Wolfhart Pannenberg, dotado de uma incrível bagagem interdisciplinar e de uma excepcional habilidade de relacionar a Teologia com as demais disciplinas acadêmicas - incluindo a Filosofia, Sociologia, História e as Ciências Naturais - é provavelmente o mais proeminente teólogo contemporâneo. Foi aluno de Karl Barth, Edmund Schlink e Gerhard Von Rad. Pannenberg rompeu com a teologia de seus antecessores alemães , como Karl Barth, Tillich e Bultmann, que não viam a resurreição de Cristo como um fato histórico e, portanto, acessível ao escrutínio racional. Pannenberg não só rompeu com esta tradição como recolocou a Teologia na busca pela verdade, retirando-a do campo do subjetivismo extra-racional. Para ele a resurreição de Cristo é a chave para a compreensão da história. Seu magnum opus, sua Teologia Sistemática de três volumes, foi recentemente traduzido para o português pela editora Paulus. Recentemente se aposentou após 27 anos como professor de Teologia Sistemática da Universidade de Munique, Alemanha, e diretor do Instituto de Teologia Ecumênica. Tradução do alemão para o inglês por Markus Bockmuehl.
Para ler outro artigo do Pannenberg traduzido neste blog:
Como Pensar Sobre o Secularismo - Wolfhart Pannenberg
Mais informações sobre Pannenberg:
1 )Wolfhart Pannenberg's Quest for the Ultimate Truth - Stanley Grenz
2) Pannenberg - Theologian and Man
3) Wikipedia
4) Blog Teologia Contemporânea
Pode o amor ser pecaminoso? Toda a tradição doutrinária cristã ensina que há uma coisa chamada amor invertido, pervertido. Os seres humanos são criados para o amor, como criaturas do Deus que é amor. Ainda assim essa ordenação divina é corrompida sempre que as pessoas se afastam de Deus ou amam outras coisas mais do que Deus.
Jesus disse, “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim...” (Mt 10:37). Amor a Deus deve ter precedência sobre o amor aos nossos parentes, apesar do amor aos parentes ser uma ordem do quarto mandamento.
A vontade de Deus sendo a estrela guia de nossa identidade e auto-determinação. O que isso significa para o comportamento sexual pode ser visto no ensinamento de Jesus sobre o divórcio. Ao responder à pergunta dos Fariseus quanto a possibilidade do divórcio, Jesus cita a criação dos seres humanos. Aqui ele vê Deus expressando seu propósito para as criaturas: a criação confirma que Deus criou os seres humanos como macho e fêmea. Assim, deixa o homem pai e mãe para se unir a sua mulher, e os dois se tornam uma só carne.
Jesus conclui a partir disso que a união indissolúvel entre marido e esposa é a vontade de Deus para os seres humanos. A união indissolúvel do casamento, portanto, é o alvo da nossa criação como seres sexuais (Mc 10:2-9). Visto que quanto a este princípio a Bíblia não é temporal, as palavras de Jesus são o critério e o fundamento para todo pronunciamento cristão sobre a sexualidade, não somente para o casamento, mas toda nossa identidade como seres sexuais. De acordo com o ensinamento de Jesus, a sexualidade humana como macho e fêmea tem como alvo a união indissolúvel do casamento. Esse padrão instrui o ensinamento cristão sobre todo comportamento sexual.
A perspectiva de Jesus corresponde à tradição judaica, apesar de sua ênfase na indissolubilidade do casamento ir além da prescrição do divórcio dentro da lei Judaica (Dt 24.1). Era uma convicção judaica que os homens e as mulheres em suas identidades sexuais são planejados para a comunidade do casamento. Isso também vale para as determinações do Velho Testamento que fogem a esta norma, incluindo a fornicação, adultério e as relações homossexuais.
As determinações bíblicas quanto à prática homossexual são muito claras e não dão margem à ambiguidade em sua rejeição a tal prática, e todas suas afirmações sobre esse assunto concordam mutuamente sem exceções. O Código de Santidade, em Levítico, sem controvérsias afirma, “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é.” (Lv 18:22). Levítico 20 inclui o comportamento homossexual entre os crimes que merecem pena capital (Lv 20:13, é significativo que o mesmo se aplica ao adultério no versículo 10). Sobre este assunto, o Judaísmo sempre se viu como distinto das outras nações.
