quarta-feira, 30 de maio de 2007

Eu li "Os Desafios da Terapia" de Irvin Yalom...

...e gostei!
Os Desafios da Terapia - Irvin D. Yalom

Nesse livro, Yalom, autor de Quando Nietzsche Chorou e A Cura de Schopenhauer, traz reflexões úteis a terapeutas, pacientes e qualquer pessoa que busque aprimorar suas habilidade interpessoais e aumentar o autoconhecimento. O livro é composto de diversos insights de Yalom, dentre eles destaco o príncipio do "aqui-e-agora", segundo o qual, as relações interpessoais do paciente com as pessoas ao seu redor se manifestam na relação paciente-terapeuta, e é nessa relação que o terapeuta deve trabalhar, ao invés de focar nas relações do paciente inacessíveis ao terapeuta.

Sinopse: Como diz o subtítulo, destinado a jovens terapeutas, Os desafios da terapia é uma reunião de recomendações que abrange muitos aspectos do atendimento psicoterápico individual e algumas questões referentes às terapias de grupo.Sem se aprofundar nos temas, Irvin Yalom faz, entre outros tópicos, uma síntese bastante convincente da importância da análise do próprio terapeuta, da estrutura da transferência e de como ela reflete as demais relações do paciente, das dificuldades mais comuns do atendimento, da importância dos atos em contraposição às palavras, de como não se devem tomar decisões pelo paciente, da importância da análise dos sonhos.

Uma interpretação não-literal de Gênesis (Continuação...)

O último artigo postado, Uma interpretação não-literal de Gênesis, rendeu um frutífero debate com o ateu Newton Filho, escritor do blog Ateísmo vs. Ignorância, que trouxe um enriquecimento ao assunto em questão. Debate que vocês podem conferir nos comentários ao referido artigo.

O artigo também rendeu debate no Orkut, posto aqui a crítica feita por Cacá Nitrus no Orkut, e a minha réplica logo a seguir:

Cacá Nitruz
" Se a bilbia dá tanta margen de duvidas de onde viemos, como saberemos pra onde vamos?Como saber sobre o que está na biblia?
Qualquer livro será considerado verdadeiro se for entendido como Simbólico, até se uma criança de 6 anos o escrever.

Só um exemplo
O Universo foi criado em 7 dias.
Segundo dados ciêntificos o sistema solar tem 15 bilhoes de anos aproximadamente, o ser humano surgiu à mais ou menos 200.000 anos atrás. Ou seja cada dia de deus equivale à + ou - 2.142.857,142 anos

Jesus ressucitou no terceiro dia ou seja 6428571,426 anos depois de morrer? Ou essa parte é literal?
Até onde vai a coerencia biblica?
E por que ela só é literal nos pontos que interessam os cristãos?

Ai vocês vão responder "a biblia é um livro simbólico"
Mas por que ela não é simbólico quando fala que os pagaos irão para o inferno? Ou quando fala sobre pagar dizimo?

Como a sociedade pode se basear em um livro que ninguém consegue entender?"

Vitor Pereira (Resposta):
Obrigado pela crítica meu amigo, vamos lá...
É engraçado como os céticos pegam uma versão do Cristianismo que é ensinada para crianças de 6 anos e fazem dela seu alvo de ataques, mas quando o explicamos de forma adulta,os céticos apelam pro "ah, mas vcs complicam blablabla".

Cristianismo é a afirmação de fatos inalteráveis de um Ser inefável - Deus. Portanto, tal afirmação não poderia jamais ser simplória, mas sim extremamente difícil e complicada para a limitada razão humana. Tarefa mais complicada do que uma formiga explicar os pensamentos do Homem.

Será tão incomum encontrarmos em obras clássicas da literatura mistura de simbolismo com realidade? Poesia, prosa, parábolas, simbolismo, aforismo, mitologia fazem parte dos escritos de qualquer autor renomado, seja para dar “sabor” a obra, ou seja para transmitir uma verdade de forma simples, lógica e que consiga se comunicar com o destinatário da mensagem. Da mesma forma é com a Bíblia, Deus fala de forma que nós homens podemos entender seja no ano 2000 aC ou no ano 2000 dC*, portanto, quando temos evidências bíblicas para interpretar um texto como não-literal, não devemos hesitar em fazê-lo.

Se você citar evidências bíblicas de que o inferno é simbólico, teremos que encará-lo como tal, mas tais evidências não existem. Portanto, podemos concluir que o inferno é real.

Maaas... o inferno também tem uma pitada de simbolismo, afinal, ele é descrito como lugar de trevas e chamas, pode um lugar onde ardem intensas chamas (chamas produzem luz) ficar na escuridão? A lógica diz que não, portanto qual é a conclusão mais plausível? A Bíblia usa de uma terminologia simbólica para descrever a realidade do inferno.

*Pode parecer contraditório quando eu digo que a afirmação da natureza de Deus não pode ser simples e fácil e depois quando eu digo que Deus se comunica com o Homem de uma forma que ele possa entender. Eu explico, uma verdade pode ser complexa, mas ter uma explicação simples, a criação da vida é um processo extremamente complexo, mas explicado por Deus em Gênesis de forma que todos os homens em todas as eras pudessem compreender. Da mesma forma, o evolucionismo não é ensinado na escola da mesma forma que é estudado pelos cientistas, mas nos é passado de uma maneira simplificada e acessível à mentalidade leiga. A mensagem de Gênesis é simples e acessível – Deus criou o mundo – agora o processo da criação é complexo e exige uma forte dose de esforço intelectual e, é claro, auxilio da ciência.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Uma interpretação não-literal de Gênesis


Existem suficientes evidências científicas para afirmarmos que o mundo tem muito mais que alguns milhares de anos de idade. Ainda assim, a Bíblia afirma que o mundo foi criado por Deus em sete dias, como podemos resolver este aparente ‘conflito’?
Primeiramente, a Bíblia é um livro fantástico, porém é um livro antigo, dessa forma é de se esperar que encontremos dificuldades na interpretação de certas passagens, visto que foram escritos em uma cultura diferente, em um idioma diferente, em uma época remota, o que dificulta um pouco a interpretação de um texto, pois não podemos aplicar os mesmos princípios que usamos para interpretar uma obra da literatura moderna, para interpretar um livro que foi escrito em um período entre 3500-2000 anos atrás. Também não creio que Deus tenha tido o objetivo de nos oferecer um tratado cientiíico sobre a criação do universo. Precisamos perceber os princípios por trás do texto, (1) que Deus criou o mundo, seja lá qual meio Ele usou para isso; e que (2) o homem caiu por desobediência a Ele, deixando o pecado entrar nesse mundo, algo inegável se pararmos um minuto para analisarmos o atual estado do nosso planeta, mas vamos os pontos, lembrando que não passam de suposições:

1. Precisamos lembrar que Deus é um ser atemporal, Ele vive tanto o amanhã como o ontem, Ele não está preso ao tempo, e um dia para Ele é como mil anos (2Pe 3.8).

2. Quanto tempo terá se passado entre Gênesis 1.1 e 1.3? Quanto tempo terá se passado entre o princípio, quando Deus criou os céus e a terra, e o momento que Ele disse “Haja Luz!”? Este texto dá margem para milhões e bilhões de anos.

3. Em Gênesis 1.11 Deus cria a relva, plantas e árvores, porém vemos que em Gênesis 2.5 a criação das plantas foi um processo. Elas foram semeadas e cresceram, um processo que leva meses e não um dia, assim como acontece hoje quanto plantamos uma semente, o que pode indicar que a criação do Homem também tenha sido um processo, e não ocorrido em um único dia.

4. Em Gênesis 1.27, Deus criou o Homem e a Mulher, já em Gênesis 2.18-23 o processo de criação da Mulher é descrito de forma mais gradativa.

5. Gênesis 2.2-3, diz que Deus descansou no 7º dia, e em Hebreus 4.3-6 mostra que Deus ainda está em seu descanso, tendo o 7º dia demorado milhares de anos, é de se esperar que os outros dias também tenham demorado mais do que 24 horas.

6. Em Gênesis 2.7, Deus forma o Homem do pó da terra, assim como o crescimento das plantas, esse deve ter sido um processo que levou muito mais do que 24 horas. E, coincidentemente, os elementos orgânicos encontrados na terra são os mesmos encontrados no corpo humano. A origem da vida é a terra, ela que produz as verduras, legumes e cereais que nos alimentam, e também alimentam o gado do qual nos alimentamos.

7. O processo da criação sendo primeiro as plantas, depois os animais, depois o Homem, é exatamente o processo descrito pela evolução.

8. No sexto “dia” Adão foi criado, foi dormir, nomeou todos os animais (centenas deles), procurou por uma auxiliadora, foi dormir e Eva foi criada de sua costela. Tudo isso é bem improvável que tenha ocorrido em um período de 24 horas.

