicação dada pelos próprios discípulos: Deus fez Jesus ressurgir dos mortos.

Se esses argumentos estão corretos, então a crença no teísmo cristão é garantida pela teologia natural e pelas evidências cristãs como também pelo testemunho interno do Espírito Santo. Dessa forma, enquanto os argumentos apologéticos não são necessários para que saibamos que o Cristianismo é verdadeiro, ainda assim eles são suficientes, e essa dupla garantia racional para as crenças cristãs pode ser de grande ajuda. Assim, o sucesso da Epistemologia Reformada e a falha do racionalismo teológico de nenhuma forma implicam que a apologética é inútil ou não é importante.

Mais do que isso: mesmo se a apologética cristã não for necessária em relação à garantia racional da crença cristã, a apologética cristã pode ser útil e mesmo necessária para muitos outros fins. Permitam-me mencionar três fins em relação aos quais a apologética cristã desempenha um papel vital na sua realização.

1. Transformação da cultura. A apologética é útil e pode ser necessária para que o Evangelho seja efetivamente ouvido na sociedade ocidental hoje. De um modo geral, a cultura ocidental é profundamente pós-cristã. Isso é produto do Iluminismo, que introduziu na cultura Europeia o fermento do secularismo que já impregnou toda a sociedade ocidental. O marco do Iluminismo era o "livre-pensar", isto é, a busca de conhecimento somente pela razão humana e sem restrições. Apesar disso não levar necessariamente a conclusões não-cristãs e apesar de que a maioria dos pensadores Iluministas eram teístas, foi esse o profundo impacto da mentalidade Iluminista que fez com que os intelectuais ocidentais não mais considerem o conhecimento teológico possível. Teologia não é fonte de conhecimento genuíno e, portanto, não é ciência. Razão e religião são, portanto, contrários entre si. Somente as opiniões das ciências físicas são tidas como guias autoritativos para o nosso entendimento do mundo, e a confiante suposição é que a imagem de mundo que emerge das ciências genuínas é uma imagem completamente naturalista. A pessoa que segue a busca da razão sem retroceder acaba por se tornar ateu ou, no máximo, agnóstico.


Por que essas considerações culturais são importantes? Simplesmente porque o Evangelho nunca é ouvido no isolamento. É sempre ouvido no contexto cultural no qual vivemos. Uma pessoa que cresce num contexto cultural onde o Cristianismo ainda é visto como uma opção intelectualmente viável demonstrará uma abertura ao Evangelho muito maior do que uma pessoa que vive num ambiente secularizado. Pois para uma pessoa secularizada, acreditar em fadas e duendes é o mesmo do que acreditar em Jesus Cristo! Ou, para dar uma ilustração mais realista, é como se fossemos abordados nas ruas por um devoto de Hare Krishna que nos convida a crer em Krishna. Para nós tal convite soará bizarro, estranho e até engraçado. Mas para uma pessoa nas ruas de Bombai, tal convite seria, eu presumo, causa de reflexão séria e razoável. Eu temo que os evangélicos pareçam tão estranhos para as pessoas nas ruas de Bonn, Estocolmo ou Paris como os devotos de Krishna.

O que nos espera na América do Norte, se a secularização continuar da forma que está, já é evidente na Europa. Apesar de que a maioria dos europeus permanece afiliado nominalmente ao Cristianismo, somente 10% são praticantes, e menos da metade desses são teologicamente evangélicos. A tendência mais significante na afiliação religiosa europeia é o crescimento daqueles que se denominam como "não-religiosos" que foram de 0% da população em 1900 para mais de 22% hoje. Como resultado, a evangelização é imensuravelmente muito mais difícil na Europa do que nos Estados Unidos. Tendo vivido na Europa por treze anos, onde eu falei e evangelizei nos campi de várias universidades por todo o continente, eu posso testemunhar pessoalmente quão difícil a situação é. É difícil para o evangelho sequer ser ouvido. Por exemplo, eu lembro claramente quando eu falei na Universidade do Porto em Portugal, os estudantes eram tão incrédulos em relação ao perfil de um intelectual cristão com doutorados de duas universidades europeias que eles suspeitaram que eu fosse um impostor. Ele chegaram a telefonar para a Universidade de Louvain, na Bélgica, onde eu era um pesquisador visitante, para confirmar minha filiação à Universidade!

Os Estados Unidos estão seguindo o mesmo caminho, estando o Canadá mais a frente. A imersão do Canadá no secularismo tem sido precipitada. Em 1900 os evangélicos representavam 25% da população canadense. Em 1989 os evangélicos canadenses desceram para menos de 8% da população. Minha experiência em falar em campus de Universidades do Canadá sugere que o Canadá incorpora um tipo de cultura meio-Atlântica mais próxima do secularismo curopeu do que o seu vizinho do sul. Pluralismo e relativismo são a sabedoria convencional das Universidades canadenses. O politicamente correto e as leis que restringem a expressão nos debates de importância ética servem como armas para oprimir instituições e idéias cristãs. A imersão do Canadá no secularismo ilustra o quão importante é manter o contexto cultural simpático ao Cristianismo para a efetividade da evangelização. Felizmente, durante a última década os evangélicos Canadenses começaram a inverter essa tendência. Mas o retrocesso vai ser muito mais difícil do que o avanço porque isso está na espinha de uma cultura que se tornou oposta à cosmovisão cristã.

É por essa razão que os Cristãos que desprezam o valor da apologética pelo fato de "ninguém vir a Cristo através de argumentos intelectuais" tem a visão tão limitada. Pois o valor da apologética vai muito mais além do que o contato evangelístico imediato. A tarefa mais ampla da apologética cristã é ajudar a criar e sustentar um contexto cultural no qual o Evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para homens e mulheres pensantes. No seu artigo "Christianity and Culture" (Cristianismo e Cultura) o grande teólogo de Princeton, J. Greshan Machen afirmou corretamente,


Idéias falsas são o maior obstáculo à aceitação do evangelho. Podemos pregar com todo o fervor de um reformador e ainda assim só conseguir ganhar uma alma aqui e ali se permitirmos que todo o pensamento coletivo da nação seja controlado por idéias que impedem que o Cristianismo seja visto como nada mais do que uma ilusão inofensiva.

Infelizmente, o alerta de Machen permaneceu sem ser ouvido, e o Cristianismo Bíblico se restringiu intelectualmente ao isolamento cultural, do qual só começou a sair recentemente.


Agora, grandes oportunidades estão a nossa frente. Vivemos num tempo onde a filosofia cristã está experimentando um renascimento genuíno, revitalizando a teologia natural, numa época em que a ciência está mais aberta à existência transcendental de um Criador e Projetista do cosmos mais do que em qualquer tempo recente, e numa época em que a crítica bíblica tem renovado a busca pelo Jesus Histórico tratando os Evangelhos seriamente como fontes históricas da vida de Jesus e confirmado as principais características do Jesus retratado nos Evangelhos. Estamos intelectualmente equilibrados para ajudar a reformular nossa cultura de tal forma a reconquistar o fundamento perdido, para que o Evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para pessoas pensantes.

Agora eu posso imaginar alguns de vocês pensando, "Mas nós não vivemos uma cultura pós-moderna na qual esses apelos à apologética tradicional não são mais eficazes? Visto que os pós-modernos rejeitam os cânons tradicionais da lógica, da racionalidade, da verdade, argumentos racionais a favor da veracidade do Cristianismo não funcionam mais. Ao invés disso, na cultura de hoje deveríamos simplesmente compartilhar nosso testemunho e convidar as pessoas a participar conosco."

Na minha opinião esse tipo de pensamento não poderia ser mais equivocado. A idéia de que vivemos numa cultura pós-moderna é um mito. Na verdade, uma cultura pós-moderna é uma impossibilidade; seria algo completamente impossível de se viver. Ninguém é um pós-moderno quando o assunto é a leitura de uma bula de remédio em contraste com uma caixa de veneno de rato! É melhor você acreditar que esses textos tem um sentido objetivo! As pessoas não são relativistas quando o assunto é ciência, engenharia e tecnologia; mas elas são relativistas e pluralistas em questões de religião e ética. Mas, veja, isso não é pós-modernismo; isso é modernismo! É como o antigo Positivismo e o Verificacionismo, que afirmam que qualquer coisa que você não possa provar com os cinco sentidos é uma simples questão de gosto pessoal e expressão emocional. Vivemos num contexto cultural que continua profundamente modernista.

De fato, eu penso que o pós-modernismo é um dos mais articulados enganos criados por Satanás. "Modernismo está morto", ele nos diz, "Você não deve mais temê-lo. Esqueça-o; está morto e sepultado". Enquanto isso o modernismo, se fingindo de morto, ressurge travestido de pós-modernismo, se mascarando como um novo desafio. "Seus velhos argumentos e apologética não são mais eficazes contra esse novo advento", nos é dito. "Deixe-os de lado; eles não têm nenhum uso. Apenas compartilhe seu testemunho." De fato, alguns, cansados de longas batalhas com o modernismo, recebem com alívio a chegada do novo visitante. E, assim, Satanás nos engana e faz com que deixemos a lógica e as evidências, que são nossas melhores armas, de lado, e assim o modernismo triunfa sobre nós. Se adotarmos essa atitude suicída, as consequências para a Igreja na próxima geração serão catastróficas. O Cristianismo será reduzido a uma simples voz numa cacofonia de vozes que competem entre si, cada uma compartilhando seu testemunho e nenhuma afirmando para si a verdade objetiva sobre a realidade, enquanto o naturalismo científico molda a visão da nossa cultura em relação ao mundo como ele é.

