Tradução: Rodrigo Gonçalves de Souza
Anglicano da IEAB, Missão Santo Agostinho de Cantuária
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colabora como convidado em adcummulus.blogspot.com
Muitas coleções de artigos de um estudioso bíblico publicados anteriormente sobre um tópico não parecem merecer ainda mais um livro em uma indústria já saturada. Ninguém pode com imparcialidade, acusar este volume de cair nesta categoria. Richard Bauckham, recentemente aposentado da Universidade de St. Andrews, tem uma distinta carreira como um escritor prolífico sobre uma incrível variedade de temas, sem dúvida nenhum deles mais importantes do que suas obras sobre o Evangelho de João. Apesar de que o oferecido neste volume são reimpressões ou revisões de ensaios que tenham surgido noutras ocasiões (e um é uma reformulação de uma seção de um livro recente de Bauckham), muitos foram disponibilizados em fontes pouco conhecidas e todos merecem a maior audiência e contexto que a sua apresentação neste volume irá proporcionar.
O Capítulo "Características Historiográficas do Evangelho de João" apresenta elementos que ligam este documento mais com história do que biografia, ou, pelo menos, mais do que no Sinóticos. Estes elementos incluem informações precisas de topografia e cronologia e a utilização de testemunhas oculares e numerosos discursos ou diálogos Nada disso torna o Evangelho necessariamente preciso em tudo que apresenta, mas deixa a porta aberta para tal conclusão dado gênero literário que resulta deste estudo. O Capítulo "A Audiência do Evangelho de João" demonstra quão pobremente as influências da abordagem de J..L Martyn, de uma leitura de dois níveis da narrativa (algumas poucas coisas reais da vida de Jesus, mas mais transparecendo as realidades do final do primeiro século) realmente funcionam. As passagens de excomunhão podem não refletir qualquer vasto emprego da Birkath-ha-Minim [ Bênção dos hereges, que fora promulgada na liturgia judaica a partir do Concílio de Jamnia – final do séc.I - para excomungar alguns considerados hereges, como os cristãos, que até então incluíam alguns que buscavam participar dos ritos comunais judaicos – N. do T.], numerosos personagens obviamente não representam alguém da comunidade de João ou sua oposição, e o uso geral da Patrística via a audiência de João como a mais ampla e não sectária.
A comparação entre o dualismo, nos Rolos do Mar Morto, especialmente no que diz respeito à luz e as trevas, mostra que os paralelos com o João não estão tão perto quanto às vezes se tem mantido. Estudiosos foram corretos ao balançar o pêndulo para longe do pano de fundo greco-romano para judaicos para esses fenômenos e correlacionados, mas o caso de fazê-lo pode ser ainda melhor visualizado simplesmente pelos paralelos do Antigo Testamento. A literatura rabínica e Josefo referem-se a pelo menos dois poderosos e ricos líderes judaicos pelo nome de Nicodemos na elite da família Gurion. Provavelmente não há nenhuma combinação com o de João, mas dada a freqüente prática do reaproveitamento de alcunhas familiares e a raridade deste nome particular fora desta família, tudo no Quarto Evangelho sobre Nicodemos reverbera verossimilhança. .
Lázaro, Marta e Maria, por outro lado, eram nomes judeus extremamente comuns. Portanto, o aparecimento do Lázaro ressurreto, em João 11 não requer as hipóteses de empréstimos da parábola de Lucas 16:19-31. Afinal, nenhuma ressurreição é requisitada lá, apenas uma aparição temporária a partir do reino dos mortos. Por outro lado, os retratos das duas irmãs que mostram a combinação certa de semelhanças e diferenças entre Lucas 10:38-42 e João 11/12 sugerem que João pode muito bem fornecer retratos historicamente precisos sem simplesmente tomar emprestado de Lucas. Semelhante lógica apóia a autenticidade da cena do caminhar sobre as águas em João 13- a coerência com a logia [Na erudição do Novo Testamento, o termo logia refere-se primariamente à suposta coleção dos ditos de Jesus que se acredita ter sido mencionada por Papias. N. do T.] empregada sem paralelismo íntimo o suficiente para sugerir dependência em qualquer ponto.
Em um estudo do messianismo judaico, no Quarto Evangelho, Bauckham mostra como os vários retratos de Jesus como Cristo, profeta como Moisés, e Filho do Homem todos refletem o justo equilíbrio da coerência com os substratos judaicos e encaixam com a “progressiva auto-revelação” de Jesus, como para ser credível nos contextos aos quais João atribuiu-os. Em seu enfoque sobre monoteísmo e Cristologia neste Evangelho, Bauckham mostra como os ditos de Jesus referentes a "unidade com o Pai”, o “Eu-Sou” e outros exemplos deste exercício das suas prerrogativas divinas nunca são redigidas de forma a sugerir um comprometimento para com o monoteísmo. Na verdade, os relevantes substratos do Antigo Testamento mostram que o que se traz de Jesus é justamente que a sua relação com o Pai "é parte integral para que Deus seja O Único" (p. 252).