9. A Palavra hebraica para “dia” usada em Gênesis é “yom” que pode significar muito mais do que um dia de 24 horas, e sim um “período de tempo”. Em Gênesis 2.4 diz “Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram criados; no dia em que o SENHOR Deus fez a terra e os céus”. Os sete dias da criação são descritos como um único dia.

10. Por último, na Bíblia encontramos alguns números que tem um simbolismo específico, dentre alguns deles são o 40 e o 7 que representam provação e perfeição respectivamente. Quantos dias choveram no dilúvio? 40 dias e 40 noites. Quantos anos o povo hebreu permaneceu como escravo no Egito? 400 (Múltiplo de 40). Quantos anos o povo permaneceu no deserto? 40. Quantos dias Moisés permaneceu no Monte Sinai? 40. Quantos dias Jesus permaneceu no deserto? 40. Por quantos anos os filhos de Israel comeram maná? 40. Quanto ao numero 7, além de ter sido o número de dias em que o mundo foi criado. Também quem matasse Caim seria sete vezes castigado. As 70 semanas de Daniel. Por sete caminhos o inimigo fugirá. Setenta vezes sete devemos perdoar. As sete taças do apocalipse entre inúmeros outros exemplos. Da mesma forma encontramos outros números que tem um simbolismo especifico, ainda mais no livro de Apocalipse, portanto creio que alguns números não devem ser interpretados de forma literal.
Vitor Pereira 31.10.2006

quinta-feira, 24 de maio de 2007

"Sermão para o clero" de John Wesley

"Não deveria um ministro ter, primeiramente, uma boa compreensão, uma apreensão clara, um julgamento sadio e uma capacidade de argumentar com um pouco de competência? [...] Não seria determinado conhecimento (a metafísica) chamado de a segunda parte da lógica, se não tão necessário como [a própria lógica], ainda assim altamente apropriado? Não deveria um ministro se familiarizar ao menos com os fundamentos gerais da filosofia natural?"

John Wesley, Sermão para o clero

Trecho de um sermão proferido por John Wesley a um grupo de ministros em 1756.
Essas são palavras de um dos maiores pregadores de todos os tempos, oxalá Wesley fosse ouvido hoje!

terça-feira, 22 de maio de 2007

Por que é tão difícil de ver?


Por que é tão difícil enxergar a realidade espiritual?

Nós cristãos nos perguntamos por que o mundo é tão cego à verdade? Por que o mundo não enxerga nossos valores? Por que o mundo continua brincando na lama e não se dá conta disso? Não sei se todos os cristãos são atordoados por tais perguntas, mas pelo menos eu sou. Alguns dias tenho alguns conflitos comigo mesmo por causa de tais perguntas. Pergunto-me por que pra mim é tão fácil de enxergar a Verdade e para os descrentes algo tão surreal, utópico? Penso que a Bíblia nos dá uma luz quanto a essas questões, embora eu assuma que a dúvida não se vai completamente, ela ainda permanecesse nem que seja um pequeno vestígio, mas vamos logo ao que interessa.

No primeiro capitulo do Livro de Gênesis diz: “E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”.De fato deve ter sido muito bom, Deus havia recém-criado o mundo, e como tudo que procede dele é bom, o mundo não podia ser diferente. O terceiro capitulo de Gênesis narra a queda do homem, o homem desobedeceu a Deus fazendo com que o pecado entrasse no nosso mundo. Romanos 5:12 nos mostra que através do pecado de Adão o pecado entrou no mundo, como uma bomba biológica carregada de um vírus mortal que explode e rapidamente se alastra e contamina a toda a população. Não havia mais solução, a doença se espalhara, e o pior de tudo: era uma doença hereditária. Os genes do pecado passaram a vir impressos no nosso código genético, e por isso passamos a viver longe da presença de Deus.

O pecado trouxe duas conseqüências, a primeira foi a separação entre nós e Deus, por Deus ser santo, Ele não pode ter comunhão com o pecado, portanto passamos a viver longe de Sua presença e do jardim do Éden, o habitat para o qual fomos criados para viver. Nós nos tornamos como peixes fora d’água, nos debatendo ansiosamente para que nos coloquem novamente no nosso ambiente, somos como que anjos furiosos com suas asas presas ao chão impedidos de voar, o homem nasce com um anseio pela eternidade¹. O homem anseia desesperadamente pela comunhão com seu criador, a antropologia revela que todos os povos da terra têm um conceito de algo maior, uma divindade, o conceito do sagrado, o que mostra que o homem é por natureza um crente, não é a toa que existem milhares de religiões no mundo. Mas não só ele como toda a natureza também, estudos antropológicos mostram que até macacos tem esse impulso em direção a algo maior. Não sei se estou sendo claro, recapitulando: o homem foi criado em um ambiente para viver na presença de seu Criador, pecou e acabou sendo lançado fora desse ambiente e da presença do Criador, mas como que por instinto, ele tem um anseio dentro de si por aquele primeiro estado, aquele ambiente para o qual foi criado, aquela necessidade da presença do Criador.

Mas então se é tão simples assim, o homem vive fora do seu habitat e só precisa se voltar a ele, porque o homem simplesmente não se volta ao Criador? Porque o homem não enxerga? A resposta para essa pergunta é a segunda conseqüência do pecado, a Bíblia nos diz que o salário do pecado é a morte², tanto espiritual quanto física, portanto por causa do pecado o Homem morreu espiritualmente. O que você acha que aconteceria se você entrasse em um velório pegasse o corpo do falecido, gritasse no ouvido dele desesperadamente, agitasse-o, lutando com todas as suas forças para que ele reaja? Nada aconteceria. Porque corpo morto não responde a estimulo físico, qualquer que seja a intensidade. Da mesma forma, vivemos em um mundo morto espiritualmente por causa do pecado, e como um bom morto, o mundo não reage a estímulos espirituais, por mais que gritemos, o mundo não reage, e penso ser exatamente essa a resposta da pergunta inicial, o mundo não enxerga porque está morto. Por estar morto o mundo não reage à Verdade. Quando eu ouço dizerem que religião é para os fracos, muleta ou algo assim, eu concordo plenamente. A religião é sim para os fracos. Eu sou fraco assim como todo ser humano, nós todos precisamos de uma muleta para nos apoiar, foi essa a conseqüência da queda do Homem, a necessidade de algo maior, de um preenchimento, algo que venha a suprir o vazio deixado pela saudade do seu habitat natural. Todo ser humano tem um impulso à idolatria. Se o Homem não se volta pra Deus, acaba buscando outros ídolos como drogas, festas, sexo, bebida, ou até coisas mais simples também. De fato, tais coisas podem sim preencher momentaneamente o vazio deixado pela queda do Homem, assim como os casos de geofagia (comer terra) entre crianças anêmicas, a falta de ferro leva a criança a comer terra por ser a terra uma fonte de ferro, porém junto com suas necessidades minerais, ela acaba ingerindo bactérias, doenças, vermes, sujeira e outras coisas que afetam a saúde da criança, e é exatamente isso que faz o mundo sem Deus, come terra para de alguma forma preencher as saudades deixadas pela distância do seu habitat natural, o que acaba trazendo graves conseqüências, tanto neste mundo como no mundo vindouro.

Se esse impulso à idolatria não for preenchido por Deus, você o acabará prencheendo de outras formas. Nesse mundo todos nós devemos escolher entre duas formas de enlouquecer, ou a loucura do Evangelho, ou os valores absurdos desse mundo. Ou você canaliza esse impulso em direção à loucura do Evangelho ou esse impulso vai acabar sendo direcionado para outros ídolos. A decisão é sua.

¹Ec 3.11

²Rm 6.23

Vitor Pereira

9/10/2006

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Pr.Ricardo Gondim


Ricardo Gondim é hoje, na minha opinião, um dos melhores pregadores do país, embora eu não tenha o hábito de ouvir pregações, e sim de ler muito mais, creio que Gondim prega o verdadeiro Evangelho, escasso no mundo evangélico contemporâneo. Nada de teologia da prosperidade, cristianismo triunfalista, ou venda de promessas que a Bíblia não faz. Com toda certeza a mensagem de Gondim é extremamente relevante no meio evangélico brasileiro. Assim como Philip Yancey nos EUA, Gondim luta por um Evangelho mais bíblico e mais saúdavel.

Portanto recomendo aqui um link onde vocês podem baixar dezenas de pregações do Pr.Ricardo Gondim: http://www.4shared.com/dir/1042009/9c3ff7d8/Rg_-_Mensagens.html
Recomendo enfaticamente!