Agora, é claro, não é preciso dizer que ao fazer apologética nós temos que ser relacionais, humildes e atrativos; mas isso de maneira alguma é um insight do pós-modernismo. Desde o ínicio os apologistas cristãos sabiam que deveríamos apresentar a razão da esperança que há em nós com "mansidão e respeito" (1 Pe 3.15). Ninguém precisa abandonar os cânons da lógica, da racionalidade e da verdade para exemplificar essas virtudes bíblicas.


E quanto a ideia de que as pessoas na nossa cultura não estão mais interessadas nem mais respondem à argumentação e às evidências racionais para o Cristianismo, nada poderia estar mais distante da verdade. Se me permitem falar sobre minhas experiências pessoais, por mais de vinte anos eu tenho falado e evangelizado em campi de universidades da América do Norte e da Europa, compartilhando o Evangelho num contexto onde eu defendo intelectualmente as alegações de verdade Cristãs. Eu sempre termino minhas preleções com uma sessão de perguntas e respostas. Durante todos esses anos ninguém jamais se levantou e disse algo como, "Seu argumento é baseado nos padrões ocidentais e chauvinistas de lógica e racionalidade" ou expressado algum outro sentimento pós-moderno. Isso jamais acontece. Se você aborda as questões no nível racional, as pessoas também respondem no nível racional. Se você apresenta evidências cientifícas e históricas para as alegações de verdade cristãs, os estudantes descrentes podem argumentar com você sobre fatos - que é exatamente o que você quer -, mas eles não atacam a objetividade da ciência ou da história. Se você apresenta uma argumento dedutivo para uma alegação de verdade cristã, os estudantes descrentes podem levantar objeções às suas premissas ou à conclusão - o que é, novamente, exatamente como uma discussão deve proceder -, mas eles não discutem o seu uso da lógica.

Agora, eu encontro estudantes que suspeitam de um preletor cristão. Por isso eles gostam de ouvir ambos os lados quando uma questão é apresentada. Por essa razão os debates são algo bastante atrativo para a evangelização universitária. Eu competi por oito anos em debates de colégio, debatendo tópicos sobre política pública como o programa de assistência militar, controle de salários e preços, e por aí vai. Eu nunca sonhei que o debate se tornaria uma atividade ministerial. Mas logo após terminar meu doutorado em teologia, eu comecei a receber convites de grupos de estudantes cristãos do Canadá para debater tópicos como "Deus existe?", "Jesus ressuscitou dos mortos?", "Humanismo vs. Cristianismo", e por aí vai. E o que eu tenho visto é que enquanto alguns poucos ou talvez até uns duzentos vem me ouvir dar uma preleção num campus, centenas e até milhares vêm ouvir um debate onde podem ouvir ambos os lados. Por exemplo, 2.200 estudantes da UC Riverside ouviram o meu debate com Greg Cavin sobre a ressurreição de Jesus. Na Universidade de Wisconsin em Madison 4.000 estudantes ouviram - na noite de um jogo de basquete! - meu debate com Antony Flew sobre a existência de Deus. Agora há pouco em Fevereiro 3.000 estudantes da Universidade de Iowa enfrentaram uma nevasca de sete polegadas [polegada = 2,54 cm] de neve para ouvir o meu debate com um professor local de Ciências da Religião conhecido pela sua aversão ao Cristianismo. Mais tarde na primavera deste ano 3.000 estudantes na Universidade de Purdue ouviram meu debate com o jovem filósofo humanista Austin Dacey sobre a questão "Deus existe?". A abordagem em todos esses debates é a abordagem da argumentação racional e das evidências. Há um tremendo interesse entre estudantes em ouvir uma discussão balanceada das razões a favor e contra à crença cristã.


Então, não se engane pensando que as pessoas na nossa cultura não estão mais interessadas nas evidências a favor do Cristianismo. O oposto é o verdadeiro. É de uma importância vital preservarmos uma cultura na qual o Evangelho é ouvido como uma opção viva para pessoas pensantes, e a apologética será a dianteira e o centro ajudando a trazer esse resultado.

2. Fortalecer os crentes. Não só a apologética é vital para a transformação da cultura, mas ela também exerce um papel vital na vida individual das pessoas. Um desses papéis é fortalecer os crentes.

Jan e eu passamos o verão de 1982 vivendo num apartamento em Berlin, me preparando para o meu exame oral em teologia na Universidade de Munique. Eu vinha me preparando por mais de um ano para esses exames críticos, e eu tinha uma pilha de notas de quase um pé de altura que eu tinha memorizado praticamente toda e revisado diariamente nos dias anteriores ao exame. Durante nosso tempo lá, nós tivemos o prazer de receber Ann Kiemel e seu marido Will enquanto eles passaram por Berlin. Ann era a preletora cristã mais popular da América. Ela era única, ela falava para individuos totalmente estranhos e os encorajava cantando algumas canções improvisadas e compartilhando sua fé. Ela era extremamente sentimental e emocional. Ela contava histórias - algumas fictícias, algumas verdadeiras - que fazem toda a audiência derramar lágrimas em minutos.


Bem, enquanto estávamos conversando um dia, eu pensei que poderia aprender algumas lições pela sua experiência. "Ann", eu perguntei, "Como você se prepara para suas mensagens?"
"Ah, eu não me preparo", ela disse.
Eu fiquei totalmente chocado. "Você não se prepara?" eu disse.
"Não", ela respondeu.
Eu fiquei totalmente desconcertado. "Bem, então, o que você faz?" perguntei.
"Ah, eu só compartilho minhas lutas."

Eu não podia acreditar. Eu estava me matando em anos de preparação para o ministério - e ela não se preparava! E não havia a menor dúvida quanto à sua eficácia. Ela alcançada milhares de pessoas com o Evangelho. Ela contava histórias de como acadêmicos cabeça-dura se desmanchavam pelas suas canções e histórias e vinham A Cristo. Eu pensei, "Por que eu estou fazendo tudo isso enquanto tudo que você precisa fazer é compartilhar suas lutas?"

Nós retornamos para os Estados Unidos naquele outono para fazer um sabático na Universidade de Arizona em Tucson, onde um ex-colega de classe vivia. Eu comparilhei com ele a minha conversa com Ann e disse como isso havia me transtornado. Ele disse algo pra mim que foi bastante confirmador. Ele me disse, "Bill, um dia essas pessoas que a Ann Kiemel trouxe ao Senhor vão precisar do que você tem para oferecer."

Ele estava certo. Emoções te levam apenas a um certo ponto, e aí você precisará de algo mais substancial. A apologética provê essa sustância. Ao falar em igrejas ao redor do país, eu frequentemente encontro pais que se aproximam de mim após o culto e dizem algo como "se você estivesse aqui há dois ou três anos atrás! Nosso filho (ou filha) tinha perguntas sobre a fé que ninguém conseguia responder, e agora ele perdeu a fé e se afastou do Senhor."

Arrebenta meu coração encontrar pais assim. Ao viajar, eu também tenho encontrado outras pessoas que me disseram como elas deixaram de apostatar por ter lido um livro apologético ou visto o vídeo de um debate. No caso delas a apologética foi um meio através do qual Deus as fez perseverar na fé. Agora, é claro, a apologética não pode garantir a perseverança, mas pode ajudar e em alguns casos, pela providência de Deus, ser até necessária. Recentemente eu tive o privilégio de falar na Universidade de Princeton sobre argumentos para a existência de Deus, e após minha preleção eu fui abordado por um jovem que queria falar comigo. Claramente segurando as lágrimas, ele me disse que há poucos anos atrás ele vinha lutando com dúvidas e estava prestes a abandonar sua fé. Alguém lhe deu um vídeo de um dos meus debates. Ele disse "Isso me salvou de perder a fé. Não há como te agradecer o suficiente."

Eu disse, "Foi o Senhor que te salvou de cair."

'Sim", ele respondeu, "mas Ele te usou. Não há como te agradecer o suficiente." Eu lhe disse o quão emocionado eu estava por ele e lhe perguntei sobre seus planos futuros. "Eu estou me graduando esse ano", ele me disse, "e eu planejo ir para o seminário. Eu vou ser pastor." Glória a Deus pela vitória na vida desse homem!

Outros estudantes que eu encontrei em Princeton estavam inscritos numa aula dada pela crítica do Novo Testamento Elaine Pagels que eles apelidaram de "aula caça-fantasmas" devido ao efeito destrutivo à fé de muitos estudantes cristãos. Eles não tinham noção de como a visão da Prof. Pagels sobre os evangelhos gnósticos estava fora de contexto com o academicismo proeminente. Foi um privilégio compartilhar com eles as bases para a credibilidade do testemunho neotestamentário sobre Jesus.

A experiência deles não é incomum. No colégio e na faculdade os jovens cristãos são intelectualmente agredidos com todo tipo de cosmovisão não-cristã aliada a um enorme relativismo. Se os pais não estão intelectualmente engajados com sua fé e não tem bons argumentos a favor do teísmo cristão e boas respostas para as perguntas de seus filhos, então estamos num verdadeiro perigo de perder nossa juventude. Não basta ensinar nossas crianças histórias simples da bíblia; eles precisam de doutrina e apologética. É difícil entender como as pessoas hoje podem ser pais sem ter estudado apologética.