A santidade de Jesus no Quarto Evangelho é para ser espelhada na santidade dos discípulos, com exceção de que ela não é absoluta para eles, e (portanto) eles não são expiadores dos pecados do mundo, como Cristo foi. Mas os separa do mundo para que possam ser portadores de sua mensagem para o mundo. O misterioso número 153 para a quantidade de peixes capturados em João 21:11 deve ser entendido como altamente simbólico, dada a característica prevalecente do simbolismo algébrico judaico nos dias de João. Além de endossar algumas sugestões anteriores, Bauckham observa que o equivalente numérico do grego das quatro palavras-chave no primeiro "término" do Evangelho de João 20:30-31 para "assinar", "crer", "Cristo" e "vida" são 17, 98, 19 e 36, respectivamente. 153 é o "triângulo" de número 17 (a soma dos números de 1 a 17, e a soma de 98, 19 e 36 também é 153). O que quer que tudo isso mais implique, certamente sugere que a mesma pessoa por trás do capítulo 21 escreveu o restante do Evangelho [ Paul S. Minear, em “The Original Functions of John 21”, 1985, já havia feito uma vigorosa defesa dessa posição – N. do T.] !
Uma breve resenha dificilmente pode avaliar cada uma destas contribuições pormenorizadamente. Pergunto-me se para Bauckham, “João, o Ancião”, que tão estreitamente se assemelha ao filho de Zebedeu em perfil, teria sido tão facilmente reconhecido como distinto dele, especialmente desde que o único personagem chamado João no Quarto Evangelho é o Batista, mas a ele nunca é dado este epíteto. Alguém que não seja João, filho de Zebedeu, foi capaz de fazer isto sem temer ambigüidades, especialmente quando o Evangelho circulou para muito além dos seus iniciais destinatários efésios - como Bauckham salienta? É preciso escolher entre Bauckham e Larry Hurtado, por exemplo, o qual salienta a segregação parcial do monoteísmo em várias vertentes de judaísmos periféricos em binitarianismo? Apesar das notáveis coincidências de somas numéricas, temos qualquer controle sobre tais especulações algébricas para dar-nos alguma confiança que João realmente pretendeu isto?
Mas estas são bagatelas menores. Globalmente, este é uma coleção de ensaios extraordinariamente meticulosa, criativa, e que mesmo rompe paradigmas, sendo que cada um merece um estudo cuidadoso, e quase todos merecem aceitação generalizada. Adquira este livro, maravilhe-se com ele e digira-o. Bauckham deve ser tão mais esclarecido e lúcido na sua aposentadoria quanto ele fora durante a sua ilustre carreira!
O Capítulo "Características Historiográficas do Evangelho de João" apresenta elementos que ligam este documento mais com história do que biografia, ou, pelo menos, mais do que no Sinóticos. Estes elementos incluem informações precisas de topografia e cronologia e a utilização de testemunhas oculares e numerosos discursos ou diálogos Nada disso torna o Evangelho necessariamente preciso em tudo que apresenta, mas deixa a porta aberta para tal conclusão dado gênero literário que resulta deste estudo. O Capítulo "A Audiência do Evangelho de João" demonstra quão pobremente as influências da abordagem de J..L Martyn, de uma leitura de dois níveis da narrativa (algumas poucas coisas reais da vida de Jesus, mas mais transparecendo as realidades do final do primeiro século) realmente funcionam. As passagens de excomunhão podem não refletir qualquer vasto emprego da Birkath-ha-Minim [ Bênção dos hereges, que fora promulgada na liturgia judaica a partir do Concílio de Jamnia – final do séc.I - para excomungar alguns considerados hereges, como os cristãos, que até então incluíam alguns que buscavam participar dos ritos comunais judaicos – N. do T.], numerosos personagens obviamente não representam alguém da comunidade de João ou sua oposição, e o uso geral da Patrística via a audiência de João como a mais ampla e não sectária.
A comparação entre o dualismo, nos Rolos do Mar Morto, especialmente no que diz respeito à luz e as trevas, mostra que os paralelos com o João não estão tão perto quanto às vezes se tem mantido. Estudiosos foram corretos ao balançar o pêndulo para longe do pano de fundo greco-romano para judaicos para esses fenômenos e correlacionados, mas o caso de fazê-lo pode ser ainda melhor visualizado simplesmente pelos paralelos do Antigo Testamento. A literatura rabínica e Josefo referem-se a pelo menos dois poderosos e ricos líderes judaicos pelo nome de Nicodemos na elite da família Gurion. Provavelmente não há nenhuma combinação com o de João, mas dada a freqüente prática do reaproveitamento de alcunhas familiares e a raridade deste nome particular fora desta família, tudo no Quarto Evangelho sobre Nicodemos reverbera verossimilhança. .