Maiores informações sobre ele vocês podem ter acessando seu site: www.RicardoGondim.com.br

E aproveito para recomendar aos leitores que acessem os sites recomendados aqui no blog, na lista à sua direita, e também leiam a literatura recomendada.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Teologia Moderna e a Crítica da Bíblia (Texto de C.S.Lewis)

Um excelente texto do gênio C.S.Lewis sobre Bíblia e mitologia, altamente recomendado:

A antiga ortodoxia tem sido solapada principalmente pela obra deletéria de teólogos engajados na crítica do Novo Testamento. A autoridade de especialistas naquela disciplina é a autoridade em deferência à qual somos solicitados a desistir de um imenso acúmulo de crenças compartilhadas em comum pela Igreja primitiva, pelos pais da Igreja, pela Idade Média, pela Reforma Protestante, pelos pregadores do século 19. Quero explicar aqui o que me deixa cético quanto a essa autoridade, ignorantemente cético, conforme muitos diriam após um exame superficial da questão. Mas o ceticismo é o pai da ignorância. É difícil alguém perseverar em um estudo detalhado quando tal estudioso não pode confiar prima facie em seus mestres.Em primeiro lugar, o que quer que esses homens possam ser como críticos da Bíblia, desconfio deles como críticos. A mim parece que são fracos quanto a um bom juízo literário, mostrando-se incapazes de perceber a própria qualidade dos textos que examinam. Pode parecer isso uma estranha acusação contra indivíduos que têm estudado esses livros a sua vida inteira. Mas talvez precisamente aí resida a dificuldade deles. Um homem que passou toda a sua juventude e idade adulta fazendo pesquisas minuciosas nos textos do Novo Testamento e nos estudos de outros homens sobre estes textos, cuja experiência literária sobre aqueles textos ressente-se de quaisquer padrões de comparação que só podem desenvolver-se após uma ampla e profunda e genial experiência com a literatura em geral, conforme penso, tende muito a perder de vista as questões óbvias envolvidas. Se tal homem chega e diz que alguma coisa, em um dos evangelhos, é lendária ou romântica, então quero saber quantas lendas e romances ele já leu, o quanto está desenvolvido o seu gosto literário para poder detectar lendas e romances, e não quantos anos ele já passou estudando aquele evangelho. Porém, provavelmente seria melhor eu citar exemplos.

Em um comentário que atualmente já é bastante antigo, li que o quarto evangelho é considerado por certa escola crítica como um "romance espiritual", como "um poema, e não uma história", que deve ser aquilatado pelos mesmos cânones que a parábola de Natã, o livro de Jonas, o Paraíso Perdido, ou, mais exatamente ainda, o Peregrino de John Bunyan. Depois que um crítico faz essa declaração, por qual motivo daríamos atenção a qualquer coisa que ele ainda possa dizer sobre qualquer livro do mundo? Notemos que este autor considerou o Peregrino, uma história que professa ser um mero sonho e que exibe sua natureza alegórica da maneira mais explícita, como o mais chegado paralelo do evangelho de João! Notemos também que tal autor nem deu atenção ao fato de que Milton não escondeu estar escrevendo uma poesia épica. Mas mesmo que deixemos de lado esses absurdos mais grosseiros e nos apeguemos ao livro de Jonas, ainda assim a insensibilidade desse autor é crassa - pois disse ele que Jonas é apenas um conto, sem quaisquer pretensões de historicidade, um incidente grotesco e certamente não destituído de uma veia humorística tipicamente judaica, embora, sem dúvida, distintivamente edificante. Voltemo-nos, em seguida, para o evangelho de João. Leiamos os seus diálogos: aquele entre Jesus e a mulher samaritana, à beira do poço, ou então aquele outro, após a cura do cego de nascença. Examinemos em seguida os seus quadros mentais: Jesus (se me é permitido usar o termo) a escrever na areia com Seus próprios dedos; a inesquecível observação hvn dev nux (João 13.30), "E era noite". Sim, tenho lido poemas, romances, literatura acerca de visões, lendas e mitos a vida toda. Sei com o que esse tipo de literatura se parece. Sei que em todo esse tipo de literatura não há nada que chegue à altura do quarto evangelho. Acerca do texto do quarto evangelho só são cabíveis dois pontos de vista. Ou trata-se de uma reportagem - que se aproxima extraordinariamente dos fatos ocorridos, conforme disse Boswell. Ou então, algum escritor desconhecido, no século 2º d. C., sem quaisquer antecessores ou sucessores conhecidos, de súbito antecipou a técnica inteira da narrativa moderna, novelesca, realista. Se o evangelho de João é veraz, então deve ser alguma narrativa dessa categoria. O leitor que não puder perceber isso, simplesmente ainda não aprendeu a ler.

Na obra de Bultmann, Theology of the New Testament (pág. 30), encontramos um outro exemplo do que estamos ressaltando. Disse ele: "Observemos de que maneira não-assimilada a predição sobre a parousia (ver Marcos 8.38) segue-se à predição sobre a paixão (Marcos 8.31)." O que Bultmann pode ter querido dizer? Não-assimilada? Bultmann acreditava que as predições acerca da parousia eram mais antigas que as predições a respeito da paixão. Por conseguinte, ele queria acreditar - e sem dúvida assim acreditava - que quando ocorriam as duas menções em uma mesma passagem, é que alguma discrepância ou 'não-assimilação' seria perceptível entre elas. Mas por certo ele impingiu isso sobre o texto sagrado com uma chocante falta de percepção. Pedro acabara de confessar que Jesus era o Ungido. O relâmpago de glória nem se apagara ainda quando começou aquela tenebrosa predição - o Filho do homem haveria de sofrer e morrer. E, então, o tremendo contraste foi reiterado. Pedro, embora tendo-se elevado por um momento, através de sua confissão do messiado de Jesus, chegou a tropeçar: e Jesus o repreendeu com aquelas terríveis palavras, "Arreda! Satanás." E então, em meio à momentânea ruína em que Pedro se transformou (o que sucedeu com certa freqüência), a voz do Mestre, voltando-se para a multidão, generalizou a lição moral. Todos os seguidores de Jesus precisam carregar a sua própria cruz. Esse receio diante do sofrimento, essa autopreservação, não corresponde às realidades da vida. Em seguida, de maneira melhor definida ainda, soou a convocação ao martírio. Ninguém pode desviar-se do reto caminho. Se alguém negar a Cristo aqui e agora, Cristo haverá de negá-lo na outra vida. Lógica, emocional e imaginativamente, a seqüência mostra-se perfeita. Somente um Bultmann poderia pensar de outra forma, com sua Crítica de Forma.

Finalmente, meditemos no que saiu da pena desse mesmo Bultmann: "A personalidade de Jesus não tinha qualquer importância para a pregação de Paulo ou de João... De fato, a tradição da igreja primitiva nem ao menos preservou inconsistentemente um quadro descrito de Sua personalidade. Toda tentativa para reconstruir esse quadro tem permanecido como um jogo de imaginação subjetiva".

Portanto, na opinião da crítica destrutiva o Novo Testamento não nos apresenta qualquer personalidade de nosso Senhor. Através de qual estranho processo aquele erudito alemão entrou, a fim de tornar-se cego para aquilo que todos os homens vêem, menos ele? Qual evidência existe de que ele reconheceria uma personalidade, se tivesse de defrontar-se com ela? Pois o caso é de um Bultmann contra mundum. Se existe alguma coisa que os crentes sentem em comum, e até mesmo muitos incrédulos, essa coisa é que, nos evangelhos, deparamo-nos com uma extraordinária personalidade. Existem personagens que sabemos terem sido figuras históricas, mas acerca das quais sentimos que não possuímos qualquer conhecimento pessoal - conhecimento por meio da familiaridade. Poderíamos citar entre esses vultos pessoas como Alexandre, Átila ou Guilherme de Orange. Existem outros vultos que não reivindicam qualquer realidade histórica, a despeito do que nós os conhecemos como conhecemos pessoas reais, como Papai Noel, Tio Sam ou Super-Homem. Mas existem apenas três personagens que, dotadas da primeira sorte de realidade, também possuidoras da segunda espécie de realidade. E certamente todos sabem de quem se trata: o Sócrates de Platão, o Jesus dos evangelhos e o Johnson de Boswell. Nossa familiaridade com eles exibe-se de diferentes maneiras. Assim, quando nos pomos a ler os evangelhos apócrifos, surpreendemo-nos constantemente a dizer acerca desta ou daquela declaração ou logion: "Não. Temos aqui uma boa declaração. Mas não pertence a Jesus. Não era assim que Ele costumava falar".