Infelizmente, nossas igrejas jogaram a toalha nessa área. Não é suficiente focar em entretenimento e pensamentos devocionais bobos nos grupos de jovens e escolas bíblicas. Temos que treinar nossos filhos para a guerra. Não podemos enviá-los para o ensino médio e para a universidade armados de espadas de borracha e armaduras de plástico. O tempo de brincar já passou.

Mas a apologética Cristã faz muito mais do que salvaguardar de lapsos. Os efeitos positivos e edificantes do treinamento apologético é ainda mais evidente. Eu vejo isso toda hora nos campus de universidades onde eu debato. John Stackhouse uma vez comentou para mim que esses debates são uma versão ocidentalizada do que os missionários chamam de "encontro de poderes" . Eu acredito que isso seja uma análise perceptiva. Os estudantes cristãos saem desses encontros com uma confiança renovada em sua fé, de cabeça erguida, orgulhosos de serem cristãos, e confiantes ao falar de Cristo no campus. Algumas vezes após um debate os estudantes dizem, "Eu não posso esperar para compartilhar minha fé em Cristo!"


Muitos cristãos não compartilham sua fé com os descrentes simplesmente por causa do medo. Eles têm medo de que os não-cristãos lhe façam uma pergunta ou levante uma objeção que eles não saibam responder. E então eles escolhem ficar em silêncio e assim escondem sua luz sob o alqueire, desobedecendo o mandamento de Cristo. O treinamento apologético é um grande impulso ao evangelismo, pois nada inspira mais confiança e coragem do que saber que se tem boas razões para acreditar no que se acredita e boas respostas para as perguntas e objeções comuns que podem ser levantadas. Bom treinamento em apologética é uma das chaves para um evangelismo sem medo.

Dessa e de muitas outras maneiras a apologética ajuda a edificar o corpo de Cristo fortalecendo individualmente os crentes.

3. Evangelizar os descrentes. Poucas pessoas discordariam de mim quando digo que a apologética fortalece a fé dos Cristãos. Mas muitos diriam que a apologética não é muito útil na evangelização. "Ninguém vem a Cristo através de argumentos", lhe dirão. (Eu não sei quantas vezes já ouvi isso.)

Essa atitude negativa em relação ao papel da apologética na evangelização certamente não é a visão bíblica. Ao lermos os Atos dos Apóstolos, é evidente que era a atitude padrão dos apóstolos argumentar a favor da veracidade da visão cristã, tanto com cudeus quanto com pagãos. (ex., At 17:2‑3, 17; 19:8; 28:23‑24). Ao lidar com a audiência Judaica, os apóstolos apelaram para o cumprimento de profecias, os milagres de Jesus, e especialmente a ressurreição como evidência de que ele era o Messias (At 2:22‑32). Quando eles confrontaram as audiências gentias que não aceitavam o Antigo Testamento, os apóstolos apelaram para a obra de Deus na natureza como evidência da existência do Criador (At 14:17). Depois apelaram para as testemunhas oculares da ressurreição de Jesus para mostrar especificamente que Deus se revelou em Jesus Cristo (At 17:3031; 1 Cor. 15:3‑8).

Francamente, eu acredito que aqueles que veem a apologética como fútil na evangelização simplesmente não evangelizam muito. Eu suspeito que eles tenham tentado usar argumentos apologéticos em alguma ocasião e o descrente continuou sem ser convencido. E por isso eles tiraram a conclusão de que a apologética não é eficaz na evangelização.

Por um lado essas pessoas são vítimas de uma falsa expectativa. Quando você observa que somente uma minoria das pessoas que ouvem o Evangelho o aceitam e que só uma minoria desses que aceitam o fazem por razões intelectuais, não deveríamos nos surpreender que o número de pessoas com as quais a apologética é eficaz é relativamente baixo. Mas pela própria natureza da questão, devemos esperar que a maioria dos descrentes permaneçam não convencidos pelos nossos argumentos apologéticos, assim como a maioria permanece imóvel à pregação da cruz.

Bem, então, porque se preocupar com a minoria da minoria com a qual a apologética é eficaz? Primeiro, por que toda pessoa é preciosa para Deus, uma pessoa pela qual Cristo morreu. Como um missionário chamado para alcançar um grupo obscuro, o apologista cristão é chamado para alcançar a minoria das pessoas que responderão à argumentação e evidência racional.

Mas, segundo - e aqui o caso difere significantemente do caso do grupo de pessoas obscuras -, esse grupo de pessoas, apesar de relativamente pequeno em números, é grande em influência. Uma dessas pessoas, por exemplo, foi C.S. Lewis. Pense no impacto que a conversão de um homem continua a ter! Eu acho que as pessoas que mais se entusiasmam com meu trabalho apologético tendem a ser engenheiros, pessoas da área de medicina, e advogados. Tais pessoas estão entre os mais influentes formadores de opinião hoje. Então alcançar essa minoria de pessoas gerará uma grande colheita para o Reino de Deus.


De qualquer forma a conclusão geral de que a apologética é ineficaz na evangelização é precipitada. Lee Strobel recentemente me disse que perdeu a conta do número de pessoas que vieram a Cristo através de seus livros Em Defesa de Cristo e Em Defesa da Fé. Na minha experiência pessoal tenho experimentado a eficácia da apologética na evangelização. Estamos continuamente animados em ver pessoas comprometendo suas vidas a Cristo através de apresentações apologéticas do Evangelho. Após uma conversa sobre os argumentos a favor da existência de Deus ou sobre as evidências para a ressurreição de Jesus ou uma defesa do particularismo Cristão, eu frequentemente concluo com uma oração de aceitação a Cristo, e os cartões de comentário indicam aqueles que registraram tal compromisso. Essa última primavera eu fiz uma turnê pelas Universidades de Illinois, e nós ficamos muito animados ao ver que após praticamente toda apresentação, os estudantes fizeram decisões por Cristo. Eu cheguei a ver estudantes virem a Cristo através de uma defesa do argumento cosmológico kalam!


Uma das mais emocionantes foi o caso de Eva Dresher, uma física polonesa que eu encontrei na Alemanha logo após completar meu doutorado em filosofia. Enquanto eu e Jan conversávamos com Eva, ela mencionou que a física havia destruído sua crença em Deus e que a vida tinha se tornado sem sentido para ela. "Quanto eu olho para o universo tudo que eu vejo é escuridão", ela explicou, "e quando eu olho para mim mesmo tudo que eu vejo é sombrio". (Que dolorosa declaração do predicamento moderno!) Bem, nesse momento Jan se voluntariou, "Ah, você deveria ler a dissertação do doutorado do Bill! Ele usa a física para provar que Deus existe." Então lhe emprestamos minha dissertação sobre o argumento cosmológico para ela ler. Ao longo dos dias, ela se tornava cada dia mais animada. Quando ela chegou na seção sobre astronomia e astrofísica, ela estava muito alegre e orgulhosa. "Eu conheço esses cientistas que você está citanto!" ela exclamou maravilhada. Quando ela chegou ao final, sua fé havia sido restaurada. "Obrigado por me ajudar a crer que Deus existe", ela disse.


Nós respondemos, "Você gostaria de conhecê-lO de uma maneira pessoal?" Então marcamos um horário para encontrá-la naquela noite num restaurante. Enquanto isso preparamos de memória as Quatro Leis Espirituais. Depois do jantar nós abrimos o livreto e começamos, "Assim como existem leis físicas que governam o universo físico, assim também existem leis espirituais que governam nosso relacionamento com Deus..."

"Ah, leis físicas! leis espirituais!" ela exclamou. "Isso é exatamente para mim!" Quando chegamos aos círculos no final que representam duas vidas e lhe perguntamos qual círculo representava sua vida, ela colocou sua mão sobre os círculos e disse, "Ah, isso é tão pessoal! Eu não posso responder agora." Então nós lhe encorajamos a levar o livreto para casa e entregar sua vida a Cristo.

Quando nós a vimos no dia seguinte, sua face estava radiante de alegria. Ela nos disse que havia ido para casa e na privacidade do seu quarto orou para receber a Cristo. Então ela jogou no vaso todo o vinho e os tranquilizantes que ela vinha usando. Ela era uma pessoa verdadeiramente transformada. Nós lhe demos uma Bíblia Good News [Boas Novas] e lhe explicamos a importância de manter uma vida devocional com Deus. Nossos caminhos se distanciaram por muitos meses. Mas quando nós a vimos novamente ela ainda estava entusiasmada com sua fé, e ela nos disse que suas posses mais preciosas eram a Bíblia Good News e seu livreto das Quatro Leis Espirituais. Isso foi uma das mais vívidas ilustrações que eu vi de como o Espírito Santo pode usar argumentos e evidências para levar as pessoas a um conhecimento salvifíco de Deus.