Essa mesma distinção continua a determinar as afirmações do Novo Testamento sobre a homossexualidade, em contraste à cultura Helenista que não via problema algum com as relações homossexuais. Em Romanos, Paulo inclui o comportamento homossexual entre as consequências de se afastar de Deus (1:27). Em 1 Coríntios, a prática homossexual está, junto da fornicação, adultério, idolatria, avareza, bebedeira, furto e roubo, entre os comportamentos que impedem a entrada no reino de Deus (6:9-10); Paulo afirma que através do batismo os cristão se tornaram livres do relacionamento com tais práticas (6:11)
O Novo Testamento não contém nenhuma passagem sequer que possa indicar uma afirmação mais positiva da prática homossexual que possa contrabalançar essas afirmações Paulinas. Assim, o testemunho bíblico inclui a prática do homossexualismo, sem exceções, entre os tipos de comportamentos que expressam notavelmente a humanidade afastada de Deus. Esse resultado exegético coloca amarras estreitas na visão sobre a homossexualidade que uma Igreja sob a autoridade das Escrituras pode ter. As afirmações bíblicas sobre este assunto simplesmente representam o resultado negativo à visão positiva da Bíblia sobre o propósito da criação do homem e da mulher como seres sexuais.
Estes textos que são negativos em relação ao comportamento homossexual não lidam simplesmente com opiniões marginais que pudessem ser negligenciadas sem prejuízo à mensagem cristã como um todo. Ainda mais, as afirmações bíblicas sobre a homossexualidade não podem ser relativizadas como expressões de uma cultura que hoje está ultrapassada. O testemunho bíblico era deliberadamente oposto à cultura que o circundava em nome da fé no Deus de Israel, que, na criação, designou o homem e a mulher para uma identidade particular.
Aqueles que advogam uma mudança na visão da Igreja sobre a homossexualidade geralmente apontam que as afirmações bíblicas não estavam cientes de modernas e importantes evidências antropológicas. Essa nova evidência, dizem, sugere que a homossexualidade deve ser vista como um constituinte da identidade psicossomática das pessoas homossexuais anterior a qualquer expressão sexual. (Para o bem da clareza é melhor falar aqui de uma inclinação homofílica como distante da prática homossexual.) Tal fenômeno ocorre não somente em pessoas ativas na homossexualidade. Mas a inclinação não precisa ditar a prática. É característica dos seres humanos que nossos impulsos sexuais não estão confinados a um âmbito do comportamento separado; eles permeiam nosso comportamento em toda área da vida. Isso, é claro, inclui as relações com pessoas do mesmo sexo. Entretanto, justamente porque as motivações eróticas estão envolvidas em todos os aspectos do comportamento humano, nós temos a tarefa de integrá-los ao todo da nossa vida e conduta.
A simples existência de inclinações homofílicas não leva automaticamente à prática homossexual. Ao invés, essas inclinações podem ser integradas numa vida na qual elas são subordinadas ao relacionamento com o sexo oposto onde, de fato, o assunto da atividade sexual não deveria ser o centro determinante da vocação e vida humanas. Como o sociólogo Helmut Schelsky corretamente colocou, uma das realizações do casamento como uma instituição é o aproveitamento da sexualidade humana a serviço de objetivos e tarefas posteriores.
A realidade das inclinações homofílicas, portanto, não precisam ser negadas e não devem ser condenadas. A questão, entretanto, é como lidar com tais inclinações dentro da tarefa humana de dirigir nosso comportamento de maneira responsável. Esse é o problema real; e é aqui que devemos lidar com a conclusão que a atividade homossexual é um desvio da norma para o comportamento sexual que foi dada aos homens e mulheres como criaturas de Deus. Para a Igreja esse é o caso não só da atividade homossexual, mas de qualquer atividade sexual que não tem como objetivo o casamento entre homem e mulher, em particular o adultério.
A Igreja tem que viver com o fato de que, nessa área da vida como em outras, desvios da norma não são excepcionais mas, antes, comuns e difundidos. A Igreja deve lidar com todos os envolvidos com tolerância e compreensão, mas também levá-los ao arrependimento. Ela não pode abandonar a distinção entre a norma e o comportamento que se desvia da norma.
Aqui estão os limites de uma Igreja cristã que está sujeita à autoridade das Escrituras. Aqueles que argumentam que a Igreja deve mudar esta norma devem estar cientes que estão promovendo divisões. Se uma igreja fosse se deixar levar ao ponto onde deixasse de tratar a atividade homossexual como um desvio da norma bíblica e reconhecesse as uniões homossexuais como uma parceria pessoal de amor equivalente ao casamento, tal igreja não mais estaria sobre bases bíblicas, mas contra o testemunho inequívoco das Escrituras. Uma igreja que desse esse passo deixaria de ser a Igreja una, santa, católica e apostólica.