Tão poderosa é a fragrância da personalidade que mesmo quando Jesus dizia coisas que - não fora o fato de Ele ser a própria encarnação da Deidade - pareciam espantosamente arrogantes, contudo, nós - e muitos incrédulos, por igual modo - aceitamos a Ele segundo a Sua própria avaliação. Para exemplificar, quando Ele declarou: "... sou manso e humilde de coração..." Até mesmo aquelas passagens do Novo Testamento que, superficialmente, e em intenção, dizem respeito à natureza divina, obscurecendo a natureza humana, levam-nos a enfrentar a personalidade de Jesus. Não tenho a certeza se essas passagens fazem isso mais do que outras. "... o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam... a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo..." (1João 1.1-3). Qual é a vantagem que alguém poderia obter por tentar evitar ou dissipar esse avassalador senso de contato pessoal com Jesus, quando esse alguém refere-se "àquela significação que a igreja primitiva encontrava e que se sentia impelida a atribuir ao Mestre"? Declarações assim esbofeteiam-me o rosto. Não devemos pensar no que aqueles cristãos sentiram-se impelidos a fazer, mas podemos comparar tais impressões com as impressões impessoais de um artigo escrito por algum autor da escola da Alta Crítica, ou de um obituário, ou de alguma obra como Life and Letters of Yeshua Bar-Yosef, em três volumes, acompanhada por fotografias antigas.Esse, pois, é o meu primeiro balido. Esses homens pedem-me que eu acredite que eles podem ler entre as linhas dos textos antigos; mas todas as evidências levam-me a notar a óbvia incapacidade deles de lerem (em qualquer sentido digno de discussão) as próprias linhas. Eles afirmam poder ver coisinhas minúsculas, mas não podem ver um elefante a dez metros de distância, em plena luz do dia.

Agora, o meu segundo balido. Toda teologia da categoria liberal envolve, em algum ponto - e, por muitas vezes, do começo ao fim -, a reivindicação que o real comportamento e o propósito dos ensinamentos de Cristo quase imediatamente vieram a ser mal compreendidos e distorcidos por Seus seguidores, e que somente os eruditos modernos puderam exumá-los ou recuperá-los. Ora, muito antes que me interessasse pelas questões teológicas, eu já havia encontrado esse tipo de teoria em outros lugares. A tradição de Jowett ainda dominava os estudos sobre a filosofia antiga quando comecei a ler as obras de Greats. Então, os leitores eram convidados a acreditar que o sentido real dos escritos de Platão havia sido mal entendido por Aristóteles, e loucamente travestido pelos filósofos neoplatônicos, e que tal sentido só foi redescoberto pelos pensadores modernos. E uma vez refeito esse significado, descobriu-se (mui afortunadamente) que Platão o tempo todo havia pensado como um Hegel inglês, ou melhor, como T. H. Green. E, em meus estudos profissionais, encontrei essa idéia pela terceira vez. A cada nova semana algum esperto quartanista, a cada quinze dias algum embotado perito norte-americano, vem descobrir, pela primeira vez na história do mundo qual o sentido real de alguma peça de Shakespeare. Nessa terceira instância, entretanto, já sou uma pessoa privilegiada. A revolução que tem havido na maneira de pensar e sentir, ocorrida durante o curto período de minha vida, é tão grande que, mentalmente falando, pertenço mais ao mundo de Shakespeare do que ao mundo desses intérpretes recentes. Percebo-o, sinto-o nos meus próprios ossos, estou convicto, acima de qualquer argumento, de que a maioria das interpretações desses modernos pensadores é praticamente impossível. Tais interpretações envolvem uma maneira de considerar as coisas que era desconhecida em 1914, e, mais ainda, no período jacobeano. Isso confirma diariamente a minha suspeita quanto à abordagem dos críticos no tocante aos escritos de Platão ou do Novo Testamento. Essa noção de que qualquer homem ou escritor deveria ser opaco e imcompreensível para aqueles que viviam na mesma época, na mesma cultura, que falavam o mesmo idioma, que compartilhavam das mesmas habituais imagens mentais e pressupostos inconscientes, e que, no entanto, torna-se perfeitamente claro e transparente para aqueles que não dispõem de nenhuma dessas óbvias vantagens, em minha opinião, não passa de um imenso absurdo. Nessa noção há uma improbabilidade a priori que não pode ser contrabalançada por quase qualquer argumento e evidência.Em terceiro lugar, descubro nesses teólogos o constante emprego do princípio que diz que os milagres nunca ocorrem. Isso quer dizer que qualquer declaração posta nos lábios de nosso Senhor, pelos textos antigos, se é que Ele a fez realmente, constituiria uma predição sobre o futuro, mas só foi registrada após a ocorrência daquilo que ela parecia predizer. Essa opinião pode parecer sensata para aqueles que julgam saber que jamais ocorrem predições inspiradas. Por semelhante modo, a rejeição de todas as passagens bíblicas que narram milagres como trechos não-históricos, pode parecer uma rejeição sensata para aqueles que pensam saber que os milagres, em geral, jamais ocorrem. Ora, não é meu propósito discutir aqui se os milagres são possíveis ou não. Tão-somente quero ressaltar aqui que essa é uma questão puramente filosófica. Os eruditos, enquanto eruditos, não falam a esse respeito com maior autoridade do que qualquer outra pessoa. O cânon que estipula, "se é miraculoso, não é histórico", é uma regra que os críticos impõem aos seus estudos dos textos sagrados, e não um princípio que deduziram desses textos. E já que estamos falando em autoridade, a autoridade conjunta de todos os críticos bíblicos do mundo é aqui considerada como zero. Quanto a isso, os críticos falam apenas como homens; homens obviamente influenciados pelo espírito da época em que cresceram, espírito esse talvez insuficientemente crítico quanto às suas próprias conclusões.

Mas o meu quarto balido - que também é o mais longo e mais vocífero - ainda vem por aí.Todo esse tipo de crítica tenta reconstruir a gênese dos textos estudados. Essa reconstituição busca quais documentos desaparecidos cada autor usou; quando e onde ele escreveu; com quais propósitos; sob quais influências - a Sitz im Lebenz (situação vivencial) inteira dos textos. E isso é efetuado com imensa erudição e com grande engenho e arte. À primeira vista, esses esforços são muito convincentes. Chego a pensar que eu mesmo poderia ser convencido por tais argumentos, não fora um certo encantamento mágico que sempre trago comigo - uma certa erva fabulosa, de propriedades mágicas - e que uso com sucesso contra tais engodos. Aqui, o leitor precisa desculpar-me se estou falando de mim mesmo por alguns instantes. Pois o valor daquilo que digo depende de ser ou não evidências colhidas em primeira mão.O que me protege definitivamente de todas essas reconstituições feitas pelos críticos é o fato de que tenho visto todas as tentativas deles do outro lado do prisma. Tenho observado os revisores reconstituírem a gênese de meus próprios livros, exatamente dessa forma.Enquanto um escritos não acompanha o processo, no caso de seus próprios livros, ele dificilmente acredita que tão pouco de revisão ordinária é usada pelos críticos. Eles não avaliam, nem elogiam, nem censuram o livro que estão criticando. Quase tudo quanto fazem é utilizarem-se de histórias imaginárias acerca do processo mediante o qual o escritos em pauta teria atuado. Os próprios vocábulos que esses revisores usam, ao elogiar ou censurar a obra, com freqüência dão a entender o que eles fazem. Eles elogiam uma passagem "espontânea" e censuram outra passagem como "elaborada". Em outras palavras, pensam ser capazes de saber que o escritor escreveu uma dessas passagens currente calamo ("ao correr da pena"), ao passo que a segunda, invita Minerva ("contra a vontade de Minerva"), ou seja, sem destreza técnica e sem sabedoria.

Qual o pequeno ou nenhum valor dessas reconstituições, feitas pelos críticos, aprendi desde cedo em minha carreira. Eu havia publicado um livro de ensaios. Aquele foi um livro para o qual me preparei de todo o coração, que tanto mexeu comigo e que escrevi com o mais agudo entusiasmo, acerca da personalidade de William Morris. No entanto, logo na primeira crítica que li a respeito, o revisor afirmava que era óbvio que eu tinha escrito sobre essa personagem sem ter demonstrado o mínimo interesse por ela. Que o leitor não me compreenda mal. Acredito agora que o tal crítico tinha razão ao pensar que o ensaio sobre William Morris foi muito ruim; pelo menos todos concordaram com ele. Mas aonde ele estava totalmente equivocado foi ao imaginar as causas que teriam produzido tão embotado ensaio.Bem, o fato é que isso me deixou com a pulga atrás da orelha. Desde então, tenho vigiado, com alguma preocupação, histórias imaginárias similares, tanto acerca de meus próprios livros como acerca de livros de meus amigos, cuja história real eu saiba. Os revisores, tanto os amigáveis quanto os hostis, pespegam sobre os autores essas invencionices, fazendo-o com grande desenvoltura e confiança própria; dizem quais eventos públicos teriam tido influência direta sobre a mente dos autores, quanto a isso ou quanto a aquilo, quais outros autores tê-los-iam influenciado, quais teriam sido suas intenções globais, qual tipo de audiência os autores estariam visando, e por que e quando os autores fizeram tudo quanto fizeram.

