segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Eu li... Jesus e o Império: O Reino de Deus e a Nova Desordem Mundial - Richard Horsley


Richard Horsley, professor de Línguas Clássicas e Religião na Universidade de Massachusetts, nos apresenta uma análise do movimento iniciado por Jesus à luz dos fatos sociais da época. Ele mostra como Jesus se opôs ao opressor Império Romano. Naqueles tempos, César era visto como Senhor e o Salvador do povo, as pessoas eram "salvas" pela fé em César. Jesus ao reinvidar o senhorio para si estava, em outras palavras, afirmando que César não é Senhor, é claro que o Império não deixaria isso passar em branco. Aqueles primeiros cristãos tinham total ciência de que ao aceitar o senhorio de Cristo eles estavam se posicionando contra o poder da época. Enquanto o Estado reinvindicava total servidão de seus cidadãos, inclusive decidindo sobre a educação de filhos e passando por cima dos direitos dos cidadãos quando disso dependia a estabilidade do Estado, que tinha prioridade máxima, Cristo reinvindica o mesmo senhorio, nós somos Seus servos de modo que o que prevalece são os propósitos d'Ele mesmo quando isso custa os nossos. O que mais aprendemos lendo Horsley, na minha opinião, é a dimensão das reivindicações Cristãs e do senhorio de Cristo. Ou Cristo ou César. Ou Cristo ou o Mundo. Não há meio termo.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Aprendendo a filosofar com Richard Swinburne



É o que o tópico diz. Entrei em contato, por e-mail, com ninguém menos que Richard Swinburne e tive o prazer de obter resposta duas vezes. A primeira eu lhe perguntei sobre o seu ritmo de leitura e suas dicas para um futuro filósofo, depois lhe perguntei sobre alguns livros sobre Filosofia da Religião, Epistemologia e Lógica. Outros estudiosos importantes como o historiador do Novo Testamento, Michael Licona, e também Craig Blomberg também me responderam, mas certamente a de Swinburne é a mais simpática e que vale a pena ser reproduzida aqui. As respostas estão aí para quem possa se interessar (tentarei traduzi-las na parte dos comentários):


Primeira Resposta:

Dear Vitor, Your question about how many books I read in a year is not as easy to answer as you suppose. While I certainly read some books in entirety, I read many individual chapters of books and many articles in journals, and there are also some books which I skip through very quickly. But clearly I read far more earlier in my philosophical career than I do now when I am devoting much more time to sorting out my ideas and putting them on paper. That said, perhaps I read about 12 full books in a year, but also considerable numbers (perhaps 100) of individual chapters and papers. If you are aiming to be a philosopher, you must read 1 or 2 books of each of the classical authors - Plato, Aristotle, Aquinas, Descartes, Leibniz, Berkeley, Hume, and Kant, and then modern authors who have influenced the Anglo-American tradition of philosophy (but not so much those who have been more important in the Continental tradition - if you share my view that their writing is not quite important as that in the Anglo-American tradition). Then you must read lots of modern articles (and in the case of important authors their books) on the topics which interest you particularly. There are large numbers of good anthologies in English on each of the areas of philosophy - for example ethics, metaphysics, philosophy of religion, and so on, which you must study. But it is most important all the time to be writing essays which respond to what you have read and try to provide in summary your own solutions to the issues. There's no avoiding the need for interaction with philosophy teachers who will criticise your writing. I do hope that you find suitable teachers in Brazilian universities. Philosophy of religion (in the way in which that subject has been developed in the Anglo-American tradition over the past 50 years) is not yet very influential in Brazil. Probably the philosopher who knows more about it than anyone else is Dr Agnaldo Portugal who teaches at the University of Brasilia. There is also Dr Desiderio Murcho who translated my little book IS THERE A GOD? into Portugese, and has just begun to teach in a Brazilian university, but unfortunately I've forgotten which that university is.(I don't know whether he would consider himself a 'Christian', but he knows about the philosophy of religion.) With best wishes for your studies Richard Swinburne

Segunda Resposta:
Dear Vitor, Both Bill Craig and Tim Morson are good philosophers; and I can commend their books to you. Tim was my doctoral supervisee, and his views are very much the same as mine; he writes in a very simple and engaging way. For anthologies on philosophy of religion, I can commend to you: (ed) Brian Davies, PHILOSOPHY OF RELIGION: A GUIDE AND ANTHOLOGY, and (ed.) Michael Peterson and other PHILOSOPHY OF RELIGION: SELECTED READINGS. I can also commend a new introductory textbook Michael Murray and Michael Rae INTRODUCTION TO THE PHILOSOPHY OF RELIGION. I'd also suggest to you anthologies on metaphysics: (ed.) Peter van Inwagen and Dean Zimmerman, METAPHYSICS: THE BIG QUESTIONS and (ed.) Michael Loux, METAPHYSICS: CONTEMPORARY READINGS. I'd also recommend very strongly that you read first an introductory textbook on metaphysics by Michael Loux METAPHYSICS: A CONTEMPORARY INTRODUCTION. On epistemology, I also strongly advise you to read some introduction first before you look at an anthology of contemporary writings, since the latter tend to be a bit sophisticated. I can certainly commend Noah Lemos, AN INTRODUCTION TO THE THEORY OF KNOWLEDGE; and also the fuller book by Robert Audi, EPISTEMOLOGY. Then you could look at (ed.) Sven Bernecker and Fred Dretske KNOWLEDGE, READINGS IN CONTEMPORARY EPISTEMOLOGY. Before you look at any of these I suggest you also look at an anthology which includes many classical readings (therefore in effect an anthology of the history of philosophy); (ed.) Louis Pojman and James Fieser, INTRODUCTION TO PHILOSOPHY: CLASSICAL AND CONTEMPORARY READINGS. On logic, you don't need an anthology, only a good textbook. One which I see well commended is Patrick Hurley, A CONCISE INTRODUCTION TO LOGIC. You should also read a few of the easily comprehensible classical works. For example, Plato, THE REPUBLIC and PHAEDO; Decartes, DISCOURSE ON METHOD and MEDITATIONS ON THE FIRST PHILOSOPHY, David Hume ENQUIRY CONCERNING HUMAN UNDERSTANDING; John Stuart Mill UTILITARIANISM. These would be a good beginning! I hope you find all this useful. With best wishes Richard Swinburne

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Como Pensar Sobre o Secularismo - Wolfhart Pannenberg


Wolfhart Pannenberg é um dos maiores teólogos protestantes do mundo. Professor de Teologia Sistemática na Universidade de Munique. Nesse artigo ele fala sobre como se deve pensar a questão do secularismo. Ferrenho defensor da aliança entre fé cristã e razão e opositor dos teólogos que desprezam o valor da história para a fé cristã. Ele afirma, entre outras coisas, que o cristão não deve temer a investigação crítica mas sim incentivá-la, visto que se a fé cristã é verdadeira nenhuma investigação crítica poderá derrubá-la a não ser por visões de mundo que pressupõe príncipios necessariamente hostis à fé Cristã que muitos teólogos adotam. Excelente artigo não só para teólogos mas para qualquer cristão culturalmente engajado.