Esclarecimento: no mesmo momento em que foi publicada esta tradução aqui neste blog, outro blog, o BlogFiel, produziu outra tradução do mesmo artigo que pode ser vista aqui:
http://blogfiel.com.br/2010/03/devemos-apoiar-o-casamento-gay-nao/
Apesar da coincidência as traduções são diferentes e, portanto, tiveram tradutores diferentes.
Para ler outro artigo do Pannenberg traduzido neste blog:
Como Pensar Sobre o Secularismo - Wolfhart Pannenberg
Mais informações sobre Pannenberg:
1 )Wolfhart Pannenberg's Quest for the Ultimate Truth - Stanley Grenz
2) Pannenberg - Theologian and Man
3) Wikipedia
4) Blog Teologia Contemporânea
Pode o amor ser pecaminoso? Toda a tradição doutrinária cristã ensina que há uma coisa chamada amor invertido, pervertido. Os seres humanos são criados para o amor, como criaturas do Deus que é amor. Ainda assim essa ordenação divina é corrompida sempre que as pessoas se afastam de Deus ou amam outras coisas mais do que Deus.
Jesus disse, “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim...” (Mt 10:37). Amor a Deus deve ter precedência sobre o amor aos nossos parentes, apesar do amor aos parentes ser uma ordem do quarto mandamento.
A vontade de Deus sendo a estrela guia de nossa identidade e auto-determinação. O que isso significa para o comportamento sexual pode ser visto no ensinamento de Jesus sobre o divórcio. Ao responder à pergunta dos Fariseus quanto a possibilidade do divórcio, Jesus cita a criação dos seres humanos. Aqui ele vê Deus expressando seu propósito para as criaturas: a criação confirma que Deus criou os seres humanos como macho e fêmea. Assim, deixa o homem pai e mãe para se unir a sua mulher, e os dois se tornam uma só carne.
Jesus conclui a partir disso que a união indissolúvel entre marido e esposa é a vontade de Deus para os seres humanos. A união indissolúvel do casamento, portanto, é o alvo da nossa criação como seres sexuais (Mc 10:2-9). Visto que quanto a este princípio a Bíblia não é temporal, as palavras de Jesus são o critério e o fundamento para todo pronunciamento cristão sobre a sexualidade, não somente para o casamento, mas toda nossa identidade como seres sexuais. De acordo com o ensinamento de Jesus, a sexualidade humana como macho e fêmea tem como alvo a união indissolúvel do casamento. Esse padrão instrui o ensinamento cristão sobre todo comportamento sexual.
A perspectiva de Jesus corresponde à tradição judaica, apesar de sua ênfase na indissolubilidade do casamento ir além da prescrição do divórcio dentro da lei Judaica (Dt 24.1). Era uma convicção judaica que os homens e as mulheres em suas identidades sexuais são planejados para a comunidade do casamento. Isso também vale para as determinações do Velho Testamento que fogem a esta norma, incluindo a fornicação, adultério e as relações homossexuais.
As determinações bíblicas quanto à prática homossexual são muito claras e não dão margem à ambiguidade em sua rejeição a tal prática, e todas suas afirmações sobre esse assunto concordam mutuamente sem exceções. O Código de Santidade, em Levítico, sem controvérsias afirma, “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é.” (Lv 18:22). Levítico 20 inclui o comportamento homossexual entre os crimes que merecem pena capital (Lv 20:13, é significativo que o mesmo se aplica ao adultério no versículo 10). Sobre este assunto, o Judaísmo sempre se viu como distinto das outras nações.
Essa mesma distinção continua a determinar as afirmações do Novo Testamento sobre a homossexualidade, em contraste à cultura Helenista que não via problema algum com as relações homossexuais. Em Romanos, Paulo inclui o comportamento homossexual entre as consequências de se afastar de Deus (1:27). Em 1 Coríntios, a prática homossexual está, junto da fornicação, adultério, idolatria, avareza, bebedeira, furto e roubo, entre os comportamentos que impedem a entrada no reino de Deus (6:9-10); Paulo afirma que através do batismo os cristão se tornaram livres do relacionamento com tais práticas (6:11)
O Novo Testamento não contém nenhuma passagem sequer que possa indicar uma afirmação mais positiva da prática homossexual que possa contrabalançar essas afirmações Paulinas. Assim, o testemunho bíblico inclui a prática do homossexualismo, sem exceções, entre os tipos de comportamentos que expressam notavelmente a humanidade afastada de Deus. Esse resultado exegético coloca amarras estreitas na visão sobre a homossexualidade que uma Igreja sob a autoridade das Escrituras pode ter. As afirmações bíblicas sobre este assunto simplesmente representam o resultado negativo à visão positiva da Bíblia sobre o propósito da criação do homem e da mulher como seres sexuais.
