Essa resposta do W.L.Craig é uma ótima introdução à apologética. Ele apresenta boas ferramentas ao leigo que quer estar "sempre preparado para responder a razão da nossa fé" (1 Pe 3.15). Recomendo para todo cristão!
Pergunta:
Dr. Craig, eu estudo na Universidade do Estado de Louisiana e trabalho na biblioteca da faculdade. De todas as pessoas com quem eu trabalho, metade são agnósticas e a outra metade ateísta. Eu me tornei um cristão nascido-de-novo há pouco mais de um ano, após cinco anos de ateísmo. Eu tenho percebido que muitos jovens creem, como eu cria, que a religião é coisa estúpida e de que não há Deus algum. Eu sequer menciono religião para meus colegas de trabalho e alguns deles, ainda assim, dizem coisas horríveis a respeito da religião e do Cristianismo. Eu trabalho com um inglês que diz que seu país é muito não-religioso onde até a menção do nome de Deus é ridicularizada. A América do Norte também tem se tornado descrente. Preocupo-me com nosso futuro. Não sei como combater o ateísmo. Sou cristão, convertido por experiências pessoais, não sou filósofo. Ateus pedem por respostas, respostas que eu não tenho tempo para procurar. Estou fazendo três graduações na LSU e nenhuma delas é filosofia. Como pode um simples estudante leigo, como eu, se tornar um decente defensor do Cristianismo contra esse colegas ateus? Sempre defenderei minha crença em Cristo, mas eles procuram por algo mais do que eu creio. Eles dizem que os crentes são estúpidos e ilógicos, portanto eu gostaria de argumentar fundamentado na lógica e provar a eles que os crentes não são estúpidos. Como alguém que não tem tempo de aprender filosofia ou ler teologia pode debater contra esses descrentes mente-fechada?
John
Dr. Craig responde:
Tendo já falado duas vezes na LSU, eu fiquei surpreso com a atmosfera de descrença que caracteriza a comunidade universitária lá. Isso lhe dá a oportunidade de ser ainda mais luz na escuridão.
Respondo a sua pergunta esta semana, John, porque eu penso que é uma pergunta que muitos cristãos encaram. Não temos tempo para nos tornarmos hábeis apologistas, e ainda assim nos encontramos em situação nas quais somos chamados a apresentar uma "razão para a esperança que há em nós" (1 Pedro 3.15). O que devemos fazer?
Algo fácil que podemos fazer é aprender a formular questões. Greg Kouhl recomenda fazermos duas perguntas aos descrentes:
1. O que você quer dizer com isso?
2. Que razões você tem para pensar isso?
É incrível como essas duas simples perguntas são capazes de embaralhar as pessoas! Por exemplo, pergunte ao descrente o que ele quer dizer quando diz que não acredita em Deus - ele é ateu ou agnóstico? (Prepare-se para explicar a diferença para ele!). O que quer que ele diga, pergunte-o, "Que razões você tem para pensar isso?" Muitas pessoas sequer entendem o que querem dizer com suas afirmações, e provavelmente a maioria não tem boas razões para elas. Enquanto você estiver fazendo perguntas, você não está fazendo afirmação nenhuma, portanto não tem que provar nada. Deixe o ônus da prova com os descrentes.
Outra coisa que você pode fazer é se referir a alguma fonte. Você não precisa ter um cérebo para dizer a alguém, "Você já viu a Blackwell Companion to Natural Theology? Antes de dizer que não há teístas inteligentes e nenhuma boa razão para crer em Deus, talvez seja melhor você dar uma olhada nesse livro primeiro. Caso contrário, você não estará realmente informado". Você não precisar ter lido esses livros se estiver com o tempo apertado. Tudo que você precisa é conhecer alguns títulos: God, Freedom, and Evil, de Alvin Plantinga. The Existence of God, de Richard Swinburne. Finite and Infinite Goods: A Framework for Ethics, de Robert Adams. The Book of Acts in the Setting of Hellenistic History, de Colin Hemer. Jesus Remembered, de James D. G. Dunn. The Resurrection of the Son of God, de N. T. Wright. Envergonhe o descrente pela sua ignorância dessa literatura. Se ele for alguém sincero, recomende que ele pesquisa neste site ou assista a um debate.