Lázaro, Marta e Maria, por outro lado, eram nomes judeus extremamente comuns. Portanto, o aparecimento do Lázaro ressurreto, em João 11 não requer as hipóteses de empréstimos da parábola de Lucas 16:19-31. Afinal, nenhuma ressurreição é requisitada lá, apenas uma aparição temporária a partir do reino dos mortos. Por outro lado, os retratos das duas irmãs que mostram a combinação certa de semelhanças e diferenças entre Lucas 10:38-42 e João 11/12 sugerem que João pode muito bem fornecer retratos historicamente precisos sem simplesmente tomar emprestado de Lucas. Semelhante lógica apóia a autenticidade da cena do caminhar sobre as águas em João 13- a coerência com a logia [Na erudição do Novo Testamento, o termo logia refere-se primariamente à suposta coleção dos ditos de Jesus que se acredita ter sido mencionada por Papias. N. do T.] empregada sem paralelismo íntimo o suficiente para sugerir dependência em qualquer ponto.
Em um estudo do messianismo judaico, no Quarto Evangelho, Bauckham mostra como os vários retratos de Jesus como Cristo, profeta como Moisés, e Filho do Homem todos refletem o justo equilíbrio da coerência com os substratos judaicos e encaixam com a “progressiva auto-revelação” de Jesus, como para ser credível nos contextos aos quais João atribuiu-os. Em seu enfoque sobre monoteísmo e Cristologia neste Evangelho, Bauckham mostra como os ditos de Jesus referentes a "unidade com o Pai”, o “Eu-Sou” e outros exemplos deste exercício das suas prerrogativas divinas nunca são redigidas de forma a sugerir um comprometimento para com o monoteísmo. Na verdade, os relevantes substratos do Antigo Testamento mostram que o que se traz de Jesus é justamente que a sua relação com o Pai "é parte integral para que Deus seja O Único" (p. 252).
A santidade de Jesus no Quarto Evangelho é para ser espelhada na santidade dos discípulos, com exceção de que ela não é absoluta para eles, e (portanto) eles não são expiadores dos pecados do mundo, como Cristo foi. Mas os separa do mundo para que possam ser portadores de sua mensagem para o mundo. O misterioso número 153 para a quantidade de peixes capturados em João 21:11 deve ser entendido como altamente simbólico, dada a característica prevalecente do simbolismo algébrico judaico nos dias de João. Além de endossar algumas sugestões anteriores, Bauckham observa que o equivalente numérico do grego das quatro palavras-chave no primeiro "término" do Evangelho de João 20:30-31 para "assinar", "crer", "Cristo" e "vida" são 17, 98, 19 e 36, respectivamente. 153 é o "triângulo" de número 17 (a soma dos números de 1 a 17, e a soma de 98, 19 e 36 também é 153). O que quer que tudo isso mais implique, certamente sugere que a mesma pessoa por trás do capítulo 21 escreveu o restante do Evangelho [ Paul S. Minear, em “The Original Functions of John 21”, 1985, já havia feito uma vigorosa defesa dessa posição – N. do T.] !
Uma breve resenha dificilmente pode avaliar cada uma destas contribuições pormenorizadamente. Pergunto-me se para Bauckham, “João, o Ancião”, que tão estreitamente se assemelha ao filho de Zebedeu em perfil, teria sido tão facilmente reconhecido como distinto dele, especialmente desde que o único personagem chamado João no Quarto Evangelho é o Batista, mas a ele nunca é dado este epíteto. Alguém que não seja João, filho de Zebedeu, foi capaz de fazer isto sem temer ambigüidades, especialmente quando o Evangelho circulou para muito além dos seus iniciais destinatários efésios - como Bauckham salienta? É preciso escolher entre Bauckham e Larry Hurtado, por exemplo, o qual salienta a segregação parcial do monoteísmo em várias vertentes de judaísmos periféricos em binitarianismo? Apesar das notáveis coincidências de somas numéricas, temos qualquer controle sobre tais especulações algébricas para dar-nos alguma confiança que João realmente pretendeu isto?
Mas estas são bagatelas menores. Globalmente, este é uma coleção de ensaios extraordinariamente meticulosa, criativa, e que mesmo rompe paradigmas, sendo que cada um merece um estudo cuidadoso, e quase todos merecem aceitação generalizada. Adquira este livro, maravilhe-se com ele e digira-o. Bauckham deve ser tão mais esclarecido e lúcido na sua aposentadoria quanto ele fora durante a sua ilustre carreira!
Craig L. Blomberg, Ph.D.
http://www.denverseminary.edu/
Distinguished Professor of New Testament
Denver Seminary
December 2007
http://www.denverseminary.edu/
Distinguished Professor of New Testament
Denver Seminary
December 2007
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