Ora, antes de tudo preciso deixar registradas as minha impressões; e só então, em distinção a isso, poderei asseverar o que sou capaz de dizer com certeza. Minhas impressões são que, na totalidade de minha experiência, nenhuma dessas tentativas de adivinhação dos críticos tem estado ao lado da razão, e que tal método exibe um recorde de cem por cento de fracasso. Alguém poderia esperar que, devido à mera chance, os críticos acertassem tão freqüentemente quanto erram o alvo. Mas a minha nítida impressão é de que eles nunca acertam. Não consigo lembrar de um único acerto deles. Porém, visto que não tenho feito anotações cuidadosas a respeito, minhas meras impressões podem estar equivocadas. O que penso que posso afirmar com toda a certeza é que, usualmente, eles se equivocam...

Ora, sem dúvida esses fatos deveriam fazer-nos parar para refletir. A reconstituição da história de um texto qualquer, quando esse texto é antigo, pode parecer deveras convincente. Em tal caso, entretanto, quem queira provar o contrário estará malhando em ferro frio, pois os resultados obtidos não poderão ser cotejados com os fatos. A fim de averiguarmos quão fidedigno é esse método, que mais poderíamos pedir senão que se examine uma instância, onde o mesmo método foi usado em obras que podemos examinar, por serem recentes? Pois bem, é precisamente isso que tenho feito. E, quando assim fazemos, então descobrimos que os resultados são sempre ou quase sempre errados. Os "firmes resultados da erudição moderna", na sua tentativa de descobrir por quais motivos algum livro antigo foi escrito, segundo podemos facilmente concluir, só são "firmes" porque as pessoas que sabiam dos fatos já faleceram, e não podem desdizer o que os críticos asseguram com tanta autoconfiança. Os gigantescos ensaios em meu próprio campo, que procuraram reconstruir a história do livro Piers Plowman, ou o livro The Faerie Queene, provavelmente não passam das mais puras tapeações.Aventuro-me a comparar qualquer pretensioso que escreve uma crítica literária em uma revista semanal com os grandes eruditos que consagraram suas vidas inteiras ao estudo pormenorizado do Novo Testamento? Se aqueles primeiros sempre se equivocam, segue-se daí que estes últimos não podem sair-se melhor em seu trabalho?
Há duas respostas para essa indagação. Em primeiro lugar, apesar de respeitar a erudição dos grandes críticos das Escrituras Sagradas, ainda não estou persuadido que o juízo deles deva ser igualmente respeitado. Em segundo lugar, consideremos com quantas avassaladoras vantagens iniciam os meros revisores. Eles procuram reconstituir a história de um livro escrito por alguém cuja língua pátria é a mesma que a deles; por alguém que é um contemporâneo, educado como eles o foram, que vivem mais ou menos na mesma atmosfera mental e espiritual. Contam com tudo quanto pode ajudá-los. A superioridade no terreno do julgamento e da diligência que se poderia atribuir aos críticos da Bíblia terá de ser sobre-humana, se tiver de contrabalançar o fato de que por toda parte precisam enfrentar costumes, linguagens, características étnicas, pano de fundo religioso, hábitos de composição e pressupostos básicos que nenhuma erudição jamais poderia capacitar qualquer pessoa viva a saber com tanta certeza, intimidade e instinto, como os meros revisores de obras contemporâneos são capazes de atuar. E pelas mesmas razões, lembremo-nos de que os críticos da Bíblia, sem importar quais reconstituições imaginaram, jamais poderão estar comprovadamente equivocados. Marcos já morreu. E quando encontrarem Pedro, haverá questões mais urgentes a serem debatidas.Naturalmente, o leitor poderá dizer que esses revisores de obras contemporâneas são tolos, por tentarem adivinhar como algum livro, que eles não escreveram, foi escrito por outrem. Eles supõem que alguém escreve uma história, tal como eles mesmos tentariam escrever uma história; e o fato de tentarem realizar essa façanha, explica por que eles nunca produziram qualquer história e a publicaram. Mas, e os críticos da Bíblia apareceram sob melhor luz quando confrontados com aqueles outros? O Dr. Bultmann nunca escreveu um evangelho. As experiências de sua erudita, especializada e sem dúvida meritória vida realmente deram-lhe a capacidade de ler as mentes de homens que morreram faz muitos séculos, arrebatados como eles foram por aquilo que temos de considerar como a experiência religiosa mais central e atordoadora de toda a história humana? Não é uma incivilidade dizer - conforme admitiria o próprio Bultmann - que em todos os sentidos ele deve estar separado dos evangelistas por barreiras muito mais formidáveis - tanto espirituais quanto intelectuais - como nunca poderiam ser interpostas entre meus revisores e mim.

Eu li "A Bíblia que Jesus lia" de Philip Yancey...

E gostei...

A Bíblia que Jesus lia - Philip Yancey


Mais uma brilhante obra do Philip Yancey, quebra paradigmas e mostra uma visão do Antigo Testamento realista e atual, mais uma mensagem de Yancey fundamental a toda Igreja.

Neste livro desafiador, Yancey põe em xeque a concepção de que não vale a pena gastar tempo para ler e entender o Antigo Testamento.

Com o seu estilo franco e peculiar, o premiado escritor interage com o Antigo Testamento da perspectiva da jornada que ele mesmo empreendeu. Começando por Moisés, o surpreendente príncipe do Egito, e chegando às emoções turbulentas dos salmistas e às vociferações estranhas e singulares dos profetas, Yancey pinta um quadro do Deus de Israel - e nosso - que vem somar à visão exclusivamente neotestamentária do Todo-Poderoso.

Yancey selecionou e examinou com muito critério alguns livros das Escrituras - Jó, Deuteronômio, Salmos, Eclesiastes e os profetas -, revelando-nos como o Antigo Testamento trata com profundidade as questões que mais nos afligem. E, por sinal, o Antigo Testamento não se furta diante de questões que o Novo Testamento muitas vezes somente esboça. Mas isso não deve surpreender. Pois, afinal de contas, é a Bíblia que Jesus lia.

Eu li "Lições de Mestre" de Mark Shaw...

E gostei...
Lições de Mestre - Mark Shaw

Por mais de 500 anos, a Igreja Evangélica teve ótimos professores. Mas ainda tem muito o que aprender.

Desde suas origens, há mais de cinco séculos, com o processo da Reforma encabeçado por Martinho Lutero, a Igreja Protestante teve sua base teológica e doutrinária constantemente submetida a pressões, questionamentos e ataques os mais diversos. Por outro lado, sua vitalidade e sua resistência foram alimentadas por grandes pensadores que ousaram desafiar o comodismo e a conveniência, revendo e influenciando não apenas o papel histórico do Corpo de Cristo, como também suas estruturas.

Em Lições de mestre, Mark Shaw resgata o perfil e o legado teológico e eclesiológico de dez dos mais importantes reformadores do cristianismo.

• De Lutero, a teologia da cruz
• De Calvino, a devoção cristã
• De Burroughs, o valor da diversidade
• De Perkins, a importância da conversão
• De Baxter, o prazer no Criador
• De Edwards, a chama do avivamento
• De Wesley, o conceito de discipulado
• De Carey, o modelo de missões
• De Wilberforce, o papel social
• De Bonhoeffer, os princípios da comunhão

O autor não se limita a fazer um registro histórico frio e acadêmico. Com o objetivo de fornecer uma visão ampla de missão, santidade, louvor, crescimento, justiça e fraternidade, Shaw também analisa criticamente a contribuição e o pensamento de cada um desses arquitetos do protestantismo, e de que maneira a Igreja de hoje pode estar negligenciando as valiosas lições do passado. Ele faz de Lições de mestre leitura indispensável à liderança moderna.


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Sobre Jesus


Provavelmente quem me conhece me definiria como uma pessoa religiosa, seja lá o que isso signifique. Religioso não é um termo que eu usaria para me definir. De religião eu quero distância! Uma rápida recapitulação sobre a história desse mundo nos mostra que a religião não nos trouxe grandes avanços. Trouxe, antes, muito mais retrocessos. A religião foi, e é, motivo de discórdias e guerras. A maior potência econômica do mundo sofre na mão dos fundamentalistas muçulmanos da Al Qaeda. Mas não só do islamismo vive o terrorismo, na Irlanda do Norte temos como exemplo o conflito católico vs. protestante. Na história das religiões é inegável o passado -e presente- de guerras e conflitos. Marx disse “religião é o ópio do povo”, é verdade, a religião é um meio de alienação do povo, uma válvula de escape da realidade, as pessoas fecham seus olhos e seguem suas crenças sem no mínimo refletir nos "porquês".