Tem sido emocionante, também, ouvir histórias de como as pessoas tem vindo a Cristo através da leitura de algo que eu escrevi. Por exemplo, quando eu estava falando em Moscou, alguns anos atrás, eu encontrei um homem de Minsk em Belarus. Ele me disse que logo após a queda do comunismo ele havia ouvido alguém lendo em Russo meu livro The Existence of God and the Beginning of the Universe [A Existência de Deus e o Ínicio do Universo] pelo rádio em Minsk. No final da transmissão ele havia sido convencido de que Deus existia e entregou sua vida a Cristo. Ele me disse que hoje ele serve ao Senhor numa Igreja Batista em Minsk. Glória a Deus! Mais cedo nesse ano na Universidade do Texas, eu encontrei uma mulher que estava participando de minhas preleções. Ela me disse chorando que por 27 anos ela havia estado longe de Deus e se sentido desesperançada e sem sentido. Pesquisando numa livraria ela achou meu livro Will the Real Jesus Please Stand Up? [O Verdadeiro Jesus, por favor, levante-se], que contém meu debate com John Dominic Crossan, co-presidente do radical Seminário Jesus, e comprou uma cópia. Ela disse que enquanto lia, ela ia se abrindo a Cristo, até que finalmente entregou sua vida a Ele. Quando eu perguntei o que ela fazia, ela disse que era psicóloga e trabalhava numa prisão feminina do Texas. Pense na influência cristã que ela pode ter num ambiente tão desesperançoso!

Se eu puder, quero contar uma última história. Nos últimos anos eu tive o privilégio de me envolver em debates com apologistas muçulmanos em vários campus no Canadá e Estados Unidos. Esse verão, numa manhã de Sábado, eu recebi uma ligação. A voz do outro lado da linha anunciou, "Olá! Aqui é Sayd al-Islam ligando de Omã!" aí eu pensei, "ah, não! Eles me encontraram!" Ele continuou e explicou que ele havia perdido sua fé muçulmana secretamente e havia se tornado ateu. Mas agora lendo vários livros apologéticos cristãos, que ele havia comprado na Amazon.com, ele passou a crer em Deus e estava prestes a se comprometer com Cristo. Ele estava impressionado com as evidências para a ressurreição de Jesus e havia me ligado porque ainda tinha muitas perguntas que precisavam ser respondidas. Nós conversamos por uma hora, e eu senti que no seu coração ele já cria em Cristo; mas ele queria ser cauteloso e ter certeza que tinha as evidências certas antes de dar o passo conscientemente. Ele me explicou, "Você entende que eu não posso lhe dizer meu verdadeiro nome. No meu país eu tenho que levar um tipo de vida dupla por que senão eu sou morto." Eu orei com ele para que Deus continuasse a guiá-lo em direção à verdade, e então nos despedimos. Você pode imaginar quão grato a Deus meu coração ficou por Ele ter usado esses livros - e a internet! - na vida desse homem! Histórias como essa são inúmeras e, é claro, nunca ouvimos todas elas.

Então aqueles que dizem que a apologética não é eficaz com os descrentes falam a partir de sua experiência limitada. Quando a apologética é persuasivamente apresentada e combinada sensivelmente com uma apresentação do Evangelho e um testemunho pessoal, o Espírito de Deus usa isso para trazer certas pessoas para Si. A apologética é necessária nesses casos? Essas pessoas teriam vindo a Cristo de qualquer forma, mesmo se não tivessem ouvido os argumentos? Acredito que temos que dizer, "Só Deus Sabe!" No mínimo, Ele sabe se Ele tem conhecimento-médio, certo? Podemos não saber o valor de verdade de tais contrafatuais da liberdade; mas nós podemos saber e sabemos por experiência que Deus usa a apologética na evangelização para trazer os perdidos a Ele.

Concluindo, a apologética cristã é uma parte vital do currículo teológico. Apesar de não ser necessária para garantir a crença Cristã, ela é, eu acredito, todavia suficiente para garantir a crença cristã e, portanto, de grande benefício. A apologética executa um papel vital, e talvez crucial, na transformação da cultura, no fortalecimento dos crentes, e na evangelização dos descrentes. Por todas essas razões, eu estou não-apologeticamente entusiasmado com a apologética cristã.


Notas:

1 Eu acho que epistemologistas Reformados como Alvin Plantinga puderam oferecer um modelo epistemológico, no qual, se o teísmo cristão for verdadeiro, mostra que a crença cristã pode ser garantida na ausência de argumentos apologéticos. Eu devo apenas ajustar esse modelo para os propósitos da teologia cristã eliminando o tão chamado sensus divinitatis, que não encontra nenhuma base nas Escrituras, em favor do testimonium Spiritu Sancti internum, ou o testemunho interno do Espírito Santo, que é atestado nas Escrituras. Além do mais, ao invés de tomar o testemunho do Espírito como um processo formador de crença análogo a uma faculdade cognitiva (um constructo que torna difícil assegurar que é literalmente verdade que "eu creio em Deus," visto que a faculdade ou processo não é meu), eu devo entender o testemunho do Espírito como um forma de testemunho produzido pelo Espírito de Deus em mim ou como parte das circunstâncias que fundamentam a crença que eu formo em Deus e nas grandes verdades do Evangelho.


2. Alguns epistemologistas reformados, apesar de endossarem os argumentos da teologia natural, todavia, expressam ceticismo em relação aos prospectos da apologética histórica porque quando é adicionado mais especificidade a uma hipótese, a probabilidade dessa hipótese diminui rapidamente. Tal objeção é, entretanto, duplamente equivocada. Primeiro, as probabilidades não precisam diminuir e podem, na verdade, aumentar ao se acrescentar progressivamente evidências especificas para a informação prévia de alguém pelo refinamento das hipóteses. O erro da objeção é que esta afirma que a base evidencialista é constante enquanto adiciona hipóteses adicionais, ao invés de aumentar as evidências ao falarmos de crenças cristãs especifícas. Segundo, de qualquer forma os historiadores não avaliam hipóteses históricas através de cálculos probabilísticos. Ao invés, eles usam como critério de avaliação a extensão explanatória, o poder explanatório, o grau de ad hoc, e por aí vai. Esse é o meio pelo qual eu argumento a favor da hipótese da Ressurreição.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

"NÓS VAMOS INICIAR UM MOVIMENTO PARA DERRUBÁ-LO"



Utópico ou não. A manifestação é válida.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O Silêncio dos bons

"O que mais preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons."
Martin Luther King

Diante de toda injustiça e ilegalidade cometidas pelo prefeito-eleito Eduardo Paes e sua trupe (fato sabido pelo TSE), a reação mais comum é de indignação contra sua campanha e contra a massa que se deixou seduzir por seu engodo. Mas a nossa indignação não deve ser dirigida contra a massa, pois estes carecem de instrução para eleger o melhor candidato e, muito compreensivelmente, elegem o candidato que promete medidas imediatistas para resolver seus problemas e que oferece um ou outro benefício para si e para sua comunidade. Como disse Martin Luther King na frase supra-citada, o que deve nos indignar é o silêncio dos bons. Estes sim são os verdadeiros culpados pelo trágico resultado de ontem, pois não é verdade que a maioria da população quer Eduardo Paes como prefeito, a maioria quer Fernando Gabeira, só que a maioria se absteve do seu dever de votar permitindo que a injustiça prevalecesse, esses sim são os verdadeiros culpados, aqueles que podem fazer algo e não fazem, mas jamais a massa que carece por misericórdia. A verdade é que os eleitores de Gabeira se venderam ao feriado do malandro Sérgio Cabral, caíram direitinho nas presas do governador. Vocês que se absteram decidiram o futuro do Rio de Janeiro - parabéns! Se há alguma dúvida, vejam o quadro abaixo e verão que o maior índice de abstenção foi justamente em todas as Zonas onde Gabeira ganhou com uma larga vantagem:



domingo, 26 de outubro de 2008

Parabéns, Gabeira! Você venceu!


Para os moralistas hipócritas, parabéns por votarem no candidato que:

- Espalhou panfletos mentirosos.
- Espalhou vans fazendo boca-de-urna hoje, o que é crime.
- Usou de golpes baixos contra seu adversário
- Inflamou as massas usando de mentiras e manipulações
- Se fez de coitado ao afirmar com a maior cara-de-pau que era vítima de panfletos apócrifos
- Espalhou panfletos dizendo que se baseava na ética cristã, o que é hipocrisia, o pecado que Jesus mais enfaticamente atacou.

Bom, se você votou 15 por motivos moralistas, sinto muito lhe dizer que além de incorrer num grave engano, apoiou o candidato mais imoral e baixo do Rio de Janeiro e que ainda se vez de santo e cristão. Um fariseu de primeira, o alvo de todo o ódio de Jesus Cristo. Se falamos de ética cristã, sem dúvidas Gabeira foi o mais coerente. Se foram outros os motivos que te levaram a votar em Eduardo Paes, tudo bem, mas se o fez por motivos relacionados a ética cristã ou você não conhece o Evangelho ou se deixou enganar pelas mentiras do candidato eleito, ou sugiro urgentemente que reveja seus príncipios supostamente cristãos - e aqui vai uma acusação direta a todos vocês falsos moralistas, vocês ainda vão sentir o peso da vossa hipocrisia! É de esperar que os moralistas ignorem a realidade e essa acusação, afinal, nenhum profeta bíblico - nem Jesus - foi bem recebido pelos maioria religiosa, o mesmo se dá hoje. O povo não gosta de ouvir a verdade, gosta é da mentira, por isso não aceitaram a dura mensagem de Jeremias. Mas a onda continua, Gabeira nos deu uma bela lição de como se fazer politíca de forma integra. Parabéns, Gabeira! Você venceu!