Terceiro, aprenda a citar nomes de estudiosos cristãos. Quando o descrente lhe disser que todos os cristãos são ignorantes, mostre-se surpreso e diga surpreendido, "Você realmente acha isso? O que você acha da obra de Alvin Plantinga - ou de William Alston?". Citar nomes pode ser desagradável quando alguém está querendo aparecer, mas num caso como este, você está apenas oferecendo contra-exemplos à alegação de que todos os cristãos são ignorantes, uma visão que está enraizada na ignorância. Aqui vão alguns nomes para serem mencionados: filósofos: Alvin Plantinga* (Universidade de Notre Dame), Peter van Inwagen (Universidade de Notre Dame), William Alston (Universidade de Syracuse), Richard Swinburne (Oxford), Robert Adams (Universidade da Carolina do Norte), Dean Zimmerman (Universidade Rutgers); cientistas: Francisco Ayala (altamente condecorado biólogo evolucionista), Allan Sandage (o astrônomo mais famoso do mundo), Christopher Isham (O maior cosmologista quantum do Reino Unido), George Ellis (uma vez descrito pra mim por um colega como a pessoa que mais sabe de cosmologia do que qualquer homem vivo), Francis Collins (líder do projeto genoma); estudiosos do Jesus histórico: John Meier (autor do estudo multi-volume sobre o Jesus histórico), N. T. Wright (outro grande escritor de obras sobre Jesus, James D. G. Dunn (grande estudioso da Universidade de Durham), Craig Evans (canadense estudioso do Jesus histórico de primeira linha). Pergunte ao descrente como ele pode fazer qualquer afirmação crível sobre o calibre intelectual dos cristãos se ele jamais leu qualquer destes estudiosos.
Quarto, apresente esta réplica às afirmações dele:
"Deixe-me ver se eu entendi: seu argumento é que
1. Cristãos são estúpidos e ilógicos.
2. Portanto, o Cristianismo não é verdadeiro.
Agora me explique como (2) se segue logicamente de (1)?"
Quem está sendo ilógico agora? Você pode até escrever a premissa e a conclusão num papel para ele. Pergunte a ele como a conclusão segue logicamente da premissa. Se ele quiser adicionar algumas premissas ao argumento, vá em frente e deixe-o fazê-lo, e então lhe pergunte quais razões ele tem para pensar que as premissas são verdadeiras. Diga a ele que atacar a inteligência dos cristãos em vez de atacar a visão dos mesmos é cair na falácia de argumentar ad hominem (a falácia de atacar a pessoa em vez da visão da pessoa). Novamente, quem é o ilógico?
Finalmente, John, deixe de dar desculpas e tire algum tempo para se preparar. Você pode tirar uma hora por semana, todo Sábado ou Domingo, e estudar um capítulo de On Guard. Você terminará em dez semanas. Memorize as premissas dos argumentos teístas para que estejam na ponta da língua. Eu garanto que se você fizer isso, estará preparado para lidar com quase todo descrente que cruzar seu caminho. Não é tão difícil, John! Sei que você é ocupado com suas aulas e trabalhos de casa, mas não posso crer que você não consegue arrumar uma hora da semana para investir na preparação apologética. Se fizer isso, não se arrependerá.
