sábado, 6 de setembro de 2008

Eu li... Jesus Cristo e Mitologia - Rudolf Bultmann

Jesus Cristo e Mitologia
Rudolf Bultmann


Rudolf Karl Bultmann foi um teólogo alemão muito influente no século passado e ainda hoje. A questão mais importante levantada por Bultmann foi a questão da desmitologização do Novo Testamento, ou seja, visto o Novo Testamento ter sido escrito por escritores que viviam numa época onde a cosmovisão era profundamente sobrenatural e "mitológica" o que devemos fazer hoje é atualizar a mensagem neotestamentária para torná-la compatível com a cosmovisão do homem moderno que exclui o sobrenatural.

É justamente esse o intento de Bultmann neste livro, desmitologizar Jesus "Cristo". Não é mais possível para o homem moderno acreditar no "Cristo" e portanto devemos remover todos os elementos mitológicos presentes no Novo Testamento e reinterpretar a mensagem cristã sob uma nova ótica. A empreitada de Bultmann é frustrada desde seu ínicio, tentar remover o sobrenatural do cristianismo é, em outras palavras, descristianizar o cristianismo, isto é, remover do cristianismo um elemento essencial à sua própria sobrevivência. É impor nossas pressuposições sobre o texto do Novo Testamento impedindo que o texto fale qualquer coisa que não seja o que já fora definido a priori. É difícil entender porque teólogos como Bultmann não assumem logo sua descrença e não descartam de uma só vez todo o cristianismo e suas implicações. Por que igualar o cristianismo a qualquer coisa que o "mundo" oferece? Parece que há teólogos que deixam de crer mas não conseguem reconhecer isso para si mesmo e insistem em fazer um imenso contorcionismo intelectual para adaptar o velha crença à atual descrença.

Como sabiamente colocou o sociólogo Peter Berger no livro A Rumour of Angels, "modernizar" o cristianismo é colocá-lo ao lado do secularismo, é colocar tudo no mesmo saco. E se, como afirmam tais teólogos, tudo é a mesma coisa, se ambos são relativistas, pluralistas, naturalistas e tudo o mais que o pós-modernismo implica, porque raios alguém aceitaria o cristianismo se o que ele "vende" nada mais é do que um secularismo infantil que tem medo de assumir seu próprio secularismo? Pra que ser cristão se continuar secular não fará a menor diferença? Uma religião conformada com o espirito da época não tem absolutamente nada de novo a oferecer. Berger afirma: "Porque alguém adotaria psicoterapia ou liberalismo racial numa roupagem "cristã", quando as mesmas coisas estão disponíveis sob rótulos puramente seculares e por essa mesma razão muito mais modernos?... Em outras palavras, a rendição teológica ao desprezo pelo sobrenatural se auto-destrói na sua própria medida de sucesso. Representa a auto-liquidação da teologia e das instituições que se revestem da tradição teológica"

É por essa insistência dos teólogos "descolados" em se prostituírem ao espírito da época que a empreitada teológica é tão indigna de crédito no mundo secular. Porque levar a sério esse parasita que vive de se render ao secularismo? Porque levar a sério uma "ciência" que na verdade nada mais faz do que imitar e correr atrás daqueles que dominam o pensamento secular? Que valor tem essa ciência frouxa que se envergonha de si mesmo? Que valor tem a mulher que está sempre correndo atrás do homem e se entregando a tudo que ele diz? Deve ser o "mundo" que guia a Igreja e a empreitada teológica ou o contrário? Quando aprenderemos a não ter vergonha de nós mesmos e enfrentaremos de igual para igual o secularismo?

É justamente o fato da teologia ser uma "ciência" frouxa que a religião cristã é tão criticada como uma ilusão, uma projeção do nosso eu (Freud), pois na verdade é justamente isso que a teologia é, um molde de Deus ao formato do homem. É por isso que ela é tão criticada como uma ciência sem sentido (Antony Flew), uma ciência que não diz nada e cujos conceitos são tão amplos que podem abranger virtualmente qualquer crítica. Se é Marxismo, nos moldemos ao Marxismo. Se é naturalismo, nos moldemos ao naturalismo. Se é relativismo ou pluralismo, nos moldemos também. Enfim, nada pode falsear a fé cristã, isso é patético! Rídiculo! E por isso que o teólogo é um ser irrelevante neste mundo. Novamente Berger, "O teólogo que barganha com o mundo moderno sai com um mau negócio, isto é, ele provavelmente entregará muito mais do que receberá". Não precisamos de teologia, o secularismo oferece as mesmas coisas e num rótulo muito mais "in".