O que quer que se queira dizer com secularização, poucos questionariam que nesse século a cultura pública se tornou menos religiosa. Isso não é apenas, como alguns sugerem, simplesmente o resultado da separação entre igreja e estado que aconteceu primeiramente há aproximadamente dois séculos antes. Tal separação não acarretou a alienação da cultura de suas raízes religiosas. Na América, por exemplo, o fim da religião estabelecida pelo estado não significou o fim do caráter predominantemente Cristão e Protestante da cultura Americana. Em outras sociedades Ocidentais, a relação entre o estado e uma outra Igreja Cristã continuou a ser efetiva até este século. Ainda assim nessas sociedades, também, nós vemos evidência de secularização, tipicamente bem mais avançada do que nos Estados Unidos. Secularização não é causada pela separação entre igreja e estado. As raízes do processo de secularização, que fez com que a cultura pública se alienasse da religião, e especialmente do Cristianismo, estão enraizadas no século dezessete.


O clima público de secularimo enfraquece a confiança dos Cristãos na verdade do que eles crêem. Em A Rumour of Angels (1969), Peter L. Berger descreve os crentes como uma “minoria cognitiva” cujos padrões de conhecimento se desviam do que é publicamente aceito. Berger escreveu sobre “estruturas de plausibilidade”. As pessoas precisam do apoio social para se assegurar que um certo relato da realidade é plausível. Quando tal apoio é enfraquecido, as pessoas precisam reunir uma forte determinação pessoal para que possa manter crenças que estão em desacordo com as crenças dos outros ao seu redor. “É possível, é claro, ir contra o consenso social que nos cerca,” Berger nota, “mas existem poderosas pressões sociais (que se manifestam como pressões psicológicas dentro de nossas consciências) que nos fazem nos conformar com as visões e crenças de nossos próximos.” Essa é precisamente a experiência de Cristãos vivendo numa cultura dominantemente secular.


Num ambiente secular, mesmo um conhecimento elementar do Cristianismo – sua história, ensinamentos, textos sagrados, e figuras formativas – se enfraquece. Não é mais uma questão de rejeitar os ensinamentos Cristãos; um enorme número de pessoas sequer tem o mais vago conhecimento de quais ensinos são esses. Isso é uma desenvolvimento notório quando considera-se quão fundamental o Cristianismo é para toda a história da cultura Ocidental. Quanto mais ampla for a ignorância em relação ao Cristianismo, maior será o preconceito contra o Cristianismo. Assim, pessoas que não sabem nem a diferença em Saulo de Tarso e João Calvino acham que tem toda certeza de que o Cristianismo foi provado como uma religião de opressão. Quando tais pessoas se interessam por religião ou “espiritualidade” – sendo esse interesse uma reação natural à superficialidade da cultura secular – elas frequentemente não se voltarão para o Cristianismo, mas sim para “religiões alternativas”.


Nessa circunstância cultural, não é fácil comunicar a mensagem Cristã. A dificuldade é exacerbada pela relativização cultural da própria idéia de verdade. Isso difere significativamente do secularismo Iluminista. Os pensadores secularistas do Iluminismo desafiaram os Cristãos a justificar suas afirmações de verdade por meio de argumentos racionais ao invés de simplesmente apelar para a autoridade religiosa. Mas ambos, Cristãos e seus oponentes criam que havia uma verdade sobre as questões em disputa. Isso não é mais crido hoje. Na visão de muitos, incluindo muitos Cristãos, as doutrinas Cristãs são mera questão de opinião que podem ou não ser afirmadas de acordo com as preferências do indivíduo, ou dependendo de se elas falam diretamente a desejos pessoais.


A dissolução da idéia de verdade – de verdade que não precisa da minha aprovação para ser verdade – debilita severamente o entendimento Cristão de evangelização ou missão. Proclamação missionária antigamente era entendida como levar a verdade aos outros, e era tanto legitima como extremamente importante. Para muitos hoje, a empreitada missionária é uma questão de impor nossas preferências pessoas e preconceitos culturalmente condicionados sobre os outros, e é, portanto não só ilegítima como moralmente ofensiva. Além das questões de missões, devemos nos perguntar por que as pessoas deveriam aceitar a fé Cristã a menos que elas acreditem que o ensinamento apostólico é verdadeiro. Mais precisamente, hoje a questão é se tem sentido afirmar que o ensinamento Cristão é verdadeiro. A idéia de verdade é absolutamente vital para a fé Cristã. A destruição dessa idéia é a chave para legitimação da cultura secular, visto que a idéia da verdade toca na maior vulnerabilidade do secularismo.

II

Secularismo e, mais compreensivelmente, a própria modernidade tem sido geralmente vista como uma conseqüência da apostasia da fé Cristã. Essa era a visão, por exemplo, do grande teólogo Protestante Suíço Karl Barth. De acordo com Barth, a cultura moderna tem sido uma revolta contra a fé Cristã cujo intento é colocar o ser humano no lugar de Deus. Há muito a ser dito em relação a essa interpretação, pois a realidade humana tem se tornado, de fato, básica na cultura moderna de uma maneira comparável ao fundamento religioso de culturas antigas. A preocupação pelos direitos humanos é um dos aspectos, o aspecto politicamente mais importante, da preocupação moderna com o homem. Assim passou-se a ver o indivíduo humano com o maior valor e critério de bondade.


É dubitável, entretanto, que esse desenvolvimento deva ser descartado em sua inteireza como exemplo de apostasia. Pode-se argumentar, também, que a forte ênfase na pessoa humana tem uma distinta origem Cristã. Nesse aspecto, o Cristianismo tem bastante em comum com o espírito moderno. Pode-se até sugerir que o espírito moderno contribuiu para liberar a consciência Cristã da distorção da intolerância. Em outras palavras, a relação entre fé cristã e modernidade é ambivalente, e não permite aos Cristãos rejeitar a modernidade de uma maneira inadequada. Embora a cultura moderna na sua guinada secularista contribuiu indubitavelmente para alienar muitas pessoas da fé Cristã, é necessário para os Cristãos, aprender a lembrar a lição ensinada pelo surgimento da modernidade, e incorporar essa lição à consciência Cristã.


