quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O Sistema de Salvação Cristão

A Cruz: A Única Esperança da Humanidade


Escrevi esse texto após a leitura de O Evangelho Maltrapilho do badalado Brennan Manning. Ricardo Gondim e Ed René Kivitz colocam esse livro como bibliografia essencial para um bom cristão. Philip Yancey cita Manning como o escritor cristão mais profundo da atualidade. De fato, é um bom livro, embora eu creia que profundo mesmo é Philip Yancey, quem ainda não leu O Jesus Que Eu Nunca Conheci deve fazê-lo imediatamente. Apesar do livro do Yancey não ser explicitamente sobre o amor e agraça de Deus, como o do Manning, falar de Jesus é o mesmo que falar de amor e graça, é como se fossem sinônimos. Depois da leitura me inspirei a escrever algo sobre o meio de salvação do cristianismo que, teoricamente, é sabido por todos nós cristãos. Acredito que a falta de compreensão do que realmente o cristianismo diz sobre salvação é a causa de muitas confusões, como o acalorado debate que tivemos aqui nesse blog entre pluralismo e exclusivismo. Na minha opinião, todo homem deve ter a oportunidade de ouvir essa mensagem, nada é mais importante do que o que segue nesse texto, não pelas minhas palavras, evidentemente, que não conseguem expressar toda a grandeza de tal assunto, mas pela importância do próprio assunto.


Nada causa mais confusão e escândalo no Cristianismo do que a doutrina da graça e ainda assim nada é mais importante do que isso. Quando falamos de vida cristã dois erros são comuns. O legalismo exacerbado ou, com o mesmo exagero, o liberalismo no outro extremo. As pessoas costumam se colocar entre um ou outro extremo. Ou não pode nada ou "libera geral'. É verdade que a lei não justifica ninguém, mas não é verdade que podemos ignorar qualquer mandamento em nome da graça. A graça salva aqueles que pecam sim, mas não salva aqueles que pecam e não estão nem ai para isso. Devemos evitar tanto o universalismo quanto o particularismo sectário e, o que é raro no meio desse povo da "graça" que adora tacar pedra na Igreja, e devemos ter cautela dobrada para não permitir que nossas perturbações emocionais e amarguras causadas por uma determinada Igreja ou religião influencie esse assunto. Me parece que alguns criticos da religião evangélicas estão mais preocupados em destruir o trabalho dos outros do que exortar em amor. Voltando ao assunto da graça, não devemos ignorar o pecado por vivemos na graça, não devemos aceitar comportamentos pecaminosos como conduta moralmente correta e saudável (vide cristãos da "graça" que apoiam e aceitam comportamentos claramente anti-biblícos). Usemos a graça para amar e abraçar aqueles que pecam, afinal, que atire a primeira pedra quem jamais pecou... Mas não podemos fazer uso da "graça" para abraçar de forma conivente aqueles que pecam e dizermos "É isso ai, continue assim, Deus te ama e o criou assim e é assim que você deve ficar". Jesus não disse apenas "vá", Ele continuou e disse: "... e não peques mais" (Jo 8). O perdão foi possível pois a mulher já tinha consciência do seu crime perante a Lei. A graça não salva aqueles que tentam se justificar na Lei, mas também não salva aqueles que se recusam a enxergar a realidade de Lei e reconhecer que a infringiram. A graça salva somente pecadores conscientes de seu pecado. Não salva qualquer um, até porque Deus não coage ninguém.

Mas esse Evangelho da graça não pode ser compreendido sem ter Cristo como seu centro. Alguns pontos que eu acredito serem de suma importância têm que ser compreendidos.

(1) O Deus do Novo Testamento continua odiando e se irando contra o pecado. Afinal, Ele é justo e, portanto, Deus se ira e odeia sim, por mais fora de moda que seja falar isso.

(2) A Lei continua ativa (Mt 5.17) , nos culpando e nos condenando ao inferno (por mais fora de moda que esteja o inferno) (Rm 3.19, Rm 6.23).