Voltando ao livro de Bultmann, o pressuposto dele parece muito lógico, mas no fundo não passa de um raciocinio falacioso auto-refutável. Bultmann pressupõe que pelo fato da cosmovisão dos autores bíblicos estarem profundamente marcadas pela cosmovisão da época (sobrenaturalista, mitológica e, portanto, irracional e inaceitável ao homem moderno) nós devemos remover os elementos "mitológicos" dos evangelhos e atualizá-los de acordo com a cosmovisão moderna mas, será que ninguém avisou à Bultmann que a cosmovisão dele é, da mesma forma que a dos autores bíblicos, moldadas de acordo com o espírito da época em que ele viveu? Amanhã tudo se renova e a cosmovisão bultmanniana se torna obsoleta, e então, tudo se perde, tudo vira lixo. O cristão não pode se render ao espirito da época - "Aquele que se casa com o espirito da época, logo, logo, se tornará viúvo" - é triste ver teólogos "cristãos", aqueles que supostamente seriam a voz de Deus na terra, se rendendo à tal espirito e pregando valores seculares com uma eloquência de fazer inveja à qualquer pensador humanista. Triste e Satânico! o espirito da época passa e, como diria Chesterton, a carruagem da Ortodoxia segue através dos tempos. Não crer no sobrenatural é não crer no cristianismo, é declarar que não há ressurreição, é declarar que não resta mais esperança.

5 comentários:

Anônimo disse...

Vítor, paz!

Estou postando em meu blog uma série de textos sobre este assunto.

Hoje ou amanhã, estarei postando a segunda parte da série.

O que Bultmann conseguiu produzir com a sua "demitologização", foi um valioso auxílio para que a Europa se tornase pós-cristã.

Abraços!!

dokimos.wordpress.com

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Oi Vitor,

a dúvida é muito importante. Não é a toa que existe um Tomé entre os 12!

A fé que não é por vista, começou e começa muitas vezes de maneira mais lógica, racional ou empírica do que queremos crer.
Deus não pede para crermos em coisas irracionais (para nós mesmos). Pode ser irracional para outros (e ainda assim precisamos dar ouvidos às dúvidas de outros).

Assim é a vida, não só em assuntos espirituais, uma constante reciclagem de idéias, certezas e crenças.

Vitor Grando disse...

Esse texto de C.S. Lewis é extramamente relevante:

Teologia Moderna e a Crítica da Bíblia
http://despertaibereanos.blogspot.com/2007/05/teologia-moderna-e-crtica-da-bblia.html

Anônimo disse...

Excelente texto, Vitor!

Anônimo disse...

O fim está mais próximo do que se imagina nunca se fez tanto filmes sobre o fim como está sendo produzido.
A Europa se tornou fria e aberta para uma religião que mata em nome de Deus.
Claro que existe o extremo do fanatismo no cristianismo, só que tem um, porém mesmo não tendo o fanatismo dos neopentecostais, para se crer nessa religião o homem moderno vai tem que crer no mito, o ser humano cria para si mesmo uma ilusão daquilo que ele não é. Já no tempo neotestamentário, o homem criava mitos exemplo Noé.
O que é fé? Não é crer naquilo que não se pode ver? O que o homem moderno cria para si? Uma ilusão, exemplo o filme matrix é um mito, que pode se tornar no futuro uma religião.
O cristianismo que é a religião que o ocidente prega esta longe daquilo que o próprio cristo tinha em mente.
O próprio cristianismo se divide praticamente a cada 24 horas, foi para isso que Cristo veio?
O cristianismo é a religião que mais arrecada no mundo, foi para isso que Cristo veio?
O cristianismo é a religião que faz acepção de pessoas do mesmo credo, foi para isso que Cristo veio?
Teologia deveria abrir os olhos dos que se dizem crentes. Na idade media o povo era obrigado crer em algo não poderia questionar.
O homem moderno pode questionar e mesmo assim crê, e muitas vezes são enganados por falsos.
O que é cristianismo de fato?

 
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