A distinção entre âmbito secular e o chamado âmbito religioso ou espiritual não é nada novo na história Cristã. Nos séculos anteriores, entretanto, a distinção não dizia respeito à separação entre o secular – política, economia, lei, educação, artes – da influência espiritual da Igreja. Ao contrário, a própria distinção entre secular e religioso teve uma base Cristã. Essa base cristã foi uma consciência de que a ordem social existente era imperfeita e provisória; ainda não era o reino de Deus. Em relação a qualquer ordem social existente, o Cristianismo proveu uma modéstia escatológica. Isso coloca as sociedades Cristãs à parte de outras culturas saturadas pela religião como o Islã. Isso distingue o Império Bizantino do império Romano pré-Cristão. No período pós-Constantiniano havia um equilíbrio entre a autoridade dos bispos e a do Imperador, enquanto que na Roma antiga o próprio Imperador era o sumo sacerdote, pontifex maximus.


A distinção entre o religioso e o secular mudou novamente como um resultado da Reforma do século dezesseis ou, mais precisamente, como resultado das guerras religiosas que seguiram à ruptura da Igreja medieval. Quando em um número de países nenhum partido religioso podia impor sua fé sobre toda sociedade, a unidade da ordem social tinha que ser baseada em outro fundamento que não a religião. Além do que, o conflito religioso provou ser destrutivo à ordem social. Na segunda metade do século dezessete pessoas prudentes decidiram que, se a paz social tinha que ser restaurada, a religião e as controvérsias associadas com a religião teriam que ser quebradas. Nessa decisão surgiu a cultura secular moderna. Isso acabaria por levar ao secularismo e a cultura que é propriamente descrita como secularista.


Em séculos anteriores, a ruptura da religião teria sido inimaginável. Mesmo no século dezesseis, Reformadores e Católicos criam que a unidade religiosa era indispensável para a unidade da sociedade. Embora eles enfatizassem a importância decisiva da consciência individual em questões de fé, nem Lutero nem Calvino cogitaram a possibilidade de tolerância religiosa. O passo em direção a liberdade e tolerância religiosa foi dado primeiramente na Holanda, próximo do final do século dezesseis, para restaurar a paz entre setores Católicos e Protestantes da população. Quando William de Orange proclamou o principio de tolerância religiosa, ele pensou que estivesse agindo de acordo com os ensinamentos de Lutero sobre o apelo à consciência e a liberdade do Cristão. De fato, William tomou um passo decisivo em direção a uma reconstrução da ordem social e da própria cultura.


A velha suposição de que a unidade da sociedade requeria a unidade da religião não foi descartada por boas razões. Se os cidadãos têm que obedecer a lei e respeitar a autoridade do governo civil, eles devem crer que é moralmente correto fazer isso, que eles não estão simplesmente se submetendo ao capricho daqueles que estão no poder. Se o poder é para ser considerado legitimado, deve ser exercido em nome de alguma autoridade que está além da arbitrariedade e manipulação humana. A religião obrigava e coagia aqueles no poder como também àqueles sobre os quais o poder é exercido. De tal forma, o sujeito e o governante sentiam que estavam unidos em sua responsabilidade para com uma autoridade que estava acima de ambos.


Hoje tal visão de legitimidade moral e da ordem social parece antiquada. Essa visão antiga, entretanto, não foi rejeitada por ter sido refutada por argumentos. Mas sim, foi abandonada por razões pragmáticas: a necessidade urgente de restaurar a paz social frente aos sangrentos conflitos religiosos superou quaisquer outras considerações. Na ausência de formas religiosas de legitimar o governo, teorias alternativas foram desenvolvidas. Mas importante entre esses é a idéia de governo representativo. Ainda hoje, entretanto, a plausibilidade dessas teorias de legitimação repousa mais sobre razões pragmáticas do que sobre argumentos convincentes.

III

Após as guerras da religião, o fundamento religioso da sociedade, da lei e da cultura foi substituído por outro, e esse novo fundamento foi chamado de natureza humana. Assim surgiram sistemas de lei natural, moralidade natural e até religião natural. E, é claro, havia uma teoria natural de governo, apresentada na forma de teorias de contrato social. Tais teorias demonstraram a necessidade do governo civil para que se assegurasse a sobrevivência individual pelo preço da liberdade natural dos indivíduos (e.g., Hobbes), ou para assegurar a liberdade individual dentro dos limites da razão e da lei (e.g., Locke). Teorias que usavam a natureza humana como fundamento da ordem política, legal e cultural tornaram possível para as nações Européias colocar um fim ao período de guerras religiosas. Isso também tornou possível, talvez inevitável, a autonomia da sociedade e da cultura secular independente da influência da Igreja e da tradição religiosa.


O relato precedente do surgimento da ordem social secular está associado com Wilhelm Dilthey. Existem outras teorias, é claro. Talvez a mais conhecida seja o relato de Max Weber sobre a origem do capitalismo moderno. De acordo com Weber, o capitalismo moderno não foi produzido apenas por fatores econômicos, mas surgiu da doutrina Calvinista da predestinação e sua influência na conduta humana. Calvino ensinou que, apesar do decreto eterno de Deus ordenando a eleição ou rejeição de um indivíduo permanecer misterioso, se uma pessoa é eleita isso pode ser inferido através de sua conduta. Se ela faz as obras da regeneração, é provável que tal pessoa pertença aos escolhidos. Para o Calvinista, então, havia uma poderosa motivação para viver de uma maneira digna de um regenerado. Na vocação mundana de alguém, na observação consciente dos seus deveres para os quais é chamado, deve-se testemunhar a regeneração. E foi isso que aconteceu, Weber argumenta, o ascetismo racional dos antigos capitalistas teve sua fonte na esperança da espiritualidade Calvinista cuja origem está em outro mundo. A espiritualidade foi secularizada quando a dedicação que ela exigia foi posta a serviço da multiplicação do capital. Eventualmente, de acordo com Weber, isso produziu um sistema capitalista que funciona de uma forma bastante independente da motivação religiosa que o originou.


Outras teorias de secularização alegaram que a moderna crença no progresso é uma secularização da esperança escatológica Cristã. A esperança por um mundo melhor não é mais dirigida a outro mundo, mas se torna o projeto humano de aprimorar esse mundo. Karl Lowith argumentou que a moderna filosofia da história é de fato uma secularização da teologia Cristã da história; é uma versão secularizada da história da salvação.


A providência de Deus guiando o processo histórico em direção ao cumprimento escatológico é substituída por uma filosofia do progresso guiada pelo poder profético da ciência e da tecnologia e prometendo um futuro de felicidade mundial. A ciência secularizou a idéia teológica de lei tornando-a uma idéia de leis eternas da natureza, e a idéia de um universo infinito foi a versão secularizada da antiga crença na infinidade de Deus.