Nada dessas coisas mudaram do Antigo para o Novo Testamento, o que mudou foi a inclusão de uma peça fundamental para se compreender o Amor de Deus - Jesus, o Cristo. Ele, O Cristo, não aboliu a Lei, mas sim a cumpriu (Mt 5.17). Lembra do ódio e da ira de Deus, da culpa e da condenação? Pois é, Cristo saciou tudo isso. Todas as exigências da Justa Lei de Deus. Então todo o ódio e a ira de Deus contra o nosso pecado de ontem, hoje e amanhã; foi, é e será desviado para Cristo. E é essa a Boa-Nova. Aqueles que pecam podem ser salvos. E por isso, Deus não nos vê mais como pecadores, imperfeitos, injustos, impuros (apesar de ainda sermos até o fim de nossas vidas), agora Ele nos vê como santos em Cristo, perfeitos em Cristo, justos em Cristo, puros em Cristo. Ele vê Cristo em nós, criaturas pecadoras. Todo o ódio de Deus que justamente merecemos é desviado para o calvário e isso nos permite acesso a outra face desse Deus justo, a face do Amor. Portanto, sem Cristo continuamos perdidos, mas n'Ele cumprimos todas as exigências de Deus e aquela merecida condenação já não mais existe para quem está em Cristo (Rm 8.1). N'Ele e somente n'Ele.

Portanto, é claro como a água que sem Lei jamais compreendemos o amor de Deus. O perdão à mulher adúltera só foi possível porque ela já tinha consciência do seu crime perante a Lei do Justo Juiz, caso contrário, ela precisaria, antes, ser acusada. A realidade e impiedade da Lei jamais podem ser subenfatizadas na pregação. Spurgeon dizia que devemos pregar 90% Lei e 10% graça. Sem Lei não há a menor necessidade de Cristo. Afinal, se não há condenação, Cristo nos salvou do quê? Temos que alertar às pessoas da condenação da Lei. Diferente do que comumente é crido, o sistema de salvação cristão não é diferente do sistema de salvação de outras religiões que dizem que temos que ser bons para sermos salvos. Temos sim que ser bons para sermos salvos, a Lei mostra isso. É ai que está a grande revelação de Deus em todas as culturas e religiões. Todas elas exigem cumprimento de regras para que se alcance a salvação, até o ateu tem seu próprio código de conduta contra o qual ele "peca" frequentemente. A diferença é que o sistema de salvação cristão reconheceu que tal feito é simplesmente impossível e, por isso, Deus resolveu esse problema saciando sua própria justiça n'Ele mesmo. Toda Lei, de qualquer religião que for, revela que é impossível para o homem satisfazer todas suas exigências. Sem Cristo, todo esse papo de amor de Deus é mentira e somos os mais perdidos dos homens pois, como dizem todas as religiões, temos que ser bons para sermos salvos. Mas a perfeição da Lei nos deixa impossibilitados disso (vide Mt 5.48). Com isso em mente, quando alguém sente culpa por achar que não pode satisfazer as exigências de Deus, tal culpa é real, boa e verdadeira, não é neurose, mas sim sinal de saúde espiritual. Aliviar tal culpa dizendo simplesmente que Deus é amor e não exige nada dela é heresia, mentira e só serve para recalcar o sintoma de culpa. O que essa pessoa precisa é conhecer àquele que levou toda sua culpa e saciou todas as exigências - Cristo. N'Ele a culpa vai embora. O que Deus exige é, realmente, um fardo impossível de se carregar, pois Ele é perfeitamente justo. Mas Ele próprio descobriu um meio de solucionar esse dilema. Em Cristo sim, o fardo se torna leve!

Somente com a consciência viva da nossa injustiça, da nossa culpa perante Deus, e da nossa condenação é que podemos seguir ao segundo passo, conhecer o caminho de Cristo que saciou tudo aquilo que era exigido de nós. N'Ele sim, nós pecadores justamente condenados, somos santos justamente salvos. Cristo é nossa justiça. N'Ele, cujo fardo é leve, podemos embarcar na verdadeira jornada de crescimento moral e espiritual que durará até o fim de nossas vidas. Como disse C.S.Lewis, nós caimos num buraco e somente alguém fora do buraco pode nos salvar - só o Deus-Homem, Jesus Cristo. Para aqueles que acham que ser salvo pelos méritos de outrem é injusto cabe a tarefa de desenvolver um meio mais apropriado e, boa sorte na tentativa. Eu prefiro confiar em Cristo, já para aqueles que são fortes o suficiente poderão escolher pagar por si mesmos o preço do seu pecado sem a necessidade de recorrer à Cristo, é isso mesmo. Pregando no Leadership Summit de 2006, Bill Hybels disse que quando chegarmos no céu será feita apenas uma pergunta para nós:

Quem pagará pelo seu pecado?