O Rio é de Gabeira! - Reta Final!


sábado, 25 de outubro de 2008

Minhas considerações finais...

Está chegando a grande hora. Amanhã faremos uma decisão de um minuto que permanecerá pelos próximos 4 anos. Nos últimos dias eu fiz o que pude para alertar alguns. Nunca sonhei tanto com a vitória de um candidato, mas frente a sujeirada dos últimos dias eu decidi vestir a camisa e bater de frente. Não podemos esperar mais 4 anos. Temos que fazer uma mudança agora e há uma grande oportunidade para isso.

O debate de ontem só fez aumentar a força das minhas convicções em relação aos dois candidatos. Gabeira, como sempre, educado, sem golpes baixos, sem mentiradas e sujeiradas. Eduardo Paes, baixo como sempre, insistiu em questões irrelevantes que só servem para inflamar as massas, isso sim é preconceito contra suburbano e toda a classe sem instrução. Abusar da ignorância de alguns para conquistar alguns últimos votos. Sórdido, Eduardo, Sórdido! Insistiu também da ilusão de que o Rio tem uma oportunidade única de ser governado junto com Cabral e Lula, outra estratégia para abocanhar os incautos. Se fez de vítimas de panfletos apócrifos - isso foi patético! E sua insistência imbecil no apoio de César Maia ao Gabeira? "César sai pela porta da frente, mas entra pela porta dos fundos". Durante o debate ele levantou a questão três vezes, inclusive fez questão de falar isso ao ser entrevistado após o debate. Alguém ainda acredita na integridade e moralidade desse cidadão? Eu não! Sórdido, baixo, ganancioso, sujo e tudo mais que um politíco é. Simplesmente patético. É triste ver gente acusando Gabeira de imoralidade, tem que ser muito cego para não enxergar o verdadeiro "São" Eduardo Paes. Independente do resultado de amanhã, Gabeira sairá vencedor. Sua campanha foi um show. O "tsunami" verde realmente contagiou o Rio de Janeiro, mas é difícil bater de frente com a sujeira e a ignorância e, infelizmente, é isso que decide o vencedor. Quanto mais mentiroso, mais votos. Espero que haja um verdadeiro milagre amanhã. O dia em que a ética venceu a sujeira. Uma nova era politíca. Façamos nossos últimos esforços para consagrar o hino:

O Rio é de Gabeira!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Qual cova você cairá?

Conservador? Será?


A oposição conservadora ao candidato Fernando Gabeira se dá exclusivamente por suas posições teoricamente liberais e anti-cristãs. Dizem que ele é propagador do ateísmo, das drogas e do homossexualismo. Para fins de argumentação vamos supor que Gabeira seja isso tudo sem me preocupar em defendê-lo.

O apoio conservador ao candidato Eduardo Paes se dá justamente por que, teoricamente, ele não seria tão anti-cristão e liberal como Gabeira, mas será verdade?

Eduardo Paes anda dizendo que o Rio de Janeiro tem uma oportunidade única, a oportunidade de ser governado pela tríade Lula-Cabral-Paes. Agora vamos levar em consideração dois fatos: Sérgio Cabral é a favor da legalização da maconha e do aborto. Duas posições que divergem claramente do posicionamento conservador.

Bem, o conservador que apoia Eduardo Paes se encontra num dilema lógico, vamos usar um silogismo:

1) Se Paes está dizendo a verdade, então, o Rio de Janeiro será governado pela tríade Lula-Cabral-Paes.
2) A tríade Lula-Cabral-Paes é pró-legalização e pró-aborto o que é contrário ao posicionamento conservador.
3) Paes está dizendo a verdade.
4) Logo, o Rio de Janeiro será governado por uma tríade pró-legalização e pró-aborto que é contrária ao posicionamento conservador.

ou a premissa (3) pode ser substituída por:

3)Paes não está dizendo a verdade.

A conclusão lógica que se deriva dessa premissa é:

4) Logo, o Rio de Janeiro será governado por um político mentiroso, o que é contrário ao posicionamento conservador.

Ora, vemos que o conservador que pretende votar no Eduardo Paes está preso entre duas conclusões que contrariam seu próprio pensamento. Ele tem a opção de votar no Eduardo Paes acreditando que seu mandato será pró-legalização e pró-aborto ou votar em Eduardo Paes acreditando que ele é um político mentiroso e, portanto, indigno de qualquer crédito. Resumindo, o conservador que apelando para os seus valores conservadores escolhe Eduardo Paes está cavando a própria cova, aliás duas covas, resta escolher em qual das duas ele vai cair.

E aí, qual será sua decisão? Pense bem!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sou Crente, Mas Não Sou Bobo - Gabeira Neles!

Leia e entenda por que eu mudei minha cabeça.


Algumas considerações iniciais: (1) Escrevo esse discurso de forma inflamada, portanto, não se surpreendam se o texto não estiver gramaticalmente correto e as idéias não estiverem expostas de maneira clara. (2) A motivação para escrever esse texto é o ódio à mentira e à ignorância presente em nosso meio - o meio evangélico. Revolta-me ver como facilmente nos tornamos massa de manobra e nos tornamos vítimas da astúcia do diabo. (3) Esse texto pode ofender as sensibilidades religiosas farisaicas de alguns alienados, mas não estou nem aí (4) O que segue foram minhas palavras numa comunidade no Orkut antes da votação do 1º turno:

Qual o candidato à prefeitura da sua cidade em quem você não votará de jeito nenhum, mesmo que a vaca tussa?...

Não voto no
Crivella, pelo simples fato do candidato ser evangélico e eu não ter o menor interesse que a imagem dos evangélicos seja ainda mais deturpada nesse País.

Não voto no
Gabeira, confesso que o pouco que vi de sua campanha na TV me chamou a atenção. Mas colocando na balança os prós e os contras, não voto nele por discordar de suas teorias "moderninhas" que, as que já foram postas em práticas em outros lugares do mundo, se reveleram um desastre. Vide a frustrante legalização da maconha na Holanda que se trouxe algum benefício, dentre muitos malefícios, foi a possibilidade de comprar o Ecstasy mais baratinho da Europa. =] A outra, em relação as questões envolvendo o homossexualismo, ainda não trouxe consequências nocivas para qualquer sociedade mas isso é questão de tempo. Quem viver verá! Aceitem ou não, a moralidade foi parte inseparável da ascensão e declínio das grandes civilizações antigas mas, como já dito, quem não observa a história está fadado a repeti-la. Destruam as famílias e acabarão por destruir a sociedade.

Portanto, rejeito qualquer acusação de que eu não me preocupe com o futuro da nossa sociedade, dos nossos jovens e com o Reino de Deus. Acusações como essas, para mim, não passam de falácias.

Minha opinião em relação ao Crivella permanece até hoje. Não votei e não voto nele. É certo que precisamos de políticos com príncipios cristãos no comando da nossa sociedade, mas infelizmente isso não existe. Não existem políticos evangélicos capacitados para um cargo de tamanha importância. Lembro-me de uma história que o grande evangelista norte-americano Bill Bright conta: logo após a eleição de Ronald Reagan à presidência dos Estados Unidos, Reagan telefonou para Bill pedindo para que ele selecionasse os principais cristãos com instrução suficiente para ocupar cargos de assessoria à presidência dos EUA. Bill aceitou o pedido entusiasmado, mas seu entusiasmo durou pouco, por quê? Simples, em toda a América do Norte, Bill Bright só conseguiu um único cristão com a capacidade intelectual de ocupar um cargo de tamanha importância, C. Everett Koop - cirurgião geral dos Estados Unidos. No nosso país é a mesma coisa, não há cristãos suficientemente gabaritados para ocuparem um cargo de prefeito de uma cidade como o Rio de Janeiro.

Quanto ao Gabeira, tive que dar o braço a torcer, me senti obrigado a mudar de opinião. Intelectual, social e moralmente obrigado a abrir mão de minhas posições iniciais e admitir: Gabeira é o único político com capacidade para assumir a prefeitura do Rio de Janeiro. A campanha de Gabeira é de primeiro mundo. Sem sujeira nas ruas, sem panfletos apócrifos, sem ofensas aos outros candidatos, sem promessas utópicas. realista, sincera, ora, mas essas características não são características de um político honesto e integro? O Gabeira antes mesmo de ser eleito prova que é o candidato ideal. Por outro lado a campanha do Eduardo Paes em nada difere de todas as demais campanhas que já estamos acostumados - e cansados - de ouvir. Ofensas aos seus adversários, panfletagem apócrifa, promessas utópicas (pergunte a um médico o que ele acha da historinha das UPAs), enfim, Paes é mais um, e eu estou cansado de "mais um". Quero, e como carioca eu mereço, um político diferente. Alguém que nunca passeou por diversos partidos, nunca traiu os seus próprios príncipios, alguém que sempre lutou, mesmo eu não acreditando que sua forma de lutar tenha sido sempre a melhor, mas ele lutou e luta.