Nessas e outras teorias, um conteúdo religioso é transformado em algo imanente a esse mundo. Hans Blumenberg está entre aqueles que objetaram contra tais teorias porque elas colocavam a cultura moderna sob obrigação ao seu passado Cristão; elas sugerem que a verdadeira substância da cultura moderna pertence originalmente ao Cristianismo. Contra essa visão Blumemberg argumentou que a modernidade se emancipou das alegações opressivas da religião Cristã. Não são vestígios cristãos, mas sim a autonomia humana forma o centro da mente moderna. De fato, entretanto, essa posição não é tão removida das teorias de secularização discutidas acima. Elas, também, crêem que o legado religioso foi transformado em algo radicalmente novo – tão radicalmente novo como se pode esperar quando a humanidade toma o lugar de Deus como o centro de tudo.


Há, entretanto, uma decisiva falha em ambas as posições. Um lado alega que o processo de secularização é responsável pela transição da cultura Medieval para a Moderna. O outro explica essa transição em termos de uma emancipação de uma cultura dominada pela religião. Ambas vêem o surgimento da cultura moderna como primariamente um processo ideológico. A realidade, eu argumento, é que a transição em questão não foi, ou pelo menos não primariamente, guiada por uma ideologia. Foi a guerra civil religiosa e a destruição da paz social que tornou necessário o abandono da antiga idéia de que a cultura pública deve se basear sobre a unidade religiosa. Todo esforço para liquidar os conflitos entre partidos religiosos foram em vão. Aqueles que tentaram lidar com essa circunstância não pensavam que estavam abandonando a fé Cristã no seu esforço de encontrar uma base mais estável para a ordem social. Com relativamente poucas exceções, eles entendiam a si mesmos como Cristãos devotos, e se escandalizariam de pensar que estivessem privando as alegações de verdade cristã e a moral cristã da influência pública.


Colocado de outra forma, a emancipação moderna da religião não era a intenção, mas sim o resultado a longo-prazo de reconstituir a sociedade sobre um fundamento que não fosse a fé religiosa. Nenhuma ruptura com o Cristianismo era o intento daqueles que basearam a cultura pública em conceitos da natureza humana e não na religião. De fato, as idéias Cristãs continuaram a ser socialmente efetivas, apesar de estarem sendo gradualmente transformadas em crenças secularizadas, e não é surpresa o fato de que, com o tempo, muitas pessoas esqueceram de onde essas idéias vieram.


Pensando na relação entre o Cristianismo e a cultura moderna, é importante manter esses fatores em mente: primeiro, a modernidade não era para ser oposta a fé Cristã; segundo, a falta de tolerância entre os Cristãos no período pós-Reforma foi responsável direto pelo surgimento da cultura secular. O que os Cristãos deveriam aprender disso é a urgência em tratar suas controvérsias herdadas e restaurar algumas das unidades entre si. Ainda mais, a idéia e a prática da tolerância devem ser incorporadas no entendimento Cristão não só da liberdade, mas da própria verdade. Sem essas mudanças – mudanças que só os Cristãos podem fazer – é inútil esperar que a cultura moderna reconsidere a exclusão da religião da esfera pública. A memória do papel da religião na origem da modernidade reforça poderosamente o preconceito contemporâneo de que a religião na esfera pública é divisiva, intolerante, e destrutiva da sociedade civil.

IV

Bem no coração da cultura moderna encontramos ambigüidades que resultam de uma curiosa mescla de idéias Cristãs e não-Cristãs. O exemplo mais importante é a idéia moderna de liberdade. Há uma clara raiz Cristã na crença de que todos os seres humanos nascem para ser livres e que tal liberdade deve ser respeitada. Há um ensinamento bíblico que diz que os humanos foram criados à imagem de Deus e criados para aproveitar da comunhão com Deus. De fato, é só a comunhão com Deus que nos torna livres, de acordo Jesus (João 8:36) e Paulo (2 Coríntios 3:17). Enquanto cada ser humano é criado para aproveitar da liberdade que vem da comunhão com Deus, é só em Cristo que essa liberdade é realizada completamente através da redenção do pecado e da morte. Essa é a idéia Cristã de liberdade.


A idéia moderna de liberdade, mais efetivamente proposta por John Locke, difere da visão Cristã por focar apenas a condição natural do homem. Difere também em se apoiar sobre antigas idéias Estóicas de lei natural. Os Estóicos ensinavam que a liberdade e igualdade original dos seres humanos no estado natural se perdera por causa das necessidades de viver em sociedade. Locke pensava que a doutrina reformada da liberdade do Cristão tornou possível alegar a liberdade original como fato nessa vida. Em contraste com visões libertárias posteriores da liberdade individual, Locke cria que a liberdade pura está necessariamente unida com a razão e, portanto, positivamente relacionada com a lei. Na posição de Locke há um eco do entendimento Cristão de que a liberdade depende de estar unido com o bem e, portanto, com Deus.


A idéia predominante de liberdade nas nossas sociedades hoje, é claro, é a idéia de que cada pessoa tem o direito de fazer o que quiser. Liberdade não está ligada a nenhuma noção do bem como constituinte da própria liberdade. Por causa da incompletude da existência humana na história, qualquer idéia de liberdade envolve o risco de abuso. Mas isso não faz muita diferença na questão de se a distinção entre uso e abuso da liberdade é cumprida. Quando não é cumprida, é possível desafiar a igualdade entre liberdade e permissão. A ambigüidade construída na moderna idéia de liberdade nos ajuda a entender a ambivalência da cultura secular no que diz respeito aos valores em geral, o nervosismo em afirmar os conteúdos e padrões pelos quais a própria cultura é definida. No que diz respeito aos valores e tradições culturais, assim como alegações de verdade, prevalece uma atitude consumista. Cada um escolhe de acordo com suas preferência e suas necessidades. A separação da idéia de liberdade de uma idéia de verdade e do bem é a grande fraqueza das sociedades secularizadas.