Portanto, eu não venho aqui fazer uma defesa da minha crença religiosa, eu prefiro falar sobre um fato histórico: Jesus, o Cristo. Jesus Cristo é uma figura popular e ao mesmo tempo desconhecida, enigmática. A maioria de nós o conhece só de ouvir falar, incluindo boa parte dos chamados “cristãos”, mas nunca parou para refletir sobre quem ele é. Ao entrarmos em uma livraria hoje, é inevitável nos depararmos com livros sobre esse homem, mesmo fora da seção “Religião”. Nós o encontramos na seção de Administração, de Psicologia, de Auto-ajuda, como a figura de um líder, CEO, coach, executivo, maior psicólogo e educador. De fato, esse homem que viveu há 2000 anos atrás deixou um forte legado até os dias de hoje, e que aumenta a cada dia. O Historiador H.G.Wells afirmou “sou um historiador, não um crente, mas não posso deixar de reconhecer que aquele pregador indigente de Nazaré é inegavelmente o centro da história. Jesus Cristo é de longe a figura mais importante de toda história.” Tudo que sabemos sobre essa popular e enigmática figura se encontra em um livro da mesma forma popular e enigmático: a Bíblia Sagrada, mais especificamente os quatro Evangelhos. Se o que os Evangelhos dizem sobre ele não for verdade, simplesmente não sabemos nada sobre Jesus, ficamos apenas com pequenas citações de historiadores dos primeiros séculos da era cristã que não nos informam muita coisa. Teriam Mateus, Marcos, Lucas e João inventado uma figura tão brilhante como essa? Meu ceticismo me impede de crer nisso. E se eles inventaram, só pela genialidade de inventar um personagem como Jesus, eles mereceriam certamente o nosso louvor.

Duas perguntas precisam de resposta quando falamos de Jesus: Quem foi? E qual foi o seu propósito aqui na terra?. Em relação a primeira pergunta, como vimos, a figura de Jesus é popular como líder, psicólogo, educador, entre outras. Mas essas características nem de longe conseguem expressar a principal característica desse homem que vemos nos Evangelhos e em toda Bíblia Sagrada: a sua divindade. Ele afirmou claramente ser Deus (Jo 10.30), João testemunhou sua divindade (Jo 1.1, Jo 1.14), Paulo também (Fp 2.5-11), seus inimigos reconheceram sua afirmação de divindade (Jo 10.32-33) ele fez coisas que só Deus poderia fazer, como perdoar pecados (Mc 2.7), ele se colocou acima da Lei de Deus (Mt 12.8). Qualquer pessoa com um par de olhos é capaz de reconhecer sua divindade em uma rápida lida nos Evangelhos, quem não é capaz disso, provavelmente também não seria capaz de enxergar o sol do meio-dia.

Eu tento apenas evitar com que as pessoas venham com aquela besteira “Ah! Eu aceito Jesus como um sábio ou grande mestre moral, mas não aceito sua afirmativa de ser Deus!”. Essa é a única coisa que não podemos dizer sobre ele. Ele disse muito claramente que era Deus, o que nos dá apenas duas opções: ou (1) o que ele falou é verdade ou (2) é mentira. Se for verdade, devemos aceitar o fato de que ele realmente era e é Deus, se for mentira isso nos dá mais duas opções:

1. Ele sabia que era mentira
2. Ele não sabia que era mentira

No caso da primeira opção, se ele sabia que era uma mentira, então ele era um mentiroso, um hipócrita e não merece o titulo de grande mestre moral.
No caso da segunda opção, se ele não sabia que era uma mentira, então ele era um louco – no mesmo patamar de um Inri Christi - um demônio ou coisa pior e não merece o titulo de sábio. Faça sua escolha ou esse homem era e é Deus encarnado, ou não passa de um demônio, um louco ou coisa pior. Lembre-se: ele não nos deixou opção, nem intentou deixar.

A segunda questão a ser tratada é sobre o propósito da vinda de Jesus a terra.
Isaias 53, escrito em 700 a.C. já anuncia qual seria a missão do messias Jesus aqui na terra: salvar o povo de seus pecados, é o que Mateus repetiu quase 765 anos depois, em seu Evangelho no capitulo um versículo 21. Ele veio a terra com a missão de nos salvar dos nossos pecados. Você pode estar se perguntando “Mas qual pecado?”. Só pelo fato de você se perguntar isso já demonstra que tem algo errado consigo mesmo. Só uma pessoa que tenta ser boa reconhece sua própria maldade, assim como não é entregando as armas que conhecemos a força de um exército, mas sim o enfrentando Não é sendo levado pela correnteza que conhecemos a força dela, mas sim nadando contra a força dela, não é se entregando a maldade que a conhecemos, mas lutando contra ela, e quanto mais lutamos mais cientes ficamos da nossa maldade intrínseca. Somente quando a gente toma conhecimento da imensidão, santidade e perfeição de Deus e de sua Lei é que a gente percebe o quão desesperadamente necessitamos de um salvador,. É, pois, impossível para o homem alcançar o padrão de Deus para a salvação, até Mahatma Gandhi admitiu: “Para mim, é uma tortura permanente saber que estou tão distante daquele que eu sei que é a essência de minha vida e de meu próprio ser. Sei que é minha própria miséria e iniqüidade que me afastam dele”. Se Gandhi afirmou isso, quanto mais nós. É inútil tentarmos nos salvar sem a ajuda de Deus (Mt 19.25-26, At 4.12). Estaremos sempre transgredindo a lei por mais que tentamos segui-la. E Deus apesar de ser um Deus de amor e rico em misericórdia, também é um justo juiz, e, portanto não pode deixar de nos punir. Imagine um parente seu morto pelas mãos de um brutal assassino, no dia de seu julgamento ele para frente ao juiz e diz: “Estou arrependido, me perdoe”. Estaria o juiz sendo justo em libertá-lo? Não, o erro precisa ser punido.

Você tem uma consciência que o acusa freqüentemente, pois nenhum homem vive de acordo com o padrão moral de sua própria consciência, mas muito abaixo. É ai que entra o sacrifício de Jesus Cristo, ele pagou o preço pelo nosso crime, preço que nós não conseguiríamos nem poderíamos pagar, mas apenas Deus, um ser perfeito. Não seria justo Deus pagar por nós, assim como não seria possível o homem pagar por si mesmo. Apenas um ser perfeitamente Deus e perfeitamente homem poderia fazê-lo. Você pode achar isso injusto, mas freqüentemente quando alguém cai em um buraco, a tarefa de tirá-lo de lá cai sobre os ombros de um bom amigo, quando alguém se afoga em alto mar, somente alguém em um barco pode salvá-lo, é exatamente o que aconteceu conosco, caímos em um buraco, só um bom amigo poderia nos tirar de lá.

Vitor Pereira 30.09.2006

Bibliografia: Cristianismo Puro e Simples (C.S.Lewis)

Milagres: Por que são tão raros hoje?

A Ressurreição de Lázaro

Ao comparamos as páginas do livro de Atos à Igreja Cristã de hoje, percebemos uma nítida diferença. A Igreja primitiva era uma Igreja de milagres, sinais e prodígios e, no entanto, hoje não vemos o mesmo acontecendo na Igreja e nos perguntamos... Por quê?

Primeiramente penso que o evangelho vivido hoje é um evangelho bastante diferente do vivido há 2000 anos atrás. As pessoas largavam tudo para seguir a Cristo, viviam exclusivamente para Ele, enquanto hoje vivemos numa sociedade por demais secularizada. Os Apóstolos que haviam convivido três anos com o mestre estavam vivos e, sem dúvida, a nossa fé nem de longe pode ser comparada com a deles.

Outro ponto interessante a frisar é que grande parte dos milagres eram realizados por intermédio dos Apóstolos¹, os quais provavelmente tinham uma autoridade especial concedida por Jesus visto que sempre que Jesus aparece nas páginas dos evangelhos fazendo promessas mirabolantes em relação à oração, como por exemplo “tudo que pedirdes crendo, recebereis”, ele se dirigia ao grupo de apóstolos e não à multidão. Tendo convivido três anos com Cristo provavelmente eles, mais do que qualquer um, saberiam quais orações contribuiriam para o avanço do Reino de Deus e quais seriam mera vaidade. Esse mesmo poder em nossas mãos provavelmente nos motivaria a segui-lo simplesmente por conforto e comodidade. O Cristianismo, diferente de hoje, começou com um pequeno grupo que enfrentou todo tipo de situações adversas, grande perseguição, tribulações, risco de morte. Nero iniciara uma grande perseguição aos cristãos em 66dC, culpando-os pelo incêndio em Roma e todos os apóstolos, com exceção de João, morreram martirizados. Um pequeno grupo de frágeis indivíduos não seria capaz de suportar e muito menos se expandir em tais condições se não fosse com a notória ajuda divina. Os milagres eram, então, necessários para a expansão do Cristianismo. Como se não bastasse, não havia imprensa na época, não havia Bíblias de estudo em diversos idiomas, concordâncias, dicionários, comentários. Até o puro texto bíblico em si era raro e inacessível, restrito às mãos de uns poucos homens, já que o trabalho de produção de livros era trabalhoso e manual, além disso o Novo Testamento ainda não existia, as pessoas não tinham informação sobre Jesus. Assim, os milagres eram necessários como comprovação divina da veracidade da pregação dos apóstolos.