Gabeira é melhor e mais gabaritado, mas e suas opiniões contrárias aos príncipios cristãos? Não devemos temê-las? Certamente, aquilo que é contrário ao Reino de Deus deve ser temido, não só pelo Reino em si, mas o que é contrário ao Reino é, também, contrário à justiça social e saúde de uma sociedade. As duas coisas estão interligadas. O que é bom para o Reino é bom para a sociedade. Como eu já disse, seria ótimo votar em um político cristão, mas como isso não existe, o que sobra são aqueles que não compartilham dos nossos valores. Gabeira pode até ter opiniões com as quais eu não concordo, mas para começar ele não tem poder para colocá-las em prática como prefeito, além do que, ele não as mencionou em sua campanha. A realidade é que nós atacamos, em grande parte, o seu passado e não o seu presente. Mas será que Paes é, então, o nosso Salvador? Ora, Santa Ignorância! É claro que não. Vocês, evangélicos, acham mesmo que há alguém neste mundo que compartilha dos nossos valores em relaxão à sexualidade? Isso é ilusão. Acham que existe alguém que nunca fumou maconha? Poucos, mas dentre esses poucos Paes não está incluso, ele mesmo admitiu recentemente. Então vamos deixar de lado nossas opiniões que se derivam não do nosso cristianismo, mas sim do nosso fanatismo e ignorância, abrir nossas cabecinhas (cuidado, pode doer!), colocar os prós e contras na balança e decidir comparando qualidades e defeitos de cada candidato, mas não colocando uma carapuça preconceituosa sobre um candidato e fazendo dela o alvo de nossos ataques, isso além de ignorância é covardia!

Mas se ainda acha que Gabeira é a encarnação do diabo por crer em príncipios que divergem dos nossos, pare e reflita um pouco. Dispa-se desse falso moralismo farisaico e se pergunte: moralidade cristã é pertinente apenas à área sexual e de vícios, ou seja, de pecados mais evidentes? Nosso moralismo evangélico parece indicar que sim, mas a verdadeira moralidade cristã diz que não. Ofender e denegrir a imagem de um adversário é coerente com os príncipios cristãos? Não. Espalhar panfletos apócrifos incluindo mentiras e distorções das propostas dos outros candidatos é coerente com os príncipios cristãos? Não. Criticar veementemente o presidente Lula e depois com a maior cara-de-pau se aliar a ele é coerente com os príncipios cristãos? Não. Mudar de partido frequentemente mostrando que além de não ser fiel, não é coerente com ideologia nenhuma é coerente com os príncipios cristãos? Seu aliado, Sérgio Cabral, decretar ponto facultativo na segunda-feira após as eleições é coerente com os príncipios cristãos (Leiam o que diz Lucia Hipólito)? De maneira alguma! Não sejamos cegos, povo de Deus, o que Deus exige de nós não é apenas moralismo sexual farisaico (não se enganem pensando que Paes é um puritano sexual), mas dignidade, honestidade, sinceridade, fome de sede e de justiça social. Vemos isso em Eduardo Paes? Deixo para vocês a resposta, mas pensem antes, a campanha dele difere de todas as campanhas que, repito, estamos acostumados e cansados de ouvir? É evidente que não. Sugiro que releiam os Evangelhos antes das eleições e vejam as atitudes de Jesus para com os partidos político-religiosos da época, pelo menos leia Mateus 23. Os Saduceus, Fariseus e Escribas eram os mais moralistas de todos, condenavam duramente a imoralidade sexual - certamente condenariam o Gabeira - mas Jesus mostrou que não era isso o principal e não era isso que Ele exigia. Uma das coisas que faltava era justiça social. Eles cumpriam a Lei à risca, mas as viúvas passavam fome, mendigos não recebiam sequer um pão e os enfermos eram colocados em segundo plano, em outras palavras, faltava justiça social, eles tinham tudo o que alguns iludidos estão achando que Paes tem, mas não tinham o principal, o que eu acredito que Gabeira tem. Lembrem-se de Amós, o profeta da justiça. Ou da passagem de Isaías 58.6-7:

Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo?
Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?

E se vocês ainda acham que os príncipios de Paes divergem muito de Gabeira, então, sugero que observe as seguintes imagens:

Paes e seu aliado Sérgio Cabral

Sérgio Cabral após o seu discurso no palanque da Parada Gay de Copacabana

E agora, José? Vai continuar acreditando que o Paes é o nosso Messias? Não dá né!

Bom, é "cada um no seu quadrado", quer votar no Paes, então, vote, mas não faça isso apelando para o Reino de Deus ou para motivos dúbios. Ah, meus irmãos, legalizar a maconha? Será mesmo? Vejam aqui se as opiniões de Gabeira permanecem as mesmas. Eu já me decidi, a realidade é clara, o único que apresenta uma campanha de alto nível é Gabeira. Por isso, cristãos, acho que está na hora de mostrarmos que não somos mais uma massa de alienados, mas sim uma parte importante da sociedade e que se preocupa com o bem desta e aproveito para parabenizar os pastores evangélicos que apoiam o Gabeira (Veja: http://gabeira.com/gabeira43/?p=781). Ainda existe uma luz - e nós somos a luz!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pedro Cardoso fala sobre a pornografia na dramaturgia brasileira


Pedro Cardoso, o Augustinho da Grande Família, criou uma baita polêmica no meio artistico brasileiro ao criticar o culto à pornografia disfarçado de arte presente na dramartugia brasileira. Pedro Cardoso discursou no Festival de Cinema do Rio e criticou essa falsa idéia de que o ator deve ser alguém desprovido de pudores e pronto para fazer o que lhe ordenarem. Os atores precisam aprender a dizer "não" e isso deve começar nos atores já consagrados. A pressão para um jovem ator aceitar um convite para um filme ou peça onde tenha que ficar nu é grande. A nudez pornográfica é um pressuposto para ser um bom ator. Pedro se indigna contra diretores e produtores que persuadem seus atores a fazerem o que eles querem com a desculpa de que a arte exige, ou "é fundamental para a história" ou "vai ser de bom gosto". Geralmente quem propaga esses chavões não são aqueles que atuam. Vale a pena conferir o discurso do Pedro Cardoso no seguinte link:

http://todomundotemproblemassexuais.zip.net/

E refletir, até onde o ator pode e deve ir como ator?
A arte é um fim em si mesma, justificando o comportamento desprovido de pudores?
Os fins justificam os meios?
A nudez é necessária na TV, Cinema e Teatro?
E, para nós, como o ator cristão deve se posicionar nesse meio?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sofisticação Intelectual e Crença Básica em Deus - Alvin Plantinga

Os leitores deste blog já devem estar familiarizados com o pensamento de Alvin Plantinga. Professor de Filosofia da Universidade de Notre Dame, é um dos grandes nomes da Filosofia Analítica da Religião. Pode-se dizer que Plantinga foi o grande líder responsável pelo ressurgimento do teísmo cristão no meio acadêmico filosófico. Esse artigo trata sobre epistemologia, é racional crer em Deus sem evidências? Plantinga afirma que sim, pois a própria crença constitui uma evidência para a existência de Deus, dispensando evidências baseadas em outras proposições. O pensamento de Plantinga de maneira alguma é fideísta, muito pelo contrário. Plantinga afirma que a crença em Deus é sim racional, mas não necessariamente essa racionalidade repousa sobre outras proposições que não a própria crença. Quando nos deparamos com um objeto imediatamente nós o percebemos, para Plantinga, o mesmo se dá com a crença em Deus.

Sofisticação Intelectual e Crença Básica em Deus - Alvin Plantinga

Tradução: Vitor Grando

vitor.grnd@gmail.com
DespertaiBereanos.blogspot.com

Em "Reason and Belief in God," eu sugeri que proposições como:

1. Deus está falando comigo.

2. Deus desaprova o que eu fiz, e

3. Deus me perdoa pelo que eu fiz.

São propriamente básicas para pelo menos alguns crentes em Deus; existe um vasto conjunto de condições, eu sugeri, nas quais tais proposições são, de fato, propriamente básicas. E quando eu disse que essas crenças são propriamente básicas, eu tinha mente o que Quinn chama de concepção estreita da relação de base[1]. Eu estava presumindo que uma pessoa S aceita uma crença A sobre a base de uma crença B somente se (aproximadamente) S acredita tanto em A e B e possa corretamente alegar (se refletir) que B é parte de sua evidência para A. A Crença de S de que há um erro em algum argumento contra P não será tipicamente uma crença sobre as bases das quais ela aceita P e não será parte de sua evidência para P[2].

Isso é importante pela seguinte razão. Ao argumentar que a crença em Deus é propriamente básica, eu pretendo refutar a alegação feita pelo objetor evidencialista: a alegação de que o teísta que não tem nenhuma evidência para o teísmo é, de alguma forma, irracional. O que o objetor evidencialista objeta contra, entretanto, não é somente à crença em Deus quando não se tem uma resposta para objeções ao teísmo tais como o argumento do mal. Ele admite que o teísta pode perfeitamente ter uma resposta para essa objeção e para outras; mas enquanto ele não tiver nenhuma evidência para a existência de Deus, ele diz, o teísta não pode crer racionalmente. Da forma como o objetor evidencialista pensa em relação à evidência, então, você não tem evidência para uma crença simplesmente refutando objeções contra esta; você deve ter também algo como um argumento a favor da crença, ou algum raciocíonio positivo para pensar que a crença é verdadeira. Eu penso que essa concepção de evidência é uma concepção apropriada; mas em todo caso é a concepção relevante, visto ser a concepção de evidência que o objetor evidencialista tem em mente ao alegar que o teísta sem evidências é irracional.