Aqueles que aceitaram a Cristo em vida poderão responder que não conseguiram, mas que Cristo pagou por eles. Já para aqueles que não aceitaram, se recusaram a se submeter ao senhorio de Cristo e resolveram pagar pelos próprios pecados, à estes foi destinado um lugar especial em que poderão pagar por todos os seus pecados, cada um deles, por si mesmo e sem Cristo. A minha escolha já foi feita.

N'Ele em quem toda justiça foi satisfeita
Vitor Grando

Adaptado de: http://despertaibereanos.blogspot.com/2008/07/eu-li-o-evangelho-maltrapilho-brennan.html

4 comentários:

Anderson Gonzaga disse...

A necessidade de ter reconhecimento de seu mérito é um perigo para os cristãos. Devemos, rosto no pó, reconhecer sim que, diariamente agredimos a santidade do Deus eterno. Devemos mesmo reconhecer a inutilidade de nossa bondade, de nossa retidão e justiça. São trapos de imundície para Deus.
Sem a cruz de Cristo, estamos mortos.

Parabéns pelo texto.
Continue assim!

Hélio Pariz disse...

Texto brilhante, Vítor, como sempre... profundo e instigante... lendo-o, duas coisas me vieram à mente, e compartilho aqui contigo...

1) de fato, o evangelho é muito simples, e toda ênfase exagerada tanto na lei como na graça tira os nossos olhos daquilo que realmente importa, que é a nossa entrega total, absoluta e incondicional a Deus através de Cristo, em Quem lei e graça se conjugam e nos salvam;

2) concordo em que temos que ser exigentes quanto ao pecado, entretanto, é o Espírito Santo quem convence o pecador. Logo, acho que nossa pregação tem que ser bem equilibrada entre pecado e graça, pendendo para um ou outro lado quando o Espírito assim nos orientar. Já vivi a experiência de evangelizar pessoas que viviam em pecado extremamente grave para o senso comum cristão. Disse a essas pessoas que não negassem a gravidade do pecado diante de Deus, porque Ele não despreza um coração sincero (Sl 51:17), e mesmo diante da dificuldade em abandoná-lo, que continuassem derramando o seu coração em oração. Vi ótimos resultados, com Deus realmente operando nessas vidas e alinhando-as com a Sua vontade. É óbvio que cada caso é um caso, mas graças a Deus que para Ele não há casos perdidos. Ô glória!

Abração!

Vitor Grando disse...

Obrigado Hélio!

Pois é, o Evangelho é de uma simplicidade incrível, mas o que o Evangelho tem de simples tem também de profundo, é realmente impressionante.

Quanto ao segundo ponto, concordo contigo. Temos que ter sabedoria discernir se a pessoa precisa ouvir sobre a Lei ou sobre a Graça. Veja o exemplo de Jesus, nem sempre ele foi "gracioso", sendo bastante firme com os fariseus (Mt23), e outras vezes agiu com uma graça constrangedora como em João 8. Acredito que a diferença é que em Mateus 23 o público alvo não estava consciente da sua situação perante Deus, portanto, precisavam era de "cajadada"; já a mulher adúltera já estava pronta a cair aos pés de Jesus, só precisava de um sussuro de graça.

É isso,

Um abraço!

Daniel Grubba disse...

Interessante o comentário de vocês sobre o equilíbrio. Minha igreja pega pesado contra o pecado e não existe muita ênfase na graça. Vejo muitos cristãos entrando em neurose por isso. Ficam sempre com o sentimento de que para Deus nada é suficiente, com a latente idéia de que Deus está sempre irado e pronto a derramar a ira.

Por outro lado, ficarmos pregando a graça sempre, desconsiderando a santidade ou serevidade de Deus contra o pecado, irá produzir aqueles "crentes" que usam a graça como um green card para o erro. Quando a graça deve ser o poder gerador de uma vida em santidade e consagração ao Senhor.

Charles Finney, costumava questionar sobre os ideais das igrejas antes de pregar. E dependendo da necessidade falava do juízo ou da graça. Esta era a tática dele.

Vocês concordam com isso?

Abçs,
Daniel

 
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