Um dos lemas da reforma protestante foi a “Sola Scriptura” (Somente as Escrituras). Lutero disse “Fiz uma aliança com Deus, que Ele não me mande sonhos nem visões, nem mesmo anjos, estou satisfeito com o dom das Escrituras que me dão instrução abundante para tudo que eu preciso saber”. Hoje temos acesso a registros históricos do que se passou na época. Temos a Bíblia, que testemunha a respeito de Jesus, tudo que precisamos saber está em nossas mãos, não precisamos de milagres e novas revelações divinas, tudo está escrito. Devemos é dar graças a Deus por permitir que vivamos um evangelho tão confortável como vivemos hoje. Mais do que com milagres, devíamos nos preocupar em refletir o caráter da Igreja primitiva, amor pelo próximo, serviço, comunhão. Quem sabe dessa forma os milagres não voltam?...

¹At 2.43
Vitor Pereira 18.10.2006

Perguntas Retóricas (Renato Fontes)

Estive pensando em algumas coisas ao longo dos últimos anos e, de tão intrigado que fico com algumas delas, decidi colocar minhas indagações na forma de perguntas. Algumas das perguntas ouvi de outros, como a 4, a 5 e a 6, que aprendi com Juan Carlos Ortiz (do livro "O discípulo"), mas a maioria veio de experiência própria. Resolvi utilizar o mesmo estilo de argumentação de Philip Yancey, no seu livro "I was just wondering" ("Perguntas que precisam de respostas", editora Textus). Afinal, como diz o ditado, "perguntar não ofende"...

Eu só queria saber:

1. Por que palavras como "paixão", "fogo", "glória", "poder" e "unção" vendem muito mais CDs do que "graça", "misericórdia" e "perdão"?

2. Por que aqueles que mais falam sobre "prosperidade" evitam sistematicamente textos como Tiago 2:5, I Timóteo 6:8 e Habacuque 3:17-18?

3. Por que se fala tanto em dízimo, defendendo-o com unhas e dentes, mas quase nada se fala sobre ter tudo em comum e outras coisas como "ajudar os domésticos na fé" e "não amar somente de palavra e de língua mas de fato e de verdade"? Em qual proporção a Bíblia fala de uma coisa e de outra?

4. Por que em Atos 4, quando os apóstolos foram presos, a igreja orou de forma tão diferente do que se ora hoje? Por que não aproveitaram a ocasião pra "amarrar o espírito de perseguição", pra "repreender a potestade de Roma", ou coisa semelhante?

5. Por que Atos 2:4 é muito mais citado como modelo do que era a igreja primitiva do que Atos 2:42?

6. Por que todo mundo sabe João 3:16 de cor, mas tão pouca gente sabe I João 3:16?

7. Por que 90% ou mais dos cânticos congregacionais modernos são na primeira pessoa do singular, quando a proporção nos salmos é muito menor?

8. Por que todo mundo aceita que Jesus curou e colheu espigas no sábado, aceita também que Deus ordenou que seu povo matasse vários povos rivais, mas se escandaliza absurdamente quando alguém diz que Raabe fez certo ao mentir para preservar duas vidas? O que vale mais, em situação de conflito, que um soldado pagão saiba a verdade ou a vida de dois homens? Será que se Raabe tivesse dito a verdade, teria sido elogiada em Hebreus 11?

9. Por que quase tudo que se vende numa livraria cristã foi produzido nos últimos 50 anos, se nosso legado é de 2.000 anos de História do Cristianismo? O que aconteceu com os outros 19 séculos e meio?

10. Por que tanta gente que acredita que a salvação é pela graça, ou seja, não é obtida sendo "bonzinho", paradoxalmente acredita que ela pode ser perdida sendo mau? Pode algo ganho sem mérito ser perdido por demérito?

11. Por que a Igreja é muito mais rigorosa com pecados sexuais como o homossexualismo do que com a gula ou a ganância? Aliás, por que em tantas igrejas a ganância nem é vista como pecado, mas como virtude, disfarçada com o nome de "prosperidade"?

12. Por que tantos evangélicos chamam seus líderes de "apóstolos", mas criticam os católicos por seguirem um líder chamado "papa"?

13. Por que, mesmo o Cristianismo crendo que o homem foi nomeado por Deus como o responsável pela criação, e que tudo que Deus criou é bom, são os esotéricos os que mais lutam pela defesa do meio-ambiente?

14. Por que, na maioria dos grupos de louvor no Brasil, não há espaço pra quem toca instrumentos brasileiros como o cavaquinho e o berimbau?

15. Por que todos os ritmos de origem na raça negra até hoje são considerados por alguns como diabólicos?

16. Por que alguém como Lair Ribeiro faria mais sucesso como pregador hoje do que, digamos, Francisco de Assis?

17. Por que se canta tanto sobre coisas tão etéreas como "rios de unção" e "chuvas de avivamento", ao passo que Jesus usava sempre figuras do cotidiano para ensinar, como sementes, pássaros e lírios?

18. Por que se amarra, todos os anos, tudo quanto é "espírito ruim" das cidades, fazendo marcha e tudo, mas as cidades continuam do mesmo jeito? Aliás, se os "espíritos ruins" já foram "amarrados" uma vez, por que todo ano eles precisam ser "amarrados" de novo?

19. Por que uma doutrina como o pré-tribulacionismo, que apregoa que Jesus vai tirar a igreja da reta de qualquer sofrimento ou perseguição, não faz sucesso algum na China, no Irã ou na Indonésia? Aliás, por que ela fazia tanto sucesso na China pré-comunista, e depois declinou por lá?

20. Por que se canta todos os dias "Hoje o meu milagre vai chegar"? Afinal, ele não chega nunca? Que dia está sendo chamado de "hoje"?

21. Por que Jó não cantou "restitui, eu quero de volta o que é meu", nem declarou ou amarrou nada, muito menos participou de "campanha de libertação" quando perdeu tudo?

22. Por que tanta gente acredita que a terra e o universo foram criados há 6 mil anos, interpretando Gênesis 1 literalmente, mas esses mesmos nunca dizem que o sol gira em torno da terra, interpretando literalmente Josué 10, tampouco dizem que a terra é retangular, interpretando literalmente a expressão bíblica "os quatro cantos da terra"?

23. Por que nós nunca vamos ao médico e pedimos, "doutor, dá pra queimar essa enfermidade pra mim por favor"? Por que então se ora pedindo isso pra Deus? Seria correto orar assim pra Deus curar alguém enfermo por causa de queimadura?

24. Por que não se faz um mega-evento evangélico, desses que reúnem um milhão de pessoas ou mais, pra fazer um mutirão para distribuir alimentos aos pobres ou ainda para recolher o lixo da cidade? Aliás, por que se emporcalha tanto as cidades com óleo e outras coisas nos tais "atos proféticos"? Não seria um melhor testemunho limpá-la ao invés de sujá-la?

25. Por que as rádios evangélicas tocam tanta coisa produzida por gravadoras ricas e nada produzido por artistas independentes?

26. Por que se faz apelo ao fim de uma "pregação" que não fez qualquer menção ao sangue, à cruz, ao arrependimento, ou sequer ao pecado?

27. Por que se enfatiza tanto a ordem bíblica para pregar a Palavra e se negligencia tanto as ordens para fazer justiça social e alimentar os famintos? Quantas vezes cada uma delas aparece na Bíblia?

28. Por que Deuteronômio 28:13 ("o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda") é tão citado, ao passo que I Coríntios 4:11-13 ("somos considerados como o lixo do mundo") ninguém gosta de citar?

29. Por que quem pensa diferente de nós é sempre "inflexível", "fariseu" ou "duro de coração" (quando não chamamos de coisa pior)?


Renato Fontes - renfontes@hotmail.com

Quem é o Cristão?

Benny Hinn X Mahatma Gandhi - Quem é o cristão?