Da forma que eu vejo isso, então proposições como (1) - (3) são propriamente básicas para muitas pessoas, incluindo adultos intelectualmente sofisticados como eu e você. Quinn discorda: "...eu concluo que muitos, talvez a maioria, dos teístas adultos intelectualmente sofisticados da nossa cultura estejam pouco, se sequer alguma vez, em condições de estarem certos de que proposições como as expressas por (1) - (3) sejam propriamente básicas para eles."[3] Por que isso? Eu acredito que Quinn tende a concordar, primeiro, que existem condições nas quais tais crenças são propriamente básicas para uma pessoa; tais condições podem ser tais como uma criança que foi criada por pais crentes, ou talvez um adulto numa cultura na qual céticos não produziram os tipos de razões para rejeitar a crença teísta que estão na moda hoje. O problema para adultos intelectualmente sofisticados na nossa cultura, ele diz, é que existem muitos possíveis invalidadores da crença teísta disponíveis; e temos razões substanciais para pensarmos que tais invalidadores são verdadeiros. Um tipo de invalidador para uma crença (do tipo que Quinn se ocupa aqui) é uma proposição incompatível com a crença; Quinn cita

4. Deus não existe

como um possível invalidador do teísmo. E o problema para o teísta adulto intelectualmente sofisticado da nossa cultura, afirma Quinn, é que foram produzidas muitas razões para se acreditar na proposição (4).

Existem invalidadores para a crença teísta, então; na presença de invalidadores, uma crença que, em outras circunstâncias, seria propriamente básicas pode não mais ser uma crença propriamente básica. Para ser mais exato, de acordo com Quinn:

parece plausível supor que as condições estão certas para proposições como aqueles expressas por (1) - (3) serem... propriamente básicas para mim somente se (i) ou eu não tenho razão substancial suficiente para pensar que qualquer desses possíveis invalidadores são verdadeiros, ou eu tenho tal razão, mas para cada razão eu tenho uma razão ainda melhor para pensar que os invalidadores são falsos, e (ii) em ambos os casos minha situação não envolve nenhuma negligência epistêmica de minha parte.[4]

Quinn avança e diz que ele não está nessa condição bem-aventurade em relação à crença teísta; ele conhece razões substanciais, ele diz, para acreditar que (4) é verdade, e não tem uma razão ainda melhor para supor que as razões que ele tem para acreditar em (4) sejam falsas. Então (por Q*) a crença em Deus não é propriamente básica para ele; e ele suspeita que o mesmo vale para o resto de nós.

Nisso eu estou em desacordo profundamente. Precisamos primeiro perguntar quais são essas "razões muito substanciais" para pensar que o que (4) expressa é verdade.[5] Quais seriam alguns exemplos de tais razões substanciais para o ateísmo? Quinn responde: "razões ateológicas não-triviais, variando desde vários problemas em relação ao mal até teorias naturalistas de acordo com as quais a crença teísta é ilusória ou simplesmente projetiva, são um componente universal da porção racional da nossa herança intelectual."[6] Então tais razões substanciais para pensar que o teísmo é falso seriam o argumento do mal junto com teorias de acordo com as quais a crença teísta é ilusória ou simplesmente projetiva; aqui talvez Quinn tenha em mente as teorias Marxistas e Freudianas em relação à crença religiosa.

Eu deveria observar imediatamente que as teorias Marxistas e Freudianas que ele faz alusão não parecem ser nem mesmo razoavelmente convincentes se tomadas como razões para acreditar em (4), ou como evidência da não-existência de Deus, ou como razões para rejeitar a crença em Deus. As insignificantes especulações de Freud sobre a origem psicológica da religião e as alegações descuidadas de Marx sobre o papel social da religião não podem ser tomadas como razão ou argumento para (4), isto é, para a não-existência de Deus; tomadas desta forma elas nada mais são do que exemplos da simplória falácia genética. Se tais especulações e alegações tem um papel respeitável a realizar, pode até exercer tal papel como explicação naturalista para a ampla aceitação da crença religiosa, ou talvez tentar desacreditar uma crença religiosa traçando-a em direção à uma fonte desonrosa. Mas é claro que isso não constitui nada como evidência para (4) ou uma razão para pensar que o teísmo é falso. Alguém pode citar isso como evidência para a existência de Deus, São Paulo alega (Romanos 1) que a falha em crer em Deus é resultado do pecado e da rebeldia contra Deus. Nenhuma das teorias naturalistas de acordo com as quais o teísmo é ilusório ou simplesmente projetivo parece ter alguma força como argumento ou evidência para a não-existência de Deus - embora elas possam ser interessantes de outras formas.

Isso nos deixa com o argumento ateológico do mal como a única razão substancial para pensar que(4) é verdade. E inicialmente esse argumento parece ser muito forte como razão para rejeitar a crença teísta. Mas será realmente? Até recentemente, a maioria dos ateólogos que insistiam num argumento do mal afirmavam que

5. Deus existe e é onisciente, onipotente, e totalmente bom.

é logicamente incompatível com a proposição

6. existe uma quantidade 10x¹³ de mau.

(onde (6) é só uma maneira de se referir a todo o mal que o mundo apresenta). Hoje em dia, acredito que os ateólogos já desistiram de alegar que (5) e (6) são incompatíveis[7]. O que eles agora dizem é que (5) é improvável em relação a (6); e Quinn (ele próprio, é claro, não é ateólogo) diz, "O que eu sei, parcialmente pela minha experiência e parcialmente por testemunho, sobre a quantidade e variedade da mal não-moral no universo confirma fortemente para mim a proposição expressa por(4)."[8] Mas será realmente verdade? Será que o que Quinn e o resto de nós sabe sobre a quantidade e variedade do mal não-moral no mundo confirma fortemente a não-existência de Deus? Esse não é o lugar para entrar numa discussão sobre esse difícil e complicado problema (difícil e complicado ao menos em parte devido ao caráter difícil e confuso da noção da confirmação); para o que é importante, entretanto, eu não vejo que esse argumento é bem sucedido. Até onde eu posso ver, nenhum ateólogo proveu uma forma bem sucedida e persuasiva de desenvolver um argumento ateológico do mal probabilístico; e eu acredito que há boas razões para pensar que isso não pode ser feito[9] Eu estou, portanto, bastante inclinado a duvidar que (6) "invalida fortemente" (5) para Quinn. No mínimo o que precisamos aqui é alguma explicação para mostrar como (ou até aproximadamente como) essa invalidação deve prosseguir.

Então primeiro, essas alegadas razões substanciais para rejeitar o teísmo exigem uma boa dose de ceticismo. Mas em segundo, até mesmo se admitirmos que há tais razões, a conclusão de Quinn não seguiria a partir daí; isso é porque (Q*), como é colocado, é claramente falso. A sugestão é que se eu tiver uma razão substancial para pensar que algum invalidador de uma proposição (por exemplo, sua negação) é verdadeiro, então eu não posso tomar apropriadamente a proposição como básica a menos que eu tenha uma razão ainda maior para pensar que o invalidador em questão é falso. Mas certamente isso é exigir muito. Supomos que um ateólogo me dê um argumento inicialmente convincente para pensar que (5) é, de fato, extremamente improvável em relação a (6). Mas para derrotar esse invalidador em potencial, eu não preciso saber ou ter razões muito boas para pensar que é falso que (5) seja improvável em relação à (6); bastaria mostrar que o argumento do ateólogo (para a alegação de que (5) é improvável em relação à (6)) é mau sucedido. Para derrotar esse invalidador em potencial, tudo que eu preciso fazer é refutar esse argumento; eu não estou obrigado a ir além e produzir um argumento para a negação de sua conclusão. Quinn encara

(4) Deus não existe

como um invalidador potencial para as proposições (1) - (3); mas para invalidar o invalidador potencial oferecido por um argumento para (4) eu não preciso necessariamente ter algum argumento a favor da existência de Deus. Existem invalidadores defensivos como também invalidadores ofensivos.[10]

Há um outro e mais sutil ponto aqui. Quinn parece estar pensando nas seguintes linhas: supomos que eu tome alguma proposição como básica, mas tenha evidência substancial, a partir de outras coisas que eu creio, para a existência de algum invalidador dessa proposição - uma proposição com a qual seja incompatível. Então (de acordo com Q*) eu sou irracional se eu continuar a aceitar a proposição em questão, a menos que eu tenha boas evidências para a falseabilidade do invalidador. Então se eu aceito uma proposição P, mas acredite ou saiba de outras coisas que constituem uma forte evidência a favor de um invalidador Q de P, então, diz Q*, se eu não quiser ser irracional em continuar a aceitar P como básico, eu tenho que ter uma razão para pensar que Q é falso, uma razão que seja mais forte do que as razões que eu tenho para pensar que Q é verdadeiro.