V

Sob a influência de pensadores como Max Weber, a pressuposição dominante na modernidade é que a secularização vai continuar a impregnar todos os aspectos do comportamento social e individual, e a religião cada vez mais sendo empurrada para a margem da sociedade. Nas últimas duas ou três décadas, entretanto, tem se tornado evidente que a secularização (ou, como alguns preferem, modernização progressiva) encara problemas severos. A ordem social completamente secularizada faz surgir um sentimento de que não há sentido algum: há um vácuo na esfera pública da vida cultural e política, e isso cria violentes erupções de insatisfação. Como conseqüência, é difícil predizer o futuro da sociedade secular. Depende, em parte, de quanto tempo as pessoas estarão dispostas a pagar o preço de viver sem sentido em troca da licença para fazer o que quiserem. Até quando as pessoas se contentarem com os confortos da abundância, eles podem querer tolerar essas tensões indefinidamente. Por outro lado, as reações irracionais são imprevisíveis, especialmente quando há um sentimento de que as instituições da sociedade não são legítimas. A circunstância da sociedade secular moderna é mais precária do que queremos reconhecer. Aqueles que reconhecem o perigo insistem numa reafirmação das tradições pelas quais a cultura se definiu, e mais especificamente por uma reafirmação das raízes religiosas dessas tradições.


Tal insistência é, sem dúvidas, para o próprio interesse da sociedade secularizada. A religião como tal, entretanto, tem pouco interesse nisso. Ao contrário das ansiedades amplamente expressas poucas décadas atrás por pessoas de fé religiosa, agora é óbvio que o futuro da religião é menos precário do que o futuro da sociedade secularizada. A secularização está longe de ser um juggernaut implacável. Quanto mais a secularização e o que chamam de modernização progressiva avança, mais eles produzem uma necessidade de algo mais que possa dar sentido para a vida humana. Tal sentido se é para ser efetivo, tem que ser percebido como tendo sido concedido; não concedido para nossas vidas por nós mesmos, mas por alguma autoridade que esteja além de nossas invenções. O ressurgimento da religião e de movimento semi-religiosos que começou há poucas décadas atrás pegou os intelectuais secularistas de surpresa, mas poderia ter sido prevista (e foi prevista por alguns) como um resultado inevitável do secularismo.


Esse interesse renovado na religião, entretanto, nem sempre se volta para o Cristianismo. Em algumas sociedades, e em setores de todas as sociedades modernas, a volta para o Cristianismo parece ser a exceção. Uma razão para isso é o preconceito contra o Cristianismo como a "religião convencional" na consciência pública da cultura secular. Isso ajuda a explicar o amplo entusiasmo pelas "religiões alternativas". Outra razão do por que muitas pessoas estarão interessadas por religião, mas não pelo Cristianismo se encontra na forma em que as igrejas tem respondido aos desafios do secularismo. E isso me traz ao meu último ponto: Como as igrejas devem responder à cultura secular?

VI

A pior forma de responder ao desafio do secularismo é se adaptar aos padrões seculares de linguagem, pensamento e forma de viver. Se os membros de uma sociedade secular se voltam para uma religião, eles o fazem por estarem procurando algo além do que a cultura deles já provê. É contra produtivo oferecer-lhes uma religião secularizada que está cuidadosamente arrumada de forma a não ofender suas sensibilidades seculares. Nessa conexão, parece que as principais igrejas na América ainda tem que internalizar a mensagem de Dean Kelley em seu livro escrito há quase vinte e cinco anos atrás, Why Conservative Churches Are Growing (Porque Igrejas Conservadoras Estão Crescendo). O que as pessoas buscam na religião é uma alternativa plausível, ou no mínimo um complemento à vida numa sociedade secular. A religião que é nada mais do que "mais do mesmo" provavelmente não será nada interessante.


Eu me apresso em dizer que isso não é um argumento a favor de um tradicionalismo morto. A velha maneira de fazer as coisas na igreja pode incluir elementos que são extremamente entediantes e sem sentido. O Cristianismo proposto como uma alternativa ou complemento à vida numa sociedade secularizada deve ser tanto vibrante quanto plausível. Acima de tudo, deve ser substancialmente diferente e propor uma diferença na maneira em que as pessoas vivem. Quando a mensagem e o ritual são acomodados, quando as extremidades ofensivas são removidas, as pessoas suspeitam que o clero não acredite realmente em nada muito distinto. A apresentação plausível e persuasiva das particularidades Cristãs não são uma questão de marketing. É uma questão de o quê as igrejas devem às pessoas nas nossas sociedades secularizadas: a proclamação do Cristo ressurreto, a alegre evidência da vida nova em Cristo, da vida que supera a morte.


Por não ser um argumento a favor do tradicionalismo (tendo em mente a perspicaz observação de Jaroslav Pelikan de que a tradição é a fé viva dos mortos enquanto o tradicionalismo é a fé morta dos vivos), então isso também não é um argumento a favor do fundamentalismo. Reconhecidamente, o termo fundamentalista hoje é usado para condenar qualquer religião que ofenda seriamente as sensibilidades seculares. Por fundamentalismo eu quero dizer uma religião que, de forma ignorante afirma uma certeza, se recusando a usar a racionalidade humana. A oposição da proclamação Cristã ao espírito do secularismo deve estar sempre aliançada com a razão. Isso está de acordo com a clássica tradição Cristã que, desde os tempos da Igreja primitiva, formou uma aliança com a razão e a verdadeira filosofia para sustentar a validade universal do ensinamento Cristão.


Os secularistas estão certos ao expor a irracionalidade, o fanatismo, e a intolerância quando estas aparecem em nome da religião, mesmo quando eles o fazem para desacreditar a religião como tal. O autêntico ensinamento Cristão se apropria de tudo que é válido na cultura secular enquanto alega,e foca sua atenção sobre a verdade de que o espírito secular não é mais digno de atenção. Os Cristãos podem confiantemente fazer isso porque eles sabem que, assim como as doutrinas Cristãs outrora foram desafiadas em nome da razão e de uma abordagem racional à verdade, assim também o próprio secularismo se tornou irracional. Nas nossas circunstâncias contemporâneas, há uma grande esperança na renovação da clássica aliança entre a fé Cristã e a razão.


Os Cristãos que afirmam racionalidade, entretanto, devem estar preparados para aceitar críticas, e para cultivar uma atitude de autocrítica dentro de suas próprias comunidades. As doutrinas e formas de espiritualidade tradicionais, junto com a própria Bíblia, não estão isentas de investigação crítica. Tal investigação é necessária devido a aliança entre fé e razão. A confiança Cristã na verdade de Deus e de Sua revelação deve ser vigorosa o bastante para confiar que a verdade não vai sucumbir a nenhuma descoberta da investigação crítica. Claro que há formas de críticas preconceituosas e distorcidas que pressupõe uma visão de mundo secularista que são necessariamente hostis à fé Cristã. Para que a investigação crítica possa florescer, tais falsos criticismos tem que ser firmemente expostos e rejeitados. Como diferir entre investigação crítica e criticismo possuído pelas pressuposições do secularismo é um assunto para outro ensaio. Basta dizer que pode ser feito e deve ser feito. Meu argumento é que, se pensarmos que devemos proteger a verdade revelada de Deus da investigação crítica, na verdade estamos demonstrando nossa descrença. Tal investigação, enquanto pode as vezes apresentar suas dificuldades, irá no final realçar o esplendor da verdade de Deus. A confiança numa verdade - uma verdade exibida na proclamação e na vida - é a única resposta ao desafio do secularismo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Como enriquecer sua biblioteca sem empobrecer o bolso