Ontem à noite eu assisti a um documentário sobre a vida de Mahatma Gandhi. Mahatma significa “grande alma”, e pelo exemplo de sua vida, vemos que esse pequeno homem de 1,60m e 50kg, realmente tinha uma grande alma. Para quem não está familiarizado com a vida deste homem, ele foi simplesmente um dos maiores exemplos do “líder-servo”. Esse homem libertou a Índia do Império Britânico em 1947 sem usar força ou um centavo sequer e, como se não bastasse, conquistou também a paz entre hindus e muçulmanos com um simples jejum. Vendo esse exemplo é inevitável, para mim, parar e refletir sobre o mundo evangélico de hoje em dia. O que impera, e eu tenho ouvido muito ultimamente - infelizmente -, é a ‘bendita’ teologia da prosperidade. Deus te quer rico, com televisões de plasma, BMWs, mansões etc... Sem isso, afirmam os teólogos da prosperidade, você não dá testemunho da Glória de Deus. O povo, incauto que é, é levado por essas heresias por ser fraco mentalmente e não conhecer as escrituras (exatamente como disse Jesus aos Saduceus em Mt 22.29). Quem será que dá testemunho da glória de Deus: o rico pregador do evangelho no seu carro importado indiferente à miséria que o rodeia, ou o pobre ‘Mahatma’? Quem é o Cristão? Pensemos no que a Bíblia mostra: um João Batista que se vestia de roupas de pelo de camelos, em contraste com as vestes pomposas dos religiosos fariseus; um Jesus que não tinha onde reclinar a cabeça (Mt 8.20); Apóstolos que mal tinham dinheiro para comer. E, depois disso, ainda querem enfiar na nossa cabeça essa ‘maldita’ teologia da prosperidade? Compare os Apóstolos de ontem com os ‘Apóstolos’ de hoje quem será que fez/faz diferença realmente neste mundo? Compare a Igreja de Atos ontem com a Igreja de hoje, quem será que faz realmente diferença nesse mundo? É do DINHEIRO que Deus precisa? Eu respondo: NÃO. Deus precisa de homens dispostos a abrir mão do ego, dispostos a colocá-lo acima de mamom, dispostos a fazer diferença pelo fruto do espírito que nada tem a ver com dinheiro, dispostos a servir como Ele serviu, dispostos a ter seu caráter transformado. Bem-aventurados os humildes de Espírito! Bem-aventurados os que choram! Bem-aventurados os mansos! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça! Bem-aventurados os misericordiosos! Bem-aventurados os limpos de coração! Bem-aventurados os pacificadores!. É disso que Deus precisa. Jesus não usou um centavo, antes Ele deixou sua marca no mundo pelo seu caráter, pelas suas atitudes. A Igreja de hoje faz o mesmo, deixa sua marca pela (falta de) caráter, pelas suas (péssimas) atitudes, e assim seguimos nós! Não é com o seu exterior que Deus se preocupa, quem se preocupava com o exterior eram os fariseus. Ele se preocupa com seu interior, medite nas palavras do Evangelho e verás. Não é a toa que Nietzsche afirmou “O último cristão morreu há 2000 anos atrás”. Entristeço-me porque esse argumento não é falso. Não vivemos o evangelho pregado por Jesus, vivemos uma religião, como milhares de outras. Gandhi disse “O Cristo deles eu conheço, mas Deus que me aparte dos cristãos”. Concordo com ele. Vamos olhar para o exemplo do mestre e refletir sobre nossas vidas, será que somos cristãos? Sou o primeiro a dizer que não.

"Não ajunteis para vós tesouros na terra” Mt 6.19
Vitor Pereira 08/2006

O que podemos aprender com o massacre de Virginia Tech?

Cho Seung-hui durante o massacre.


Segunda-Feira, 16 de abril de 2007. Cho Seung-hui, um jovem furioso mata a tiros 32 alunos da Universidade Virginia Tech nos Estados Unidos. Acontecimentos como esse veem se tornando corriqueiros nas Universidades da maior potência do mundo. O mundo assiste em estado de choque. Como pode um alguém ser tão cruel a esse ponto? O que está errado nesse mundo para que essas coisas aconteçam? São perguntas que atravessam nossas mentes. O que os homens fizeram com a moral?

Nas Universidades dos EUA e do mundo os alunos são ensinados que não existem absolutos morais, moralidade é relativa e cultural. Em outras palavras, não há diferenças entre Madre Teresa de Calcutá e Hitler! Paremos para pensar o quão perigosa é essa filosofia de mundo ateísta e anti-cristã. Deus está morto! C.S. Lewis disse “Produzimos homens sem peito e esperamos deles virtudes e iniciativa. Caçoamos da honra e nos chocamos ao encontrar traidores entre nós. Castramos e ordenamos que os castrados sejam férteis.” Depois de retirarmos toda a referência moral, como podemos exigir que os jovens sigam algum padrão imposto pela cultura? Nós os castramos e exigimos que os castrados sejam férteis! Ensinamos que a diferença entre ódio e amor, coragem e covardia, generosidade e avareza é meramente cultural, então com que base podemos exigir que os homens sejam cidadãos morais? Criamos uma sociedade de amorais, pessoas que simplesmente não tem moral nenhuma. Vivemos como animais, levados por nossos impulsos e instintos naturais.

Isso é fruto da mudança da visão de mundo judaico-cristã para uma visão humanista ateísta. Como demonstração basta olharmos para os últimos cem anos de história. Veremos mais guerras, ditadores e mortes do que qualquer outro período histórico. Justamente um século em que “Deus está morto!” e o ateísmo tem dominado o pensamento moderno. Sem Deus, não há moralidade. C.S. Lewis, mais uma vez, disse “Uma crença dogmática em valores objetivos é necessária para a própria idéia de uma regra que não seja tirânica ou de uma obediência que não seja servil”. Devemos acordar enquanto é tempo, o caminho relativista é perigoso e continuará a produzir jovens como esse. Idéias tem conseqüências e, muitas vezes, conseqüências desastrosas. Que pelo menos esse acontecimento sirva pra mostrar que nem tudo é relativo e que nós acordemos para verdades óbvias de que nós sabemos, por natureza, a diferença entre mal e bem.

O mundo precisa de graça, de amor, de aceitação. Nos apressamos a tacar pedras em Cho Seung-hui, sem antes compreendê-lo, em suas próprias palavras: "Havia centenas de bilhões de opções e maneiras para evitar o que aconteceu hoje". Geralmente são palavras como essas que saem das bocas de jovens como Cho Seung-hui, eles apenas estão retribuindo o que receberam, ódio e menosprezo. Como acontece em todo caso como esse, o criminoso apresenta um histórico de sofrimento ao longo de sua vida. Geralmente são pessoas que tiveram pais abusivos, nunca tiveram amigos, nunca receberam amor e aceitação. Infelizmente, as pessoas só são capazes de dar o que elas recebem. Só o amor vence o ódio. Relutamos em enxergar essa realidade, enxergamos jovens como Cho Seung-hui como animais, monstros vindos diretamente de um filme de terror - bodes expiatórios de nossos próprios pecados. Resultado? Dia 16 de Abril responde da forma mais eloquente possível.

Vitor Pereira 19/04/2007

Despertai, Bereanos!

Agostinho refutando os hereges.


Este blog nasceu da insatisfação com a Igreja Evangélica atual. Uma Igreja dominada por falsos profetas, teólogos da prosperidade, evangelho triunfalista e de pouco poder transformador. Uma Igreja cheia de gente vazia e que perece por falta de conhecimento de Deus (Os 4.6). O intuito desse blog é despertar a Igreja para o espírito dos cristãos de Beréia.

"Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim." Atos 17.11

Assim como os de Beréia, devemos exercitar nosso senso crítico e não nos deixar levar por qualquer "profeta" de Deus, ou "super-herói" da fé, daqueles que quando oram fazem com que todo mundo caia, mas quando levantam continuam podres por dentro. Então, o objetivo deste blog é despertar cada um de nós para a importância do profundo conhecimento Bíblico, é despertar crentes que amam a Deus de todo seu entendimento, crentes que saibam filtrar o que ouvem e leem no meio evangélico e crentes dispostos a defender racionalmente sua fé (1Pe 3.15, Jd 3, Tt 1.9). O grande teólogo e pastor evangélico John Stott, sem dúvidas o evangélico mais respeitado atualmente, depois de refletir sobre seus 50 anos de ministério para deixar um aviso a nova geração de cristãos disse:

"Eu diria tantas coisas. Mas minha exortação principal seria essa: Não negligencie suas faculdades críticas. Lembre-se que Deus é um Deus racional, que nos fez a Sua própria imagem. Deus nos convida e espera que exploremos Sua dupla revelação, na natureza e nas Escrituras, com a mente que Ele nos deu, e prosseguir no desenvolvimento de uma mentalidade cristã para aplicar sua maravilhosa verdade revelada a cada aspecto da vida, e do mundo moderno e pós-moderno."

São estas palavras que a Igreja precisa ouvir hoje, senso crítico e conhecimento teológico. Se quisermos que a Igreja hoje tenha o mesmo poder dos tempos apostólicos devemos seguir o exemplo do maior dos apóstolos, Paulo, que era um homem extremamente letrado, conhecedor das Escrituras e da filosofia da época. Se quisermos que Igreja hoje tenha o mesmo poder que tinha na época dos grandes despertamentos do século XVIII, devemos fazer como seus líderes, que eram teólogos e profundos conhecedores da época. Nós muitas vezes gastamos 4 ou 5 anos para nos formar em psicologia ou direito, mas não empreendemos o mesmo esforço intelectual para a obra de Cristo. John Wesley, um dos grandes avivalistas, uma vez pregou a um grupo de ministros, sobre as principais características de um pregador. Qual era a primeira da lista? Capacidade de soar racional. E o que o ministro deveria estudar? "Lógica, metafísica, teologia natural e geometria". Acho que seria prudente seguir os conselhos deles. Despertai, Bereanos!

 
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