Estes textos que são negativos em relação ao comportamento homossexual não lidam simplesmente com opiniões marginais que pudessem ser negligenciadas sem prejuízo à mensagem cristã como um todo. Ainda mais, as afirmações bíblicas sobre a homossexualidade não podem ser relativizadas como expressões de uma cultura que hoje está ultrapassada. O testemunho bíblico era deliberadamente oposto à cultura que o circundava em nome da fé no Deus de Israel, que, na criação, designou o homem e a mulher para uma identidade particular.
Aqueles que advogam uma mudança na visão da Igreja sobre a homossexualidade geralmente apontam que as afirmações bíblicas não estavam cientes de modernas e importantes evidências antropológicas. Essa nova evidência, dizem, sugere que a homossexualidade deve ser vista como um constituinte da identidade psicossomática das pessoas homossexuais anterior a qualquer expressão sexual. (Para o bem da clareza é melhor falar aqui de uma inclinação homofílica como distante da prática homossexual.) Tal fenômeno ocorre não somente em pessoas ativas na homossexualidade. Mas a inclinação não precisa ditar a prática. É característica dos seres humanos que nossos impulsos sexuais não estão confinados a um âmbito do comportamento separado; eles permeiam nosso comportamento em toda área da vida. Isso, é claro, inclui as relações com pessoas do mesmo sexo. Entretanto, justamente porque as motivações eróticas estão envolvidas em todos os aspectos do comportamento humano, nós temos a tarefa de integrá-los ao todo da nossa vida e conduta.
A simples existência de inclinações homofílicas não leva automaticamente à prática homossexual. Ao invés, essas inclinações podem ser integradas numa vida na qual elas são subordinadas ao relacionamento com o sexo oposto onde, de fato, o assunto da atividade sexual não deveria ser o centro determinante da vocação e vida humanas. Como o sociólogo Helmut Schelsky corretamente colocou, uma das realizações do casamento como uma instituição é o aproveitamento da sexualidade humana a serviço de objetivos e tarefas posteriores.
A realidade das inclinações homofílicas, portanto, não precisam ser negadas e não devem ser condenadas. A questão, entretanto, é como lidar com tais inclinações dentro da tarefa humana de dirigir nosso comportamento de maneira responsável. Esse é o problema real; e é aqui que devemos lidar com a conclusão que a atividade homossexual é um desvio da norma para o comportamento sexual que foi dada aos homens e mulheres como criaturas de Deus. Para a Igreja esse é o caso não só da atividade homossexual, mas de qualquer atividade sexual que não tem como objetivo o casamento entre homem e mulher, em particular o adultério.
A Igreja tem que viver com o fato de que, nessa área da vida como em outras, desvios da norma não são excepcionais mas, antes, comuns e difundidos. A Igreja deve lidar com todos os envolvidos com tolerância e compreensão, mas também levá-los ao arrependimento. Ela não pode abandonar a distinção entre a norma e o comportamento que se desvia da norma.
Aqui estão os limites de uma Igreja cristã que está sujeita à autoridade das Escrituras. Aqueles que argumentam que a Igreja deve mudar esta norma devem estar cientes que estão promovendo divisões. Se uma igreja fosse se deixar levar ao ponto onde deixasse de tratar a atividade homossexual como um desvio da norma bíblica e reconhecesse as uniões homossexuais como uma parceria pessoal de amor equivalente ao casamento, tal igreja não mais estaria sobre bases bíblicas, mas contra o testemunho inequívoco das Escrituras. Uma igreja que desse esse passo deixaria de ser a Igreja una, santa, católica e apostólica.
Esclarecimento: no mesmo momento em que foi publicada esta tradução aqui neste blog, outro blog, o BlogFiel, produziu outra tradução do mesmo artigo que pode ser vista aqui:
http://blogfiel.com.br/2010/03/devemos-apoiar-o-casamento-gay-nao/
Apesar da coincidência as traduções são diferentes e, portanto, tiveram tradutores diferentes.
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