Nós, ávidos leitores, nunca podemos comprar (nem ler) todos os livros que queremos, portanto, temos que bolar estratégias para baratear nossos custos e dar um passo a mais na missão de possuir todos os livros que o homem já escreveu! Aqui vão dicas simples, que alguns talvez não conheçam, que podem nos ajudar:

1. www.EstanteVirtual.com.br - Este é um site que reúne uma enorme rede de sebos de todo o país, com mais de milhões de livros usados em bom estado e super-baratos. Vale a pena. Já fiz algumas boas aquisições através desse site. Pensar Bem, de Antony Flew e Lógica, de Wesley Salmon, por R$7 cada. É possível encontrar as Introduções ao Novo Testamento de D.A. Carson e também a de Kummel por menos da metade do preço. Vale a pena passar lá periodicamente e procurar por aqueles livros clássicos que tanto queremos ler mas cujo preço nos impede de fazê-lo

2. Garimpo! Pois é, passear pelos sites das principais livrarias do país nos rende boas surpresas. Um exemplo, um dia passeando sem pretenções pelo Submarino me deparo com Filosofia e Cosmovisão Cristã de William L. Craig e J.P. Moreland de R$110 pela bagatela de R$15! Comprei e repassei a oportunidade adiante. Já comprei algumas bagatelas na Erdos também.
VidaNova, Editora Vida, MundoCristão, Siciliano, Saraiva, Galeria da Fé entre outras...

3. Amazon.com Used & New - Para quem fala inglês, além do fato de alguns livros saírem mais baratos comprando lá do que as versões traduzidas aqui. A Amazon ainda tem uma excelente sessão chamada Used & New, onde você encontra livros usados por preços mínimos. Apesar do fato de a maioria desses revendedores não enviarem para fora dos EUA, alguns o fazem. Exemplo, ontem mesmo, procurando pelo Introduction to Philosophy: Classic and Contemporary Readings de Louis Pojman - indicação do próprio Richard Swinburne para mim - que me custaria US$75.95, vejo que na sessão Used & New tem um pela bagatela de US$0.58!! E melhor ainda, enviam para o Brasil!! Com frente, comprei o livro por US$13.

São essas as minhas formas de driblar os preços, enriquecer minha biblioteca como também minha massa encefálica! Espero que sirva de ajuda para alguns. Quem tiver outras dicas que compartilhe conosco.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O que estão fazendo com o nosso futuro?

Um exemplo do estado caótico de nossa sociedade

É difícil falar de moral nesse mundo sem ser taxado de moralista, ainda mais quando quem fala é um religioso. Tá bom, é verdade que tal preconceito tem seus fundamentos sólidos, afinal, o discurso dos religiosos é realmente moralista (que é diferente de discurso moral) e geralmente é hipócrita e insensível. Pregamos uma moralidade utópica que não praticamos, colocamos um fardo sobre os outros que nós não movemos com nem com um dedo. Além disso, quando um "crente" expõe sua moral, este geralmente o faz sobre bases metafísicas altamente especulativas, não que seja errado alguém orientar sua moralidade em torno de um príncipio absoluto sobrenatural, mas quando se trata da vida social e política, essa moralidade tem que ser traduzida em termos comuns a todos os cidadãos, ou seja, se somos contra a homossexualidade (que é diferente do homossexual) não podemos usar de nosso livro sagrado para fazer com que todos concordem conosco, antes devemos traduzir essa nossa crença em uma exposição racional e fundamentada para sustentar nossa posição.

É necessário sim falarmos de moral sem medo de sermos taxados de moralistas, um teólogo que evita falar de moral provavalmente é um alienado da situação em que o mundo se encontra. Me refiro à vivência no meio no qual a filosofia liberal é vista na prática. O convivio social entre os jovens é um exemplo, um exemplo prático que eu testemunho diariamente e que evita com que eu me seduza por toda essa ladainha que o liberalismo promete.

Mas onde eu quero chegar exatamente com toda essa enrolação é num fato que me chocou e indignou na semana passada ao zapear os canais de TV e parar naquilo que um dia até foi um canal interessante de se ver, a MTV. Se você quer testemunhar a situação em que a juventude atual se encontra, principalmente a norte-americana, basta um dia assistindo MTV, isso se você suportar tamanha futilidade.

Um programa especifíco que eu assisti na quinta-feira passada na MTV, foi A Shot At Love com Tila Tequila. Tila Tequila é uma modelo e cantora vietnamita de orientação bissexual - até ai nada que escandalize, afinal, se alguém ainda se escandaliza com bissexualismo está precisando se atualizar. O que me chocou foi o conteúdo do programa que até agora eu reluto em acreditar que o ser humano tenha chegado a tal ponto de imbecilidade. A Shot At Love é um reality-show onde a tal modelo decide entre 16 homens e 16 mulheres com quais ela vai "namorar "(namorar? preciso me atualizar!). As 32 pessoas ficam na casa da Tila Tequila (Tequila?) competindo em diversas provas ,das mais imbecis que se possa imaginar, para conquistar o "coração" da modelo. É aí que vemos o festival de idiotices, imbecilidades, futilidades etc e tal... Cada prova vale alguns momentos a sós com Tila, nos quais sobram sexualidade, "pegação" e sacanagem. Todos os 32 idiotas fazem coisas idiotas em nome do que eles chamam de amor (???). Somente no programa desta quinta-feira tive o desprazer de ver mulheres tatuando (isso, tatuagem definitiva) o nome da tal modelo no corpo como prova de amor (amor???). O outro em meio a juras de amor, prova seu sentimento andando descalço sobre cacos de vidro! É chocante testemunhar tamanha idiotice por um motivo ainda mais idiota! Mas que ráios fizeram com essa maltratada palavra "amor"? Isso foi apenas em menos de 1 hora de programa! Como não enxergar o futuro negro da nossa sociedade se é esse tipo de lixo que enfiam na cabeça dos adolescentes? As crianças hoje crescem sem o menor senso moral, sem o menor referencial moral, espiritual, de nada! Será que é muito falar que isso não passa de pura sacanagem? "Deus está morto" proferem os pensadores modernos, e é por isso que o mundo inteiro hoje fede, é o cheiro de um cadáver cósmico. Moralidade, por mais que os liberais não queiram assumir, sempre acompanhou a ascensão das grandes civilizações antigas e, da mesma forma, a imoralidade sempre acompanhou o declínio dessas mesmas civilizações.