O texto original se encontra em: ReasonableFaith.org
Obs.: Só há um problema na resposta do W.L. Craig: a maioria das fontes que ele cita não existe em português - para infelicidade nossa! Sendo assim, temos que buscar alternativas aos recursos que ele indica, aqui vão algumas dicas:
(1) Alvin Plantinga, o filósofo citado pelo Craig, não tem nenhuma obra traduzida para o português, mas este blog é, talvez, a maior fonte de artigos traduzidos de Plantinga, tais artigos podem ser lidos aqui:
(2) Uma das melhores fontes de recursos apologéticos para nós brasileiros é o site Apologia.com.br
(2) O livro On Guard, que não tem tradução para o português, pode ser substituído por outro livro do W.L. Craig: A Veracidade da Fé Cristã
(4) Considero as seguintes obras a melhor introdução à apologética: (1) Cristianismo Puro e Simples - C.S.Lewis (2) Em Defesa de Cristo - Lee Strobel (3) Em Defesa da Fé - Lee Strobel (4) A Veracidade da Fé Cristã - W.L. Craig. Lendo tais obras você já será capaz de apresentar uma sólida defesa da fé cristã.
(5) Pesquise, pesquise e pesquise! A internet tem muitos recursos sobre os livros e autores citados pelo W.L. Craig - PESQUISE! Caso alguém precise de mais informações podem me escrever que eu responderei prontamenet.
9 comentários:
nao tem nada a ver com o post, mas gostaria de saber o q vc pensa sobre a documentary hypothesis
Não conheço o documentário, amigo!
É uma pena mesmo não termos a maioria desses autores em português.
Em uma breve pesquisa, encontrei alguns livros. Creio que você já os conhece:
A Teologia do Apóstolo Paulo, de James Dunn, Ed. Paulus.
O Jesus Fabricado - Craig Evans, Ed. Cultura Cristã.
A Fé na Era do Ceticismo - Tim Keller, Ed. Campus
A Verdade Sobre o Cristianismo - Dinesh D'Souza. Ed. Thomas Nelson
Judas e o Evangelho de Jesus, N. T. Wright. Ed. Loyola
Fundamentos do Diálogo entre Ciência e Religião, Alister McGrath, Ed. Loyola
Gostaria de parabenizá-lo por todo esse ministério aqui.
Muitíssimo interessante seu Blog.
Ótima tradução (ainda não terminei de ler)neste post.
Eu caí aqui nos eu Blog procurando no google algum cristão ou alguém contra coisas que apoia o gabeira mas que tivessem argumentos para votar nele, procurava sobre sua candidatura como governador mas acabei achando a de prefeito.
Essa é minha primeira eleição e eu realmente não me empolgava com política, até que conheci a candidata a presidente Marina Silva que é evangélica e portadora de verdadeiros ideais cristãos, mas coerente com a democracia (ressalto isso pelo fato dela defender os direitos de união civil homossexual).
O fato dela ser evangélica não foi determinante para minha escolha. Eu já tinha me interessado nela mesmo antes de saber que ela era evangélica, quando soube que foi eleita pelo jornal britânico The Guardian uma das 50 pessoas que podem ajudar a salvar o planeta, e quando via as baixarias e falcatruas que os outros dois maiores candidatos (Dilma e Serra) se envolviam.
Depois pesquisei mais e a cada informação que vejo sobre ela mais aumenta minha admiração e certeza do meu voto e de militância para convencer os outros a votar consciente.
Fico curioso: Qual sua opinião a respeito dela?
(desculpe o comentário gigantesco)
Valeu, Daniel!
Muito boas indicações!
Documentary hypothesis eh a teoria da Alta crítica que considera o Pentateuco resultado de um conjunto de documentos de varios autores.
O post me lembrou Bart Ehrman vs William Lane Craig, q me lembrou da teoria...
Vítor, paz!
Bom trabalho-o. Divulgue-o no Facebook e no Twitter - se é que ainda não fez isso.
Abraços!
Avion:
Ah, sim! Já ouvi falar sobre o assunto, mas Antigo Testamento não é minha praia! Mas tenho um pé atrás com tais teorias. Creio que altamente especulativas!
Zwinglio:
Já o fiz!
Abraços!
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