Agora, minha pergunta é: poderia o próprio P ser minha razão para pensar que Q é falso? Ou essa razão deve ser alguma proposição distinta de P? Considere um exemplo. Eu estou tentando conseguir uma membresia no National Endowment for the Humanities; eu escrevo uma carta para um membro, tentando suborná-lo à escrever para o Endowment uma carta me elogiando; ele se recusa indignado e manda uma carta para o meu diretor. A carta desaparece misteriosamente do escritório do diretor. Eu tenho um motivo para roubar a carta; eu tenho uma oportunidade para fazê-lo; eles sabem que eu já fiz esse tipo de coisa no passado. Além do mais, um membro bastante confiável do departamento alega ter me visto entrando no escritório do diretor na hora que a carta provavelmente foi roubada. A evidência contra mim é muito forte; meus colegas me repreendem por tal comportamento e me tratando com um desgosto evidente. Mas a verdade, entretanto, é que eu não roubei a carta e, de fato, eu passei toda a tarde em questão numa caminhada solitária pela floresta; além do mais eu me lembro claramente ter passado tal tarde caminhando pela floresta. Assim eu acredito de forma básica em (7). Eu estava sozinho na floresta naquela tarde, e eu não roubei a carta. Mas eu tenho forte evidências para a negação de (7). Por eu ter as mesmas evidências que todos os outros de que eu estava no escritório do diretor e tenha pego a carta; e essa evidência é suficiente para convencer meus colegas (que são justos e inicialmente bem dispostos em relação à mim) da minha culpa. Eles estão convencidos de que eu peguei a carta baseado no que eles sabem, e eu sei tudo que eles sabem. Então eu tomo (7) como básico; mas eu tenho uma razão substancial para acreditar num invalidador de (7). De acordo com Q*, se eu afirmar que sou racional nessa situação, eu devo ter uma razão ainda melhor para crer que esse invalidador em potencial seja falso. Mas eu tenho? Bem, a única razão que eu tenho para pensar que esse invalidador em potencial é falso é somente o próprio (7); eu não tenho nenhuma razão independente para pensar que o invalidador é falso (A garantia que eu tenho para (7) é garantia não-proposicional; essa garantia não é conferida à (7) em virtude de crer nessa proposição devido a alguma outra proposição, pois não é me baseando em alguma outra proposição que eu acredito em (7))

Nessa situação é óbvio que eu sou perfeitamente racional em continuar a acreditar em (7) de forma básica. A razão é que nessa situação o status epistêmico positivo ou garantia que (7) tem para mim (por virtude de memória) é maior do que aquela conferida ao invalidador em potencial pelas evidências que eu compartilho com meus colegas. Nós poderíamos dizer que o próprio (7) invalida o invalidador em potencial; nenhuma razão além dessa é necessária para negar o invalidador para que, então, eu possa ser racional. Supomos que nós disséssemos que nesse tipo de situação uma proposição como (7) é um invalidador intrínseco do invalidador em potencial. Quando uma crença básica P tem mais garantia do que um invalidador potencial Q de P, então P é um invalidador intrínseco do invalidador Q - um invalidador intrínseco de um outro invalidador, poderíamos dizer. (Uma crença R é um invalidador extrínseco de um outro invalidador se ela invalida um invalidador Q de uma crença P distinta de R)

Então minha questão aqui é essa: como Quinn está pensando em relação a essas razões para pensar que a proposição invalidadora é falsa? Eu tendo a crer que ele quer que Q* seja lido de tal forma que essas razões tenham que ser invalidadores extrínsecos de invalidadores; mas se for assim, então seu princípio, eu penso, é claramente falso. Por outro lado, talvez deva ser entendido como dizendo algo como:

Q** se você crê em P de forma básica e você tem razão para acreditar num invalidador Q de P, então se você quer ser racional em continuar a crer em P dessa forma, P deve ter mais garantia para você do que Q.

Não estou certo se esse princípio é correto, mas eu também não quero debatê-lo. O ponto central, entretanto, é que se uma crença P é propriamente básica em certas circunstâncias, então tem garantia ou status epistêmico positivo naquelas cirscunstâncias nas quais é propriamente básica-garantida, mesmo quando não é crida baseando-se em evidências de outras proposições. (Por hipótese ela não é crida sobre as bases de evidências de outras proposições). Para ser bem-sucedido, um invalidador em potencial para P deve ter tanto ou mais garantia quanto P tem. E P pode suportar o desafio feito por um determinado invalidador mesmo se não existirem evidências independentes que sirvam para refutar o invalidador em questão; talvez a garantia não-proposicional que P usufrui seja suficiente em si mesma (como acima no caso da carta perdida) para resistir ao desafio.

Mas como isso se aplica ao caso em questão, o caso da crença em Deus e os alegados invalidadores que Quinn menciona? Como segue. Se há circunstâncias nas quais a crença em Deus seja propriamente básica, então nessas circunstâncias tal crença tem um certo grau de garantia ou status epistêmico positivo. Agora suponha que um invalidador em potencial surja: alguém alega que a existencia de 10x¹³ de mau torna o teísmo improvável, ou ele alega que a crença teísta surge a partir de nada mais honrado do que um tipo de neurose humana comum. Duas questões surgem. Primeiro, como o grau de garantia não-proposicional usufruida pela sua crença em Deus está em comparação com a garantia possuída pelo alegado invalidador em potencial? Poderia ser que sua crença, mesmo se aceita como básica, tenha mais garantia do que o invalidador proposto e dessa forma constinui um invalidador intrínseco de um invalidador. Quando Deus falou à Moisés do meio da sarça ardente, a crença de que Deus estava falando à ele, eu me atrevo a dizer, tinha mais garantia para ele do que teria a garantia oferecida por sua negação proposta por um antigo Freudiano que passava por ali e propôs a tese de que a crença em Deus é uma questão de satisfação de desejo neurótica. E segundo, existem qualquer invalidador extrínseco para esses invalidadores? Alguém argumenta que a existência de uma quantidade 10x¹³ de mal é inconsistente com a existência de Deus; eu talvez tenha aí um invalidador extrínseco para esse invalidador em potencial. Esse invalidador-invalidador não precisa ter a forma de uma prova de que essas proposições são, de fato, consistentes; se eu ver que o argumento não é razoável, então eu também tenho um invalidador para ele. Mas eu sequer precisava ter um invalidador. Talvez eu não seja nenhum expert nesses assuntos mas aprenda a partir de fontes confiáveis que alguém tenha mostrado que o argumento não é razoável, ou que os experts estão divididos em relação à sua razoabilidade. Então, também, eu tenho ou posso ter um invalidador para o invalidador em potencial em questão, e posso continuar a aceitar a crença teísta como básica sem irracionalidade.

Para concluir: Quinn alega que adultos teístas intelectualmente sofisticados da nossa cultura raramente estão em circunstâncias epistêmicas nas quais a crença em Deus seja propriamente básica; pois eles tem razão substancial para pensar que algum invalidador do teísmo seja verdadeiro, e não tem, para cada um desses invalidadores, uma razão ainda maior para pensar que são falsos. Mas primeiro, não é necessário que eles tenham razões independentes de sua crença em Deus para a falseabilidade e tais invalidadores. Talvez a garantia não-proposicional usufruida pela sua crença em Deus é, em si mesma, suficiente para devolver os desafios oferecidos pelos invalidadores, então minha crença teísta é um invalidador intrínseco de outros invalidadores. E segundo, invalidadores extrínsecos dos alegados invalidadores não precisam ser evidência para a falseabilidade de tais invalidadores; ao invés disso, eles podem ser enfraquecedores de tais invalidadores; eles podem ser, por exemplo, refutações de argumentos ateológicos (E aqui os filósofos Cristãos podem servir muito bem ao resto da comunidade Cristã). Minha opinião é que para muitos teístas, a garantia não-proposicional que a crença em Deus tem para eles é, de fato, maior do que os alegados invalidadores da crença teísta - por exemplo, as teorias Freudianas e Marxistas sobre religião. Além do mais, existem poderosos invalidadores extrínsecos para esse tipo de invalidadores do teísmo que Quinn sugere. O argumento ateólogico do mau, por exemplo, é formidável; mas existem invalidadores igualmente formidáveis para esse invalidador em potencial. Logo, eu estou inclinado a acreditar que a crença em Deus é propriamente básica para a maioria dos teístas - mesmo os adultos teístas intelectualmente sofisticados.


Notas

[1]Philip Quinn, "In Search of the Foundations of Theism," Faith and Philosophy 2 (October 1985): 20-1.

[2]Faith and Rationality, ed. A. Plantinga and N. Wolterstorff (South Bend: The University of Notre Dame Press, 1983), pp. 84-5.

[3]Quinn, "Search," p. 481.

[4]Ibid., p. 483.

[5]Ibid., p. 481.

[6]Ibid.

[7]Veja, por exemplo, o Capítulo IX do meu livro The Nature of the Necessity (Oxford: The Clarendon Press, 1974).

[8]Quinn, "Search," p. 481.

[9]Veja meu artigo "The Probabilistic Argument from Evil," Philosophical Studies (1980): 1-53.

[10]Devo esses termos à John Pollock. A distinção entre invalidadores defensivos e ofensivos é de central importâncial para a apologética. Se a propriedade da crença básica em Deus é ameaçada por invalidadores, existem duas maneiras de responder. Primeiro, existe a apologética negativa: a tentativa de refutar os argumentos contra o teísmo (o argumento ateológico do mal, a alegação de que o conceito de Deus é incoerente, e por aí vai). Segundo, existe existe a apologética positiva: a tentativa de desenvolver argumentos a favor da existência de Deus. Ambas são disciplinas importantes; mas somente a primeira é necessária para invalidar os invalidadores.


 
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