A TV faz uma violenta apologética ao bissexualismo e qualquer um que ouse questionar os valores morais da nossa sociedade é taxado de moralista, problemático, recalcado - Freud se contorceria no túmulo se ouvisse o que fizeram com sua teoria. A supressão sexual, que é o controle consciente dos impulsos sexuais diferente do recalque (ou repressão), é necessária à nossa saúde física, emocional e espiritual e era exatamente esse o pensamento Freudiano. Pelos menos nós, cristãos, não deveríamos nos render à esses valores e idéias criados por uma sociedade cujo intento, pelo menos parece, é se auto-destruir.

Vale a pena ler esse trecho do livro Deus em Questão: C.S.Lewis e Freud debatem Deus, Sexo, Amor e o Sentido da Vida.

domingo, 7 de setembro de 2008

Questões Introdutórias Sobre a Canonicidade do Novo Testamento


Essa é uma cópia de um texto que um amigo meu pediu para eu escrever sobre a questão da canonicidade do NT, e por ser pertinente ao blog eu aproveito e posto aqui. Fiquem livres para debater, já que eu não domino o assunto.

Certamente, uma das questões mais polêmicas e controversas quando falamos da fé cristã é a questão da formação do cânon neotestamentário. Apesar do fato de nenhum grande acadêmico do novo testamento, independente de sua (des)crença, acreditar ou corroborar as questões que o público leigo levanta, como aquelas levantadas pelo O Código Da Vinci, ainda assim paira uma nuvem de dúvida na cabeça de todos: Como se deu a formação do Cânon do Novo Testamento? Por que foram 4 os evangelhos aceitos e não mais (ou menos)? Por que Marcos, Mateus, Lucas e João e não Maria Madalena, Filipe ou Tomé?

Quando alguém, com aquele ar de triunfo na face, levanta tais questões eu gosto de fazer três perguntas:

1) Você já leu os Evangelhos?
2) Você já leu os Textos Apócrifos?
3) Por que você acha que os textos apócrifos deveriam entrar no Cânon Neotestamentário?

A resposta dificilmente será positiva para as 2 primeiras questões e para a 3º no máximo será um incômodo silêncio. Isso por si só já é suficiente para revelar as bases fragéis sobre as quais repousam essas críticas e também revela que o motivo para rejeitar o Novo Testamento e a fé cristã tem suas origens mais na vida emocional do incrédulo leigo, ou seja, na sua rebeldia contra o cristianismo, do que em formulações intelectuais.

A questão é que quando as pessoas levantam tais questões, elas sequer sabem do que estão falando! Quem faz a afirmação é que detêm o ônus da prova, mas para essa questão faltam argumentos sólidos e sobram "achismos" e divagações infundadas.

Mas vamos assumir o ônus da prova e apresentar os fatos.

O consenso no meio acadêmico é que os textos do Novo Testamento foram todos escritos entre 59 - 90 d.C. alguns ainda colocam o Evangelho de Marcos no ano 40 d.C., ou seja, apenas 7 anos após a morte de Cristo. Esse período de tempo é muito breve para que os textos se tornem vitimas de desenvolvimento legendário ou que os fatos históricos se deturpem a ponto de perderem seu valor histórico. Só como comparação, a biografia de Alexandre, O Grande foi escrita 300 anos após sua morte e justamente por esse longo espaçamento de tempo sua biografia apresenta um alto nível de desenvolvimento legendário. Mas com Cristo não, sua primeira biografia foi escrita entre 10 a 30 anós após a sua morte, em outras palavras, estamos falando de um documento de altissimo valor histórico por ser incrivelmente próximo dos fatos impossibilitando qualquer deturpação substancial


É isso que faz com que os textos do Novo Testamento sejam historicamente confiaveis de modo que sua confiabilide não têm paralelos com nenhum outro texto antigo seja de Platão, Aristóteles, Homero, Flávio Josefo etc...

Mas e o Evangelho de Maria Madalena? Filipe? Tomé? Pedro? Todos eles datam de meados do século II, ou seja, de 150 d.C. em diante. Aproximadamente 120 anos após o fatos. Tardios demais para descreverem os fatos com precisão e relevância para o conhecimento histórico. Além do fato de que é impossível que os autores a quem se atribui a autoria de tais "evangelhos" ainda estivessem vivos. Quando o Cânon Neotestamentário foi decidido pela Igreja um dos principais critérios de canonicidade era a apostolicidade ou seja, ter sido escrito por um dos apóstolos (Mateus, João, Paulo...) ou por alguma pessoa próxima destes (Marcos, Lucas...) critério a que nenhum texto apócrifo pôde resistir. Deveríamos inclui-los no cânon? Seria uma incrível besteira colocarmos textos tão historicamente pobres ao mesmo lado dos textos do Novo Testamento. Curiosamente, segundo os historiadores da era antiga, as lendas costumam se desenvolver a partir de 2 gerações (80 anos) após a ocorrência dos fatos, ou seja, exatamente o período em que começaram a surgir os textos apócrifos! Eles não passam de lendas. Mas não pára por ai, diferentemente dos Evangelhos Canônicos que apresentam inúmeras citações de locais geográficos, sacerdotes, pessoas importantes, detalhes que podem ser comprovados a partir do estudo da histórica antiga, os textos apócrifos são apenas coleções de idéias de mestres do gnosticismo do segundo século, não há nada que possa ser comparado com o que conhecemos da história antiga, nenhuma citação de local ou de alguma figura pública da época, nada. E, talvez o mais importante, diferente do que se imagina esses livros jamais foram aceitos pelos cristãos antigos como alguns acreditam, nem sequer por líderes eclesiásticos ou algum dos Pais da Igreja. Não temos citações desses livros nos escritos dos Pais da Igreja (90 - 180 d.C.), mas temos inúmeras citações dos textos canônicos, para ser mais preciso, praticamente 95% do NT é citado pelos Pais da Igreja. O Fragmento Muratório, que é um papiro datado de 180 d.C., é uma das primeiras tentativas de estabelecer o Cânon das Escrituras Neotestamentárias, nele encontramos 22 livros contidos no nosso NT atual, incluindo os 4 Evangelhos. É possível que algum outro texto seja citado mas pela deterioração do manuscrito não é possível saber, mas a grande questão é cadê os textos apócrifos? Não aparecem...

Para selar de vez a sepultura dos textos apócrifos aqui vai uma citação do Evangelho de Tomé:

"Simão Pedro disse a eles: 'Maria deveria deixar-nos, pois as mulheres não são dignas da vida'. Jesus disse: 'Eu a guiarei para fazer dela homem, de modo que também ela possa tornar-se espírito vivo semelhante a vocês homens. Pois toda mulher que se tornar homem entrará no reino do céu".
 

Em outras palavras, a menos que as mulheres se tornem homens elas terão como destino eterno o inferno.

Recapitulando, os textos do Novo Testamento têm um valor histórico muito maior do que qualquer texto apócrifo por serem mais próximos dos fatos, terem sido escritos por testemunhas oculares ou pessoas próximas a estas, apresentarem inúmeros dados que podem ser acessados através da história e desde sempre terem sido aceitos pelos cristãos primitivos. Já os textos apócrifos não resistem a nenhum desses critérios. Por que deveríamos atribuir historicidade à tais textos? Não resta motivo algum.

sábado, 6 de setembro de 2008

Eu li... Jesus Cristo e Mitologia - Rudolf Bultmann

Jesus Cristo e Mitologia
Rudolf Bultmann


Rudolf Karl Bultmann foi um teólogo alemão muito influente no século passado e ainda hoje. A questão mais importante levantada por Bultmann foi a questão da desmitologização do Novo Testamento, ou seja, visto o Novo Testamento ter sido escrito por escritores que viviam numa época onde a cosmovisão era profundamente sobrenatural e "mitológica" o que devemos fazer hoje é atualizar a mensagem neotestamentária para torná-la compatível com a cosmovisão do homem moderno que exclui o sobrenatural.

É justamente esse o intento de Bultmann neste livro, desmitologizar Jesus "Cristo". Não é mais possível para o homem moderno acreditar no "Cristo" e portanto devemos remover todos os elementos mitológicos presentes no Novo Testamento e reinterpretar a mensagem cristã sob uma nova ótica. A empreitada de Bultmann é frustrada desde seu ínicio, tentar remover o sobrenatural do cristianismo é, em outras palavras, descristianizar o cristianismo, isto é, remover do cristianismo um elemento essencial à sua própria sobrevivência. É impor nossas pressuposições sobre o texto do Novo Testamento impedindo que o texto fale qualquer coisa que não seja o que já fora definido a priori. É difícil entender porque teólogos como Bultmann não assumem logo sua descrença e não descartam de uma só vez todo o cristianismo e suas implicações. Por que igualar o cristianismo a qualquer coisa que o "mundo" oferece? Parece que há teólogos que deixam de crer mas não conseguem reconhecer isso para si mesmo e insistem em fazer um imenso contorcionismo intelectual para adaptar o velha crença à atual descrença.

Como sabiamente colocou o sociólogo Peter Berger no livro A Rumour of Angels, "modernizar" o cristianismo é colocá-lo ao lado do secularismo, é colocar tudo no mesmo saco. E se, como afirmam tais teólogos, tudo é a mesma coisa, se ambos são relativistas, pluralistas, naturalistas e tudo o mais que o pós-modernismo implica, porque raios alguém aceitaria o cristianismo se o que ele "vende" nada mais é do que um secularismo infantil que tem medo de assumir seu próprio secularismo? Pra que ser cristão se continuar secular não fará a menor diferença? Uma religião conformada com o espirito da época não tem absolutamente nada de novo a oferecer. Berger afirma: "Porque alguém adotaria psicoterapia ou liberalismo racial numa roupagem "cristã", quando as mesmas coisas estão disponíveis sob rótulos puramente seculares e por essa mesma razão muito mais modernos?... Em outras palavras, a rendição teológica ao desprezo pelo sobrenatural se auto-destrói na sua própria medida de sucesso. Representa a auto-liquidação da teologia e das instituições que se revestem da tradição teológica"

É por essa insistência dos teólogos "descolados" em se prostituírem ao espírito da época que a empreitada teológica é tão indigna de crédito no mundo secular. Porque levar a sério esse parasita que vive de se render ao secularismo? Porque levar a sério uma "ciência" que na verdade nada mais faz do que imitar e correr atrás daqueles que dominam o pensamento secular? Que valor tem essa ciência frouxa que se envergonha de si mesmo? Que valor tem a mulher que está sempre correndo atrás do homem e se entregando a tudo que ele diz? Deve ser o "mundo" que guia a Igreja e a empreitada teológica ou o contrário? Quando aprenderemos a não ter vergonha de nós mesmos e enfrentaremos de igual para igual o secularismo?

É justamente o fato da teologia ser uma "ciência" frouxa que a religião cristã é tão criticada como uma ilusão, uma projeção do nosso eu (Freud), pois na verdade é justamente isso que a teologia é, um molde de Deus ao formato do homem. É por isso que ela é tão criticada como uma ciência sem sentido (Antony Flew), uma ciência que não diz nada e cujos conceitos são tão amplos que podem abranger virtualmente qualquer crítica. Se é Marxismo, nos moldemos ao Marxismo. Se é naturalismo, nos moldemos ao naturalismo. Se é relativismo ou pluralismo, nos moldemos também. Enfim, nada pode falsear a fé cristã, isso é patético! Rídiculo! E por isso que o teólogo é um ser irrelevante neste mundo. Novamente Berger, "O teólogo que barganha com o mundo moderno sai com um mau negócio, isto é, ele provavelmente entregará muito mais do que receberá". Não precisamos de teologia, o secularismo oferece as mesmas coisas e num rótulo muito mais "in".

Voltando ao livro de Bultmann, o pressuposto dele parece muito lógico, mas no fundo não passa de um raciocinio falacioso auto-refutável. Bultmann pressupõe que pelo fato da cosmovisão dos autores bíblicos estarem profundamente marcadas pela cosmovisão da época (sobrenaturalista, mitológica e, portanto, irracional e inaceitável ao homem moderno) nós devemos remover os elementos "mitológicos" dos evangelhos e atualizá-los de acordo com a cosmovisão moderna mas, será que ninguém avisou à Bultmann que a cosmovisão dele é, da mesma forma que a dos autores bíblicos, moldadas de acordo com o espírito da época em que ele viveu? Amanhã tudo se renova e a cosmovisão bultmanniana se torna obsoleta, e então, tudo se perde, tudo vira lixo. O cristão não pode se render ao espirito da época - "Aquele que se casa com o espirito da época, logo, logo, se tornará viúvo" - é triste ver teólogos "cristãos", aqueles que supostamente seriam a voz de Deus na terra, se rendendo à tal espirito e pregando valores seculares com uma eloquência de fazer inveja à qualquer pensador humanista. Triste e Satânico! o espirito da época passa e, como diria Chesterton, a carruagem da Ortodoxia segue através dos tempos. Não crer no sobrenatural é não crer no cristianismo, é declarar que não há ressurreição, é declarar que não resta mais esperança.

 
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